O samba que apresento agora, da zona oeste da cidade, é, de longe, o mais animado. Não estou aqui julgando melodia, letra, poesia, nada disso - isso é papel para jurados mais tarimbados que eu, como o menino ex-morador do edifício Chopin, hoje morando na Gávea com seu companheiro, novamente chamado para ser componente do júri da LIESA, tão impoluto quanto a própria LIESA. Pelo andar da carruagem - do samba, melhor dizendo - os componente da Mocidade Independente têm tudo para sacudir a avenida. O samba é daqueles: é impossível ouvir sossegado. Porreta! Ei-lo:
"Eu voltei ao Éden
Paraíso de verdade
Serpente chega pra lá
Hoje eu quero é sambar com a Mocidade
O mal que você me causou
Pra que me infernizar
Chega de guerra e miséria
Sem trégua, nem légua
A idade média a se transformar
Entre lendas e mistérios
Preste João me inspirou a navegar
O bandeirante cobiçou
E o índio me levou ao eldorado de além-mar
Tudo o que eu puder sonhar
Vou realizar agora e sempre
E se tentar me taxar
Mando depositar em outro continente
Do éden ao paraíso da loucura
Ninguém sabe quanto é o que se procura
Hoje o povo quer felicidade
No paraíso da igualdade e liberdade
Estrela faz o meu sonho mais real
Sacode a Sapucaí
É carnaval
Meu coração vai disparar, sair pela boca
Não dá pra segurar, paixão muito louca
Luz independente me leva pro céu
Sou Mocidade, sou Padre Miguel"
Até.
29 comentários:
Fala sério Edu....
Esse samba parece até samba de bloco de embalo!!!!
Ricardo: por isso mesmo!
....então não é samba-enredo!!!
Pode ser qualquer coisa, menos samba-enredo.
Edu,
É muito animado; deve pegar na avenida. Mas nada que se compare à obra-prima de Martinho da Vila.
Ô, Claudio, meu caro... e alguém aqui teceu alguma comparação?! Hoje o povo quer felicidade! - e eu tô dentro disso! Abração.
Este eu acho ruim, muito ruim. Mas o pior mesmo é o da Portela.
Marchinha animada. Pode funcionar.
O samba do Martinho, o mais supervalorizado da história do carnaval, é razoável na primeira parte, e assim permanece no refrão central, tombando para constrangedor na segunda parte - com destaque para o "chororô" que rima com "ô-ô-ô". (Destaco essa, mas há outras rimas clássicas para um boi-com-abóbora)...
Tenho a maior boa-vontade com esse samba, fiz de tudo para gostar - afinal, é Martinho compondo [para a Vila!] em homenagem a Noel -, mas não deu. (E não vou nem entrar na questão política, do Martinho se curvar para o bandido que tanto criticava; o que terá mudado, hein)? (Nada que um concurso vergonhoso não resolva)! (E nem vou comentar o fato deste samba ser "plágio" de um outro, do próprio Marinho, mas com o Gracia - a quem fez sumir da parceria)...
Bom é o samba da Imperatriz, com Dominguinhos - o maior.
Terríveis são, entre outros, os da Grande Rio e da Portela: a primeira vencerá o carnaval, está decidido; a segunda, apresente o que apresentar, voltará no sábado das campeãs, desta vez com o vice campeonato - para o orgulho do padrinho Eduardo Paes...
Está registrado, Andreazza, embora - registre-se também - há anos você anuncie a vitória da escola de Duque de Caxias - que não acontece. O samba da Portela é triste - e de fazer a águia andar de quatro. Quanto ao Martinho, há coisas ainda a serem reveladas sobre o samba, é o que espero. Abraço.
O que eu anuncio há anos, Edu [e fico feliz em te ter como tão antigo leitor; a recíproca é verdadeira], é o fim do carnaval das escolas de samba como nós - eu e você, estou certo - conhecemos e gostamos.
O título da Grande Rio talvez apenas esperasse uma oportunidade grotesca como esta de 2010: o enredo apocalíptico sobre o camarote da Brahma...
Abraço!
Mas é justo por conta do enredo - podre, asqueroso, com um samba-enredo absolutamente inacreditável! - que ainda não será em 2010. Aposto com você. Com o refrão mais grotesco dos últimos anos - "Grande Rio, eu sou guerreiro / Sou brasileiro e faço meu ziriguidum / Vibra arquibancada, explode / O camarote nº1" - a escola vai, no máximo, fazer o coração da Suzana Vieira ir a mil - se é que me faço entender. Abraço.
"Quando a sirene tocar", né?
Dileto Goldenberg,
entre no site "apoteose.com" e clique no link "download" e vc encontrará verdadeiras obras-primas das escolas de samba do Rio de Janeiro.
Meus caros: vamos devagar com o andor, que o santo é de barro e o Martinho é patrimônio de nós todos. Como o conheço pessoalmente, prometo correr atrás de sua versão para isso tudo. Abraços.
Pede para ele explicar o desaparecimento do Gracia da parceria, Edu. (Ou será que ele não admitirá que reaqueceu um outro samba)? E pede para ele contar sobre a relação com o Moisés, a quem atacava até outro dia, com os mais desonrosos adjetivos, e que agora - de repente - virou "O Cara". Por quê?
Abraço!
Aliás, o Martinho é engraçado: dizia que o carnaval estava acabado, que a Vila fora vendida, que era controlada por "alienígenas" etc. - isso quando perdia as disputas de samba-enredo, claro. Agora, quando vence um concurso muito estranho [chegou-se a cogitar não realizá-lo, que se entregasse o samba para o Martinho etc., mas, diante da grita, houve um recuo, e então se organizou uma disputa de carta-marcada, que, de forma sintomática, não contou com o multi-vencedor André Diniz, que claramente não quis entrar em páreo viciado], anda pra cima e pra baixo com Moisés, de súbito um grande presidente!, aquele a quem acusava de corromper a Vila Isabel. Muito feio.
Martinho: "Tanto para criar o enredo como o samba eu me inspirei numa música que eu fiz em parceria com o saudoso Gracia, meu compadre. Adaptei apenas algumas palavras, de minha autoria, que havia colocado na música Presença de Noel. Não usei nem uma nota da melodia do Gracia".
Em tempo: o samba de fato é "Presença de Noel", de Martinho da Vila e Gracia do Salgueiro, e está no disco "Butiquim do Martinho"; quem canta é Fabiano, seu neto.
E... a melodia é a mesma!
Um escândalo.
Olha aí, Edu, o samba plagiado... Nada contra a preguiça do grande compositor; mas, pô, e o Gracia, o compadre!? (Que compadre)...
http://www.4shared.com/file/124927121/f11f950f/09_Presena_de_Noel_-_Feitio_da.html?s=1
Martinho é genial. Mas é triste, muito triste, vê-lo tomando chope com um ex-torturador, hoje braço direito de Capitão Guimarães, como se nada tivesse acontecido. É realmente triste (o que náo invalida sua extraordinária obra, na qual, se incluem no mínimo dois sambas-enredo superiores ao atual: "Pra tudo se acabar na quarta-feira" e "Raízes").
Edu, já que você tem a possibilidade de conversar com o Martinho, pergunte mesmo a ele sobre estas questões. E relate por aqui, por favor. Como fã, da obra e muito da pessoa Martinho da Vila, de verdade, me sinto bastante desconfortável com o que venho lendo a respeito. E já que é para me desiludir, que a desilusão, ao menos, seja bem fundamentada.
Olga: justo porque o conheço, justo porque tenho por seu trabalho profunda admiração e gratidão por tudo o que ele já fez, não por mim, mas em troços que me envolveram (foi enredo de meu bloco de Carnaval, presente a todos os ensaios e ao desfile, evidentemente, foi quem me convidou para jantar, em sua casa, com Leonel de Moura Brizola, um dia desses conto essa história aqui..., foi quem me convidou para desfilar a seu lado, na ala do MST quando a Vila Isabel homenageou o Niemeyer) é que vou conversar com ele - não vou entrevistá-lo (embora pense, ainda, em fazê-lo aqui para o blog) nem colocá-lo contra a parede. Se o assunto surgir e se ele quiser falar, ótimo. Nesse caso, e nesse específico caso, não o julgo. Espero que você entenda. Acho que, mais que o Martinho, deveria ser ouvida (e aí não posso ajudar...) a família do Gracia do Salgueiro - diretamente interessada na coisa. Um beijo.
Goldenberg,
parte da familia do Martinho moram no mesmo endereço de parte da familia da minha esposa (o terreno é divido entre as duas familias) lá em Curicica. Não acredito nessa hipotese de samba plagiado do próprio autor....
Ricardo: não se trata de acreditar, meu caro. Vários versos do samba-enredo são os mesmos de um samba antigo do Martinho em parceria com o Gracia. Como e por quê deu-se o imbróglio, é que não se sabe. Abraço.
Edu, entendo a sua posição. E respeito. Mas acho que seria muito bom, principalmente pro Martinho, se ele esclarecesse essas questões, porque um artista do tamanho dele não pode se deixar macular dessa forma. É o que eu penso. E não há aqui nenhum julgamento.
E o Simas colocou muito bem essa questão da família do Gracia, lá no Histórias.
Martinho e Brizola juntos, nem saberia onde colocar as mãos, se estivesse presente.
As mãos?! Como assim, dona Olga?
Quer dizer que eu ficaria tímida diante dos ídolos, não à vontade, somente isso. É uma figura de linguagem, ora pois, pois, seu Edu!
Considero este samba - do Martinho - fraco. Como obra, como samba-enredo - valor absoluto. (E insisto: é o mais supervalorizado da história do carnaval, ô-ô-ô).
As demais questões, lamentáveis, não influem na audição - e permaneceriam lamentáveis se o samba fosse excepcional.
Abraço a todos e bom feriado!
Edu (e note que ando comentando tudo atrasado, dada à insuportável semana que estou tendo, sem tempo):
deste (Mocidade), não gosto. Aliás, dói meu coração portelense, mas tenho que dizer que a Portela conseguiu o que parecia impossível em relação ao que já vinha se esmerando pra conseguir nos últimos três anos: ter, neste 2010, o pior samba-enredo de sua história. E que só não é o pior do carnaval, em todos os tempos, porque uma vez (89, acho), a Mangueira fez aquele do Chico Recarey...
E, claro (nunca é demais dizer), viva o Martinho (canalhas que estão na escola há tempos à parte, viva ele)! Mil Vilas desse jeito (com os cretinos, mas com Martinho e um samba dele - é dele!) a ter meia Grande Rio que seja por aí... Atentemos: a pureza não existe.
Abraço.
Edu, meu querido, a pureza não existe, é fato. Vá lá que o Martinho, o grande compositor, concorresse na sua Vila por amor, ignorando os canalhas que lá mandam hoje. Ok. Mas daí a dividir chope em mesa de bar, daí a subitamente virar parceiro de um ex-torturador, vai um longo espaço. Ou deveria ir. Lembras do poema? Primeiro pisam no nosso jardim e não dizemos nada...
Olha, franca e sinceramente, está ficando nojento assistir aos ataques ao Martinho da Vila. Rigorosamente sem sentido, sem propósito e com um cheiro insuportável de rancor inexplicável.
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