7.4.10

DO DOSADOR

* O sol, ainda tímido na manhã desta quarta-feira, não esconde, por óbvio, o cenário construído pela tragédia que se abateu sobre o Rio de Janeiro desde a noite de segunda-feira, quando iniciou-se a chuva que durou mais de 40 horas e que, misturada à evidente incompetência de nossas autoridades, matou mais de 100 pessoas em todo o Estado, notadamente no Rio de Janeiro e em Niterói. Digo incompetência e arremato: incompetência e estupidez. Em 09 de março de 2010, depois de quatro dias consecutivos de chuva, Eduardo Paes renovou (o que já demonstra a estupidez de César Maia, que o antecedeu) um convênio com a médium Adelaide Scritori, da FUNDAÇÃO CACIQUE COBRA CORAL, vejam aqui, para que a entidade monitorasse (meu Deus, dá até vergonha escrever isso...) as chuvas na cidade. Pergunto-me onde está o Ministério Público que não questiona o pagamento mensal - foi o que ouvi, não tenho comprovação desse valor - de R$ 150.000,00 para a tal fundação. E a imprensa, que não põe o alcaide-almofadinha na parede;

* pela primeira vez em 40 anos dormi fora de casa sem querer. Depois de tomar um táxi no Centro às 20h, depois de rodar em busca de uma via desimpedida, depois do taxímetro atingir R$ 70,00, fui obrigado a saltar no meio da Praça da Bandeira (o olho do furacão), a menos de 1km de casa (para onde era impossível ir). O MÁLAGA, motel na Barão de Iguatemi, completamente ilhado, foi meu porto seguro até às 11h de ontem, quando consegui atravessar a rua do Matoso coberta de lama e lodo em direção à Haddock Lobo. Sorte a minha que eu estava na melhor das companhias;

* uma rápida, fugindo do assunto: foi revoltante e intolerável o que fizeram alguns jogadores do Santos, liderados por Robinho, na última sexta-feira (leiam aqui). Sob o argumento de que não entrariam numa "casa que tem macumba", deixaram frustradas diversas crianças que sofrem de paralisia cerebral e que são mantidas e assistidas por um centro espírita (só uma besta, da cabeça aos sapatos, confunde espiritismo com macumba, com umbanda, com candomblé, religiões do Brasil, do Brasil que esse escroque, encarnação do anti-brasileiro, irá defender na África do Sul, em junho). Ainda que fosse uma casa de umbanda, ainda que fosse uma casa de candomblé, ainda que fosse pura e simplesmente uma casa de macumba, designação genérica tão cara aos brasileiros, a motivação NUNCA (com a ênfase szegeriana) poderia ser deixada de lado por conta de supostos princípios religiosos, ainda mais se ligados ao preconceito puro e simples. Nojenta a atitude do anti-crioulo Robinho, nojenta;

* um troço que me impressionou demais, durante as chuvas, foi a força das chamadas redes sociais. Tanto no TWITTER (principalmente!) quanto no FACEBOOK, ou mesmo nos blogs, ficamos sabendo de TUDO! Ao contrário do poder público, mastodôntico e inoperante, as redes sociais foram um show de informação. Exemplos? O mano Diego Moreira, professor maiúsculo de geografia, que pode ser acompanhado aqui, nos deu lições sobre os efeitos da chuva, sobre inundações, alagamentos, os ventos, as massas de ar (sem falar sobre seu carinho e atenção com seus alunos, troço comovente), um grande show de bola! Outro? O TWITTER LeiSecaRJ (que pode - e deve - ser acompanhado aqui), tão combatido pelas autoridades e que já conta com mais de 51.000 seguidores, também foi fundamental. Informações do tempo, do trânsito, foi verdadeiro guia para o cidadão perdido no caos da cidade. Os agentes estaduais e municipais, com sua sanha persecutória, predatória e arrecadadora (blitzes, multas, punições etc), deveriam, se fôssemos governados por gente séria, agradecer ao pessoal que toca aquele barco (assim como fez hoje o lambe-botas Ancelmo Gois que, dia desses, sentou o pau na turma). E foram muitos os que foram fundamentais, muitos! Anseio pelo efeito dessas redes, dessas novas mídias, nas próximas eleições;

* falando em eleições... Imperdível o discurso da deputada Cidinha Campos, do PDT, em recente sessão na ALERJ. Com mais de 188.000 acessos, o vídeo (que pode ser visto aqui) mostra uma mulher aguerrida, corajosa, que não se dobra diante dos poderosos. E que também não fica por aí armando rodinha de samba pra inaugurar praça, que não fica promovendo "mesas" para debates inócuos. Terá meu voto, sempre!;

* posso morder a língua, troço muito comum quando se trata de profecias ligadas ao futebol. Mas o Messi me parece que irá repetir a atuação de Maradona em 1986. Não está no gibi o que está jogando o cracaço-aço-aço argentino.

* pra finalizar... Luiz Antonio Simas contou-nos ontem, emocionado - não é pra menos... - que seu primo de primeiro grau, que mora (ou morava...) em Olaria com mulher e dois filhos pequenos, perdeu rigorosamente TUDO com as chuvas. E pediu aos amigos que ajudassem o primo, com o possível, a reconstruir a casa e a vida. Lançamos, aqui no BUTECO, o bloco NEM MUDA NEM SAI DO SIMAS, homenagem carinhosa a esse grande homem que é o Simas (vejam aqui). Peço aos amigos que embarcaram (ou não) na brincadeira, que ajudem como puderem ao primo do caboclo. Digam como ou pelos comentários a este texto ou mesmo pelo e-mail que criamos por ocasião do lançamento do furdunço, aqui. Qualquer ajuda é bem chegada.

Até.

5 comentários:

Diego Moreira disse...

Edu, obrigado, antes de tudo, por suas palavras. Quanto ao primo do Simas, já falei com o Careca e vou entrar no bolo com o que for necessário pra ajudar. Gostei da ideia de fazer algo em ALF pra juntar os donativos. Estamos juntos aí! Abraço!

leo boechat disse...

Esse Robinho é um… coitado.

Larissa disse...

Edu, muito bom o texto. Toda forma de intolerância, em especial a religiosa, é repugnante. Muito me admira partir de um negro... Sou umbandista e casada com um presbiteriano, prova de que a convivência pacífica entre as crenças é possível, desde que haja respeito e mente aberta. Lembrei do pastor João Valença, grande amigo, presbiteriano, que estudou por mais de vinte anos o Candomblé e tornou-se um apaixonado pelas matizes e belezas afro-brasileiras. E também do pastor Márcio, que acolheu nos cultos alguns casais homosexuais, dos quais pude ver mais respeito e fé do que muitos casais hetero.
E vamos ajudar ao primo do Simas...

Eduardo disse...

Edu, alguma informação sobre o primo do Simas? Onde, como e com o que ajudar?

Abs,
Dudu

Eduardo Goldenberg disse...

Dudu, meu chapa: já pedi essa informação ao Simas e ao Janir, e até agora nada. Aguardemos. Abraço.