Li, ontem, no
TWITTER do
Geneton Moraes Neto - o
BUTECO está no
TWITTER, vejam
aqui -, a seguinte frase:
"Dúvida boba que me assalta há décadas: quem inventou que escritores devem botar a mão no queixo nas fotos das orelhas dos livros? Quem? Quem?"Foi ele mesmo quem disse, por isso sinto-me à vontade para repetir: dúvida boba, mesmo. Mas além de engraçadíssima, suscitadora de outras tantas, envolvendo escritores, que quero dividir com vocês. E digo desde já: dúvidas que
eu tenho, eu que não me considero, nem de longe, um escritor, no máximo um escrivinhadeiro de histórias e de besteiras que exponho aqui, há anos. São, portanto, na essência, dúvidas de um leitor. Vamos ao que tenho a lhes dizer.
Antes, porém, gostaria de sugerir a leitura de três textos que publiquei respectivamente em 23 de março de 2007 -
"AMORES EXPRESSOS": NOJO ANUNCIADO",
aqui -, 15 de agosto de 2007 -
AMORES EXPRESSOS: E ELES SÃO GENIAIS,
aqui - e em 28 de novembro de 2007 -
PROJETOS, PROJETOS, PROJETOS...,
aqui. E de um outro, este de autoria de
Aldir Blanc, publicado em 08 de dezembro de 2007, em seu
blog, chamado
PAU NO LOMBO (leiam
aqui, e se divirtam com os sensacionais comentários de
Luiz Carlos Fraga) e que justamente faz referência à polêmica que rendeu o texto
PROJETOS, PROJETOS, PROJETOS.... Lidos? Ou não lidos? Vamos em frente.
Os tais textos, todos eles, fazem referência a essa praga que atende pelo nome de
"projetos". E que sustentam, eis a verdade que dói, muita gente. Nestes textos, por exemplo, faço referência explícita ao projeto
AMORES EXPRESSOS, que previa a
"edição e publicação de livro, no qual vários autores brasileiros contarão uma história de amor, que se passe em várias cidades do nosso planeta. Os autores viverão a experiência de explorar as cidades que vão servir de cenário para a sua história de amor e criatividade, dentre elas, Paris (Carlos Sussekind), Praga ( Sérgio Sant'Anna) e São Petersburgo (Bernardo Carvalho). Tiragem 56.000 exemplares / Distribuição 11.250 / Patrocinador 5.600 gratuita (bibliotecas estaduais implantadas pelo MinC) / 39.150 venda normal de R$ 35,00 / Total da venda R$ 1.370.250,00.". Registrado no
PRONAC sob o número 071563, pretendia captar R$ 1.070.810,00.
Confesso minha ignorância (e peço a ajuda de quem puder me ajudar...): pelas informações que constam do portal do Ministério da Cultura, o tal projeto pretendia captar essa baba (quase um milhão e meio de reais), foi autorizado a fazê-lo mas não houve um único centavo captado. Mas a rapaziada escolhida pelo coordenador editorial do troço,
João Paulo Cuenca, viajou. E parece que alguns livros (e não
livro, conforme constava do projeto inicial) já saíram (vejam
aqui). Consta, neste
site, o seguinte:
"Em seu mergulho no estrangeiro, os autores só terão a preocupação de produzir literatura, procurando ouvir e reproduzir a voz do outro que se encontra em cada um, suas alteridades particulares que o isolamento da jornada fará aflorar."Quem afinal - eis uma de minhas dúvidas - pagou o mergulho dos autores que viajaram mundo afora para
"produzir literatura"? E o que seria, eis outra dúvida,
"produzir literatura"? Desde quando - meu Deus... - escritor precisa do
"isolamento da jornada" para escrever?
Breve digressão:
Aldir Blanc, um de meus ídolos, há anos
só viaja do quarto para o escritório, do escritório para o banheiro, do banheiro para a cozinha, da cozinha para o escritório e do escritório para o quarto e escreve pra burro.
Nelson Rodrigues viajava da Aldeia Campista para o Centro, depois de Copacabana para o Maracanã, do Maracanã para Copacabana, e escrevia pra burro.
Alberto Mussa (até onde me consta), produz suas obras-primas (é, de longe, na minha humílima opinião, um dos mais geniais e originais escritores brasileiros da atualidade) fazendo o trajeto casa-botequim-botequim-casa. Voltemos ao tema.
Voltemos ao tema e vamos ao que quero lhes dizer desde o início.
Leio
Rubem Fonseca desde que me entendo por leitor. E considero que hoje, aos 83 anos, e já há algum tempo - o que é plenamente justificável - o grande escritor vem perdendo o
punch. E o juízo, pombas! Li, estarrecido, anteontem, que
Rubem Fonseca, de 83 anos (repita-se), fez, na terça-feira passada, uma de suas raríssimas aparições públicas. Saiu do Rio e foi à São Paulo para, segundo o jornal
O GLOBO,
"cumprir uma obrigação de "mestre": alimentar sua discípula literária, a escritora carioca Paula Parisot.".
Até aí, tirante o verbo "alimentar" - que poderia causar estranheza à primeira vista - nada demais, certo? Errado.
A
"escritora carioca Paula Parisot", desde 11 de março, e até ontem, 18 de março - por uma semana, portanto - ficou confinada em uma caixa de acrílico de apenas 12 metros quadrados no interior da
LIVRARIA DA VILA, em Pinheiros, SP, uma livraria - segundo me garantem os que me lêem - muito da fresca.
Daí, em rapidíssima entrevista ao jornal, disse
Rubem Fonseca:
"- Acredito que seja a primeira vez que um escritor faz uma performance, pelo menos no Brasil - disse Rubem a outras pessoas que observavam Paula. - É um trabalho sério. Sei que muita gente julga como simples jogada de marketing, mas não é nada disso - completou, enquanto explicava detalhes da performance da escritora. "Porra, peralá! Devagar com o andor que o santo é de barro e o papo é pra enganar otário.
Às vésperas do lançamento de seu primeiro romance,
GONZOS E PARAFUSOS (o lançamento foi ontem!), a
"escritora carioca Paula Parisot" decidiu, assim, do nada (pura performance!) - segundo a matéria do jornal carioca -
"inspirada por artistas como Joseph Beuys e Marina Abramovic, (...) vivenciar a experiência da protagonista de seu romance, Isabela, uma psicanalista que decide se internar em um sanatório após delirar com borboletas, uma gata que fala, o retrato feito por Gustav Klint da Baronesa Elisabeth Bachefen-Echt e "A menina de cabelo negro nua em pé", pintura de Schiele.".
Diz a matéria, ainda, que
Rubem Fonseca "mostrou-se preocupado ao vê-la mais magra e quis saber se ela estava se alimentando e dormindo bem. Paula, por sua vez, mostrou grande alegria ao ver seu mestre. Uma das regras da performance de Paula é não falar, mas a escritora interage com quem a observa e na presença de Rubem dançou, saltitou, e, nos momentos de maior assédio ao escritor, chorou, irritou-se com os fotógrafos que ameaçavam espantar Rubem do local e gritou.".
Ainda sobre a babaquice, o jornal conta que a porra da caixa de acrílico reproduzia
"o quarto no qual Isabela, protagonista de "Gonzos e parafusos", fica internada no romance. A escritora tem sido alimentada a cada dia por uma pessoa importante em sua vida. Os primeiros a levar as refeições à artista foram os sogros. No segundo dia, foi a vez do editor, Pascoal Soto. No terceiro dia, ela recebeu alimentos de suas duas melhores amigas. No domingo, seu marido, o roteirista Richard. Segunda-feira, sua mãe, Ana Seabra. E Rubem Fonseca, o mestre, foi o "convidado" desta terça-feira.".
A íntegra da matéria está
aqui.
Dúvida (a última): se era
apenas pra vivenciar a experiência da protagonista de seu romance por que a
"escritora carioca Paula Parisot" não construiu a porra da caixa de acrílico dentro de sua casa sem fazer alarde, sem chamar a imprensa?
Dirão alguns de vocês que estou acendo muita vela pra pouco defunto e fazendo, talvez, o que a
"escritora carioca Paula Parisot" queira: publicidade de seu livro. Mas digo que não. Não acho que
Rubem Fonseca seja "pouco defunto", não acho que o assunto seja irrevelante e acho que é bastante importante expôr, sempre, com veemência, a nojeira em que está se transformando, a passos largos, o mundo de hoje, no qual vale tudo em nome da exposição.
Até.