24.8.09

55 ANOS SEM GETÚLIO VARGAS

No dia em que o Brasil deveria lembrar os 55 anos da morte de Getúlio Vargas, mais brasileiro que toda a corja que nos (des)governa hoje, salvo raríssimas exceções (e que não vêm ao caso hoje), os jornais que li não dão uma mísera nota sobre a data. Prova incontestável de que vivemos um tempo de mediocridade absoluta, a mesma mediocridade que a Secretaria de Cultura da Cidade do Rio de Janeiro, na pessoa de Jandira Feghali e de Eduardo Paes (que a nomeou), encarnou ao autorizar esse lixo (aqui) que desrepeita a memória de Getúlio.

Eu tinha firme intenção, gerada e manifestada ontem na esquina da Pardal Mallet com Afonso Pena, de hoje pela manhã arrancar as faixas que o artista plástico (cáspite!, apud Luiz Carlos Fraga) Daniel Toledo, autorizado pelas autoridades incompetentes que deveriam cuidar da cidade, pôs em volta do busto de Getúlio Vargas. Um imprevisto que acometeu quem me acompanharia na empreitada somado à notícia de que o lixo seria removido hoje pela manhã, me desestimulou.

E por que eu faria isso? - é o que eu imagino que vocês estejam se perguntando, meus poucos mas fiéis leitores. São várias as razões, e quero decliná-las, ainda que em apertada síntese.

Em primeiro lugar, a todo cidadão é dado o direito do protesto. O que esse rapaz (chamado de "artista plástico" pela mídia que reproduz o que recebe em forma de release) fez com o busto de um homem da envergadura de Getúlio Vargas é inadmissível, e digo que seria inadmissível ainda que o busto, a estátua, a placa, fosse em homenagem ao mais indigno dos homens. Sob o argumento de fazer uma "instalação" ou um "interdição", o rapaz desrespeitou a memória de Getúlio Vargas e, não por acaso, na semana que antecedeu o quinquagésimo quinto aniversário de sua morte. Retirando aquele lixo dali, eu faria também - ou não? - uma desinstalação, o que me parece, sob a ótica dos idiotas que batem palma pra isso, uma inovação.

E por que eu não me valeria dos meios, digamos, mais formais, como e-mails, cartas ao jornal etc? Simples. Quem detém o poder da informação (como jornalistas), ou o poder administrativo (como os políticos eleitos), ignora, solenemente, aquilo que chega como forma de protesto ou crítica. Disponibilizam (fingem disponibilizar) canais de comunicação com o povo mas simplesmente não dão a mínima para a voz das ruas. Exemplo recente vê-se aqui.

Por isso, eu preferi o enfrentamento, como fiz aqui, gritando o nome de Leonel de Moura Brizola ao vivo (depois de enganar a repóter Renata Ceribeli) quando era proibido veicular o nome de meu saudoso e eterno Governador do Estado do Rio de Janeiro na TV GLOBO.

É preciso que essa gente, que pisa em tudo (ainda que em nome da arte), sinta o peso da nossa revolta.

Deixo com vocês, na voz da sempre grande Beth Carvalho e de João Nogueira, um pot-pourri de canções em homenagem ao ex-presidente, gravadas em um LP lançado durante a campanha de Leonel Brizola para as eleições presidenciais de 1989. Salve, Getúlio Vargas!


"Foi o chefe mais amado da nação
Desde o sucesso da revolução
Liderando os liberais
Foi o pai dos mais humildes brasileiros
Lutando contra grupos financeiros
E altos interesses internacionais
Deu início a um tempo de transformações
Guiado pelo anseio de justiça
E de liberdade social
E depois de compelido a se afastar
Voltou pelos braços do povo
Em campanha triunfal

Abram alas que Gegê vai passar
Olha a evolução da história
Abram alas pra Gegê desfilar
Na memória popular

Foi o chefe mais amado da nação
A nós ele entregou seu coração
Que não largaremos mais
Não, pois nossos corações hão de ser nossos
A terra, o nosso sangue, os nossos poços
O petróleo é nosso, os nossos carnavais
Sim, puniu os traidores com o perdão
E encheu de brios todo o nosso povo
Povo que a ninguém será servil
E partindo nos deixou uma lição
A Pátria, afinal, ficar livre
Ou morrer pelo Brasil
Abram alas que Gegê vai passar
Olha a evolução da história
Abram alas pra Gegê desfilar
Na memória popular"


Até.

ps: leiam também artigo de Christopher Goulart, neto de Jango, sobre a data de hoje, aqui.

4 comentários:

FELIPE DRUMOND disse...

Edu,
Seu post me deixou pensativo.
Não tenho dúvida dos inúmeros feitos grandiosos do Getúlio.
Entretanto, apesar de ser apenas um jovem com muito pouca experiência e não ter vivido a época, seu governo não era uma democracia, correto?
Os documentos, livros, jornais, etc, etc, relvelam uma época em que se perseguiu e torturou. Um possível "defensor"dos trabalhadores que empreendia uma busca contra os comunistas de maneira tirana.
Creio muito que um povo vive de sua memória e com o aprendizado dela oriundo deve buscar evoluir social e politicamente. Com base nisso, não há dúvidas de que seja importantíssimo lembrarmos a data de hoje inclusive com eventos culturais que a promovam.
Entretanto, não creio ser o caso (na minha humilde opinião) de lembrar com saudade de qualquer época em que um regime não democrático vigora.
A democracia, é verdade, tem uma séria de problemas, especialmente esta "democracia" tão incipiente e precária que há no Brasil.
Mas, ainda que tenha várias coisas ruins, acho que é de fato, o menos pior. Confesso que tenho arrepios com qualquer exaltação à qualquer época em que as liberdades e a democracia não sejam plenas.
PS: Não se irrite. rs. É apenas um comentário, até mesmo para que você rebata dando a sua opinião.
Abraços.

Anônimo disse...

Em relação à democracia, fofoco e digo que o sujeito retirou os comentários lá no blog dele.

Luiz.

Eduardo Goldenberg disse...

Já estamos em cima, Luiz! Obrigado.

Drumond: salve, Getúlio Vargas! Convide-me para um chope, meu caro, e conversamos sobre o "chefe mais amado da nação". Abraço.

Rodrigo Pian disse...

Goldenberg,

Eu já sei que aqui neste balcão opiniões e impressões de cupinchas do Eduardo Paes não valem nada, mas não posso deixar de registrar que esse seu "faz um 12, Brizola" foi simplesmente demais!! Demais!

(E sempre tenho orgulho de lembrar que sou cupincha de 3a geração do grande - enorme! - Leonel Brizola. Siga a árvore genealógica da política fluminense e verás que sou filhotinho do atual prefeito, que por sua vez foi cria de César Maia, que aprendeu tudo com essa grande personagem que foi o Caudilho Brizola).

(E é bem verdade que não necessariamente a prole de Leonel é herdeira de suas virtudes. Vide Anthony dos Campos dos Goytacazes. Mas isso a gente deixa para uma próxima rodada aqui no buteco).

(...)

Mas fiquei curioso. Por que o Moacir Luz deixou de ser seu amigo por causa disso?

Podes compartilhar ou é de foro íntimo?

Abs,

Pian.