17.11.09

JOSÉ SZEGERI

Eu já havia falado do caboclo aqui, e hoje cumpro o mesmíssimo roteiro.

Fui a São Paulo no final de semana que passou dentre outras coisas para abraçar, pessoalmente, o pai de meu irmão Fernando Szegeri, um pouco meu pai também por conta dessas torções que fazemos no Tempo, completando 70 anos (e setenta anos não são setenta dias).

José Szegeri, 15 de novembro de 2009

José Szegeri, são-paulino espada (espécie praticamente em extinção), promoveu um churrasco preparado por ele mesmo, em Ifé, que é como Luiz Antonio Simas, que entende do riscado, chama a casa de meu irmão.

O , que consome uma quantidade inimaginável de vodka por dia (sempre misturada com Coca-Cola), apenas durante o churrasco - eu vi!, eu vi!, eu vi! - derrubou uma garrafa e meia de uma tridestilada cujo nome vou omitir para não chocá-los. Mas não é exatamente sobre o que quero lhes contar hoje, mas sobre uma das maiores gafes que já presenciei em toda minha vida.

Estávamos lá, à certa altura, em torno da mesa, eu, o homem da barba amazônica, José Szegeri, meu queridíssimo Favela e sua amada, Milena Favela.

Falávamos sobre - o quê?! - a velhice, essa inevitável senhora que nos abraça a todos que atravessamos os anos.

Deu-se a conversa:

- Ah, minha avó é um de meus orgulhos! Oitenta e tantos anos e, ó, inteiraça! Saindo todas as noites, uma beleza! - eu disse.

E todos contavam sobre seus orgulhos e sobre seus velhos de estimação.

Até que a Milena, finíssima, coçando a cabeça com os dentes de um garfo depois de levá-lo à boca com um naco de picanha, disse:

- Ih!

O Favela - e eu tive ali a certeza de que viria coisa boa:

- O que foi, Milena?!

Ela espetou outro pedaço da carne, coçou o pavilhão auricular com o cabo do mesmo talher e disse:

- Sabe o fulano? - dirigindo-se ao companheiro.

- O que é que tem?

- Tá que tá. - foi sucinta.

- Por que? - Favela franzindo a testa prevendo o pior.

- Ah, amor... - e o "amor" na boca da Milena tem mais erres que o "amor" do caipira mais caipira das Minas Gerais.

E prosseguiu:

- Pé na cova, né Arthur? Setenta anos, pô! Acabado!

O Favela, à moda dos vulcões Tirone, entrou em erupção e jorrou a dose de Canarinha que bebia, tomado pelo susto diante da gafe olímpica.

O , elegante como um quatrocentão, de olhos fechados (e com uma lágrima de mágoa a lhe correr dos olhos), deu mais um gole de seu drinque favorito, o último antes de partir, tristíssimo, depois de comemorar, entre amigos, sua sétima década.

Até.

3 comentários:

Eugenia disse...

ai... essa doeu...

alexandre disse...

Maravilhoso esse texto, dei muitas gargalhadas.
..."Milena, finíssima, coçando a cabeça com os dentes de um garfo"....sensacional!!!

Andrea disse...

Eu não faço isso rs. Acreditem, eu não faço isso.