23.11.09

DO DOSADOR

* sei que pode lhes soar como rabugeira minha, mas eu não me conformo com a papagaiada de mosaico no Maracanã. Vejam como é ridículo o não menos ridículo – arremedo de Galvão BuenoLuiz Carlos Júnior anunciando a entrada do time do Flamengo, ontem, pela TV: “Vem aí o mosaico, chegou a hora do mosaico rubro-negro!”. E depois, como uma criança histérica diante do puzzle novo, o grito: “Mais de noventa mil peças!”. Ridículo, vejam aqui. Essa síndrome de ursinho Misha (relembrem aqui), francamente, nada tem a ver com a torcida do Flamengo (ou, devo estar mais velho do que suponho..., com a velha torcida do Flamengo). Preocupar-se mais com o mosaico do que com o jogo (ou com a função precípua de toda torcida, qual seja incentivar o time sem parar) me parece tão lamentável quanto a preocupação maior com o limão do mictório em detrimento do limão da casa. Ontem ouvi uma única vez o tradicionalíssimo “Oh, meu Mengão! Eu gosto de você!”. Em compensação, guiado pelo placar eletrônico, a patuléia cantava uma versão tétrica de uma canção do não menos tétrico conjunto Mamonas Assassinas. Coerente, de certa forma. Assassinaram a alma da torcida rubro-negra;

* o Botafogo fez a sua parte e venceu o São Paulo. O Fluminense fez a sua parte e goleou o Sport na Ilha do Retiro. O Flamengo, diante de 89.999 peças – eu não fui peça em momento algum! – não fez a sua. Ao invés de cumprir o seu papel, ficou festejando o levantar dos papelões nas arquibancadas e nas cadeiras por um bando de deslumbrados e vaidosos mais preocupados com o mosaico do que com o jogo e o campeonato. Fez, isso sim, um papelão no Maracanã. Agora é torcer por outro improvável tropeço do São Paulo;

* sobre a babaquice dos torcedores... Digo, sempre, que a gozação saudável entre torcedores de times adversários é aceitável (embora eu não participe desse troço, prefiro exaltar as minhas conquistas, apenas). Desrespeito e falta de educação (que se confunde, as mais das vezes, com falta de caráter) são intoleráveis. Luiz Antonio Simas deu, ontem, mais uma lição do quanto é carioca e fundamental. Fomos, eu, ele, Candinha, Henrique, Leo Boechat e Marcelo Vidal assistir ao jogo do Botafogo contra o São Paulo em um bar na Tijuca, às cinco da tarde, perto do Maracanã. É evidente que o bar estava lotado de rubro-negros e apenas de rubro-negros (com exceção do Simas, botafoguense, e do Vidal, tricolor). Um clima de tremendo bom humor. A assistência, toda vestida com a camisa do Flamengo, cantava “Ô, ô, ô, vai pra cima deles, Fogo!”. Comemorou o primeiro gol do Botafogo efusivamente. O São Paulo empatou e depois virou para 2 a 1 (perderia o jogo, no final, por 3 a 2, como sabemos). E um babaca, azedando o ambiente (foi quando partimos dali), gritou com cara de poucos amigos: “Ô, parceiro, não dá pra contar com teu time, né, porra?!”. Um babaca. Ou não? O Botafogo – repito – fez a sua parte. O Flamengo, não. Lembrei-me do babaca no instante final do jogo do Flamengo;

* mudando o rumo da prosa... Tentando cumprir com a parte que me cabe nesse latifúndio, começo a escrever hoje para o mais completo site que há sobre a Tijuca. Tenho algumas críticas à condução do que ali se publica mas o sujeito que comanda a coisa, Ricardo Caetano, é um apaixonado pela Tijuca e um incomodado com o que falam, por aí, sobre o melhor bairro da cidade. Resolvi ceder, mais de um ano depois, ao convite que me foi feito por ele. Meu primeiro texto, disse-me o Ricardo, deve ser publicado ainda hoje, aqui.

Até.

8 comentários:

M. Vidal disse...

Parece que o Flamengo e sua torcida só se esqueceram do Goias. No futebol comemoração antecipada geralmente acaba em castigo.Agora resta continuar torcendo para os outros...
Ainda bem que o Botafogo ganhou ontem, assim meu Fluminense vai na pressão total até o fim, sem relaxar e sem oba oba.
Saudações TRICOLORES!!
M. Vidal

Claudio Renato disse...

Oi, Edu!

Como estava trabalhando na cobertura de uma rebelião na Colônia Agrícola de Magé, não pude assistir à transmissão dos jogos pela TV. Só escutei pela rádio Globo o José Carlos Araújo, tricolor, agoniado com o empate do Flamengo.

E como o rádio colore a aviva a imaginação! Depois, disseram que o Goiás jogou muito melhor. Mas eu não vi (ouvi) isso...

Fico imaginando o Flamengo campeão brasileiro; o meu Fluminense, da sul-americana e o Vasco, já campeão da série B...

Delírio geral!

Olga disse...

"Ô, parceiro, não dá pra contar com teu time, né, porra?!"

Como assim? Este flamenguista, além de babaca, Edu, é ingrato, porque o Flamengo é o time que mais tem podido contar com o Botafogo. Ou não?

"e ninguém cala esse nosso amor e é por isso que eu canto assim é por ti fogoooo..."

Ah, gosto dos cânticos, e o mosaico do Fluminense achei lindo! Será que, com estes gostos duvidosos, estarei "contribuindo para o fim do futebol"?

Já coloquei no meu "favoritos" o site sobre o bairro da Tijuca, e tá assim, ó: "Tijuca o melhor bairro do mundo". E não tenho dúvidas, Edu, que sua voz será um grande reforço ao site.

Eduardo Carvalho disse...

Edu,
você disse tudo, mais uma vez, sobre essa babaquice que toma conta das arquibancadas hoje...

Na calçada do bar em que assisti ao jogo, quase tendo um troço, em Copacabana, no meio da multidão tinham uns dois jovens rubro-negros, coitados, que insistiam para cantarmos uma dessas novas músicas que nada têm a ver com o que eu aprendi no Maraca...

Eu e meu parceiro de arquibancada e copo, da vida toda, Delfim, demos um passa-fora dos sujeitos, dizendo: "Meus amigos, nós só cantamos o hino e Oh, Meu Mengão, eu gosto de você! Sabem essas? Então, deixem-nos com a nossa agonia"...

Mosaico é o cacete!
Abraço.

alexandre disse...

“Eu vou ao jogo domingo!”

A criatura diz isso com um misto de deslumbramento, surpresa e orgulho, como se este último fosse possível a quem nunca antes abriu a boca para falar de futebol..
Assim, de uma hora para a outra e por uma causa bem pontual, quem jamais se manifestara sobre o assunto resolve pagar de torcedor por um dia ou por uma semana.

É também emblemático que o ingresso tenha chegado à criatura sem qualquer esforço, por obra de outros, como se tudo fosse fácil.

Infelizmente essa gente não vai ao estádio para empurrar o time à vitória; vai para "assistir" e depois se proclamarem campeões.

“Torcedor”? Não, não, a palavra correta é “platéia”, pois é tudo o que a criatura pretende ser, à medida que vai ao estádio não para torcer (ela nem saberia como fazer isso...), mas para assistir a algo que, em sua mente alienada, já tem o resultado definido.

Veja caro Edu, a situação que enfrentamos: dentro de pouco tempo, estaremos indo ao estádio para ver um desimportante jogo numa quarta-feira à noite chuvosa e encontraremos, antes ou no caminho, esta mesma criatura. Ela dirá, com ar de desdém: “Você é louco de ir nesse jogo...”

Eduardo Goldenberg disse...

Vidal: não me parece que tenha havido comemoração antecipada de nada, querido. E quanto a torcer pros outros, há quantas rodadas você faz isso, hein?! Beijo.

Claudio Renato: quem dera, rapaz, quem dera! Marque nossa cerveja! Um abraço.

Olga: concordo; um babaca e um ingrato. Com relação aos mosaicos, você é menina, e meninas (salvo raríssimas exceções) fazem mal ao futebol. Quanto ao mais, obrigadísimo! Beijo.

Eduardo Carvalho, meu xará: mosaico é o cacete! Abração.

Alexandre: irrepreensíveis suas observações, do início ao fim. Um forte abraço.

Carlos Vinicius disse...

Prezado,

parabéns pelo blog, parei aqui por causa de um link que colocaram no blog da Flamengonet.

Cara, estive ontem no Maraca, tenho 37 anos e, assim como vc, cresci vendo outra torcida do Flamengo.

E mais grave do que não cantar o "Oh, Meu Mengão" (a mais bela música já entoada em um estádio de futebol), os caras mataram o tradicional "Mengooo", nosso grito de guerra, que era cantado sempre na entrada do time em campo, em ataques perigosos, quando o time precisava de incentivo. Ninguém mais grita o "Mengooo", sempre que a torcida, instintivamente (é, esse grito sai naturalmente, é instintivo), tentava entoá-lo, a Raça Rubro-Negra (meu Deus, o que fizeram com a Raça?) fazia uma espécie de boicote, não entrando com a bateria e já puxando outro grito. Isso me tira do sério.

E para complementar, em um domingo de sol, valendo a liderança do campeonato, não cantaram nenhuma vez "Domingo, eu vou ao Maracanã". A torcida do Flamengo não é mais a torcida que conheci.

Saudações Rubro-Negras.

P.S.: se tiver tempo, faça uma visita ao blog "Estação BM" - www.estacaobm.blogspot.com - feito por mim e outros seis amigos de Barra Mansa, interior do Estado.

M. Vidal disse...

Não houve comemoração antecipada?, vc tem certeza disso??
Devo ter interpretado mal o que vi...
Na verdade, eu nunca torci para nenhum outro time, e nem contra ninguém. Tenho sim, ido ao Maracana torcer pro meu time a todos os jogos.
SAUDAÇÕES TRICOLORES!

M. Vidal