10.7.09

NO BURACO DO LUME

Hoje é sexta-feira e, como vocês estão carecas de saber, sexta-feira é dia de debate político no Buraco do Lume, promovido pelo PSOL (o festivo partido não promove comícios, apenas debates).

Eu não sei se eu lhes contei, mas mudei-me para o Centro, depois de mais de vinte anos no Largo do Machado. Razão pela qual foi fácil atender ao convite de um amigo (não lhes direi o nome atendendo a pedido do próprio), feito na quarta-feira. Bateu-me o telefone e fez a provocação:

- Gaúcho?

Como estava no horário do almoço, topei.

Dirigi-me à esquina da São José com a Rodrigo Silva (escrevi Rodrigo e senti horripilante frio na espinha, fruto da repulsa que me queima as entranhas). Lá estava meu amigo abanando os braços como um boneco inflável de posto de gasolina. Mal pisei no bar ele disse, meneando a cabeça calva:

- Coitado do pessoal do PSOL, Edu! Por que você escreveu o que escreveu hoje?!

Referia-se, o caboclo, ao texto no qual conto o palpitante sonho que tive na noite de terça para quarta (leiam aqui).

Eu disse dando um vigoroso gole na minha água com gás:

- Foi meu sonho, ué.

E ele, cordialíssimo:

- Eu tenho pena dele, sabia?!

Eu não sabia a quem ele se referia (sabia, sim, mas não quero dizer).

Daí o meu companheiro, um senhor comentarista político, deu de falar sobre a atuação parlamentar dos membros do PSOL. De repente, mordendo o sanduíche de bife à milanesa, começou a chorar:

- Eu tenho muita pena dele, Edu... ele é fraco, fraco, pífio... E a praça... – ele engasgou.

Eu só ria, ria.

E ele, de boca cheia:

- A Mauro Duarte é a pior praça da cidade! – e me acompanhou na cena de risos, gargalhando feito Exu Caveira.

Estávamos rindo quando entrou uma moça com lêndeas (visíveis a olho nu, as lêndeas pareciam formigas percorrendo aquelas tranças de palha). Estendeu-nos um panfleto, que recusamos. Disse, ela:

- Pô, pintem aí na sexta. Vai rolar um debate dez.

O meu chapa arrotou e me perguntou:

- E o fulano, hein?!

(escrevo fulano para não acirrar ainda mais os ânimos de vingança do dito cujo)

Eu disse, grave:

- Está fulo. – quando eu disse “fulo” senti-me velho, velhíssimo, quase uma múmia estacada na esquina.

- É?

- É. E pisoteando no lema do próprio partido. – foi a deixa.

- É?

- É.

Fechei os olhos e disse:

- Socialismo e liberdade, não é isso?

- É.

- Pois o militante, possivelmente aborrecido com o que venho escrevendo, vetou meu acesso ao site do jornal O Globo...

O careca deu um salto pra trás:

- Vetou?

- Vetou. Solidário e libertário, raivoso como a esquerda do PSOL, vestido com um colete comprado na feira hippie de Ipanema, mudou a senha de acesso e não consigo mais ler o troço.

- Mentira...

- Mentira? Rapaz... esses caras, durante os almoços, durantes as plenárias, durante os debates políticos, ardilosamente buscam a vingança odiosa, vá por mim.

- Ah! – ele disse com tom de quem lembrava de algo importante.

Cravando os olhos em mim:

- Deu coelho na quarta-feira?

- Não.

Ele, rindo e limpando a boca com aqueles guardanapos que nada limpam (atestado da qualidade do buteco), disse já se despedindo:

- Coelho não dá, coelho não dá!

Até.

Um comentário:

Cazé disse...

Concordo com o amigo: "Coelho" não dá!
Muito bom!