6.3.10

OS CANDIDATOS DO PSOL

Um grupo de estudantes de História reúne-se, no final de uma tarde de sexta-feira, numa birosca qualquer nos arredores do Largo de São Francisco de Paula, no velho centro do Rio. É formado por oito estudantes, seis homens e duas mulheres, ambas com lêndeas visíveis a olho nu, compondo o quadro asséptico do ambiente. Uma delas coça, permanente e vigorosamente, valendo-se dos dentes do pauzinho de bambu que lhe adorna o coque, a cabeça povoada de insetos. A outra, com as unhas pintadas de vermelho e branco, cata piolhos nos cabelos da amiga. Os seis rapazes, devidamente uniformizados (chinelos de couro cru, calças jeans rasgadas e camisetas de malha branca com dizeres revolucionários), ocupam a quina do balcão e pedem ao velho dono da espelunca, sem sinal de respeito, duas garrafas de cerveja e oito copos.

- Americanos? - pergunta o velho.

- Nunca! - grita uma das piolhentas.

- Somos anti-imperialistas, tio... - argumenta a outra.

Servidas as cervejas e os copos-bolinha, um dos estudantes derrama um pouco da bebida na calçada, do lado de fora do bar.

- Pra Exu, companheiro?

- Não. Para Mao!

E emenda:

- Por falar em política, vocês já têm candidato pra governador?

Cada um foi dando seu palpite, a assistência em volta entrou na conversa - isso é bar! - até que o provocador da discussão disse, logo depois do silêncio coletivo:

- Vou de Jefferson Moura.

Como se fossem todos componentes do Fischer Chöre, veio a pergunta em uníssono:

- Quem?!

Deu-se o espetáculo plástico e gestual do simpatizante do PSOL (todos os demais membros do grupo eram ligados ao PSTU). Fez que não com a cabeça demonstrando falta de paciência com a ignorância unânime. Puxou do bolso um cigarro, acendeu com um palito de fósforo, tragou fundo, soltou a fumaça em direção ao próprio pé (imundo) e disse, de olhos fechados e olhando pro alto:

- Não conhecem?

A assistência, numa só voz:

- Não.

Ele muxoxou. Fez pose de estátua e disse:

- Um senhor quadro. Que quadro, que quadro!

Um bêbado ao lado, atento e impressionado com os ares de sabedoria do garoto, correu os olhos pela parede do bar. Sorriu quando deu de cara com uma morenaça num cartaz da ANTARCTICA. Repetiu:

- Que quadro! Que quadro!

O estudante virou-se num sem-pulo e disse, forjando respeito pelo pobre-diabo:

- O senhor conhece?

Bebericando a cachaça, fez que não:

- Quem me dera! Quem me dera!

- Vou te apresentar. Faço questão.

Uma das piolhentas sussurou no ouvido da catadora de lêndeas:

- De quem eles estão falando?

- E eu sei?

Os cinco, que a tudo observavam, morriam de rir com os narizes enterrado nos copos-bolinha.

O bêbado:

- Quando?

- Vou chamá-lo para dar uma palestra no IFCS, para que ele fale sobre sua plataforma de governo. O senhor quer ir?

O bêbado:

- Ixi! Tá na hora de parar de beber!

Pescou umas moedas do próprio bolso, pagou a cana e despediu-se do militante. Este, indignado, vociferou:

- Sociedade alienada! - e puxou o segundo cigarro.

O mais velho do grupo, dirigindo-se a ele:

- Na boa, companheiro. Quem é esse seu candidato?

- Um quadro, um quadro!

E foi tão veemente em sua defesa, tão apaixonado, tão envolvente, que os outros sete, e até mesmo alguns membros da assistência, saíram de lá impressionadíssimos.

Na volta pra casa, sentadas lado a lado no 239, uma piolhenta disse à outra:

- Sabe que eu curti a proposta dele?

- Super estética, né?

- Mega estética. Curti essa parada de votar em quadro.

- Eu também!

E foram, guinchando de rir, até o ponto final.

Até.

7 comentários:

William disse...

Eduardo;
Não entendo sua implicância com o PSOL, vc que é(e faz questão) de se dizer comunista, deveria saber que o partido está umbilicalmente ligado a seus ideais (salvo poucas discordâncias teóricas), e não deveria se valer de alguns exemplos como os citados no texto (que o PT, o seu PCdoB ...) tb tem aos montes (ou vc acha que não ?). Enfim, acho que deve parar de usar tais momentos pontuais na história do partido e reconhecer as ideias similares que o PSOL tem com as que vc propaga.
Atenciosamente
William

Eduardo Goldenberg disse...

Willian: eu não implico com o PSOL e sou comunista às vezes. Um abraço emoldurado.

William disse...

Ok Edu (acho que posso te chamar assim), só me explica como é ser "comunista às vezes"... Ou é ou não é, concorda ?
Abraço

Eduardo Goldenberg disse...

Não, Wiliiam, não concordo. Mas creio que o Buraco do Lume, na próxima sexta-feira, seja o espaço ideal para termos essa discussão, esse debate, atividade preferida do pessoal da pinacoteca. Um abraço emoldurado com direito a passepartout.

William disse...

Ok, na praça Mário Lago (vamos fazer jus a homenagem)é o local ideal, mas acho que vc vai preferir em uma segunda-feira...

Renata Werneck disse...

Edu querido. Acho sempre divertidos seus textos sobre o PSOL. Sei que este assunto desagrada outras pessoas (pouquíssimas de fato) e prefiro sempre não entrar nessas celeumas, que inevitavelmente tornam-se chatíssimas, mas não aguento (você sabe). Só para situar, de leve: se há uma coisa que o PSOL não está é "umbilicalmente ligado a ideais comunistas". Os caras são, no máximo, com muito boa vontade minha: pseudo-trotskistas (o que os desqualifica duas vezes - pelo pseudo e pelo "prefiro não repetir"). Diferentemente do PSTU que só se desqualifica uma vez, pelo “prefiro não repetir”. Além disso, não há nenhum exemplo dos que você citou no PCdoB. Na ala pseudo-esquerda do PT talvez (até porque se aproximam muito dos pseudo-"prefiro não repetir"). E para concluir, na minha opinião, nenhuma das idéias que você propaga tem absolutamente NADA a ver com as destes "espertos" que se intitulam de esquerda mas que sempre jogaram água no moinho da direita - em todos os momentos da história onde infelizmente eles deram o ar da (falta de) graça. Desculpe-me a chatice, mas sempre acho que, na dúvida, a picareta deve estar ao alcance das mãos. Bjs.

Eduardo Goldenberg disse...

Obrigado, Renata Pitbull. É triste ter de explicar o óbvio, né? Beijo, querida. E obrigadíssimo mais uma vez.