24.7.09

SONHO DE CARAMUJO

Quando o BUTECO entrevistou o João Bosco, em 16 de março de 2007, leiam aqui, ele nos contou, dentre tantas e tantas histórias (a entrevista é imperdível, modéstia à parte), que havia acabado de compôr, depois de muitos anos de afastamento, um samba novo com Aldir Blanc. Abaixo, reproduzo o trecho da entrevista em que o João menciona a retomada da parceria:

"JB: 13 pontos é sagrado! Loteria Esportiva são 13 pontos, são 13! Eu ganhei um dinheiro compatível com a compra de um apartamento de dois quartos no Jardim Botânico, naquela época! Eu! Metade. Quer dizer que a outra metade também... Então aquele dinheiro daria pra comprar um apartamento de quatro quartos (todo mundo ri)!!! Mas por razões pessoais eu não posso dizer aqui porque é que eu e Paulinho não alardeamos essa notícia e nem fizemos um samba falando disso... (todo mundo ri, João ri muito...). Só jogamos uma vez e ganhamos uma vez! Fizemos um triplo no Vasco e Flamengo, foi a primeira coisa que a gente resolveu na hora de marcar o cartão, que foi pago com cheque, que estávamos duros, o cara fechando a loja... Embaixo do Cine Veneza... O cara fechando a loja e o Paulinho pedindo pra aceitar o jogo... Dois triplos, só! Pagamos o dobro da aposta mínima... 13 pontos! Paulinho pagou em cheque e eu fui pra Cuba com Chico Buarque, Djavan, fui participar do Festival de Varadero... Passamos 15 dias em Cuba. No primeiro domingo, Paulinho em casa, 1, 2, 3, 4, 5, 12, 13, caralho! E eu ainda tinha mais sete dias em Cuba. O cartão tava em nome da minha mulher, que na hora que a gente jogou eu disse “Não bota o meu”... Eu só me dou na música, no jogo eu não tô com nada. Paulinho não quis o dele, não quis o da Lila, mulher dele... Eu falei “Bota no nome da Ângela!”... E a gente em Cuba, o Paulinho pirou!!!!! Foi uma grana, bicho, muito legal... Agora, fazer 13 pontos com Paulinho da Viola é fazer 13 pontos duas vezes! E agora eu quero fazer um disco assim, tocando... Tem um samba novo do Aldir comigo nesse disco chamado “Sonho de Caramujo”...

EG: Tá pronto?

JB: Pronto!

EG: Mostra aí!

João pega o violão, afina, começa a cantar “Sonho de Caramujo”, a mais nova parceria com Aldir Blanc.

JB: Ele sonhou comigo... “Sonho de Caramujo”... E eu morava dentro do violão... Eu musiquei o sonho dele... E o tom desse samba remete aos puxadores da antiga, né? Tá sempre no limite... (canta de novo)... Porra... “caramujo musical”..."


Tenho a sorte e a graça de ser amigo de ambos. Na semana passada, depois de já ter ouvido a gravação de SONHO DE CARAMUJO, uma das 13 faixas do absolutamente imperdível disco NÃO VOU PRO CÉU MAS JÁ NÃO VIVO NO CHÃO (verso tirado da genial letra do Aldir), estava eu no CAFÉ GAÚCHO na gloriosa companhia de Leo Boechat (que estava na entrevista comigo, hoje meu compadre - sou padrinho da Helena!!!!!) e Luiz Carlos Fraga quando bati o telefone pro João, que não me atendeu.

Anteontem à tarde, tendo acabado de chegar da Alemanha, o João me retornou a ligação. Pude, então, dizer a ele de minha profunda satisfação e emoção, que divido com vocês, agora.

Ouçam, meus poucos mas fiéis leitores, SONHO DE CARAMUJO, a letra está abaixo.


"Nem menino eu era garotinho
Vivia adulto sozinho
Eu nunca fui aonde eu ia
Andava em má companhia
Entrava no livro que lia e fugia

Neguinho me vendo em Quixeramobim
E eu andando de elefante em Bombaim

Cumpri o astral de caramujo musical
Hoje eu gripo ou canto
Não vou pro céu, mas já não vivo no chão
Eu moro dentro da casca do meu violão"


E esse violão, e esse violão?!

Até.

10 comentários:

Carlos Andreazza disse...

Uma beleza.

João Bosco - grande imperiano.

Abraço, Edu!

Unknown disse...

Perfeito! É a maior dupla da história da Música Popular Brasileira. Obrigado, querido!

Eduardo Goldenberg disse...

Andreazza: marquei com o João, por alto (sem data ainda, sem data ainda!), numa daquelas manhãs de domingo na Tijuca. Avisarei a você, evidentemente. Ele é mais que um grande imperiano. É um GRANDE sujeito, com a ênfase szegeriana. Abraço!

Bruno, mano querido: não me agradeça. Espalhar e divulgar aquilo que nos faz bem faz um bem danado à alma, não?! Agradeçamos aos dois, querido, Aldir e João, os maiores! Aliás... você (vocês, leitores, também) sabia que quando eles se lançaram através do disco de bolso do Pasquim, a apresentação foi feita pelo Sérgio Cabral (o pai, é lógico)????? Disse ele algo assim: "quando reconhecerem na dupla Bosco e Blanc a maior e melhor dupla de compositores do Brasil, quero o mérito de ter sido o primeiro a apontar isso.". Demais, né? Beijo, mano, saudade de você.

Daniel A. de Andrade disse...

Edu,
A dupla com o Aldir dispensa comentários. Ademais, o JB é um músico de estilo inconfundível, incomparável. As entrevistas (as duas, não só a do JB) são arquivos históricos.
Tive a sorte (ou privilégio, ou os dois) de vê-lo tocar e cantar inúmeras vezes, em diversos locais, por conta da amizade feita na época da escola, com o Chico, rubro-negro convicto, peladeiro de primeira e grande amigo que, apesar da distância, será de toda vida. Reencontrado, aliás, no aniversário do Moutinho.

Um grande abraço,

Desterrado na terrinha disse...

Edu,
Ver uma "nova" Bosco-Blanc, para quem é apaixonado, não tem nome... Pensar que são quase 40 anos de parceria, não deve haver muitas tão longevas.
Ouro puro.
Grande abraço,
Sérgio Reis

Marcelo Moutinho disse...

Um grande cara, sem dúvida.

Renata Werneck disse...

Linda a música! Linda a parceria, como sempre. Não tenho palavras para descrever o violão do João, só emoção. O que é isso??? Uma benção, mesmo.

Rodrigo Pian disse...

Me amarro quando vocês se fazem valer da convergência de mídia nos seus posts.

Um som desses deixa qualquer um de ânimo melhor nessa sexta cinza.

Muito bom!

jb disse...

que música linda!

e que bacana ter amizades desse nível!

parabéns pelo blog, sempre com textos focados e fluentes.

sempre visito.

grande abraço!

José Sergio Rocha disse...

Que viagem, grande caramujo!