30.10.09

A INSUPERÁVEL RIO SHOW

Eu quero repetir hoje uma frase que venho dizendo há anos e que seria, confesso, inimaginável há anos: tenho aguda saudade do doutor Roberto Marinho que, se vivo fosse, não permitiria a bandalha que reina absoluta no jornal O GLOBO, mal conduzido por seus herdeiros.

Nem vou comentar sobre a capa da revista RIO SHOW de hoje, que vem encartada às sextas-feiras, e que traz a foto de um casal gay e na qual se lê o título da matéria (de autoria de Jeferson Lessa)... SER OU NÃO SER, EIS A QUESTÃO.

Isso, como diria o saudoso Stanislaw, deixa para lá.

Quero lhes falar sobre mais uma coluna de Juarez Becoza, codinome de Paulo Mussoi.

Mais uma tremenda falta de respeito, como se vê.

matéria publicada na revista RIO SHOW, de O GLOBO, de 30 de outubro de 2009

Além de trazer uma fotografia de 2008 - o que pode significar que o jornalista sequer esteve lá -, a coluna faz uma crítica babaca ao cardápio bem humoradíssimo, escrito em inglês, que os donos criaram para atender à enorme clientela estrangeira que têm.

Diz o jornalista: "Para completar, que Afonso e Henrique me perdoem, mas não há como...", nem vou continuar.

O que os donos, Afonso e Herminio, não devem perdoar mesmo, é a troca vergonhosa do nome de um deles.

O HENRIQUE (citado três vezes pelo jornalista) é, na verdade, HERMÍNIO.

É isso que dá (é o que me parece ter ocorrido...) buscar informações pelo telefone, e não in loco.

Detalhe: Paulo Mussoi (ou Juarez Becoza) é um dos notáveis que elaboram o novo GUIA RIO BOTEQUIM. Que tal?

Até.

29.10.09

SALVE A PRAÇA XAVIER DE BRITO!

Os mesmos fascistas que organizaram uma grita contra o projeto da Secretaria Municipal de Habitação de transferir centenas de famílias que vivem nas favelas da região para um terreno abandonado na rua Conde de Bonfim, na minha Tijuca, (relembrem o imbróglio lendo isso aqui, isso aqui, isso aqui, isso aqui, isso aqui, isso aqui, isso aqui, isso aqui, isso aqui e isso aqui), os mesmos que mantêm um lamentável blog intitulado CITY TOUR DA DESORDEM URBANA (com escassa visitação), comemoram mais uma notinha por eles plantada no igualmente lamentável jornal GLOBO TIJUCA, encartado no também lamentável jornal O GLOBO às quintas-feiras (entendam o modus operandi desse jornaleco, aqui). Digo lamentável jornaleco pois o tal encarte em vez de exaltar o que há de bom no bairro (e isso não caberia em todas as suas edições) pisoteia a Tijuca, semana após semana, e de forma implacável (para delírio dos membros do grupelho intitulado GRUPO GRANDE TIJUCA, que faz reuniões, que traça planos, que fixa metas, bem à moda de outros tantos de triste passado).

Pois hoje, vejam vocês o que foi publicado (e republicado no tal blog a que me referi):

fotografia retirada do blog CITY TOUR DA DESORDEM URBANA

O que é que tanto incomoda aos fascistas?

Se vocês não percebem, eu digo: os pobres, meus poucos mas fiéis leitores.

Reclamar da falta de policiamento, é disfarce.

Reclamar do cheiro dos cavalos (a praça é mais conhecida como "praça dos cavalinhos", pô!), é disfarce.

Mas eles não conseguem esconder a verdadeira intenção: a frase "as crianças tomaram banho e enchiam a boca de água suja" e a fotografia publicada falam sozinhas e arrancam a máscara dessa gente que não suporta o povo e sua gente mais simples (queriam o quê, uma praça só para seus filhos?, ora, ora, vão viver nos playgrounds detestáveis da Barra da Tijuca!).

Eu, que há anos frequento a Xavier de Brito, que ali bebo meu chope na companhia gloriosa do Pavão e da Dona Jô, para onde levo sobrinhos, sobrinhas, afilhados e afilhadas, onde vou visitar a legendária Dona Olívia e o seu Antônio em seu casarão na Doutor Otávio Kelly (leiam aqui e aqui) sei que a piada de quinta categoria imprimida pelo grupelho (que pouco fez da manifestação do subprefeito da Tijuca, Gustavo Trotta) não faz o MENOR (com a ênfase szegeriana) sentido.

A Tijuca é muito maior do que os que pretendem vê-la por baixo.

Até.

ADVOGANDO

Costumo dizer, e digo sem medo do erro, que não há advogado mais apaixonado pela profissão que eu. Desde que ingressei na PUC/RJ em meados de 1987, NUNCA (com a ênfase szegeriana) quis fazer concurso algum, NUNCA (com a mesma ênfase) almejei ser Juiz, Promotor de Justiça, Procurador, Defensor Público, nada disso. Sempre quis, desde sempre, ser advogado, simplesmente advogado, nada mais que um simples e honesto advogado.

Hoje, eu que trabalho literalmente sozinho (sou contínuo de mim mesmo, inclusive, como diria Nelson Rodrigues), arrumando uma papelada que fica sempre pra depois em razão dos atropelos do dia-a-dia, deparei-me com essa nota, que foi publicada no jornal O GLOBO, em 22 de outubro de 2003, há pouco mais de seis anos.

nota publicada no jornal O GLOBO em 22 de outubro de 2003

Fui eu o advogado do Dalton.

E se a questão foi simples, e resolvida no mesmo dia, foi também uma dessas que dão a nós, que lidamos com o Direito, uma tremenda satisfação - e no meu caso, apaixonado pelo que faço, ainda maior.

Lembro-me como se fosse hoje.

Comprei uma mesa de oito lugares para o show da Maria Rita. Dei a quem de direito os ingressos. O Dalton, que fora roubado, ficou sem o dele na manhã do dia do show. Fui eu mesmo, com ele, depois de infrutíferas ligações para a gerência da casa, ao CANECÃO, comunicar pessoalmente o fato e pedir o óbvio: que permitissem sua entrada em razão da fácil localização de seu lugar à mesa e, consequentemente, a proibição da entrada do portador do ingresso roubado.

Disse-me a atendente, com ares de dona do mundo, depois de esgotados meus argumentos e meus pedidos:

- Aqui, senhor, nem o Papa entra sem ingresso! Nem o Papa!

Enfurecido - e a ira santa é uma das companheiras ideais para um causídico - fui para o escritório com o Dalton. Colhi sua assinatura na procuração. Dirigi-me ao IV Juizado Especial Cível, distribui a medida liminar e despachei, pessoalmente, com a Juíza. Contei, de viva-voz, detalhadamente o que se passara. Ela, ciosa de seu dever, mandou chamar o Oficial de Justiça. Contou toda a história pra ele. E rumamos, eu e o Oficial de Justiça, para o CANECÃO, com a liminar obrigando a casa de espetáculos a permitir o ingresso do Dalton sob pena de pagamento de pesada multa.

Fiz questão de apontar a dona do mundo para o Oficial de Justiça.

Eis a frase da senhora diante da ordem judicial:

- Mas, doutor Eduardo... precisava disso?

Até.

28.10.09

É HOJE, SÃO JUDAS, É HOJE...

Logo mais, às 21h50min, entra em campo meu Flamengo, em jogo contra o Barueri, por uma rodada que tem todos os ingredientes para ser uma rodada explosiva, um teste pro coração e um manancial de emoções que só o futebol pode proporcionar. É o Botafogo contra o Náutico na luta contra o rebaixamento, São Paulo e Internacional em busca do título, e meu Flamengo, em quinto lugar, que pode varar a noite na liderança do campeonato.

São Judas Tadeu, padroeiro do Flamengo

No dia de São Judas Tadeu, padroeiro do clube, seria perfeito!

Até.

27.10.09

1.400 POSTAGENS

Somente agora, no final do dia, foi que percebi que hoje o BUTECO teve publicado seu texto de número 1.400.

Amanhã volto à carga.

Até.

EGO DO BUTECO

Leio, estarrecido com a indispensabilidade da notícia (publicada no EGO, onde mais?), que "sempre vista em restaurantes naturais do Leblon, no Rio, Carolina Dieckmann parece ter saído da dieta nesta segunda-feira, 26.". Prosseguindo, o inconcebível portal de informações (?????) diz que "a atriz postou em seu TWITTER uma foto em que aparece devorando um sanduíche. "2 hamburgueres, alface, queijo, molho especial, cebola e picles num pão com gergelim...", escreveu na legenda.". Confiram aqui.

O EGO DO BUTECO, sempre imitando deslavadamente o EGO original (cada vez mais patético), e sempre preocupado com gente mais interessante que frequenta lugares igualmente mais interessantes, traz hoje, em primeira mão, a fotografia de uma das refeições feitas por Marcus Mariani Handofsky, nosso querido Hans, da qual tomamos conhecimento também por conta do TWITTER.

foto publicada por Marcus Mariani Handofsky em seu TWITTER

Sempre visto nos mais vagabundos botequins da cidade, Marcus Mariani Handofsky parece ter mantido sua dieta nesta segunda-feira, 26. O artista gráfico postou em seu TWITTER uma foto em que aparece o prato de rabada que acabara de devorar no almoço. "Para que alguns comam filé é necessário que outros comam rabo.", escreveu, fino e delicado, na legenda.

26.10.09

DO DOSADOR

* como eu lhes contei aqui, em 07 de outubro de 2009 apostei minhas fichas (ainda aposto, infelizmente, mas sem a mesma convicção) no Palmeiras. Ontem cedo, ainda pela manhã, ansioso com a partida entre o Botafogo e o Flamengo às 18h30min - três semanas se passaram e o quadro modificou-se agudamente graças a tropeços do clube palestrino -, bati o telefone para Fernando José Szegeri, palmeirense fanático. Eu ia lhe pedir (e de fato pedi) solidariedade. Pedir que torcesse para o meu Flamengo. Ouvi, do outro lado da linha, impropérios impublicáveis. O homem da barba amazônica, supersticioso como todo torcedor que se preze, atribui a mim a franca queda do Palmeiras. Disse, textualmente, que a partir de minha aposta, feita aqui no balcão, o Palmeiras começou a perder preciosos pontos, pondo em risco o título de campeão brasileiro de 2009. Como eu creio na força da palavra do meu irmão siamês de São Paulo, repito: o Palmeiras será o campeão brasileiro de 2009. Consequentemente - sigo nas sendas da minha superstição - o Flamengo não ficará com o título. Aguardemos as próximas rodadas;

* ainda o futebol. É impressionante, é rigorosamente impressionante como vem jogando o Petkovic - impressionante! Como bem disse Carlos Andreazza em 20 de maio de 2009 (há mais de cinco meses, portanto) - aqui - sua contratação devolveu ao torcedor rubro-negro o mais puro prazer da assistência das partidas, todas elas transformadas em espetáculo a cada atuação do craque - que é, convenhamos, uma das principais funções do craque. Soma-se às nítidas vantagens auferidas após a volta do jogador, a saída - espero que definitiva, embora seja duvidoso que o canalha desista pra sempre do osso que rói como o mais fétido dos ratos (não sei se ratos roem ossos, mas não vou mudar a imagem tétrica que criei) - de Kleber Leite e seus asseclas do comando do futebol do Flamengo;

* ainda o futebol. O maior mérito de Andrade não foi "arrumar o time", "dar nó tático", nada disso, nada dessas balelas que os lamentáveis cronistas esportivos tossem por aí. Andrade, que fala a língua dos homens, que entende de futebol com a mesma clareza com que jogou bola, deu a cada um dos jogadores funções indispensáveis no exato limite de cada um. Daí, e por conta dessa mágica simples (mas que só os mágicos sabem fazer), o mais mediano dos jogadores passou a ser imprescindível. E que alegria, meus poucos mas fiéis leitores, ver que a zaga reserva jogou como titular (e como jogou, o menino Fabrício!), garantindo a vitória e os três pontos mesmo com a acentuada queda de produção no segundo tempo. Sem perder há dez jogos, o Flamengo... isso deixa para lá, por questões de superstição;

* ainda o futebol. Prova maior de que o campeonato está equilibradíssimo e de que nenhuma das equipes vem, realmente, jogando o fino do fino, está na mera observação de que nem o líder, Palmeiras, conseguiu vencer pelo menos metade dos seus jogos, o que me parece patético. Já o Fluminense, em tristíssima campanha e já rebaixado (valerá a regra szegeriana nesse caso?), perdeu mais da metade de seus jogos. Irá para a segunda divisão - de onde sairá o Vasco. O Botafogo, a meu ver, fica na primeira;

* ainda o futebol. Adriano, ao lado de Diego Tardelli, é o artilheiro do campeonato até o momento, com 16 gols. Seu gol de ontem, um misto de sorte, competência e força, comprova uma vez mais que ele é forte candidato à artilharia - o que será merecidíssimo, aliás. Tanto se falou do Adriano, tantas críticas, tanta maledicência, que borbotam línguas queimadas por aí;

* ainda o futebol. A rodada de quarta-feira, e as próximas, até a última, hão de pegar fogo. Se o Flamengo cumprir seu papel contra o Barueri, fora de casa, e se São Paulo e Internacional tropeçarem juntos no Morumbi, se o Palmeiras perder pontos para o Goiás no Palestra Itália, e se o Fluminense começar a escalar o poço do rebaixamento contra o Atlético Mineiro no Maracanã - esses dois últimos jogos na quinta-feira... isso deixa para lá;

* ainda o futebol (e hoje só deu futebol). Vale muito a pena ver a entrevista de Zagallo ao portal da Copa do Mundo de 2014, aqui (apenas a primeira parte). Uma vida inteira dedicada ao futebol e um homem envolvido em inúmeras polêmicas ao longo de mais de 50 anos que cruzam a Copa do Mundo de 1950 (com uma curiosidade que eu desconhecia!) e rasgam os calendários até os dias de hoje. Tenho respeito, acima de tudo, pelo velho Lobo.

Até.

25.10.09

UM APELO PATÉTICO

Conforme já havia lhes contado aqui, a coluna GENTE BOA (o nome vai, geralmente, na contramão dos personagens que a frequentam), dia desses, noticiou que o compositor Moacyr Luz, jurado da nova edição do GUIA RIO BOTEQUIM, anda mais preocupado com o limão do mictório do que com o limão da casa. Troço preocupante.

Semana passada, mais precisamente na quinta-feira, o compositor voltou à coluna (que presta, vê-se uma vez mais, um grande serviço ao jornalismo, à cidade - tsc). Dessa vez, fazendo um apelo.

nota publicada na coluna GENTE BOA de O GLOBO de 22 de outubro de 2009

Não custa atender ao pedido.

Sigam o compositor. Aqui.

Até.

24.10.09

VEJA: UM NOJO

A revista VEJA que chega às bancas amanhã traz, na capa, uma mensagem curiosíssima.

capa da revista VEJA de 25 de outubro de 2009

Não tem coragem, a canalha que comanda a revista (que inicia, assim, mais uma campanha contra a cidade do Rio de Janeiro), de completar o pensamento reinante na redação do lixo que é a VEJA: "O POBRE, É CLARO"

Ou eles põem, na mesma conta, os milionários, os políticos, os membros da elite mais odiosa que sentam o nariz no pó servido em bandejas de prata nas festas em que tudo é permitido?!

Um nojo.

Vamos às "outras 14 verdades incômodas sobre o crime no Rio de Janeiro" com meus singelos comentários.

"1 - Quem cheira mata

O usuário de cocaína financia as armas e a munição que os traficantes usam para matar policiais, integrantes de grupos rivais e inocentes. A venda de cocaína aos usuários cariocas rende 300 milhões de reais por ano aos bandidos. Os usuários de drogas financiam a corrida armamentista nos morros. Cada tiro de fuzil disparado tem também no gatilho o dedo de um comprador de cocaína. Os cariocas fingem não ver essa realidade e, quando a coisa fica muito feia, fazem ridículas passeatas "pela paz" ou "contra a violência". Só haverá algum progresso quando a luta for contra os bandidos e seu objetivo deter o crime."


Quem vende as armas para os traficantes?! Alguém pobre, algum morador da favela ou mesmo um mero cidadão da classe média?! Ou não seria alguém muito poderoso, muito influente, milionário, frequentador das mais altas e mais podres rodas?! Quanto rende a venda de cocaína aos usuários paulistas?! Como são sórdidos os jornalistas da VEJA... Lutar contra os bandidos significa também varrer os bandidos dos palácios, das câmaras de deputados do Brasil inteiro, do Senado. Ou refere-se, a VEJA, ao bandido do morro, apenas?!


"2 - A cegueira do narcolirismo

Os traficantes são presença valorizada em certas rodas intelectuais, de celebridades e de jogadores de futebol. Isso facilita os negócios do tráfico e confere legitimidade social à atividade criminosa. O goleiro Júlio César, da seleção brasileira, já teve de dar explicações à polícia por ter aparecido num grampo telefônico falando com o traficante Bem-Te-Vi, ex-chefão da Rocinha. Escutas telefônicas revelaram que outros jogadores, como Romário, também mantinham algum tipo de contato com o bandidão."


Começa a contradição - mas ainda assim a VEJA (que abriga o lastimável Reinaldo Azevedo em suas fileiras) salva a pele da casta. Quer dizer, então, que os jogadores de futebol também fomentam o crime? Sei.

"3 - A tolerância com a "malandragem carioca"

O "jeitinho brasileiro", a aceitação nacional à quebra de regras, se une, no Rio, ao culto da malandragem que, ao contrário do que parece, não é inocente. Reforça a ilegalidade. No início do ano, a prefeitura demoliu um prédio com 22 cubículos, construído ilegalmente, na Rocinha. Havia uma proprietária "de fachada", moradora da favela, que conseguiu decisões liminares impedindo a demolição. Descobriu-se depois que o verdadeiro dono do prédio era um morador de classe média da zona Sul."


Qual o nome do morador de classe média da zona sul?! Eu duvido que seja da classe média - duvido. Nomes de traficantes, de ladrões de galinha, saem nas manchetes. Quem era o verdadeiro dono do prédio?! A VEJA omite.

"4 - O estímulo populista à favelização

Os políticos se beneficiam da existência das favelas, convertidas em currais eleitorais. Elas abrigam 20% dos eleitores da cidade. A invasão eleitoreira se dá por meio de instituições batizadas de centros sociais, mantidos por deputados e vereadores. Em troca de votos, esses centros fornecem serviços que deveriam ser disponibilizados pelo poder público, de creches a tratamento dentário. Transformar a pobreza num mercado de votos mostrou-se um negócio lucrativo. Quase metade dos deputados estaduais fluminenses e 30% dos vereadores cariocas mantêm centros sociais."


Ótimo. Esses vereadores têm nome. A VEJA, de novo, omite. E não apenas as favelas são currais eleitorais. Mas como o que a VEJA quer, mesmo - como grande parte da elite covarde que não assume o desejo - é o extermínio da população que vive nas favelas (por absoluta falta de opção), interessa a informação rasteira, sem o aprofundamente que a questão exige.

"5 - O medo de remover favelas

Os aglomerados de barracos, com suas vielas, são o terreno ideal para o esconderijo de bandidos. É hipocrisia tratar a remoção como desrespeito aos direitos dos moradores. As favelas não param de crescer. Um estudo feito pelo Instituto Pereira Passos (IPP) mostrou que, entre 1999 e 2008, o aumento de áreas faveladas na cidade foi de 3,4 milhões de metros quadrados, território equivalente ao do bairro de Ipanema. O número de favelas no Rio passou de 750, em 2004, para 1.020 neste ano. A maior parte das novas favelas tem menos de 50 barracos."


Remoção - não é demais repetir - é usada para lixo, cadáver e favela. Coberturas na orla do Rio de Janeiro também são esconderijo de bandidos - mas estes bandidos a VEJA não aponta, não combate, não nomeia.

"6 - Fingir que os bandidos não mandam

Eles mandam. Indicam quem vai trabalhar no PAC e circulam livremente com seus fuzis próximo aos canteiros de obras do principal programa do governo federal. Decidem sobre a vida e a morte de milhares de inocentes. Tortura e assassinato fazem parte da rotina. Um dos métodos de execução é o "microondas", um improvisado forno crematório no qual a vítima é queimada viva, depois de ser torturada. A barbárie foi mostrada para o país inteiro em 2002, quando o jornalista Tim Lopes, da TV Globo, foi capturado e morto em um "microondas" por traficantes da Vila Cruzeiro."


Matam os políticos que desviam verba, que roubam, que corrompem e são corrompidos. Cada criança, cada homem, cada mulher, cada velho e cada velha que morre por falta de atendimento nos hospitais públicos, grande parte deles em pandarecos, é assassinado pela corja que rouba - mas que não incomoda, vê-se, a revista VEJA.

"7 - Combater crime com mais crime

O governo incentivou a criação de grupos formados por policiais, bombeiros e civis para se contrapor ao poder do tráfico. Deu o óbvio. Onde esses grupos venceram, viraram milícias e instalaram a lei do próprio terror. Atualmente, mais de 170 favelas são dominadas por milícias no Rio de Janeiro. Esses bandos exploram clandestinamente serviços como venda de gás, transporte e até TV a cabo. Com os traficantes desalojados por eles, matam e torturam inocentes nas áreas dominadas."


Há milicianos vereadores, deputados estaduais, deputados federais e senadores. Eles, também, não incomodam a VEJA.

"8 - Marginais são cabos eleitorais de bandidos

Muitas associações de moradores funcionam como fachada para que criminosos apareçam como "líderes comunitários" e possam fazer abertamente campanha por seus candidatos. Na Câmara dos Vereadores e na Assembléia Legislativa existe uma "bancada da milícia".
O caso mais emblemático é o de Nadinho, que acumulou as funções de líder da milícia e de presidente da Associação de Moradores da favela Rio das Pedras. Quando ele ocupava esse posto, só fazia campanha por ali o político que "fechasse" com Nadinho, que foi um importante cabo eleitoral do PFL e elegeu-se vereador pelo partido, o mesmo do ex-prefeito César Maia. Acabou assassinado este ano. Na Rocinha, a atuação como líder comunitário garantiu a Claudinho da Academia uma vaga de vereador. No caso, com o apoio do tráfico de drogas."


Há mais, muito mais políticos no mesmo papel. Nomes, VEJA, nomes.

"9 - A corrupção torna a polícia mais inepta

A taxa de resolução de homicídios no Rio é de 4%. Em São Paulo, é de 60%.
Isso acontece porque policiais agem como marginais. Um exemplo chocante da atuação de bandidos fardados deu-se na semana passada, quando Evandro Silva, integrante do grupo AfroReggae, foi baleado e morto em um assalto no Centro da cidade. Minutos depois, dois PMs chegaram ao local do crime. Silva ainda agonizava. Eles nem olharam para a vítima. Os policiais correram a achacar os criminosos, que foram abordados e soltos depois de entregar aos PMs o fruto do latrocínio - uma jaqueta e um par de tênis."


Tenho cá minhas dúvidas de que foi um assalta. Foi, na minha humílima opinião, assassinato mesmo, encomendado. A quem incomodava Evandro Silva?

"10 - As "comunidades" servem de escudos humanos

Os bandidos usam a população civil sob seu domínio para dificultar a ação da polícia. Quando um morador morre e noticia-se que foi vítima do confronto, o bandido vence a guerra da propaganda. Se não houvesse criminosos, não haveria confronto.
Os moradores são massa de manobra dos traficantes. No início do ano, quando o traficante Pitbull, da Mangueira, foi morto durante uma operação policial, bandidos usaram moradores para promover tumultos nos arredores da favela. Quatro ônibus foram incendiados. Cerca de 70 pessoas foram ao enterro do traficante."


Essa "verdade" é tão sem sentido que, francamente, não merece comentário algum. Milhares de pessoas foram ao enterro do ACM, por exemplo. E mais não digo.

"11 - O governo federal está se lixando

Como o crime no Rio não afeta a popularidade do presidente, a questão não é prioritária. Dos 96 milhões de reais previstos para modernizar a polícia em 2009, somente 11 milhões de reais chegaram aos cofres do estado. Um dos projetos que não foram atendidos é o de identificação biométrica de armas, que permitiria o melhor controle do armamento utilizado pela polícia. Está orçado em 17 milhões de reais. Outro projeto, de 2,6 milhões de reais, é o da aquisição de um simulador de tiros, aparelho em que o policial treina combates virtuais."


De novo, sem comentários. O governo federal não está se lixando - tenho isso como certo. E a VEJA não sabe que maus policiais (são vários os casos) vendem armamentos para o crime organizado?! Não sabe?!

"12 - As favelas não produzem drogas nem armas

Nunca se fala ou se age decisivamente contra a estrutura profissional e internacional de fornecimento de cocaína e armas aos traficantes cariocas. Inexiste a fiscalização de estradas, portos e aeroportos. A fiscalização nas fronteiras do Brasil é pífia. O país tem em média um policial federal para cada 20 quilômetros de fronteira. Com tão pouca gente, é impossível impedir a entrada de cocaína, principalmente considerando-se que os países que concentram a produção mundial da droga são nossos vizinhos — Bolívia, Peru e Colômbia."


E quem, senhores da VEJA, quem comanda a "estrutura profissional e internacional de fornecimento de cocaína e armas" para o crime?! Quem?! O bandido que está no morro? Ou membros do mais alto escalão, no Brasil e no mundo?

"13 - O Porto do Rio é uma peneira

Somente 1% dos contêineres que passam pelo Porto do Rio são escaneados para a fiscalização do contrabando de armas e drogas. É uma omissão criminosa, pois 60% do tráfico de drogas se dá por via marítima. Nos demais portos brasileiros é a mesma coisa. O porto do Rio é o terceiro mais movimentado do país, atrás apenas de Santos e Paranaguá. No ano passado, passaram pelo terminal carioca 8,8 milhões de toneladas de cargas. Como é impossível fiscalizar todos os contêineres, a inspeção se dá por amostragem. Policiais que atuam no combate ao tráfico admitem que dependem de denúncia para flagrar carregamentos de drogas."


De acordo.

"14 - Quem manda nas cadeias são os bandidos

As organizações criminosas comandam a operação na maioria dos presídios brasileiros. Elas cobram pedágios dos presos - pagos lá fora pelos familiares à organização -, planejam e coordenam ações criminosas. Em 2002, Fernandinho Beira-Mar e outros chefões do tráfico lideraram uma rebelião que terminou com quatro detentos mortos em Bangu 1. Os líderes da rebelião foram transferidos, mas a situação não se alterou muito. Nos últimos nove anos, sete diretores de presídio foram assassinados no Rio."


Organizações criminosas não comandariam as operações nos presídios brasileiros se não contassem com a participação criminosa de funcionários dos presídios. Isso é óbvio, é evidente. Os diretores de presídio assassinados desagradam, também, aos funcionários corruptos - ou não?!

"15 - Os advogados são agentes do tráfico

Eles têm acesso constitucionalmente garantido aos presos que defendem nos tribunais. Muitos usam esse direito para esconder seu real papel nas quadrilhas: o de levar ordens de execução e planos de ataque. Em 2007, a Polícia Federal descobriu que, mesmo trancafiado no presídio de segurança máxima de Campo Grande, no Mato Grosso do Sul, Fernandinho Beira-Mar continuava comandando seus negócios. Para isso, contava com a ajuda dos advogados e da mulher, também advogada, que o visitava constantemente na prisão. Ela acabou presa, com outras dez pessoas, numa operação da PF."


Era o que faltava. Culpar os advogados. Maus advogados, advogados criminosos, têm de receber a mesmíssima punição que um médico criminoso, que um político criminoso, que qualquer criminoso.

A VEJA, meus poucos mas fiéis leitores, é muito, mas muito podre.

Até.



CENAS TIJUCANAS

No JB de hoje...

crônica publicada no JB de 24 de outubro de 2009, no caderno IDÉIAS

Até.

CENAS TIJUCANAS, NO JB ONLINE

Já está no ar.

Aqui!

Ou aqui, clicando na imagem abaixo.

publicado no caderno IDÉIAS do JB de 24 de outubro de 2009Até.

23.10.09

MEU PERSONAGEM DA SEMANA: NELSON RODRIGUES

Como eu lhes contei recentemente, fui convidado - o que muito me honrou, repito - a escrever para o portal da Copa do Mundo de 2014, site oficial do Ministério do Turismo. Eu lhes disse, naquela oportunidade, que em breve, em brevíssimo, encaminharia para a curadoria do portal o meu texto - e o fiz. O texto, MEU PERSONAGEM DA SEMANA: NELSON RODRIGUES, acaba de ser publicado e você pode lê-lo aqui ou clicando na imagem abaixo.

portal da Copa do Mundo de 2014, site oficial do Ministério do Turismo

Até.

ESSE É O MEU BRASIL

matéria publicada no GLOBO ON LINE de 23 de outubro de 2009Até.

UMA APOSTA

Quero brincar de apostador.

Tomem nota daí.

A DELTA vai ganhar a licitação.

matéria publicada no site do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro em 22 de outubro de 2009

Até.

22.10.09

JOHNNY´S BAR

De todos os bares que visitei em NY - e foram muitos! - o que mais gostei, de longe, foi o JOHNNY´S BAR, na Greenwich Avenue, 90 (detalhes aqui). A indicação foi feita por dois grandes conhecedores do assunto, Hans e Leo Boechat.

A eles eu dedico o filme abaixo, que fiz com uma câmera numa mão e uma garrafa de cerveja jamaicana na outra.


Até.

21.10.09

MUNDIAL, O MERCADO INTERNACIONAL

Eis-me aqui, de volta. E quero, desde já, ansioso, contar-lhes uma coisa que, bem sei, soaria como redonda mentira, ou mesmo como um exagero de minha parte (vocês me têm, eu sei, na conta de um hiperbólico incorrigível). Eu diria mesmo, sem medo do erro, que se não fossem as fotos que fiz eu seria tido como um mitomaníaco sem cura, já que lhes contaria, eufórico, sobre o que vi.

E confesso que por essa nem eu esperava. Nem eu!

Fui tirar minhas merecidas férias na semana retrasada. Como bom padrinho que sou, comecei a viagem, que tinha NY como destino principal, pela cidade de Shrewsbury, em Massachusetts, em busca do Alfredinho - meu afilhado (e do Bernardinho, seu irmão, e de Raquel e Alfredo, seus pais, primos da minha menina, naturais de Volta Redonda, cidade que em tudo se iguala à Tijuca, afora o ar siderúrgico).

Na manhã do dia seguinte saí para dar um volta pela cidade.

A saudade da Tijuca já me queimava as entranhas em meio à manhã gelada (coisa de - o quê?! - seis, sete graus centígrados) quando deparei-me com o que me pareceu uma miragem.

carro de entrega do Mundial em Shrewsbury, Massachusetts, EUA, 11 de outubro de 2009

Diante do carro com o logotipo MUNDIAL MARKET tive uma febre de rua do Matoso. Não podia ser. Não podia ser verdade. Estaquei diante de um policial e perguntei o que era aquilo.

- É um supermercado brasileiro. Fica logo ali.

Fui, incrédulo, na direção que me foi apontada.

E entrei, arremessado à zona norte da minha cidade, arremessado ao MUNDIAL da Matoso, no tal supermercado.

interior do supermercado Mundial em Shrewsbury, Massachusetts, EUA, 11 de outubro de 2009

Funcionários, caixas, açougueiros, todos, todos falando português, exibindo produtos anunciados em português e em inglês, e pedi, trêmulo e ainda descrente, um pão com manteiga e uma média de café preto sem açucar.

Febril, perguntei ao gerente se eles faziam entrega em casa. Diante da resposta positiva encomendei algumas coisas para o almoço, que mandei entregar na Haddock Lobo. Só depois, diante de seu assombro, dei-me conta de que estava longe.

Coisas, meus poucos mas fiéis leitores, que - modéstia à parte, até porque isso não é vantagem, isso é uma sina - só acontecem comigo.

Até.

20.10.09

DE VOLTA!

Hoje, se der (e se deu) tudo certo, daqui a pouco retomo as atividades aqui no BUTECO. Espero que vocês, meus poucos mas fiéis leitores, tenham gostado desse arremesso ao passado que deixei preparado para o período de curtas e merecidas férias.

Até.

19.10.09

HÁ TRÊS ANOS, NO BUTECO...

Notem o que diz o bilhete... "Meu irmão, eu vou brigar por você, sempre! Edu e Szegeri"

para Fernando Toledo

Ontem, muito movido pelo gesto passional do Simas, recente e queridíssimo amigo, decidi fazer algo que vinha ocupando minha cabeça há muitos anos: cancelar, definitivamente, para nunca mais voltar atrás (e esse nunca, mais que nunca, dito com a ênfase szegeriana), minha assinatura do jornal O GLOBO, feita em 1994, na época em que vacas tentavam destruir meu pasto, sem êxito e sem caráter.

Brizolista que sou (eu disse sou), minha ojeriza às Organizações Globo vem, como diria o meu saudoso e eterno Governador Leonel de Moura Brizola, de longe. O nefasto episódio Time-Life, o papel vergonhoso desempenhado durante os anos de chumbo, a participação comprovada no escândalo PROCONSULT que tentou surrupiar votos de Brizola quando eleito pela primeira vez Governador do Rio de Janeiro, a nojenta omissão da TV GLOBO quando da realização dos comícios em prol das eleições diretas, a edição covarde do último debate entre Collor e Lula em 1989, tudo isso sempre me enojou e me fez ser, permanentemente, um leitor e um telespectador mais-que-atencioso quando se tratava de ler, ver e ouvir o que vinha da Vênus Platinada.

Hoje percebo que, por razões que nem eu mesmo consigo explicar, tornei-me assinante de O GLOBO por osmose. Os jornais cariocas - vale dizer que o povo carioca é o que mais lê jornais em todo o Brasil -, e isso hoje é ainda mais evidente e mais grave, tornaram-se um pastiche só, salvando-se um ou outro jornalista, ora de um, ora de outro jornal. Ocorre que O GLOBO era - e ainda é - o mais importante jornal do Rio de Janeiro, e acho que por isso, e graças a uma preguiça condenável, eu até ontem figurava no rol de seus assinantes. Figurava, como bem disse.

Impulsionado pelo corajoso gesto do Simas, enojado com a crônica que o Arnaldo Jabor (sem o negrito, que ele não merece) publicou naquele detestável Segundo Caderno (nem a Regina Duarte foi capaz de campanha tão sórdida pelo medo em detrimento da esperança e da verdade), tomei, ontem, no final do dia, a decisão que hoje - é incrível como é bonito e comovente perceber o que nos causa a tomada de um gesto eminentemente político - me alivia de forma quase que inexplicável.

Pediu-me, a supervisora Ieda, que me ligou ontem minutos após meu desligamento por telefone com um dos atendentes do jornal, que enviasse para um email que me forneceu, a lista das razões que me levaram a essa decisão. Decisão que - disse-me ela - tem sido uma triste constante nestas últimas semanas, em que o jornal - basta uma passada de olhos na seção de cartas dos leitores - assume, escancaradamente, uma posição parcial e desonesta, na contramão do desejo do povo brasileiro.

Eis, meus caros, a íntegra do email que escrevi possuído:

"A pedido da Sra. Ieda, que gentilmente atendeu-me hoje quando cancelei, por telefone, minha assinatura, venho pela presente mensagem dirigir-me a vocês para - a pedido dela, repito - explanar as razões de meu desligamento definitivo deste jornal.

Tudo começou em 19 de março de 2005 - sou assinante bem antigo - quando flagrei nojento e explícito caso de plágio nas páginas do destetável caderno ELA. Vejam aqui:

http://butecodoedu.blogspot.com/2006/06/acr-e-um-plgio.html

Mandei email para os editores, para a própria plagiadora, e ninguém me respondeu.

Depois, seguem-se VINTE E DOIS episódios repugnantes, tendo outro jornalista, dono de coluna no jornal, como protagonista de notas fétidas, preconceituosas, voltadas para um público ao qual não pertenço, seguem todas imediatemente abaixo.

01) http://butecodoedu.blogspot.com/2006/03/p-sujo-fashion.html
02) http://butecodoedu.blogspot.com/2006/04/e-prossegue-praga.html
03) http://butecodoedu.blogspot.com/2006/04/eu-visionrio.html
04) http://butecodoedu.blogspot.com/2006/05/jota-o-incansvel.html
05) http://butecodoedu.blogspot.com/2006/05/os-chefs-e-os-butecos.html
06) http://butecodoedu.blogspot.com/2006/05/gentskrta.html
07) http://butecodoedu.blogspot.com/2006/05/jota-alade-e-chico.html
08) http://butecodoedu.blogspot.com/2006/06/jota-mentiroso.html
09) http://butecodoedu.blogspot.com/2006/06/jota-x-9.html
10) http://butecodoedu.blogspot.com/2006/07/idi-jota.html
11) http://butecodoedu.blogspot.com/2006/07/jab-com-jota.html
12) http://butecodoedu.blogspot.com/2006/07/ranking-do-jota.html
13) http://butecodoedu.blogspot.com/2006/07/jota-de-frias-mantida-fria.html
14) http://butecodoedu.blogspot.com/2006/07/inaceitvel.html
15) http://butecodoedu.blogspot.com/2006/07/farra-continua.html
16) http://butecodoedu.blogspot.com/2006/07/eu-sabia.html
17) http://butecodoedu.blogspot.com/2006/08/jota-ataca-outra-vez.html
18) http://butecodoedu.blogspot.com/2006/08/jota-corretor.html
19) http://butecodoedu.blogspot.com/2006/08/os-investidores.html
20) http://butecodoedu.blogspot.com/2006/09/ter-o-jota-enlouquecido.html
21) http://butecodoedu.blogspot.com/2006/09/o-patro.html
22) http://butecodoedu.blogspot.com/2006/10/ele-s-pensa-naquilo.html

Some-se a isso, Srs., a paciência que tive que ter durante a Copa do Mundo lendo as colunas de jornalistas que não sabem NADA de futebol, e que atentaram contra o leitor inteligente ávido por notícias ligadas ao maior torneio de futebol do mundo.

Some-se a isso, Srs., ter que aturar Joaquim Ferreira dos Santos escrevendo às segundas-feiras, Arnaldo Jabor às terças-feiras (ontem, especialmente, esteve nojento, e senti-me ofendido quando ele referiu-se como ignorantes aos que votam em Lula, como eu), Arnaldo Bloch, um bobo, Artur Dapieve, que nada tem a acrescentar, Artur Xexéo, chato, repetitivo, cansativo, e figuras pífias que assinam cadernos como o ELA ou seções imbecis dentro da Revista RioShow.

E some-se a isso, Srs., e eis a gota d´água, a cobertura parcial, desonesta, fascista, preconceituosa e venal das eleições 2006.

Como, infelizmente, fui informado pela atendente Ieda que, por obra do sistema de assinatura mensal, receberei o jornal até 12 de novembro de 2006, venho pela presente dizer que (01) já requeri o cancelamento definitivo da assinatura a partir daquela data, (02) até lá o jornal servirá, apenas, para que o Pepperone, meu cachorro vira-lata, faça xixi e cocô nas páginas de O GLOBO, sendo uma tremenda sorte dele o fato de não saber ler e, finalmente, (03) que farei intensa propaganda entre os meus, que não são poucos, para que sigam minha decisão de deixar de assinar este jornal que não cumpre, minimamente, o dever de informar, mas sim, diariamente, o papel de torcer os fatos, manipular a verdade, exaltar a podridão que destrói a cidade do Rio de Janeiro e assola o País, enganar o leitor (ou tentar enganá-lo), mentir, mentir, mentir, a serviço das forças mais destrutivas que este País conhece.

Espero, Srs., desta vez, receber ao menos uma resposta, mínima que seja, eis que, JAMAIS, mesmo diante de minhas intensas manifestações de descontentamento por email, recebi qualquer resposta.

Atenciosamente,

Eduardo Goldenberg"

Ontem à noite mesmo, contando este episódio a meu amado pai, disse-me ele:

- Meu filho... Eles não estão nem aí pra isso... São milhões de assinantes...

Quero crer que meu pai se equivoca.

Eu sou apenas UM indivíduo. E que a fila aumente.

A propósito: a imagem que encabeça este texto é a do bilhete que escrevi, em meu nome e em nome do Szegeri, e que pus, cheio de orgulho, no barquinho branco de madeira que desceu o leito do Rio Maracanã, no dia 17 de agosto de 2005, levando as cinzas do meu irmão Fernando Toledo. Lembrei demais dele ontem, quando desliguei o telefone com a atendente do jornal.

Até.

18.10.09

HÁ DOIS ANOS, NO BUTECO...

Eu já havia escrito, em 25 de maio de 2007 - leiam aqui - um texto chamado A CANALHA: MODUS OPERANDI. Volto, hoje, em razão dos últimos acontecimentos, que desenredarei ao longo deste texto, ao mesmo tema: o modo de agir da canalha.

Esse que vocês vêem na foto abaixo é meu irmão Luiz Antonio Simas. E isso que vocês vêem meu irmão bebendo é cerveja (duas, eis que ele é, como eu, um exagerado). Luiz Antonio Simas estava, é importante dizer, nesse dia, no Maracanã.

Luiz Antonio Simas, Maracanã, 29 de setembro de 2007

E ontem, quando jogaram Brasil e Equador pelas Eliminatórias da Copa do Mundo, no Maracanã, lá estava Luiz Antonio Simas, com quem falei há pouquíssimo. Disse-me o sábio:

- Edu... o pior programa do mundo, para quem gosta de futebol, é assistir, in loco, a uma partida da seleção brasileira...

E na mesma linha do que lhes contei ontem, leiam aqui, saiu descendo a borduna nas babaquices que a canalha aprontou para o (pausa para o vômito) "jogo da família", como anunciou, incansavelmente, durante a semana, o pentelho do Galvão Bueno (sem o negrito, evidentemente).

Disse-me o Simas que entrou cedo na expectativa de beber umas geladas antes do jogo. Por ordens da FIFA, que como a CBF é um nicho de ladroagem aguda, a venda de bebidas alcóolicas estava proibida. Meu filho, o Prata, que foi com a mãe ao jogo, já havia me ligado, às nove em ponto, já de dentro do estádio, vociferando ao telefone:

- Não tem cerveja! Não tem cerveja! E agora?

Disse-me o Simas, assombrado, que o sistema de som do Maracanã tocou a valsa DANÚBIO AZUL (!!!!!), com incentivos para que a torcida fizesse coreografia. Uma parte - os babacas, evidentemente - atendeu ao patético apelo. Mas a grande maioria alternava cânticos carinhosos em direção ao Galvão Bueno - vejam aqui, imperdível! - com o grito de "CERVEJA! CERVEJA! CERVEJA!". Quer dizer... o tiro saiu pela culatra, já que esse papo de jogo sem palavrão, com toda a licença, é de uma escrotidão sem tamanho.

Dito isso, vamos em frente.

Quero, agora, lançar luzes sobre os comentários deixados aqui, no texto UM SÁBADO MAIS-QUE-CARIOCA, pelo Gabriel Cavalcante e pelo Rodrigo Ferrari, meu querido Folha Seca. Vamos a eles, nos trechos que me interessam. Disse o Gabriel:

"Realmente o dia foi maravilhoso, só teve um contra: ao chegar no Capela ao lado do Rodrigo Folha Seca, fomos informados pelo Cícero que não poderíamos sentar na mesa escolhida pois estava reservada para um grupo de Ipanema que por sua vez só ia pro Capela se fosse atendido pelo Cícero.

Aí já é demais.

Mas não teve problema, fomos atendidos pelo Miro, (...)."


E emendou o Folha Seca:

"Caraca, Gabriel!

(...)

Acho que sublimei esses momentos por conta da decepção ocorrida no Capela. O Cícero era nosso baluarte! Trocados por um grupo (que podia vir de qualquer lugar, mas que sintomaticamente vinha de Ipanema) que talvez nunca tenha ido lá e provavelmente jamais voltará (notei quando entraram que nenhum deles conhecia o Cícero).

Fiquemos então, por algum tempo, com o Miro, também grande figura, até o dia em que o Cícero se redimir com a gente.

Reserva no Capela, nem o Marecha eu tinha visto conseguir...

Mas se a gente viesse de Ipanema..."


Disse bem o poço artesiano de doçura e de ternura... Sintomaticamente o grupelho vinha de Ipanema.

É EVIDENTE que os imbecis não conheciam o Cícero. É EVIDENTE que consultaram um vade-mécum de otário, como bem diz meu mano Szegeri, acharam bonitinho um jantar na Lapa, leram que o Cícero é um craque (e é, como também é vítima dessa história, já que seguramente o dono o obrigou a manter a reserva em detrimento de clientes fiéis, como o Gabriel e o Rodrigo) e bateram o pé com a exigência nojenta.

É assim, a canalha.

Pensa que pode comprar tudo e todos. Pensa que pode tornar tudo asséptico demais, descolado demais, tudo à sua moda.

Mas há de chegar o dia dela.

Não passarão!

Antes de terminar, uma pergunta pública pro Szegeri:

Querido... o que esse seu irmãozinho aqui faria se lá estivesse, hein?!

Até!

17.10.09

HÁ TRÊS ANOS, NO BUTECO...

Meus poucos mas fiéis leitores hão de saber que falo a verdade. Mantive-me, durante toda a campanha eleitoral, em rigoroso silêncio sobre o assunto. A ducha de água fria que a sucessão de decepções provocou ao longo dos quatro anos de governo Lula esfriou, de fato, o desejo de vestir, por aí, camisas de qualquer cor, bandeiras de qualquer partido, e foi em silêncio, comovidíssimo, que votei no dia primeiro de outubro de 2006 em João Sampaio para Deputado Estadual, em Miro Teixeira para Deputado Federal, em Milton Temer para Governador, em Jandira Feghali para o Senado Federal e em Lula para Presidente da República.

Estamos, agora, a pouco menos de quinze dias da eleição para o segundo turno. Concorrem Lula e Geraldo Alckmin, que vai sem o negrito, que ele não merece. Por mais que alguns insatisfeitos defendam o voto nulo ou o voto em branco - lamentável caso da Senadora Heloísa Helena - é fato que o Senhor Nulo e o Doutor Branco jamais ocuparão o cargo de Chefe do Poder Executivo. O segundo turno tem inúmeras vantagens - e mesmo tendo votado em Lula, confesso que achei ideal essa segunda etapa da eleição presidencial, que veio como a materialização de um gesto simbólico de não entregar carta branca ao atual Presidente da República - e dentre elas a que eu julgo a principal: pôr, frente a frente, como as duas únicas opções, os preferidos do eleitorado.

E são eles o Lula e o Alckmin, esse último um fantoche nas mãos podres de FHC (também sem o negrito). Lula e seu projeto para o Brasil, Alckmin e seu projeto para o Brasil. E eles são - os projetos - tão diferentes, tão díspares, que eu considero, particularmente, uma covardia mais-que-reprovável essa confortável postura que põe, os dois, na mesma caçamba. Mas não vou tomar-lhes mais tempo, até mesmo porque eu não me sinto capaz de racionalizar meu voto e, conseqüentemente, convencer "a" ou "b" de que a minha escolha é que é a certa. Como em tudo na vida, decido meu voto por paixão, se bem que devo lhes dizer que tenho, sim, sempre, minhas razões para tomar essa ou aquela direção. O que quero hoje, mesmo, é dar espaço - ainda que modestíssimo, e desde já peço aos amigos que espalhem esse link na medida do possível - a um episódio que aconteceu na madrugada de segunda-feira no Jobi, no Leblon. Aliás, não poderia ser em outro lugar. Quando eu bato - e não bato pouco - no Jobi, no Leblon, se não estou querendo com isso generalizar, afinal tenho amigos queridos morando por lá, estou querendo dizer que são, o Jobi e o Leblon, ninhos de pernósticos da pior espécie, fascistas asquerosos que merecem meu mais profundo desprezo.

Estranhamente - ou nem tão estranhamente assim, afinal nossa imprensa é vendida, salvo raríssimas exceções - ninguém deu a notícia. Uma modesta e mínima nota consta da coluna de Ancelmo Gois, n´O GLOBO de hoje, com o título "Canibalismo", dando conta da barbaridade que cresce, de forma assustadora, Brasil afora.

Leiam aqui, no Vermelho Online, site que eu já recomendo há anos, a íntegra da matéria cujos trechos transcrevo:

"Dois episódios de violência urbana motivada por razões políticas acrescentaram um ingrediente novo e preocupante à disputa eleitoral de 2006.

Um dos episódios ocorreu na madrugada desta segunda-feira, no bairro do Leblon, Rio de Janeiro, onde quatro militantes petistas foram espancados por uma turma de cerca de dez pessoas que se identificaram como apoiadores do candidato à presidência, Geraldo Alckmin.

A fúria foi tanta que uma das agressoras - não conseguindo acertar os olhos da publicitária Danielle Correia Tristão - arrancou-lhe um dedo à base de dentadas. ''Segundo um médico do Hospital São Lucas, a mordida foi muito violenta e decepou até o osso'', relatou o marido de Danielle, Juarez Brito de Vasconcellos, ao site do PT. ''O médico disse que só em casos de mordida de pittbull tinha visto coisa parecida.''

Principal vítima do ataque, Danielle teve de amputar parcialmente o dedo anular da mão esquerda. Ela e o marido fizeram boletim de ocorrência, acionaram um advogado e programaram exame de corpo de delito. Dois amigos do casal o acompanhavam, sendo também alvos de hostilidades e agressões.

(...)

Depois de participarem de uma caminhada da campanha Lula pela manhã e de irem à tarde para a praia, Jurez e Danielle encontraram os amigos e se dirigiram ao bar Jobi. O casal vestia uma camiseta com a inscrição ''Lula, Sim!'' - o que fez cerca de dez apoiadores de Alckmin começarem a xingar e destilar ódio, tentando impedi-los de permanecer no estabelecimento.

Quando se sentaram, os petistas sofreram mais ameaças e provocações. ''Eles atiravam bolinhas de papel e nos chamavam de ladrões, de corruptos, de bandidos, de filhos da puta. Impressionante o ódio que saía dos olhos daquelas pessoas'', comenta Juarez. Sentindo o clima anunciado de terror, eles decidiram antecipar a conta e deixar o bar à 1 hora da madrugada. ''Tinha um senhor de uns 60 anos que ameaçava jogar um prato em cima da gente. Eles iam linchar a gente.''

Próxima à porta, porém, uma das agressoras pegou um adesivo de Alckmin e o esfregou no rosto de Danielle. Outra mulher atirou para longe o chapéu de palha usado pela petista. O grupo tentou correr até o carro, mas as agressões se multiplicaram, como relata Juarez: ''De repente, alguém me jogou no chão. Vieram outras pessoas. Foi uma grande confusão. Quando consegui me desvencilhar, já tinha sangue para todo lado''.

(...)

Outro episódio, igualmente chocante, ocorreu no domingo em João Pessoa, na Paraíba. Desta vez o jornal local, Correio da Paraíba, registrou o episódio.

Segundo o jornal, o técnico em eletrônica Tibério Modesto, de 21 anos, militante do PMDB, foi agredido a socos e pontapés, teve o aparelho celular roubado e o parabrisa do carro quebrado durante carreata do PSDB realizada na tarde de domingo (15), no bairro de Mangabeira. A esposa do Tibério, Fânela Peres, e sua filha, de apenas nove meses de idade, também foram agredidos. O bebê ficou com hematomas em um dos braços que, segundo ele, foram causados pelos participantes da carreata.

(...)

A causa do vandalismo, de acordo com Tibério, foram adesivos do candidato José Maranhão e do presidente Lula que estavam afixados em seu carro. O militante peemedebista contou que vinha da praia com a família e pretendia visitar um primo que mora em Mangabeira."

Isso é que eu acho, sinceramente, comovente, se pensarmos grande.

De um lado - e não me acusem de valer-me de discurso ultrapassado, porque isso nunca vai acabar - a elite rancorosa, a direita raivosa, a escumalha, detrito de séculos de poder concentrado nas mãos dos que não admitem o novo, os preconceituosos que, babando de um ódio incomensurável, lançam em direção ao Presidente da República e candidato à reeleição que não tarda, os mais putrefatos dedos acusando-o de não ter estudado, de não ter berço, de não ter um dedo, o que seria - disse-me uma porca um dia desses - fruto de sua desatenção na fábrica em que trabalhava: eles são os eleitores de Geraldo Alckmin.

Lula em campanha em 2006

De outro lado, diz bem o slogan da campanha de Lula, o povo.

Por isso anseio pela chegada do dia da eleição.

Para que, de novo, e dessa vez com mais orgulho, com forte convicção, eu possa cravar o 13 na urna eletrônica, chorando mais uma vez, provavelmente, gritando por dentro: "Lula de novo, com a força do povo".

É isso, definitivamente é isso, o que eu quero.

Porque eu não tenho a menor dúvida - a mais pálida - de que é o melhor para o Brasil.

Lula em campanha em 2006

Até.

PS: ah, sim. A título de curiosidade, vasculhem depois alguns blogs, de uns fanáticos anti-Lula (não conheço um único cidadão que goste do Alckmin), e vejam se eles fazem mínima menção ao lamentável episódio tipicamente fascista, perigosíssimo, parte, apenas, de um movimento ainda mais perigoso e negro que pretende tornar a reeleição de Lula ilegítima, apenas e tão-somente porque essa gentalha que arquiteta esse movimento não tolera o que vem do povo. Não custa vasculhar. Assim, vamos sabendo, nitidamente - eis a beleza de um segundo turno - quem é quem.

16.10.09

HÁ UM ANO, NO BUTECO...

Estou pra conhecer alguém mais otimista que mamãe. E o otimismo de minha mãe tem um quê que só na Tijuca, sinceramente. Mamãe é salgueirense, teve uma babá que era baiana da escola e moradora do morro (mamãe morava na rua dos Araújos), mamãe estudou no Instituto de Educação, recitava (era aluna e afilhada da então famosíssima Dalila Geraldo - falo sobre ela, de leve, aqui), presidiu um grupo de jovens de um centro espírita no Andaraí (uma das maiores alegrias de minha avó, a maior espírita da Terra depois de Allan Kardec - até mais que o francês), casou-se com um aluno do Instituto La-Fayette e morou, a vida inteira, até o presente momento, no glorioso bairro da Tijuca.

E quero lhes contar, hoje, dentro dessa série que cresce a olhos vistos - A TIJUCA EM ESTADO BRUTO -, sobre as manifestações brutais de otimismo de mamãe.

Lembro-me de um dia em que, por muito pouco, não vivenciei uma tragédia. Estávamos eu e minha menina em Cabo Frio. Era uma sexta-feira. Sábado, pela manhã, chegariam papai e mamãe. E fomos dormir, na sexta à noite, depois do Jornal Nacional (não, não, foi depois do Jornal da Globo). Acordamos de madrugada graças aos latidos alucinados do nosso carismático vira-latas. E eis o que vimos: as almofadas do sofá da sala pareciam buchas de balão junino. As chamas atingiam dois metros de altura, os porta-retratos na mesinha ao lado do sofá derretiam, as fotografias queimadas exalavam um cheiro pavoroso e salvamos tudo graças a arremessos precisos dos objetos que ardiam em direção à rua, diante de casa. Havíamos esquecido uma daquelas espirais verdes contra mosquitos acesa. E deu no que deu.

Papai e mamãe chegam sábado pela manhã e nos percebem assustadíssimos. Contamos o drama da noite anterior. E mamãe tem, ao final do relato, os olhos cheios de lágrimas. Estende as duas mãos em nossa direção. Com a mão direita, agasalha minha mão direita, com a mão esquerda, agasalha a mão esquerda da Dani:

- Que bom, meus filhos...

- Bom? - pregunta papai servindo-se de uísque às dez da manhã.

- Dizem que fogo é sinal de vida, de luz, de energia. Que bom! Que bom! Que bom! - e dá um beijo em cada uma de nossas mãos.

Outro lance: estou em sua casa e mamãe está preparando um café com leite para nós. Ajeita a mesa, esquenta o leite, prepara o café e esbarra na bandeja sobre a mesa da cozinha, deixando cair uma das xícaras de porcelana inglesa de seu jogo de seis. A xícara quica no chão e parte-se em dezenas de pedaços. Mamãe grita com as mãos pro alto, sendo 100% espírita:

- Graças a Deus!

Dani, ali perto, e papai, a seu lado, morrem de rir.

- Graças a Deus, mãe? - pergunto.

- Dizem que é algo ruim indo embora!

E uma das mais recentes provas de seu otimismo exacerbado ou de seu talento para jogar o chamado "jogo do contente" deu-se durante as Olimpíadas. Corria a prova final do atletismo, a final da prova de solo, e Diego Hypólito era esperança de medalha. Papai roía as unhas e bebia seu Red Label sem nem piscar. Mamãe, a seu lado, lixava as unhas e bicava, também, sua dose de uísque.

O brasileiro ia bem, ia muito bem. Papai, um empolgado com os esportes, gritava:

- Vai, Diego! Vai, prrrrr! Vai!

No último movimento de sua apresentação, entretanto, sofreu uma queda na aterrissagem.

No que ele caiu, mamãe levantou-se.

Com as mãos unidas, em prece, gritou olhando para o teto da sala:

- Graças a Deus! Graças a Deus!

Papai quase enlouqueceu:

- Ah, não! Graças a Deus, Pixuxa?! Ele caiu! Perdemos a medalha! Assim é demais! Vá ser espírita assim lá na China!

E mamãe:

- Coitado! Quantas cobranças se ele ganhasse esse ouro. Brasileiro nunca está satisfeito. Quer sempre mais. Tadinho do menino!

Uma otimista, minha mãe.

Volto a ela, dia desses.

Até.

15.10.09

HÁ UM ANO, NO BUTECO...

Hoje é 15 de outubro. Hoje eu quero, apenas, uma pausa de mil compassos.

(...)

Feita a pausa, em frente.

Quero lhes contar mais sobre meu pai, suas manias, suas obsessões. Como é possível, meu Deus, um homem com tantas manias e obsessões? Gostaria que o Szegeri, meu irmão (e conseqüentemente filho também de meu pai), me respondesse, por aqui mesmo ou por email. Uma delas envolve o seu Farias, o técnico de confiança de meu pai, o homem que conserta seus eletrodomésticos há mais de quarenta anos. Uma frase lapidar de meu pai, é essa:

- O seu Farias cuida das nossas geladeiras e de nossas máquinas de lavar desde antes de você nascer, Dudu! - e ele conta isso com um orgulho impressionante.

Eu chego a dizer, sem medo do erro, que quando meu pai vai comprar um produto dessa natureza, uma geladeira, um freezer, uma lava-louças mais moderna, uma secadora mais incrementada, ele vai pra fila do caixa, pagar pelo troço, já com a ânsia do defeito. Fica, enquanto espera sua vez, sonhando com a presença do seu Farias, sua malinha de couro, seu bloco de orçamento, sua perícia inigualável.

Estive com papai, há uns meses, comprando uma geladeirinha, dessas pequenas, para sua suíte (papai tem uma suíte de sultanato em casa). Estávamos no carro, voltando para casa (e eu a ajudá-lo), e ele, no primeiro sinal, discou do celular para o seu Farias:

- Seu Farias?! (...) É o Isaac, seu Farias! (...) Não, não... Não quebrou nada! Não quebrou nada! Ainda, ainda!

E ri, meu pai, piscando o olho em direção a mim. E continua:

- Estou ligando só para lhe dizer que acabei de comprar uma geladeirinha pequena para meu quarto... (...) É, isso, isso. (...) Consul, seu Farias, Consul!

Continua, excitado:

- O senhor acha? (...) A garantia é de um ano... (...) Sei, sei. (...) O.K., então, seu Farias... Assim que quebrar, já sabe, né? Tá O.K., tá O.K.!

Desliga e me diz, minutos depois:

- Há tempos que não quebra nada lá em casa.

E como tendo uma idéia luminosa, explode:

- Vou chamá-lo pra instalar a geladeira!

- Instalar a geladeira?! Pai, é só pôr na tomada!

E ele, metódico:

- Que nada! Vou ler o manual quando chegar em casa e chamar o seu Farias hoje mesmo pro serviço!

- Manual?

- Meu filho, você acha que as empresas escrevem manuais à toa?! Tem que ler o manual, tem que ler as instruções!

Já está quase estacionando o carro na garagem de casa quando balbucia:

- Tem que tirar o chapéu pro seu Farias! Mais de quarenta anos comigo! Quarenta anos!

E emenda a frase com uma comparação digna de registro:

- O seu Farias é uma espécie de doutor Mauro!

E, de fato, papai chega em casa, serve-se de generosa dose de uísque, disca pro seu Farias, marca a instalação da geladeira para o dia seguinte, e ainda demonstra excitação aguda, quando chama a Marina, a empregada, e pergunta:

- Tem alguma coisa com defeito na cozinha, Marina?

Ela, bem humoradíssima, responde:

- Além de mim, não.

- Tem certeza?

- Tenho, seu Isaac.

- Que pena, que pena, que pena! É que o seu Farias vem aqui amanhã!

Esse é meu velho. Volto a ele, dia desses.

Até.

14.10.09

HÁ UM ANO, NO BUTECO...

Durante esses exercícios fascinantes de regressão que faço para escrever a série A TIJUCA EM ESTADO BRUTO, e mamãe sempre me diz espetadíssima - "Edu, mas que memória prodigiosa, meu filho!" -, tenho me deparado com coisas absolutamente hilariantes e dignas de registro. Papai, dia desses, diante de mim - bebíamos uísque em minha casa -, pedindo mais gelo e mexendo os cubos com o médio da mão direita, disse tentando ser grave (ele não consegue):

- Quer escrever sobre mim, escreve... Mas não põe meu nome todo, pô!

Dito isso, em frente, que é dele mesmo que quero falar, hoje.

Papai, como já lhes disse noutras oportunidades, é um homem que já acorda com um colete imaginário, desses com vários bolsos. Nesses bolsos, as frases que ele vai soltando, diariamente, diante das situações que se apresentam no curso do dia (todas rigorosamente previsíveis). Eu e meus irmãos, o Fefê e o Cristiano, e também mamãe, e também minha menina e também minha queridíssima cunhada, aprendemos a fazer disso, dessa previsibilidade, dessa coerência verbal e comportamental, um trampolim para as gargalhadas inevitáveis.

O troço é impressionante e, ao mesmo tempo, apaixonante. Se acontece de um dia, por qualquer razão (pode ser uma gripe, uma tosse), papai deixar de ser e de agir como previsto, abate-se sobre a família uma espécie de luto interno que vou lhes contar! E isso por quê? Porque quando o previsível é um chato de galochas, a assistência bufa, maldiz o pobre-diabo, grita frases como "de novo?", "lá vem ele!", essas bossas que espelham repulsa. Mas quando o previsível é um sujeito adorável como meu pai (amado por toda a família de forma aguda, e seus mais recentes filhos, Felipinho Cereal, Fernando Szegeri e Luiz Carlos Fraga não me deixam mentir), o que se vê é um festival brutal de guinchos, gargalhadas, engasgos e rubor na face.

Vamos a algumas situações (estou pensando em algumas delas e estou, confesso, dando soquinhos na mesa diante do monitor, de tanto que rio).

Estamos todos à mesa, jantando. Tenham em mente, antes, que papai é um homem que madruga, acorda cedíssimo! A troca de olhares entre nós deixa evidente que é a vez do Cristiano fazer o comentário que dará ensejo à frase pronta de meu pai:

- Hoje eu acordei às nove, atrasado para o trabalho...

Papai larga os talheres e diz:

- Eu acordei tarde também! Tardíssimo!

Ninguém pergunta nada - de propósito. Mas ele prossegue:

- Acordei quatro e quinze!

E aí vem o comentário meteorológico, igualmente obrigatório para meu velho:

- Estava fazendo doze graus! Doze!

Na semana seguinte. A Lina, olhando para o próprio prato:

- Dormi muito mal, essa noite...

Mencionado o assunto, papai bufa:

- E eu? E eu?

Ninguém diz um "a".

- Acordei às três e meia! E fazia um frio daqueles! Doze graus!

Sem contar os comentários gerados por frases pré-moldadas.

Um de nós pergunta pra mamãe:

- Tem tido notícias da tia Noêmia, mãe?

E papai, eufórico:

- Eu gosto da Noêmia! Gosto da Noêmia! Uma lutadora!

Faz que sim com a cabeça, levanta as palmas da mão pra cima e diz:

- Como sofreu!

O Fefê comenta, como quem não quer nada:

- Fui ao homeopata hoje e senti tanta falta do doutor Mauro...

Ele:

- Dr. Mauro!!! Tem que tirar o chapéu pro doutor Mauro! Insubstituível!

E a mesa, qual as mesas de Kardec, na França dos idos do século XIX, girando de tanto que rimos.

Eu provoco:

- Sabem com quem falei hoje? Com o Arnaldo, pai do Mauro...

E papai, fazendo cara de dor:

- Coitado! Tem dor de cabeça há mais de 40 anos! Que coisa impressionante!

Fefê vai ao chão pra rir de joelhos.

Mamãe está bebendo vinho. Após o jantar, ela diz:

- Vamos de Frangelico?

Papai gane:

- Vai misturar?! Prrrrr! Prrrrr!

Uma explicação para a onomatopéia: esse "prrrrr" é um som que papai emite, constantemente, quando contrariado. Deriva da palavra "porra". É que nós, quando pequenos, ouvíamos constantemente:

- Palavrão na frente de sua mãe, não, hein?! Ouviram!

O máximo que papai se permite - e isso até hoje - é esse "prrrrr".

Mas tem mais, tem mais!

No restaurante, seja qual for o restaurante e seja qual for o atendimento (pode ser de excelência), papai dirá, em algum momento e em tom de reclamação aguda, como num transe mediúnico:

- Chame o gerente! Chame o gerente!

Papai é servido de café. O café está pelando, 90 graus centígrados. Ele virará a xícara num só gole e dirá, com os olhos lacrimejando:

- Gelado, pô! Gelado!

O que rendeu a ele, éramos pequenos, o apelido de "língua de couro".

E pra finalizar. Papai, sabe-se lá por qual razão, tem, desde sempre, uma implicância olímpica com o Cristiano, o caçula, no que diz respeito a restaurantes e banheiros. Explico. Vamos ao LA MOLE, por exemplo (nada mais tijucano que almoçar, aos domingos, no restaurante da Marquês de Valença).

Sentamo-nos. Vou ao banheiro lavar as mãos. Volto. Mais uns minutos, é a vez do Fefê, que anuncia:

- Vou dar uma mijadinha - antes da Lina ele era dado a esses anúncios.

Volta.

Papai quieto, na dele, bebendo sua cervejinha.

Mamãe pede licença, vai ao banheiro e volta.

Até que o Cristiano anuncia:

- Com licença...

Meu pai, olhos flamejantes:

- Onde você vai?

Eu, Fefê e mamãe já engatinhando no chão, de tanto rir.

Ele, coitadinho, responde:

- Vou ao banheiro.

E papai:

- Prrrrrrrrrrrrrrr! De novo!? Mas que mania de ir ao banheiro!

Nunca entendemos esse "de novo", muito menos a marcação com o moleque.

Volto ao assunto noutra altura, que papai é fonte inesgotável de boas histórias.

Até.

13.10.09

HÁ UM ANO, NO BUTECO...

Dia desses, conversando com mamãe - nunca será demais dizer, de público, que mamãe é um dos melhores papos, é sempre uma grande conversa! -, fui provocado:

- Tanta história tijucaníssima de seus avós paternos, tanta...

É verdade. Eu que, durante as dozes histórias até então contadas sob a grife TIJUCA EM ESTADO BRUTO, falei à beça da perna materna da família, vou lhes contar, hoje - atendendo à sugestão de mamãe -, uma história envolvendo Oizer e Elisa, pais de papai (conheçam vovô, aqui).

Quando vim ao mundo, eles moravam na rua Santa Alexandrina, no Rio Comprido. Lembro-me com perfeição do edifício em que moravam. Amarelo, pintado em escamas (parecia um peixe), sem elevador. Anos depois, creio que em meados da década de 70, meus avós tomaram a mais sábia decisão de suas vidas: deixaram o Rio Comprido e atracaram, para sempre, na Tijuca. E atracaram na rua Haddock Lobo. Justo no apartamento em que, hoje, moro com minha menina. Vejam que boniteza. Vamos às tijucanices.

Vovô, que era um velho bonitão, tinha olhos azuis e cabelos brancos esvoaçantes, como Einstein. Adorava passear a pé, andava com as mãos cruzadas para trás (isso, até precisar da bengala para caminhar), vivia flanando pela praça Afonso Pena, pela Haddock Lobo, pela Aristides Lobo, pela Campos da Paz, era um andarilho. Tinha passarinhos em casa, tratava deles com intenso carinho, adorava exibir os bichos pra nós, seus netos. E vovô ria muito. Minha avó, por sua vez, era uma mulher sisuda, tinha um olhar triste, vivia muito em casa, cozinhava, ria pouquíssimo. E os dois - era um número, era um número! - implicavam um com o outro de maneira hilariante, mas isso não vem, ao menos por agora, ao caso. Quero lhes contar sobre os lanches na casa de meus avós.

Na minha caixa de registros, esses lanches aconteciam uma vez por semana. Mamãe diz que não. Mas, para todos os efeitos, uma vez por semana íamos lanchar na casa de meus avós paternos. A sala (que é hoje a minha sala, com tudo mudado, é evidente!) era atravancadíssima! Eles tinham uma mesa enorme, retangular, de oito lugares, e essa mesa estava sempre, rigorosamente sempre!, lotada de comida para os tais lanches. Antes, pequena pausa.

Herdei de vovô Oizer um costume. Vovô dizia, durantes os lanches, sempre a mesma coisa:

- Comprei esses pães aqui ao lado, na melhor padaria do mundo!

Ou:

- Está bom o presunto, Isaac? É da mesma padaria e é o melhor presunto do mundo.

Ainda:

- Venham ver a televisão nova que comprei. É a melhor TV do mundo!!

Um homem feliz, como vocês podem imaginar.

Vamos à mesa. Digamos que estamos eu, papai, mamãe, Fernando, Cristiano, vô Oizer e vó Elisa. Oito pessoas. E sobre a mesa estão quarenta sanduíches de brioche com queijo prato, quarenta sanduíches de brioche com presunto, quarenta sanduíches de brioche misto, uma quantidade formidável de bolinho feito de aipim, um bolo de chocolate, um bolo de nozes, um bolo de laranja, refrigerantes de diversas marcas, uma quantidade inacreditável de comida. E a mesma cena, semanalmente:

Vovô Oizer pro Cristiano:

- Come mais, menino!

- Tô satisfeito, vô...

- Nada! Toma, toma! - e punha dois brioches, um em cada mão de meu irmão.

E dava a ordem:

- Come! Come!

Papai:

- Pai, ele não quer...

- Quer, sim! E come mais você também!

Quando papai ia dizer alguma coisa, recusando, mamãe o chutava por baixo da mesa e dizia:

- Mais um, Isaac...

E papai comia.

Os olhos azuis de meu avô brilhavam vendo netos, filho e nora enfarados. Era uma coisa, de fato, impressionante. Anos depois - eu acho - atribuí essa necessidade a um possível trauma causado pelas dificuldades passadas pelo homem que veio de Odessa para o Brasil, trabalhou muito, e honestamente, casou, teve dois filhos e os criou como homens de bem. Mas não era nada disso. Era a Tijuca cravada dentro de meu avô, pô!

Se vovô tinha essa mania de achar que tudo aquilo que ele podia ter era o que havia de melhor no mundo, vovó tinha outra. Era uma mulher, vocês verão, sem nenhuma habilidade (ou disposição, vá saber!) para o diálogo. Eu dizia, durante o lanche:

- Acho que esse presunto foi cortado grosso demais.

E ela, em tom autoritário:

- Também acho.

O Fefê, retrucando:

- Você achou, Edu? Nossa! - e mostrava uma fatia do presunto - Pra mim, está finíssimo!

E ela:

- Também acho!

E se o assunto tomasse rumos meteorológicos? Meu avô dizia, olhando pela janela:

- Vai chover...

- Também acho.

Meu pai replicava:

- Vai não, pai. Li no jornal hoje que só chove na quinta-feira. Não vai chover!

E minha avó:

- Também acho.

O bonito é que, invariavelmente, na hora da despedida, o pau estancava entre meus avós, com um carinho que só muitos anos de casamento permite.

- Levem mais brioches! - bradava vovô.

- Cala a boca, Oizer! Eles estão botando brioche pelas narinas!

E ele, de voleio:

- Cala a boca você, Elisa! Prepare o farnel pros meninos!

Nós, já no corredor.

- Não vê que eles não querem, Oizer?! Cala a boca!

E ficavam, ali (nós ouvíamos o doce diálogo com a porta já fechada, o prédio tem um eco impressionante!), batendo boca sem nenhuma intenção de agressão.

Era o hábito, apenas.

Volto a eles, dia desses.

Até.

12.10.09

HÁ DOIS ANOS, NO BUTECO...

Quem acompanha o BUTECO - cada vez mais gente graças aos deuses! - sabe que eu tenho, e sempre tive, os dois pés atrás com tudo, rigorosamente tudo que tem a chancela de O GLOBO.

Essa a razão para a boa surpresa que acabo de ter, lendo o blog de Aydano André Motta - o CHOPE DO AYDANO -, um dos integrantes do grande latifúndio blogueiro comandado pelo Ancelmo Góis.

Um ou outro detrator disparará que falo isso somente porque exaltou, o Aydano, um buteco na Tijuca. Rotunda mentira. O que me deixou satisfeito, mesmo (e mesmo sabendo que em sede de O GLOBO trata-se de gritante incoerência) foi a menção a uma das máximas que defendo, com unhas e dentes, há anos, a de que buteco não pode - não pode!!!!! - entrar para o modorrento mundo das fanquias. Eis o texto, destacado por mim:

"A integridade de um botequim

Faz tempo que o blog não fala de botequim (nem de coisa alguma, porque a coisa anda meio parada por aqui, mas vai melhorar). Esquecer as catedrais etílicas da cidade é crime hediondo, ainda mais para um espaço que tem chope no nome. Então, dívida paga.

Quer saber? Botequim que é botequim não concede franquia. No máximo, abre filial, uma só e olhe lá. Mas o melhor mesmo é ficar no original, no conceitual, no autêntico. Assim se explica a magia de três ótimos exemplos (e, veja só, não necessariamente nesta ordem): Bracarense, Jobi e Salete. O assunto aqui, hoje, será o tijucano.

Encravado no início da Rua Afonso Pena, o Salete parece impessoal, a olho nu. Mas só leigo se engana. Sua empada de camarão concorre em pé de igualdade com outras mais badaladas, como a do Mosteiro, restaurante de primeiro escalão do Centro. Seu chope igualmente não faz feio, tirado com toda a correção devida. Dá para passar a tarde (o lugar fecha lamentavelmente cedo, fazer o quê, também é tradição) à base de boas tulipas.

Mas o brilho da casa está no risoto, também de camarão, farto e delicioso, como convém à melhor comida de botequim. O garçom, honesto conforme reza o protocolo dos botequins, fornece aos amadores a orientação segura: dá para dois. É a pedida. Um espetáculo.

Da empada à escolha de não servir café, o Salete - agora reformado, com segundo andar para atender à freguesia dos almoços lotados durante a semana - mantém-se um pouso seguro para quem é do ramo. Vida longa a ele, vida longa a todos os botequins. Especialmente os que preservam sua dignidade."


Pode ser lido, também, aqui.

E para ler tudo o que já escrevi sobre essa mentira nojenta - estabelecimentos comerciais travestidos de buteco sob o sistema de franquia - leia E PROSSEGUE A PRAGA (abril de 2006), GENTE BOA? NUNCA! (maio de 2006), A FARRA CONTINUA (julho de 2006), MERDA NA TIJUCA (janeiro de 2007), INVESTIMENTO DE QUANTO? (março de 2007), BELMONTE EM PARIS (abril de 2007) e QUATRO BARES DE MERDA (abril de 2007).

Até.

11.10.09

HÁ UM ANO, NO BUTECO...

Não é demais repetir (se eu não puxar a brasa para meus textos, quem o fará?!). A série A TIJUCA EM ESTADO BRUTO nasceu e ganhou corpo por acaso. E se você, leitor, está lendo o BUTECO pela primeira vez justo hoje, ou se caiu de paraquedas aqui, neste texto, eu recomendo uma passada de olhos nos dez textos da série que o antecedem. Leiam aqui o primeiro da série, texto no qual conto o que vi e vivi numa pizzaria tijucana, O FORNO RIO, numa noite de domingo (domingo é o dia mais tijucano da semana!); aqui o segundo, que traz o relato de um jantar no melhor restaurante de comida italiana do país, tijucano, é claro, o FIORINO; aqui o terceiro, pequena descrição do encontro de minha mãe com uma amiga de há séculos de vovó; aqui o quarto, narrativa saudosa fruto de um encontro meu com meu concunhado, no SALETE, na Tijuca, evidentemente; aqui o quinto, no qual faço uma comparação entre a mãe judia e a mãe tijucana; aqui o sexto, sobre o simpaticíssimo assalto que sofreu vovó, há umas semanas; aqui o sétimo, sobre os vícios de minha avó; aqui o oitavo, sobre o jantar que ofereci à Lina, minha querida cunhada, no já citado melhor restaurante italiano do Brasil, aqui o nono, dando início aos relatos envolvendo o médico homeopata de minha família e aqui o décimo, sobre o mesmo tema.

Quando escrevi o décimo texto da série, lhes contei sobre como vovó, mãe de mamãe, fez com que papai fosse parar no consultório do doutor Mauro. A primeira consulta de meu pai, graças a uma gripe e a uma febrícula - coisa à toa -, foi marcante. E foi marcante pois estabeleceu-se, da parte de meu pai, uma relação de confiança absoluta no homeopata (um grande espírita também). É bem verdade que papai já chegou à recepção do consultório com a mais cálida gratidão nos bolsos da calça e da camisa. Afinal fora ele, doutor Mauro, quem salvara a vida de Mariazinha (leia aqui para entender o imbróglio).

Mas papai estava lá, sentado na recepção do consultório médico - era uma segunda-feira -, quando abriu-se a porta e um homenzinho, bem vestido, com um sorriso sereno no rosto, disse:

- O próximo!

Papai estava sozinho e, portanto, entrou.

Cumprimentou-o e disse:

- Doutor Mauro?

- Sim! O senhor é...

- Não me chame de senhor, doutor Mauro... Eu sou o Isaac, quem me recomendou seu nome foi a...

- Dona Mathilde! Eu sei, eu sei! Sente-se!

E fez um comentário, como se falasse sozinho:

- Santa Mathilde! Santa mulher!

Papai sentou-se e disse, assoando o nariz (papai tem um senhor nariz!) no lenço branco:

- Obrigado pelo que o senhor fez pela Mariazinha, doutor Mauro... - tossiu.

- Oh! Já lhe contaram?! Essa dona Mathilde, ai, ai, ai... - e deu um tapinha de leve na mão de meu pai, pousada sobre sua mesa.

E continuou:

- Mas isso já faz tempo, Jacob... O que o traz aqui?

- Isaac, doutor Mauro.

O médico deu com anelar, o médio e o indicador da mão direita na própria testa, num estalo:

- Perdão. Mas, o que você tem, meu rapaz?

Papai disse.

E o médico:

- Abra bem a boca, Davi...

Antes de abrir a boca, papai:

- Isaac!

- Diga ahhhh... e ponha a língua pra fora.

Papai obedeceu.

- Mais forte...

Papai obedeceu.

- Muito bem, Moisés... - e pôs-se a escrever a receita.

Antes, porém, perguntou:

- Moisés do quê mesmo?

- Isaac, dr. Mauro. Isaac Goldenberg!

- Me desculpa, filho.

Estendeu a receita em direção a meu pai, explicou timtim por timtim como deveriam ser tomados os remédios ministrados, e papai deparou-se com uma das mais fortes características do médico que seria seu médico por anos a fio (doutor Mauro não clinica mais):

- O que eu tenho, doutor Mauro?

- Abraão, você veio aqui para tratar-se ou para saber o que você tem?!

Rindo, e sendo agudamente espírita, despediu-se, já de pé:

- Vá com Deus!

- Eu sou Isaac, doutor Mauro... - ligeiramente enfadado.

Eis o que eu queria lhes contar, meus poucos mas fiéis leitores: essa é uma das pequenas mágoas que papai guarda na gavetinha de sua cômoda emocional. O doutor Mauro - ele poderá, se quiser, dar seu testemunho publicamente - NUNCA (e esse "nunca", por favor, dito com a mais enfática ênfase szegeriana) acertou seu nome.

Desfilava, pela recepção do consultório a cada nova consulta de meu pai (e depois de cada um de seus três filhos), saindo da boca do médico, todas as tribos de Israel. Papai foi chamado, ao longo de anos, de Abraão, Jacó, Davi, Moisés, Esaú, Israel, Simeão, Levi, Benjamim, , Judá, Nebulom, Naftali... mas NUNCA de Isaac.

A família divide-se, até hoje, em acirradas discussões.

Metade acha, sinceramente, que o doutor Mauro sacaneava, acintosamente, meu pai, por pura diversão. A outra metade, capitaneada pela maior dentre todas as espíritas, minha avó, balança a cabeça negativamente e diz, de olhos fechados e mãos espalmadas para cima:

- Ele jamais faria isso. Um santo homem!

Até.