31.5.10

COPA ALEIXO

Foram Marcus Handofsky e Leo Boechat os responsáveis. Durante encontro havido, na sexta-feira, no AL-FÁRÁBI, como lhes contei aqui, os dois me incitaram a procurar pelos videos de Bruno Aleixo, de Portugal, na grande rede:

- Você vai viciar! - me disse um deles.

- Depois me conta! - o outro.

Eis que no sábado pela manhã minha menina encontrou-me rolando no chão de rir, diante do computador. Ela assistiu comigo um, dois, três episódios do programa COPA ALEIXO. (que é apenas um dos tantos programas estrelados pelos malucos d´além-mar, basta procurar pelos demais). Não esboçou sequer um mover de lábios. O que comprova como somos, moços e moças, feitos de material infinitamente diferentes.

Deixo aqui a dica.

Até.

30.5.10

COMIDA DI BUTECO, O EVENTO

Luiz Antonio Simas escreveu mais um texto de antologia (aqui). Um texto que é uma espécie de carta aberta aos organizadores do evento COMIDA DI BUTECO. Como a que eu escrevi, aqui. Ei-lo:

"Começou ontem aqui no Rio de Janeiro o evento Comida di Buteco. Sobre ele escreveu com rigorosa propriedade o polemista carioca Eduardo Goldenberg. O jornal O Globo trouxe, em encarte, detalhes sobre o babado. A coisa, como se percebe, promete ser movimentada.

Em resumo: trinta e um restaurantes apresentam suas criações, o público atribui notas aos pratos, temperatura da bebida e higiene dos locais. Em meados de julho, em um show com vários artistas e Djs, os vencedores serão anunciados. Dentre os patrocinadores do furdunço, vejam só, temos uma universidade privada, uma marca de maionese, uma cervejaria, uma corretora de imóveis e uma companhia de aviação.

A realização do evento sugere algumas reflexões sobre as relações entre cultura e economia. Vou pegar, de leve, esse bonde e dar meu pitaco.

Entendo cultura como todo o processo humano de criação e recriação de formas de viver. Cultura é o conjunto de padrões de comportamento, elaboração de símbolos, visões de mundo, crenças, hábitos, tradições, anseios e que tais que caracterizam e distinguem um determinado grupo social.

É nesse sentido que a própria economia deve ser vista como um cadinho do processo cultural que caracteriza os povos. As relações econômicas também são elementos constitutivos do modo de ser de um grupo - e aí podemos refletir sobre uma pá de coisas, dentre elas a maneira como diferentes grupos socias encaram os atos de consumir, trocar, vender, comprar, se desfazer de um bem, valorizar ou não um objeto, etc... Tudo isso é elemento constitutivo de cultura, feito comer, dançar, rezar, enterrar os mortos e acordar as crianças.

O que esse Comida di Buteco propõe, infelizmente, se inscreve numa inversão perigosa: é um exemplo bem acabado - e assustadoramente corriqueiro - de submissão da cultura à economia. Explico.

A ideia do festival me parece ser a de transformar o que seria a cultura de botequim em um bom negócio para todos. Tento acreditar, sinceramente, nas boas intenções do babado e é possível que os envolvidos no evento achem de fato que estão valorizando o boteco. Sinto dizer que não estão.

O problema é que ao invés de entender a economia como parte constitutiva da cultura - esse poderoso campo que engloba nossos atos e nos define como homens humanos - essa perspectiva inverte tudo e transforma a cultura em parte constitutiva da economia - esse campo que, quando determinante, nos define como meros consumidores, desumanizados por conseguinte.

Insisto: a economia é que deveria ser encarada como um dos aspectos da cultura. O festival transforma a cultura em um mero elemento submetido aos ditames do mercado. Quando isso acontece, o que era cultura perde toda a carga de representações de modos de viver dos homens e se transforma, esvaziada de sua dimensão vital, em simples evento ou entretenimento, como queiram.

O Comida di Buteco é isso: um evento, desprovido de qualquer outro valor que não seja o de movimentar a economia da cidade, divulgar os patrocinadores, difundir a imagem dos participantes e aumentar o faturamento dos restaurantes envolvidos - objetivos legítimos, diga-se de passagem, ainda que não me comovam e que eu lhes faça sérias restrições.

O problema - gravíssimo! - é que a cultura, quando transformada e empobrecida em mero evento, morre. O festival, sob o pretexto de valorizar o botequim, joga contra exatamente o que diz querer valorizar.

Quando digo que a cidade tem alma, uso evidentemente uma metáfora para demonstrar que a cidade tem cultura. O botequim é, pois, um dos elementos constitutivos da cultura carioca. Certa feita escrevi o seguinte sobre o tema:

"O buteco é a casa do mal gosto, do disforme, do arroto, da barriga indecente, da grosseria, do afeto, da gentileza, da proximidade, do debate, da exposição das fraquezas, da dor de corno, da festa do novo amor, da comemoração do gol, do exercício, enfim, de uma forma de cidadania muito peculiar. É a República de fato dos homens comuns..."

É o nosso jeito, a nossa maneira, de recriar o mundo, inventar a vida, beber o passado, digerir o presente e projetar futuros. Nos definimos, dessa forma, como membros do nosso grupo e criadores de cultura - humanizados, portanto.

O Comida di Buteco cumpre muito bem o objetivo de agitar a cidade, movimentar a economia, colocar as pessoas na rua e o escambau. Não consigo, porém, deixar de ouvir uma voz, vinda sabem os deuses de onde [será o rugir do rótulo da maionese patrocinadora da coisa ?] , que parece inverter as lições do velho vagabundo:

- Não sois homens! Consumidores é que sois!

Tolo é quem pensa que o homem é desprovido da humanidade que lhe define quando morre. Mesmo morto, defuntinho da silva, o homem segue vivo na memória da sua gente, como dinamizador, pela lembrança, da tradição.

O homem só é desprovido de sua radical humanidade - morto, sem vitalidade - quando deixa de criar cultura e vira um reles espectador de uma vida que já não lhe é mais pertencimento."


Até.

29.5.10

DO DOSADOR

* Estou sentado diante da tela do computador depois da atividade de todas as manhãs, depois de regar meu jardim florido de preconceitos, conceitos e obsessões. E se é para o bem de todos, e felicidade geral, digo que parei. Parei, meus poucos mas fiéis leitores, de podar, de regar e de expôr na prateleira do BUTECO uma de minhas obsessões, messieur Moacyr Luz, que acaba de chegar da França, onde sentiu-se um "Chet Backer tupiniquim". Confesso que foi engraçado ficar brincando (sério) de mostrar a quem me lê as mutações e as transformações sofridas por uma das mais frondosas flores de meu jardim privado de obsessões. Foi engraçado mostrar que o homem que não resistia "aos botequins mais vagabundos" passou a chamar Roberta Sudbrack de fada. Foi engraçado mostrar que o homem que se dizia do povo passou a considerar Cora Rónai sua porta-voz. Foi engraçado mostrar que o homem que bebia nas mais fabulosas espeluncas da cidade passou a se preocupar com o limão do mictório. Mas não achei nenhuma graça na declaração dada ontem por ele: "Lula não é Maradona. Nem com essa mãozona toda, dá Dilma.". Ao sugerir que Lula pretende eleger Dilma Roussef na mão grande, ao fazer o vaticínio que, evidentemente, favoreceria Jose Serra, messieur Moacyr Luz passou dos limites. Passou a feder, o meu jardim. Por questões de higiene - eis o que lhes disse no começo - parei, de hoje em diante, de fazer menção àquela que foi, durante um bom tempo, uma das flores preferidas de meu canteiro de concreto;

* de rolar de rir o mais recente relato de um recente sonho de Luiz Antonio Simas, aqui;

* antes do almoço, ontem, fui com Felipinho Cereal ao ANTIGAMENTE, na rua do Ouvidor, provar do petisco que concorre, pelo restaurante, no lastimável concurso COMIDA DI BUTECO. Chama-se SELEÇÃO BRASILEIRA, custa R$ 14,90 e pode ser visto aqui. São onze bolinhos com ingredientes diferentes e, misteriosamente, com sabores idênticos - com exceção do bolinho de feijoada, imitação risível dos clássicos bolinhos de feijoada do ACONCHEGO CARIOCA e do PETIT PAULETTE. Todos os onze bolinhos, pré-congelados (o que é mais do que compreensível), vieram à mesa com o miolo empedrado e frio. E isso tudo com direito a um insuportável molho de maionese, desses com sabor. Façam uma idéia da tragédia (que tal bolinho de feijoada mergulhado na maionese?). Espero, franca e sinceramente, que a seleção brasileira faça infinitamente mais bonito na Copa do Mundo;

* o AL-FÁRÁBI, na rua do Rosário, mais conhecido como a Abadia dos Infernos, tem o portentoso Maurício ocupando o cargo de Abbas Palatinus, que pode ser visto aqui, sentado em seu trono, à espera dos que recorrem à cura de suas almas cansadas depois de um dia intenso de trabalho. Estive lá, na semana que passou, na companhia dos fiéis Marcus Handofsky e Leonardo Boechat, mais-que-iniciados. Fui apresentado a velhinhos, anões, óleos de motor e outras maluquices. Os caras são violentamente desequilibrados e beber na companhia deles, regidos, os três, pelo Abbas Palatinus é tarefa por demais alentadora. Um dos mais impressionantes momentos deu-se no final da noite. Manifestei o desejo de levar pra casa três garrafas de cerveja inglesa, de marcas diferentes, que são as preferidas de minha menina. Travou-se um debate de fazer morrer de inveja os quadros do PSOL. Eu, neófito e humílimo, saí carregando uma caixa com as garrafas acondicionadas em plástico-bolha somente depois de coisa de - o quê?! - 45 minutos de discussão acalorada. É - faço a confissão e dou a dica - um programaço.

Até.

28.5.10

CARTA ABERTA AOS ORGANIZADORES DO COMIDA DI BUTECO

Como a Sra. Maria Eulália Araújo, que bateu o telefone pra mim no dia 13 de maio de 2010, conforme lhes contei aqui, não tornou a ligar para marcarmos a conversa proposta por ela, valho-me deste espaço para, através desta carta aberta, dizer a ela o que eu gostaria de dizer, franca e sinceramente, pessoalmente (valendo dizer que continuo aguardando sua ligação para que não haja qualquer mal-entendido).

Quero começar transcrevendo um trecho do release do evento COMIDA DI BUTECO que foi distribuído à imprensa e que pode ser lido, na íntegra, aqui.

"Assim como no futebol, a democracia se institui de fato no boteco. Entendendo e valorizando o botequim, como um dos mais importantes espaços da sociabilidade do brasileiro, o mote da campanha do CdB esse ano é uma declaração de amor ao boteco. Da zona sul ao subúrbio, as torcidas misturam raças, crenças, diferenças sociais, no botequim e no campo. Com o slogan “Em cada coração bate um buteco, em cada buteco batem vários corações” a Free Produções, realizadora do evento, pretende mobilizar torcidas, superando o número de mais de 200 mil pessoas que visitaram os 31 concorrentes de 2009. Ano de copa, ano de boteco! A culinária será o tempero especial desse campeonato para quem for assistir aos jogos nos estabelecimentos participantes.

´Acredito que o Comida di Buteco seja mais que um concurso gastronômico. Ele é um fenômeno sociológico que deveria ser estudado de perto, pois movimenta economicamente toda a cadeia produtiva do setor, agregando qualidade ao serviço, gerando novos postos de trabalho e maior receita para os estabelecimentos envolvidos´ - afirma Maria Eulália Araújo, uma das realizadoras do concurso.


Cito um trecho do release e cito, agora, tentando uma costura que dê lógica a meu raciocínio, um de meus mestres, o historiador Luiz Antonio Simas, autor de um tratado sobre o assunto, DO PORTO AO BOTEQUIM - UM CHAMADO AO BOM COMBATE, que pode ser lido, na íntegra, aqui:

"Ando cabreiro com algumas coisas que estão acontecendo nas ruas cariocas. Aqui perto de casa, por exemplo, as notícias não são das melhores. Um botequim que costumo frequentar, o Bar do Chico, inventou uma reforma meio mandrake, que incluiu pizza no cardápio, visual moderninho, garçom de gravata e, é claro, aumento dos preços dos produtos. Botequim, já não é mais. Periga virar um playground de bêbados com rodízio de pizza depois das seis da tarde.

(...)

A Lapa, por sua vez, agoniza. Virou valhacouto de adultescentes, simulacro de berço do samba, com bares que vendem bebidas por preços proibitivos e que visualmente lembram a lanchonete da entrada do Memorial do Carmo, no cemitério vertical do Caju - um lugar mais digno para se beber, diga-se.

O Nova Capela [cada vez mais Nova e menos Capela ] hoje é atração turística para uns basbaques que encaram uma ida ao velho bar como uma espécie de safari no Quênia e saem dizendo que foi uma experiência inesquecível. O Bar Brasil resiste com bravura, mas até quando?

(...)

É aí, e eu queria falar disso desde o início, que localizo na minha cidade de São Sebastião o espaço de resistência a esses padrões uniformes do mundo global - o botequim. Ele, o velho buteco, o pé-sujo, é a ágora carioca. O botequim é o país onde não há grifes, não há o corpo-máquina, o corpo-em-si-mesmo, a vitrine, o mercado pairando como um deus a exigir que se cumpram seus rituais.

O buteco é a casa do mal gosto, do disforme, do arroto, da barriga indecente, da grosseria, do afeto, da gentileza, da proximidade, do debate, da exposição das fraquezas, da dor de corno, da festa do novo amor, da comemoração do gol, do exercício, enfim, de uma forma de cidadania muito peculiar. É a República de fato dos homens comuns - cenário não habitado pelos personagens de novelas do Manoel Carlos.

É nessa perspectiva que vejo a luta pela preservação da cultura do buteco como algo com uma dimensão muito mais ampla que o simples exercício de combate aos bares de grife que, como praga, pululam pela cidade e se espalham como metástase urbana.

A luta pelo buteco é a possibilidade de manter viva a crença na praça popular, espaço de geração de ideias e utopias - sem viadagens intelectuais, mas fundadas na sabedoria dos que têm pouco e precisam inventar a vida - que possam nos regenerar da falência de uma (des)humanidade que limita-se a sonhar com o tênis novo e o corpo moldado, não como conquista da saúde, mas como simples egolatria incrementada com bombas e anabolizantes cavalares.

O botequim é, portanto, e não abro mão do hífen, o anti-shopping center, a anti-globalização, a recusa mais veemente ao corpo-máquina dos atletas olímpicos ou ao corpo pau-de-virar tripa das anoréxicas - corpos que se confundem na doença comum desse mundo desencantado: Metáforas da morte.

Ali, no velho buteco, entre garrafas vazias, chinelos de dedo, copos americanos, pratos feitos e petiscos gordurosos, no mar de barrigas indecentes, onde São Jorge é o protetor e mercado é só a feira da esquina, a vida resiste aos desmandos da uniformização e o Homem é restituído ao que há de mais valente e humano na sua trajetória - a capacidade de sonhar seus delírios, festejar e afogar suas dores nas ampolas geladas feito cu de foca. É onde a alma da cidade grita a resistência : Laroiê!

Esse combate, amigos, é muito mais significativo do que imaginam os arautos modernosos e seus programadores visuais.

Botequim tem alma, é entidade, feito os trapiches e sobrados do cais do porto em noite de lua cheia."


Quase não há o quê dizer depois do que disse Luiz Antonio Simas. Mas eu quero dizer mais, ainda que evidentemente sem a mesma elegância, sem a mesma sabedoria, sem a mesma autoridade e sem o mesmo preparo intelectual.

Tenho, vocês sabem, diversos leitores em Campinas, interior de São Paulo (ainda que os campineiros rejeitem o termo "interior"). Campinas é a terceira cidade em número de leitores, perdendo apenas para o Rio de Janeiro e São Paulo. Vários deles, desde que comecei a falar sobre o evento aqui no Rio de Janeiro, me mandaram e-mails contando sobre a experiência que foi o COMIDA DI BUTECO, que estreou por lá neste 2010. O mesmo se deu, também, com leitores de Belo Horizonte, onde nasceu o projeto, a quinta cidade que mais me lê, atrás de Brasília. Todos, sem exceção, me pedem, no final dos e-mails, que eu não divulgue seus nomes. Como sou preciso do início ao fim, como sou honesto do princípio ao fim, atenderei a este pedido sem entrar no mérito da razão que leva alguém a pedir isso. Que assim seja.

Vamos ao que pude apurar, Sra. Eulália. Em Campinas poucos bares se interessaram pela coisa. Os mais antigos bares campineiros, os mais tradicionais, correram do festival como o diabo da cruz. Dentre os participantes, um abandonou o barco no meio do caminho (exatamente como fez o tradicionalíssimo BAR LAGOA, no Rio, em 2009, fora da edição de 2010). E isso, Sra. Eulália, porque seus donos teriam achado trabalhoso demais seguir à risca as regras impostas pelos senhores: decorar o ambiente com cartazes e bandeirinhas da maionese Hellmann´s, a maior patrocinadora de 2010, jamais servir a clientela sem antes estender, sobre a mesa, uma toalha de papel exibindo a marca dos patrocinadores, dentre outras imposições vigiadas de perto pelos auditores do festival.

O resultado, de certo modo, foi bacana: os bares que incluíram maionese em seus pratos foram mal na classificação geral. Um deles, o BAR DO CANDREVA, que se orgulha de ter mais de quarenta anos de tradição, serviu o que um dos meus leitores julgou ser uma "intragável porção de cebolas cruas recheadas com maionese, batata palha e frango desfiado". Rodou. Deu-se mal na avaliação do público.

Venceu, em Campinas, o BAR DO CARIOCA, com uma simples e tradicionalíssima língua. Sem a maionese, é claro.

Disseram mais, os campineiros. Disseram que muitos dos butecos antes desconhecidos e onde se podia beber em paz, estão agora quase sempre lotados de uma gente estranha, alheia ao modus operandi dos bares até então pacatos. Esse fenômeno, Sra. Eulália, por exemplo, é recorrente aqui no Rio. Sou do tempo em que beber no ACONCHEGO CARIOCA era uma experiência fabulosa. Hoje, filas e mais filas na porta, vans levando gente que se comporta como num safári (como bem disse Luiz Antonio Simas), gente que chega arrotando que veio de longe cobrando coisas inimagináveis num buteco de verdade. Uma gente que acha que frequentar botequim é um programa exótico, modernos, descolado.

Um dos problemas do festival, Sra. Eulália, é que antes se podia beber uma cerveja tranqüilamente nesses lugares. Ocorre que essa gente está, agora, ocupando esse espaço que sempre foi do povo visto com nojo e com desprezo. Não se esqueçam: "o buteco é a casa do mal gosto, do disforme, do arroto, da barriga indecente, da grosseria, do afeto, da gentileza, da proximidade, do debate, da exposição das fraquezas, da dor de corno, da festa do novo amor, da comemoração do gol, do exercício, enfim, de uma forma de cidadania muito peculiar. É a República de fato dos homens comuns - cenário não habitado pelos personagens de novelas do Manoel Carlos.". É isso: o COMIDA DI BUTECO é o passaporte pros personagens da novela da oito.

Os donos dos butecos - permita-me a digressão -, que deveriam ter o mínimo de consciência, crescem os olhos diante da perspectiva de triplicar o lucro, e danam a subir os preços da bebida e da comida, a fazer reformas desnecessárias que descaracterizam seus bares, a tratar com certa indiferença os clientes antigos enquanto adulam os bacanas que gastam os tubos. E faço a ressalva: a Katia, queridíssima minha, fez tudo isso, é verdade, mas é incapaz de destratar seus clientes mais antigos. E, ainda bem, acalenta o sonho de abrir um novo bar, um outro buteco, longe de toda essa parafernália que cerca hoje o ACONCHEGO CARIOCA.

O que quero lhes dizer é que o festival COMIDA DI BUTECO está, sim, promovendo a destruição dos botequins na medida em que inventa e fetichiza a chamada cultura de botequim. O "fenômeno sociológico" citado no release faz isso: passa por cima dos bares participantes do concurso e os destrói, sem piedade, oferecendo o lucro como contrapartida.

A classe média, sempre ávida por novidades (como é novidadeira, a classe média...), gosta do festival porque o festival lhe diz o que é bacana, o que está na moda, o que ela deve comer, onde ela deve ir com os amigos, é a maior responsável por essa insuportável mania de buteco. É daí vem o fetiche pelo jiló (antes odiado e considerado comida de passarinho), pela sardinha (antes, comida de pobre), pela cachaça (antes, bebida de mendigo) e por aí vai. Tudo o que antes era tido como ruim, porque popular, hoje virou artigo de luxo, disputado a tapa nos bares onde antes se podia ter conta e beber com os cabeças brancas de sempre. Muito, senhores, por conta do tal "fenômeno sociológico".

Não foi diferente o teor dos e-mails que chegaram de Belo Horizonte. Mas a queixa recaiu sobre o evento que fecha o festival, a tal da SAIDEIRA, que acontecerá no Rio de Janeiro pela primeira vez. Lá, foi evento para mais de quinze mil pessoas, com palcos divididos por duplas sertanejas e bandas de pop-rock, tendas armadas com petiscos frios e requentados, latinhas de cerveja morna, seguranças, e uma multidão de gente estranha.

Se quisermos que nossos filhos saibam o que é um buteco autêntico in loco e não através de fotos em museu, é preciso parar, agora, com essa papagaiada.

Razão pela qual eu - e não estou sendo irônico - até comemoro a escolha que os senhores fizeram para mais essa edição no Rio de Janeiro. Meus butecos de fé não estão lá. O pé-sujo mais autêntico não está lá. Razão pela qual eu comemoro a escolha dos curadores do evento, que demonstram, uma vez mais, não entender nada do riscado. Nada. Melhor assim.

Obrigado, organizadores.

Quero apenas lhes dizer, antes de terminar, que tenho profundo respeito pelo trabalho dos senhores. Ao contrário do que a senhora me disse por telefone, Sra. Eulália, imagino, sim, o esforço despendido para fazer acontecer o festival. Imagino mesmo. O que não me obriga, por óbvio, a achar que se trata de uma iniciativa saudável para o Rio de Janeiro que eu amo e que luta, como doido, contra os que fazem de tudo para sugar dinheiro às custas de suas melhores tradições. E pra encerrar: não estarei, é claro, na SAIDEIRA, que acontecerá na Cidade do Samba no dia 17 de julho, um sábado. Mas posso adiantar para os senhores aquela que será a mais triste cena da festa.

Vai ser quando uma das estrelas da festa, Moacyr Luz, subir no palco pra cantar "Brasil, tira as flechas do peito do meu padroeiro, que São Sebastião do Rio de Janeiro ainda pode ser salvar". Vai ser triste, senhores, e vai ser de uma hipocrisia agudíssima: porque o festival é, estejam certos disso, uma saraivada e tanto de flechas no peito do velho santo.

Eu, humílimo, vou ficar daqui, permanentemente, tentando arrancá-las.

Até.

CINEMA VIPADO

Há coisa de - o quê?! - um ano, mais ou menos, fui jantar na casa de um casal mais-que-querido e à certa altura disse o varão em direção à varoa:

- Conta pro Edu sobre aquele seu amigo... - e fez cara de enjôo.

Pois contou-me ela, com a mesmíssima máscara denotando asco, que havia encontrado, para um jantar de matar-saudade, no Leblon, um grupo de amigas dos tempos de faculdade. Todas com seus maridos para o que seria uma confraternização. E o marido de uma delas foi, em dado momento, o centro das atenções.

Disse o pernóstico, sócio de um banco na cidade mais endinheirada do país:

- Ano passado captei, para minha carteira, aportes da ordem de 55 milhões de dólares...

E baforou o charuto.

Em outro palpitante comentário, quando a conversa descambou para o assunto cinema, foi enfático:

- Ah, eu agora só vou ao cinema nas salas do Cinemark, no Jardim Panorama...

O marido de minha amiga, amigo meu também, diga-se, um sujeito extremamente simples, como eu, diga-se, buscando entrosamento, arriscou:

- É. Os cinemas Cinemark são bacanas.

O bacana quase o interrompeu:

- Meu filho, aqui no Rio não há o que há em São Paulo...

Fez mais anéis de fumaça e prosseguiu:

- Lá as poltronas são como as das classes executivas dos melhores aviões. Têm assentos reclináveis, revestidos de couro, com descanso para os pés e apoio para os braços, são as chamadas love seat. Não se trata de um cineminha popular. Não tem 600 lugares, são apenas pouco mais de 200 poltronas. Ambas dispõem ainda de bilheteria exclusiva e serviço de bar que entrega nos assentos pipoca com azeite trufado, vinho e café. E baratíssimo! Custa só R$ 46,00!

Diante do olhar de espanto do interlocutor, gargalhou como um José Mayer na novela das oito e disse:

- Cinema, agora, só com pipoca feita de milho importado com azeite trufado.

Meus amigos alegaram um compromisso e se retiraram, enojados.

O nojo agora chega ao Rio de Janeiro com o nome "cinema vipado". Mais precisamente à Barra da Tijuca.

Notícia de merda que, evidentemente, Joaquim Ferreira dos Santos publica hoje em sua coluneta.

nota publicada na coluna GENTE BOA do SEGUNDO CADERNO de O GLOBO de 28 de maio de 2010

Até.

27.5.10

SER MODERNO É TUDO

Tenho angariado, com uma velocidade impressionante graças às redes sociais, mais e mais detratores. Gente que, franca e sinceramente, não me tira nem o sono e nem a disposição de seguir em frente apontando meu dedo indicador polemista em direção a tudo aquilo que, mais que me incomodar, fomenta a construção de uma sociedade doentia onde a novidade - a todo custo - é o que todos buscam sem um mínimo de visão crítica capaz de fazer essa gente enxergar o ridículo que protagoniza. Explico. Se eu critico Roberta Sudbrack e sua food experience, se eu digo que acho lastimável que a ex-cozinheira de FHC tenha publicado um livro de alta gastronomia para cães, se eu digo que acho esquizofrênico a dita cuja escrever que batata dança, que pepino canta e que pão ronca e que acho incompreensível que milhares de pessoas delirem por conta disso (tem até quem confesse chorar diante dos pratos preparados por ela), se eu digo que acho lamentáveis os textos de Cora Rónai, a porta-voz de Moacyr Luz (o mesmo que chama Roberta Sudbrack de fada), se eu digo que não é possível admiti-la, mais uma vez, escrevendo no caderno de esportes durante a Copa do Mundo, se eu digo que o ASTOR BAR é só mais um ramo de uma empresa exitosa e lucrativa que nada tem a ver com o Rio de Janeiro e sua melhor tradição no ramo de botequins, se eu mostro, por "a" mais "b", que o Moacyr Luz é uma espécie de girassol de carne e osso (vira-se para o ponto mais iluminado do palco, sempre!) se desdizendo diuturnamente, pronto: aumenta o número dos que me julgam mal sem parar pra pensar (porque se pensassem, veriam o ridículo que é o teor de seus próprios discursos). Repito: não me importo.

E se eu sou mal julgado por essa gente que insiste em não parar pra pensar no que eu vira-e-mexe digo aqui neste balcão, deixo com vocês, hoje, fabuloso texto publicado na revista CARTA CAPITAL, de autoria de Márcio Alemão, por mim grifado:

"Todos mergulham na busca doentia pela novidade, mas estão a 5 centímetros da superfície

Ainda sobre a lista de San Pellegrino, a famosa lista publicada pela famosa revista inglesa The Restaurant. Na semana passada eu perguntei o que teria feito com que publicação se tornasse tão importante para a mídia. Ninguém me respondeu. Continuo acreditando que uma das grandes sacadas é chamar todo mundo de ignorante, mal informado. “O quê? Você nunca foi ao Plavi Podrum, em Volosko, na Croácia? Não comente isso em voz alta.”

Esse hábito, diga-se, é comum entre as elites bem informadas de todo o mundo: passar a noite discutindo sobre um talento obscuro, duvidoso, uma provável mentira, uma inevitável bobagem. Se o assunto for jazz, ninguém deve perder tempo para falar sobre a genialidade de Miles Davis. Deve haver um Zé qualquer oriundo de uma parte remota do planeta que está fazendo um som que realmente interessa.

Sobre a luz das pinturas de Turner vale a pena trocar algumas exclamações e suspiros? Não. Melhor analisar o conceito rompedor do paroxismo da imperfeição urbana das instalações do grupo Stirjsk.- “Não conhece o Stirjsk? Jantam sempre no imperdível Trum, uma joia da cozinha contemporânea do Kafiristão. O chef é o provocativo e ambicioso Daniel Dravot.”

Essa busca doentia pelo “novo” eu não engulo com facilidade. Digo mais fracamente: não engulo de jeito nenhum. Qual o problema em falar sobre uma rabada com polenta e agrião? Com relação à feijoada estão todos satisfeitos? Eu diria que a maioria das feijoadas servidas por aí é bem ruim. Eu diria que muita gente sofisticada, que certamente conhece as melhores espuminhas do mundo, não faz a menor ideia do que venha a ser um bom feijão. Tem muito chef de salto alto tentando fazer feijão e se dando muito mal.

Mas isso na verdade não importa. Os que topam pagar um saco de dinheiro por um prato de feijão, a turma que prefere discutir instalações obscuras e esquecer as pinceladas luminosas, também não faz a menor ideia do que seja um bom feijão. Existe um outro lado? Sempre existe.

Assunto novo. Ninguém aguenta um sujeito que se especializou em clássicos da Borgonha e do Piemonte e adora a comida clássica italiana e a francesa. Não saber citar pelo menos três nomes do mundo do vinho que hoje produzem “vinhos de autor” é o fim da picada. O novo, o moderno, a novidade, alguma imbecilidade para se colocar no Twitter e que atraia a atenção de azêmolas seguidoras é o que se busca neste momento tão exuberante da humanidade.

Sem a eterna novidade estamos condenados a ter de praticar alguns mergulhos. Temo que a maioria se afogaria a 5 centímetros da superfície de tudo. Mas teria um lado bom e não apenas um outro lado? Claro. É praticamente o mesmo. Assunto para festas, coquetéis, convenções da firma, confraternização entre os pais dos amiguinhos de escola de nossos filhos.

Imagine que grande impacto você não causaria na firma ao jogar na mesa a informação de que o melhor restaurante do mundo é o pequeno Noma, na Dinamarca. E, se um pequeno restaurante localizado em um lugar tão distante e sem a menor tradição gastronômica pode ser o melhor do mundo, por que a “nossa firma” de farinha de osso não pode ser a nova Apple?

Na escola, para os pais sempre muito aborrecidos da Joaninha, você pode ir falando, em ordem, todos os nomes dos premiados. E não é que ia esquecendo do mais importante? Quem se lembra de minha experiência nos restaurantes Pierre Gagnaire e L’Astrance há três anos, em Paris?

Todo mundo, né? Mas vou falar mais uma vez. Na época o Gagnaire era o 3º da tal lista e o L’Astrance o 11º.

Eu disse que minha experiência foi muito interessante, mas que, ao lembrar de ambos, nenhuma gota de saliva surgia em minha boca. Para ser bem franco, não via e ainda não vejo o menor motivo para voltar a nenhum deles. Pois certamente os membros da seleta academia San Pellegrino andaram lendo o Refogado. O Pierre Gagnaire não para de cair. Hoje é o 13º. O L’Astrance foi para 16º. E teve gente dizendo, na época, que eu não estava preparado para o novo da gastronomia. Hã, hã."


O texto está aqui, no site da CARTA CAPITAL.

Pequeno exercício: alguém ainda fala dos bares da REDE BELMONTE, queridinhos da imprensa meia-boca, ícones da cidade na opinião de Moacyr Luz? Não. Caíram no ostracimo. Alguém ainda quer saber de temakeria se kebaberia é a onda da vez? Não. Caiu no ostracismo. E eu poderia citar, aqui, dezenas de exemplos. Não o faço para não me tornar enfadonho.

E tem sempre dizendo que eu não estou preparado para o novo, que sou preconceituoso e blá-blá-blá. Arram. Tá bom, então.

Até.

COMIDA DI BUTECO 2010 - OS PARTICIPANTES

Saiu, finalmente (afinal o festival começa amanhã!), a lista dos participantes do COMIDA DI BUTECO 2010, no Rio de Janeiro. Vamos a eles e a meus comentários.

01) SABOR DA MORENA concorre com ENTOCADO DA MORENA, "abóbora japonesa amassada, com Hellmann's e dendê. Recheio de camarão à baiana e cobertura de côco ralado e queijo parmesão, gratinado, levando por cima um camarão médio frito com pedacinhos de coentro". Fica na rua São Manuel, 43, em Botafogo. Não conheço o bar. UM bar usando maionese-patrocinadora no prato.

02) SIRI concorre com FUZUÊ DE CAMARÃO, "camarões médios fritos, camarões miúdos fritos, refogados e à milanesa acompanhados de palmito". O SIRI indicado fica na rua dos Artistas, 02, em Vila Isabel e tem uma filial na Barra da Tijuca. Na minha humílima opinião, está mais pra restaurante do que pra buteco.

03) BAR DA AMENDOEIRA concorre com SHOW DE BOLA, "bolinho de bacalhau com camarão acompanhado de molho de Hellmann's com salsinha". Fica na rua Conde de Azambuja, 881, em Maria da Graça. É, de fato, um grande bar. Mas escorregou na maionese e rendeu-se à patrocinadora. São DOIS bares usando o ingrediente.

04) BAR VARNHAGEN concorre com ESPÍRITO DE PORCO, "filet mignon suíno, fatiado, acompanhado de salada de batata com Hellmann's". Fica na Praça Varnhagen, 14, na Tijuca. São TRÊS bares usando a maionese.

05) ENCHENDO LINGÜIÇA concorre com DAS TRIPAS CORAÇÃO, "lingüiça de coração de frango com polenta frita, cebola no vinho e ovos de codorna". Fica na avenida Engenheiro Richard, 2, no Grajaú. As lingüiças servidas lá são fabricadas na própria casa. Como adoro coração de frango e jamais comi lingüiça preparada com, é parada certa pra mim.

06) ADEGA DO CESARE concorre com GURJÕES MISTOS COM MOLHO TÁRTARO, "camarão, lula e iscas de peixe e frango à dorê acompanhado de molho tártaro feito com maionese Hellman's". Estou aqui reproduzindo as descrições dos pratos constantes do release oficial do evento e morrendo de rir com esse apontar da marca da maionese!!!!! Fica na rua Joaquim Nabuco, 44, em Copacabana. Peixe misturado com galinha é demais pra mim. Não passo nem na porta desse. Com mais esse, já são QUATRO bares usando a maionese.

07) DA GEMA concorre com FONDUE DA GEMA (nome rigorosamente incompreensível num festival que pretende ser de comida de buteco...) que é "creme de milharina com Hellmann's, milho branco, temperos e mussarela. Lingüicinha de porco da casa e costelinha para acompanhar". Já há tempos que estou pra conhecer o bar, que fica na rua Barão Mesquita, 615, na Tijuca. Apesar da maionese, que pretendo deixar boiando na cumbuca, vou pra conhecer e provar das carnes. São CINCO bares usando a maionese.

08) PETISQUEIRA MARTINHO concorre com PETISQUIM, "casquinha de siri recheada com frutos do mar, requeijão cremoso e Hellmann's". A marca da maionese está lá, em destaque, a do requeijão, não! Rigorosamente fora disso. Casquinha de siri com maionese e requeijão é inaceitável. Fica na praia do Jequiá, 33, na Ribeira, na Ilha do Governador (se bem que a ilha do atual governador fica em Angra dos Reis). São SEIS.

09) ORIGINAL DO BRÁS, campeão em 2008 e vice-campeão em 2009, concorre com BRASILEIRINHO ORIGINAL, "iscas de carne de sol com purê de mandioca feito com Hellmann's e flocos de alho frito". Não perderei meu tempo, esse ano, indo até lá. No ano passado decepcionei-me agudamente com o prato concorrente que ficou em segundo lugar e que corria o risco de cegar o incauto que pretendesse comer a escultura que tinha palitos enormes enterrados na comida servida no prato. Mais que se rendeu à maionese-patrocinadora. Fica na rua Guaporé, 680, em Brás de Pina. São SETE.

10) ACADEMIA DA CACHAÇA concorre com TAPIOCA CARIOQUINHA, que são "duas tapiocas recheadas, sendo uma com cordeiro desfiado e a outra com espinafre". Tentador. Mas a casa, além de ter filial na Barra da Tijuca (e sou radicalmente contra isso), está mais pra restaurante do que pra buteco. Inclusive a casa indicada pelo release é a da Barra, na avenida Armando Lombardi, 800. Chance zero de eu ir.

11) REAL CHOPE, um belo buteco, concorre com KIBINHO DE BACALHAU, "porção de oito kibes de bacalhau". Fica na rua Barata Ribeiro, 319, em Copacabana. Lá estarei, seguramente.

12) ANTIGAMENTE vem com SELEÇÃO BRASILEIRA, uma "seleção de 11 bolinhos variados, inspirados na culinária brasileira, acompanhados de molho de cachaça Hellmann's". Cachaça com maionese?! Hã?! Fica na rua do Ouvidor, 43, no Centro. Dos doze listados até agora, OITO com maionese. Nesse é capaz de eu ir. Estou sempre pela área e, confesso, curioso pra provar o que se anuncia como uma gororoba.

13) PETIT PAULETTE, do meu queridíssimo Paulete, concorre com CROCREVETE DU LET, um nome que deve ter sido pensado durante um pesadelo, ele só pode estar de sacanagem... São "camarões crocantes servidos em cestas comestíveis crocantes, com molho Hellmann's especial". Embora a descrição seja viadesca demais pro meu gosto, o Paulete é um cracaço na cozinha. Estarei lá, com certeza, na rua Barão de Iguatemi, 408, na Tijuca. Com ele, são NOVE escorregando na maionese.

14) BAR DA PORTUGUESA concorre com PUNHETA DA DONDON, "bacalhau cru desfiado com cebola, azeite, azeitonas, salsa, cebolinha e alho". Fica na rua Custódio Nunes, 155, em Ramos. Não conheço, estou disposto a conferir.

15) CACHAÇARIA MANGUE SECO concorre com CAMARÃO ATOLADO, "camarão atolado em creme de abóbora na casquinha crocante de milho, com cobertura de queijo coalho gratinado". Tentador, vou conferir. Fica na rua do Lavradio, 23, na cada vez mais estuprada Lapa.

16) BECO DO RATO concorre com FÍGADO SUSTADO, "fígado refogado com jiló em rodelas untado com Hellmann's, cebola e molho especial, acompanhado de torradas". Fica na rua Joaquim Silva, 11, também na Lapa. Não vou. Rodela untada com maionese não dá. Dá, sim, vontade de vomitar antes de comer. São DEZ reféns da maionese.

17) BOTECO SALVAÇÃO concorre com COXINHA INVERTIDA, "coxinha recheada com provolone acompanhada de molho rosé à base de Hellmann's". Fica na rua Henrique de Novais, 55, em Botafogo. Talvez eu vá. Coxinha de galinha está entre minhas perdições. Mas se eu for, o salgado não será conspurcado pelo molho à base de patrocínio. São ONZE.

18) ANGU DO GOMES concorre com NA CAMA COM GOMES e saquem sa descrição: "bacalhau, azeite, cebola roxa, azeitonas pretas, Hellman's, leite, queijo provolone ralado e requeijão, tudo isso acamado no creme de batata baroa gratinado". Outro que me deu ânsia de vômito durante a leitura. Acamado?! Fica na rua Sacadura Cabral, 17, no Largo da Prainha. Tô fora. E já são DOZE com maionese.

19) CALDO BELEZA concorre com MOCOTÓ BELEZA. Trata-se de "caldo de mocotó acompanhado de torradas com pasta de Hellman's com alho torrado". Um vendido, esse. Vai usar a maionese só pra agradar à patrocinadora... O prato é o caldo, pô! A torrada destoa e não irei nesse treco. Fica na rua Senador Vergueiro, 238, no Flamengo. São TREZE com maionese.

20) ADEGA PÉROLA, tradicionalíssimo, concorre com BOLINHO DE SIRI COM MOLHO DE HELLMANN´S E PÁPRICA, que é (a descrição é impactante) um "bolinho de Siri com molho de maionese Hellmann's e páprica". Fica na rua Siqueira Campos, 138, em Copacabana. Até posso ir. Mas é certo que eu vá comer uma dentre tantas as delícias sem maionese daquele balcão! São QUATORZE com maionese!

21) PAVÃO AZUL, outro portento em Copacabana, concorre com (o erro gramatical é deles!) RESSUCITARAM O CAMARÃO, que é um "risotinho de camarão". Fica na rua Hilário de Gouveia, 78, em Copacabana. Nunca tenho paciência pras filas de lá, mas estou disposto a ir.

22) ACONCHEGO CARIOCA concorre com FUTRICA NA ROÇA, "picanha suína assada, temperada com Hellmann's e especiarias, coberta com molho de banana da terra e cebolas refogadas na cerveja". As queridíssimas Katia e Rosa mandam bem demais na rua Barão de Iguatemi, 388, na Tijuca. Não me desanima a presença da patrocinadora. Se eu bem conheço a lei que rege a casa, deve ter menos de 0,1% de maionese no tempero. Vou lá! São QUINZE, já.

23) NORDESTINO CARIOCA concorre com CALDO DE CARIDADE, "carne moída de primeira, ovos, farinha de mesa, coentro, ovos de codorna, temperos nordestinos e torradas na brasa com creme de cebola e Hellmann's". Fica na avenida Sargento Carlos Argemiro Camargo, 49, em Jacarepaguá. Não conheço, estou disposto a ir. Com mais esse, DEZESSEIS escorregando na maionese.

24) BAIXO ARAGUAIA concorre com PICANHA AO MOLHO ESPECIAL, "picanha na brasa com molho especial, acompanhada de farrofa". Fica na rua Araguaia, 1709, na Freguesia. Vou, é claro. Picanha é comigo.

25) BAR URCA, ótimo, concorre com CASQUINHA À VILA DO CHÃ, "casquinhas de bacalhau". Fica na rua Candido Gaffrée, 205, na Urca. Estou sempre por lá. Vou lá provar.

26) CACHAMBEER concorre com EXPLODE CABRITÃO, "cabrito no bafo temperado em ervas finas e servido na chapa, no estilo Cachambeer, acompanha farofa amarela de alho torrado e açafrão e molho especial da casa com Hellmann's". É um grande lugar pra se beber e comer, fica na rua Cachambi, 475, no Cachambi. Vou e vou mais de uma vez. O "estilo Cachambeer" é sensacional! São DEZESSETE com maionese.

27) BAR DO PICOTE, ótimo embora venha perdendo a qualidade do chope ultimamente, concorre com EMPANADO DO PICOTE, "camarão empanado", e fica na rua Marquês De Paraná, 128, no Flamengo. Não custa, eu vou.

28) GRACIOSO concorre com JABAZINHO, "massa de abóbora com recheio de carne seca, empanados com flocos de arroz, acompanha molho de mostarda preta, mostarda amarela e gorgonzola, feitos com Hellmann's". Fica na rua Sacadura Cabral, 97, na Saúde. Vou. DEZOITO com maionese.

29) BAR 20 concorre com 20 COMER, "porção com seis unidades de bolinhos de arroz recheados com calabresa, empanados em farinha crocante de Doritos". Fica na Henrique Dumont 85, em Ipanema. Sem chance de eu ir.

30) SANTA SAIDEIRA concorre com PEDACINHO DO NORTE, "táboa composta de carnes seca e de sol, queijo coalho e aipim frito em cubos, acompanha farofa, manteiga de garrafa e molho a base de Helmann’s". Fica na rua do Progresso, 5, no Largo das Neves. Já são DEZENOVE com maionese.

31) PONTAPÉ concorre com BAIÃO CARIOCA, "uma panqueca (com massa feita com maionese Helmann's, arroz e aipim), recheada com carne seca acebolada coberta com molho de feijão de corda e queijo coalho derretida por cima". Quase golfei lendo a descrição. Tô fora. E dentre os 31 concorrentes, VINTE vão de maionese.

Vamos lá.

O release do festival vocês podem ler aqui.

Adivinhem quem fará o show de encerramento do festival?

Ele mesmo.

O compositor parente de Paris, o franco-brasileiro e franco-atirador pra todos os lados, Moacyr Luz!

Em tudo há coerência.

Até.

26.5.10

COMIDA DI BUTECO 2010 - OS DOIS PRIMEIROS CONFIRMADOS

Os organizadores do COMIDA DI BUTECO mantêm, no site oficial do festival, a um dia do início do troço, um mistério bobo sobre os participantes da edição 2010 do Rio de Janeiro. O site da revista RIOSHOW, d´O GLOBO ONLINE, entretanto, já expõe dois dos bares que integrarão a lista.

Um deles é o ORIGINAL DO BRÁS, em Brás de Pina, campeão em 2008 e vice-campeão em 2009. Vamos ao que diz o jornal:

"Para participar do festival Comida di Boteco, o bar preparou um pestico especial: BRASILEIRINHO ORIGINAL, iscas de carne de sol servidas com purê de mandioca feito com maionese Hellmann's e flocos de alho frito (R$18)."

Olha a maionese aí, gente!

O segundo é o ENCHENDO LINGUIÇA, no Grajaú:

"Para participar do festival Comida di Boteco, o bar preparou um pestico especial: DAS TRIPAS CORAÇÃO, porção de linguiça feita na casa com coração de frango. Acompanha polenta frita, cebola temperada no vinho e ovos de codorna (R$36)."

Aparentemente, sem a maionese do patrocinador. Vamos acompanhar de perto.

As informações estão aqui e aqui.

Até.

TRÊS MOMENTOS

Dirão meus detratores:

- Lá vem o Edu, de novo, falar do Moacyr Luz.

Sim, meus poucos mas fiéis leitores, eis-me aqui, de novo, falando do compositor que tem Cora Rónai como sua porta-voz, Roberta Sudbrack como sua fada particular e o ASTOR BAR como a mais autêntica esquina carioca. O compositor que canta, por aí, "eu não resisto aos botequins mais vagabundos" deveria ficar apenas no breque "marquei bobeira", do mesmo samba. É o que mais tem feito de uns tempos pra cá.

É que recebi de um bombeiro de gasolina, às 9h33min da manhã de hoje, um e-mail com o seguinte teor:

"O que é aquela foto do Moacyr abrindo os braços como num êxtase, tendo ao fundo a Torre Eiffel? Que coisa mais PSDB, mais classe média deslumbrada..."

Fui ao blog do compositor, li o texto DIÁRIO (aqui), e deu-se a bulha. Disse de mim para mim:

- Vou expôr, mais uma vez, uma das flores mais profícuas do meu jardim rodrigueano de obsessões.

Eu, que ponho a mão na fogo por cada uma das pretas velhas que me atende na feira dos domingos, por cada um dos malandros maneiros e trabalhadores que me atende na feira das quartas-feiras, que muitas vezes escolhem pra mim as frutas, os legumes e as verduras, não conseguiria ficar calado diante do deslumbre do compositor, encantandíssimo com a feirante loura de olhos azuis com quem esbarrou na França, onde está a trabalho. Vejam o que diz o compositor (sim, Dr. Handofsky, sei que estou provavelmente revolvendo o fundo da lagoa de Araruama).

print do blog do compositor Moacyr Luz

Como tem coragem de dizer uma barbaridade desse tamanho, o compositor? Ele que durante anos pôde armar sua barraca de feira na feira da Garibaldi (que acabou virando um curta-metragem, um projeto...) graças à generosidade e à sinceridade da cidade que chama de minha e que serve de mote para dez em cada dez projetos que apresenta ao Ministério da Cultura? Como?

O deslumbre não cessa por aí. Repetindo o jargão da classe média mais mesquinha, diz que paga impostos (e blá-blá-blá) e elogia os trens da cidade francesa que visita e o meticuloso cálculo que deixa calçada e vagão no mesmo nível. Geme, no final da frase... "Pensei (...) no asfalto que recebo em troca". Não pensou no que recebe de bom em troca, não, não pensou. Acaba por aí? Não. Vamos em frente.

print do blog do compositor Moacyr Luz

Fecha o lastimável texto com uma foto de gosto duvidoso. De braços abertos diante da Torre Eiffel, o compositor comemora sabe-se lá o quê e anuncia seu parentesco com a cidade-luz, num trocadilho infâme.

print do blog do compositor Moacyr Luz

Pra mim, que cultivo a flor a que me referi, apenas mais um indício da (in)coerência que vem norteando os caminhos do compositor. Meus detratores, os que vêem Moacyr Luz como uma entidade e não como um artista popular que vem pisoteando sobre o Rio de Janeiro como uma dançarina espanhola pisoteia os tacos corridos de um palco, atirarão mais pedras em minha direção. Melhor assim.

Como venho construindo um muro de heras que protege meu jardim dando a ele um caráter de irrefutabilidade ao que digo e escrevo (e é isso que meus detratores não perdoam em mim, um obsessivo até na hora de fundear meus argumentos), relaxo.

Au revoir, Moacyr Luz. São Sebastião do Rio de Janeiro, compositor, ainda pode, sim, se salvar. Sem perfídia, de preferência, que de deslealdade a cidade está cansada.

Até.

PODER É PODER

A coluna de Ancelmo Gois, de O GLOBO, dá a nota abaixo na edição de hoje.

nota publicada em O GLOBO de 26 de maio de 2010

Ancelmo Gois e o jornalão (e o Órgão Especial do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro), entretanto, parecem não se importar com o caso, infinitamente mais grave, que envolve o atual presidente do TJRJ, Luiz Zveiter (aqui). Tsc.

Até.

25.5.10

DO DOSADOR

* Segundo o site do festival COMIDA DI BUTECO - neste exato instante em que lhes escrevo -, aqui, estamos a 2 dias, 11 horas, 47 minutos e 1 segundo do início do troço. E até o presente momento, conforme eu já havia lhes contado aqui e aqui, não se sabe quais os participantes da edição 2010 do festival. Também me sinto no dever de lhes informar que não tornou a me telefonar, como prometera, uma das responsáveis pelo projeto COMIDA DI BUTECO, Sra. Eulália. Não me causa estranheza. Fui, quero crer, quando dei a ela, por telefone, meus argumentos para ter dito o que disse sobre o festival, bastante incisivo na marcação de minha posição. O que não impediria, por óbvio, nosso encontro. Infelizmente não fui procurado. Resta aguardar 2 dias, 11 horas, 41 minutos e 37 segundos (sou preciso do início ao fim) para sabermos quem topará participar do festival. E reitero o que lhes disse: com a introdução (opa!) da maionese a coisa tende a desandar;

* está se aproximando o aniversário de 40 anos da maior cabeça que conheço: Fernando Jose Szegeri. O homem da barba amazônica, que nasceu aos 24 dias do mês de junho de 1970, exatos três dias depois da conquista do tricampeonato mundial, já funcionário público, vastamente barbado e com um par de galochas que persegue até hoje (ele as perdeu, sabe-se lá quando...), é definitivamente uma cabeça. É uma cabeça e quando eu fiz 40 anos foi capaz de me meter numa enrascada daquelas. Vou explicar. Eu estava em São Paulo com minha menina uns dias antes do 27 de abril de 2009. A cabeça entregou-me, no instante de meu embarque, uma caixa pesadíssima e disse com olhos graves por trás das lentes dos óculos:

- Abra apenas no dia 27 de abril. Compreendeu?

Eu, afoito, aflito e ansioso como de costume, disse que compreendi. E temendo não apenas a fúria palestro-amazônica do palmeirense mas também a vigilância de minha menina, obedeci.

Pois ao primeiro minuto do dia de meus 40 anos abri a caixa que trouxe no colo, dentro do avião. Lá estavam seis portentosos copos de cristal, para uísque, da legendária marca MOSER (aqui). Durante - o quê?! - dez anos bebi uísque em sua casa servido num desses magníficos copos, coloridos. E eu, num misto de inveja e implicância, dizia com o nariz enterrado no malte:

- São perfeitos. Perfeitos! Pena que são coloridos... Copo de uísque, bom mesmo, tem de ser transparente...

Isso, meus poucos mas fiéis leitores, durante anos.

E ali estava eu diante do presente do homem da barba amazônica: seis copos perfeitos, perfeitos!, e transparentes, cristalinos, diáfanos, hialinos, límpidos, translúcidos.

Soube depois que o caboclo fez o diabo pra comprar o presente. Mandou e-mails, fez ligações internacionais, manteve contato com embaixadas, tudo para conseguir trazer da República Tcheca os copos de cristal fabricados em Karlovy Vary, os mais renomados do mundo. Desde este dia - eis o que queria lhes contar - minha menina começou uma espécie de pregão, de ladainha, de quase-ameaça:

- Veja lá o que você vai comprar pro Fernando nos 40 anos dele, hein?!

Eu insinuava uma idéia e vinha o tackle:

- Que pobreza! Nem pensar! Nem pensar! Você sabe quanto custaram aqueles copos?!

Eu subia um degrau na pretensão do presente e vinha a cremalheira verbal:

- Esquece isso! Esquece isso!

Pois estamos a menos de um mês dos 40 anos de Fernando Jose Szegeri. Há, em mim, uma aridez de idéias somada a uma impossibilidade financeira que me assombra. Hoje cedo pus no correio um de seus presentes. Digo "um de seus presentes" porque cheguei em casa com ele na semana passada e fui, de pronto, intimado:

- O que é isso?!

- O presente do Szegeri...

Baixou a cabocla-faxineira:

- Tu tá de sacanagem, né? Isso?! - e brandia, como uma flâmula, o presente que eu comprara.

Humílimo, como um sabujo amendrotado, respondi:

- Você acha que ele não vai gostar?!

As mãos na cadeira, os pezinhos sapateando o piso da sala:

- Tu só pode estar de sacanagem. Lembra do que você ganhou?! Lembra?! - e esfregava o polegar no indicador sinalizando o tutu investido no meu presente.

Eis minha enrascada;

* sinto-me um extraterrestre por esses dias. Nas ruas, nos elevadores, nos corredores do Tribunal de Justiça, só se fala no tal LOST. Eu, que NUNCA (com a ênfase szegeriana) assisti sequer a um episódio desse troço (os que assistem chamam de "temporada"), fico franca e sinceramente deslocado por onde ando. Prefiro LUST no AL-FÁRÁBI;

* quero confessar uma ponta de inveja. Um dos comerciais da QUILMES para a Copa do Mundo de 2010 é, indubitavelmente, o mais arrepiante já criado para o assunto. Queria mesmo que fosse feito tendo o Brasil como mote, não os hermanos. Mas fazer o quê?! Resta pedir a Deus (eu, intensamente supersticioso), o mesmo que fala com a nação argentina no comercial, que olhe por nós, que vamos precisar mais d´Ele do que os argentinos, que vão com um timaço pra África do Sul. O comercial, legendado, está aqui.

Até.

24.5.10

CIDINHA CAMPOS: ESSA É DAS MINHAS!

Em 06 de maio de 2010 publiquei CIDINHA CAMPOS: ESSA É DAS MINHAS!, quando disponibilizei dois vídeos nos quais a corajosa deputada expõe, da tribuna da ALERJ, a vergonhosa omissão da imprensa carioca que abafa, de forma aguda, o escândalo no TJRJ que fez com que o CNJ anulasse um recente concurso para notário e tabelião no Estado do Rio de Janeiro (vejam aqui). Só que a Cidinha, além de corajosa, é incansável. E por conta de recentes e suspeitas matérias publicadas em O GLOBO, que eu denunciei aqui e aqui, voltou à tribuna para dizer a verdade que - inacreditavelmente - parece não inomodar nossa imprensa meia-boca.

Até.

RALI DE CARNE DE PORCO

Conforme eu lhes contei na semana passada, houve, no sábado, na mansão dos Zampronha, um rali de carne de porco. Depois do rali de cordeiro realizado no mês de abril (vejam aqui), decidimos que faríamos outro, em maio (e foi no sábado!), dessa vez com carne suína. O banquete, que vem ganhando proporções bíblicas a cada encontro, começou a ser preparado na quinta-feira quando estive no mercado com uma das anfitriãs, minha doce e amada Sonia. Na sexta-feira à noite lá estava eu, na portentosa mansão no Alto da Boa Vista, ajudando no preparo do almoço.

Temperamos o lombo, a picanha, as costelinhas e o pernil de aproximadamente 7kg (foto abaixo).

pernil de porco

Como fizemos muita coisa, não vou fazer como fiz quando publiquei o rali de cordeiro, passando receita por receita, mas dividirei com vocês o preparo e os resultados. Dentro do lombo, imenso, injetamos 750ml de vinho branco seco, furamos o bicho todo, introduzimos dentes de alho em diversos pontos e cobrimos a criança com uma quantidade colossal de cebola picada. Uma vez coberto com papel laminado, tomou o rumo da geladeira. As costelinhas (foto abaixo) foram regadas com suco de limão, um pouco de sal grosso moído na hora e pimenta-biquinho. Igualmente coberta, foi fazer companhia para o pernil. Optamos por comprar o lombo e a picanha já temperados, razão pela qual ficaram na geladeira dentro da própria embalagem.

costelinha de porco

No dia seguinte, pela manhã, passei na feira pra comprar alecrim fresco, ingrediente do risotto de limão siciliano. O forno foi ligado às 10h e o pernil, ainda coberto com o laminado depois de devidamente regado com o suco que brotou no tabuleiro, começou a ser preparado. Já estávamos munidos das bebidas (é preciso cozinhar, sempre, na companhia de um bom uísque) e depois de duas horas retiramos o pernil do forno, o papel laminado e cobrimos todo ele com tiras de bacon (foto abaixo).

Voltou pro forno? Mãos à obra.

pernil de porco com bacon

Enquanto isso, sempre com o auxílio luxuoso da , dona do segundo sorriso mais bonito do mundo - vejam aqui - e da Marcela Zampronha (que ao lado do irmão, André Zampronha, compõe o núcleo duro da mansão), começamos a preparar o que de comer antes do almoço: salames de tudo o quanto é tipo, presunto cru, lombo canadense, salsichas de carne suína defumadas. Seríamos, como sempre, dez os presentes (doze, dessa vez, eis que surpreendentemente duas sumidades apareceram de última hora). Como somos oito com cadeira permanente (em ordem alfabética para não ferir suscetibilidades... André Zampronha, Betinha, Dani, eu, Flavinho, Marcela Zampronha, Marcelo e Sonia) a cada almoço, após intensa votação decorrente de lista tríplice indicada pelo núcleo duro, saem dois nomes como convidados, e dessa vez os agraciados foram Magali Pureza e Ricardo Amorim. As sumidades? Fernando Szegeri, o homem da barba amazônica, e minha doce Stê.

Por volta das três e meia da tarde, entraram no forno o lombo e a picanha (foto abaixo).

lombo e picanha suína

Durante todo o tempo o pernil foi sendo checado. Regado com o sumo incrivelmente cheiroso que escorria da carne. E tome cerveja, e tome uísque, e tome espumante, e se na nossa cozinha comida não dança e nem canta, tínhamos todos a certeza da graça daquele momento, daquela congregação que já é, definitivamente, parte do calendário oficial da vida de todos nós.

Exatamente às seis da tarde o pernil foi considerado pronto, assim como o lombo e a picanha. Bonito pacas (foto abaixo), era a hora de começar a preparar o risotto.

pernil de porco

Para o risotto, a praça já estava armada pelas mãos da e da Sonia. Cabia a mim executar a receita. Um quilo de arroz arborio, um tablete de manteiga sem sal, azeite, uma pasta feita no processador com salsão e cebola, quase cinco litros de caldo de legumes, a raspa da casca de cinco limões sicilianos, um punhado de alecrim cortado em pedaços pequenos e uma mistura do suco dos limões com o creme de leite, o queijo parmesão ralado e cinco gemas (foto abaixo).

risotto de limão siciliano

Preparar o risotto nos tomou mais ou menos meia-hora. Foi dado o sinal e armada a mesa, típica dos mais fartos banquetes. Na foto abaixo vê-se a farofa preparada com pancetta, o lombo, a picanha, a panela de risotto e o pernil, destaque absoluto entre as carnes, ao lado do risotto que foi considerado monumental por todos os presentes.

rali de carne de porco

Saborosissímo, acompanhamento perfeito para as carnes do almoço, provocou "ohs" e "ahs" entre os doze presentes à mansão dos Zampronha que, sem sombra de dúvida, foi palco de mais uma tarde inesquecível.

Já estamos pensando no próximo rali. Eu, humílimo e generoso, vou dividir com vocês todos os prazeres que costuram esses encontros.

risotto de limão siciliano

Até.

21.5.10

SEXTA-FEIRA EM O GLOBO

Hoje é sexta-feira e sexta-feira vocês que me lêem sabem: é dia de debate político promovido pelo PSOL no Buraco do Lume seguido de almoço à moda Santa Ceia na rua do Rosário, quando se reúnem, em comprida mesa retangular, quadros e mais quadros do partido mais patético da paróquia. É dia, também, da revista RIOSHOW, de O GLOBO, sair encartada no jornalão. Eu, um obsessivo confesso, passo a vista no jornal todas as manhãs. E hoje, nesta sexta-feira, tomei um susto atrás do outro (pra ser mais preciso, tive seguidas ânsias de vômito) lendo o lixo digital na grande rede (não gasto meu dinheiro comprando o calhamaço nas bancas e nem me rendo aos insistentes telefonemas que me oferecem assinatura do cocô impresso a preços imbatíveis). Vamos a eles.

O jornalão, prosseguindo sua campanha em prol de Luiz Zveiter, pelo terceiro dia seguido, dá destaque (e dessa vez com chamada na capa) a uma investigação do CNJ sobre o caso de e-mails falsos que teriam sido disparados de dentro do TJRJ em nome de um jornalista de O GLOBO supostamente a pedido de um desembargador que é, notoriamente, adversário de Luiz Zveiter. Notem bem... o escarcéu armado pelo jornal diz respeito a uma investigação (vou repetir: investigação). A anulação de um concurso promovido pelo TJRJ por força de decisão do mesmo CNJ, que verificou absurdo favorecimento a duas candidatas intimamente ligadas a Luiz Zveiter, não mereceu o mesmo tratamento por parte dos covardes que dirigem o jornal mais escroto do Rio de Janeiro. Aliás, não mereceu NADA (com a ênfase szegeriana), nem notinha de rodapé. Modestamente, com a intenção de espalhar o troço, indico novamente o texto onde a nojeira toda vem à tona, aqui.

capa do jornal O GLOBO de 21 de maio de 2010

Outra evidência da nojeira praticada diuturnamente pelo jornalão. A coluneta GENTE BOA, comandada por Joaquim Ferreira dos Santos, dá, hoje, uma sacaneada numa cozinheira tailandesa, chamada Popy. Segundo a inacreditável coluna (pior a cada dia), a tal cozinheira está abrindo um restaurante e inaugurando "a primeira operação de comida casual thai" e "o conceito de comida na panela". Onde o deboche? Vejam abaixo.

nota publicada no SEGUNDO CADERNO de O GLOBO de 21 de maio de 2010

O jornalista (saudade de Fausto Wolff...) diz que "haverá gente para explicar do que se trata a ´operação´ e o ´conceito´". Isso causa estranheza ao colunista. Quando a mais-querida da imprensa meia-boca exalta a "food experience", quando ela nos relata que legumes, verduras, frutas e carnes de todo gênero pulam, dançam, cantam e rodopiam em sua cozinha... há o silêncio. Chega a ser constrangedora a postura dessa gente. Mas há mais, há mais! E tirem as crianças da sala.

A revista RIOSHOW tem uma seção chamada PROGRAMA FURADO, através da qual leitores (geralmente chatos, insuportavelmente chatos) escrevem para reclamar de tudo: da comida que lhes foi servida, do restaurante, do cinema, do teatro, de tudo, de tudo! Hoje, sinceramente, deu-se o inacreditável. Vejam aí.

carta publicada na revista RIOSHOW de O GLOBO de 21 de maio de 2010

Antes, porém, leiam Luiz Antonio Simas, aqui. Leram? Então vamos comentar a cartinha publicada na revista, hoje.

O sujeito escreve para dizer que:

01) foi a uma boate gay;

02) foi assediado por uma cliente bêbada que se esfregava nele e se jogava em sua direção;

03) exaltou-se com o assédio da mulher (como quem afasta, com nojo, uma barata voadora, posso imaginar) e pediu a ela que não mais se aproximasse ou tocasse nele;

04) levou uma gravata dos seguranças da casa, foi imobilizado (aí ele deve ter se amarrado, quero crer), arrastado (será que gritou " isso, me bate!, me bate!"?????) e expulso da casa.

Sinceramente?

O mundo está por um fio.

Até.

19.5.10

RODA DE VITROLA

A pedida de hoje é a roda de vitrola que será promovida pela livraria do meu coração, a FOLHA SECA, na calçada em frente, na rua do Ouvidor, 37. Comandando a vitrola e responsável pelo repertório, o folclórico Felipinho Cereal, dono de um acervo que ultrapassa a marca de 5.000 LP´s. A partir das 18h.

vitrola

Até.

O NOJO QUE É O GLOBO

Ontem publiquei O NOJO QUE É O GLOBO, aqui. Hoje, mais nojeira. E com mais desfaçatez. Hoje publicam a foto de Luiz Zveiter com a seguinte legenda, frase atribuída ao atual presidente do TJRJ:

"A QUESTÃO É GRAVE PORQUE REVELOU QUE PESSOAS TENTARAM DENEGRIR A MINHA IMAGEM E CONSTRANGER O TRABALHO DA MÍDIA"

fotografia publicada no jornal O GLOBO de 19 de maio de 2010

Porcos, os que comandam o jornal. A questão mais grave é mantida debaixo do tapete. Mas aqui do BUTECO, modestamente, levanto a ponta do persa pisado pelos porcos subservientes e exibo o lixo a quem me lê: aqui.

Até.

18.5.10

NOJEIRA NO FUTEBOL

Acabo de receber o e-mail, cuja imagem encontra-se abaixo, de um amigo meu que é jornalista. Cada um vota como quer, em quem quiser e valendo-se dos critérios que julgar cabíveis. O que é nojento - absolutamente nojento! - é perceber que o referido e-mail, que transforma um diálogo patético entre Jose Serra e o presidente do clube mineiro, Alexandre Kalil, pelo TWITTER, em notícia, partiu da assessoria de imprensa do próprio Atlético Mineiro.

Nojo!

Até.

O NOJO QUE É O GLOBO

O jornal O GLOBO se mantém nas sendas da farsa, da falta de vergonha na cara, do mais absoluto anti-jornalismo, seguindo uma postura que, franca e sinceramente, até mesmo o mais distraído dos leitores percebe (caso não perceba, eis-me aqui, obsessivo, apontando o indicador da mão direita no focinho de seus editores e chamando a atenção de quem me lê).

Em 14 de abril de 2010, há pouco mais de um mês, portanto, publiquei aqui o texto ESCÂNDALO NO TJRJ É OMITIDO PELO O GLOBO. No mesmo dia 14 de abril, disponibilizei aqui a leitura, na íntegra, da decisão do CNJ que anulou o concurso promovido pelo TJRJ por conta das mais-que-evidentes fraudes que favoreceram duas candidatas que mantinham (ou que mantém, pouco importa) íntimas relações com o então Corregedor Geral do TJRJ e hoje Presidente do Tribunal, o desembargador Luiz Zveiter que, por sua vez, mantinha (ou mantém, pouco importa) relações íntimas com o império da família Marinho. No dia 06 de maio de 2010, expus o discurso da corajosa deputada estadual Cidinha Campos na tribuna da ALERJ, aqui, denunciando as arbitrariedades de Luiz Zveiter e cobrando do império da GLOBO uma satisfação por conta do vergonhoso silêncio sobre o assunto, gravíssimo.

Não é novidade para ninguém a histórica conivência do império da família Marinho com os poderosos, com os que sempre tripudiam em cima do povo, com as mais sujas manipulações envolvendo fatos e notícias - e meu eterno e saudoso governador, Leonel de Moura Brizola, morreu denunciando isso. Pois vamos à nojeira estampada hoje nas páginas do jornalão carioca.

Na capa do jornal, no alto à esquerda, lê-se: MAGISTRADO É ACUSADO DE CRIMES NA INTERNET, com chamada para a íntegra da matéria na página 3. A matéria, vejam a imagem abaixo, não está assinada.

matéria publicada no jornal O GLOBO de 18 de maio de 2010

Por que? Quais os interesses escusos por trás da publicação de uma denúncia infinitamente menos bombástica do que a que aponta para o envolvimento de Luiz Zveiter no concurso anulado pelo CNJ? Até as paredes dos corredores do Fórum Central do Rio de Janeiro sabem que o desembargador Roberto Wider - alvo da matéria publicada hoje - é ferrenho opositor de Luiz Zveiter. Age, O GLOBO, a mando de quem? São muitas as perguntas que não querem calar diante de mais uma demonstração de subserviência do jornal carioca.

E antes que meus detratores (que são muitos, mas que são pífios em seus argumentos capazes de sustentar suas posturas) me acusem de leviandade, eis aí imagem de outra matéria publicada no jornal de hoje.

matéria publicada no jornal O GLOBO de 18 de maio de 2010

Como todas - eu disse TODAS (com a ênfase szegeriana) -, está devidamente assinada.

O diretor de redação e editor responsável, Rodolfo Fernandes (tio de Cora Rónai) e a editora do caderno PAÍS, Silvia Fonseca, será que têm alguma explicação para dar?

É um nojo, um nojo, um nojo.

Até.

17.5.10

MEU JARDIM DE OBSESSÕES

Preciso lhes dizer umas coisas hoje, e já lhes explico porque começo dizendo que "preciso" - verbo impositivo (quis mesmo dizer impositivo) direto.

Quero, antes, que vocês que me lêem tenham em mente o cenário e os personagens à mão, o cenário e os personagens que presenciaram (e que protagonizaram) o que vou lhes contar. Chegava ao fim a sexta-feira e eis a mesa na rua do Rosário (em ordem de ocupação da mesa, ferindo, que seja, suscetibilidades): Babolé, Leo Boechat, esse que vos escreve, Hans, Betinha, Luiz Antonio Simas, Luiz Carlos Fraga e o Marechal. Diante dos portais da abadia, bebíamos as maravilhas alemãs, belgas, escocesas e holandesas que o abade, sempre infernal, trazia à mesa com um sorriso diabólico. Falei em Luiz Antonio Simas e preciso (de novo, o mesmo verbo) citar uma de suas frases que se tornou célebre:

- Tenho um jardim de preconceitos que cultivo todo santo dia.

Para que meus detratores não digam que estou pondo palavras, jardins e preconceitos na boca do maiúsculo professor, confiram a declaração aqui. Luiz Antonio Simas disse a frase - chegou, em algumas ocasiões, a enfeitá-la pondo um regador em uma de suas mãos ["Todos os dias, ao acordar, vou ao meu jardim de preconceitos regá-lo com o regador cheio para fazê-lo mais viçoso"] - e houve aplausos (eu mesmo, confesso, fui um dos que quase pediu bis) e nenhuma crítica (sou dos que rebatem qualquer crítica em direção a ele). Tomaram nota de tudo? Vamos em frente.

Lá cheguei com a única e exclusiva intenção de beber as delícias trazidas de dentro da caverna pelo diabólico abade. Mas, qual o quê. Foi eu sentar e começou o assédio (omitirei os donos das vozes que me chegavam em tom de fogo flamejante):

- Sabe quem eu acabei de encontrar?! Eliomar Coelho!

- Ih! Nessa mesma mesa, hoje, almoçou a cúpula do PSOL! O Pratinha estava!

- E o Moacyr, hein?!

Outro, mais afoito:

- Como anda tua história com o Moutinho?

Eu mal terminara de dar o primeiro gole, prosseguiu o tiroteio:

- O Astor Bar vai entrar no Comida di Buteco?

Pousei o copo e sorri. Lembrei-me não somente da patrulha dos bombeiros de gasolina. Lembrei-me, sobretudo, de Nelson Rodrigues. Escreveu o pernambucano:

"Eu sou assim, e digo mais - convivo muito bem com as minhas idéias fixas."

Mais:

"De vez em quando, alguém me chama de “flor de obsessão”. Não protesto e explico: - não faço nenhum mistério dos meus defeitos. Eu os tenho e os prezo. Sou um obsessivo. E aliás, que seria de mim, que seria de nós, se não fossem três ou quatro idéias fixas? Repito: - não há santo, herói, gênio ou pulha sem idéias fixas. Só os imbecis não as têm."

Sorri porque - nem precisaria desse expediente, é claro - abateu-se sobre mim a certeza de que eu estava, ali, divindo mesa com homens e mulheres (uma mulher, apenas) que não tinham - nenhum deles! - sequer o espectro tênue do pulha ou do imbecil. Todos, conhecedores do que me vai na alma, sabiam que era importante alimentar o obsessivo. E começaram, num movimento que me pareceu ensaiado, a arremessar em minha direção as minha idéias fixas, as minhas obsessões, os meus defeitos consubstanciados e encarnados nos meus personagens fixos.

Foi Luiz Antonio Simas, por exemplo, que num tom paternal (troço que sempre me comove) me sugeriu a retirada do oriki de Ogum que anunciava o BUTECO. Foi quando me veio a voz, nítida, do pernambucano obsessivo, me sugerindo a transcrição da confissão em prece que agora ocupa o outdoor eletrônico do blog. Pensei, num primeiro momento, que fosse um delírio provocado pela trapista que eu bebia, servida dentro de uma banheira de cristal. Não era.

E dei de ficar ali, remoendo as vaias de meus detratores que não compreendem - simplesmente não compreendem - as minhas chamadas obsessões. Dão a elas, diversos nomes, diversas justificativas, julgam minhas obsessões sem ao menos reconhecer a genialidade da sacada rodrigueana. "É muita vela pra pouco defunto", "Deixa o fulano em paz", "Não ligue para o que diz beltrano", "Você acaba sendo cabo eleitoral do sicrano", e vou recebendo, como sapatadas, esses julgamentos e lichamentos públicos que nada - eu disse NADA - alteram com relação a meu compromisso com minhas idéias fixas. Como se fosse santo em cavalo no terreiro, a certeza cravou-se na minha cabeça quando entrei no táxi que peguei na Primeiro de Março:

- Tijuca, por favor.

O sujeito me olhou de alto a baixo e disse:

- E aí? Já foste ao restaurante da Sudbrack, Edu?!

Um de meus leitores, o taxista.

Até.

15.5.10

VARANDÃO SONORO DOS SÁBADOS

O varandão sonoro de hoje, me permitam a falta de modéstia, está demais. Vamos ouvir uma gravação dificílima de ser encontrada, de uma beleza condoída e desprezada pelas rádios - que novidade... - cada vez mais invadidas por programas político-religiosos. As poucas que sobram agem no esquema do jabaculê. As exceções não ocupam os dedos de uma mão, ainda que seja a mão com quatro dedos do Lula. SANTO AMARO é um choro belíssimo, de Aldir Blanc, Franklin Corrêa da Silva e Luiz Cláudio Ramos, interpretado pelo bardo da Muda. Foi gravado no disco RIO, RUAS E RISOS, de 1984, que celebra o encontro de Aldir Blanc e Maurício Tapajós.

Até.

14.5.10

MAIS SOBRE O COMIDA DI BUTECO

Ligou-me ontem, às 17h15min em ponto, uma das responsáveis pelo festival COMIDA DI BUTECO que em pouco menos de duas semanas começa aqui no Rio de Janeiro (eu disse "Rio de Janeiro" e não "Trio de Janeiro", a empresa autorizada a captar, entre 20 de abril e 30 de setembro de 2010, a quantia de R$ 278.762,00 para tocar o projeto que "trata da elaboração e confecção de um CD, com 20 músicas especialmente selecionadas, de Moacyr Luz com diferentes parceiros, com gravações inéditas, com a participação de nomes da nova geração da musica brasileira, como demonstração da importância desses novos talentos para manutenção do espírito carioca" [vejam aqui a página 30 do Diário Oficial da União, Seção 1, do dia 20 de abril de 2010]). Vamos em frente.

Foi simpática e incisiva durante o telefonema. Disse-me, entre outras coisas, que eu havia sido injusto quando escrevi o que escrevi ontem, aqui; que eu, como jornalista (foi o que ela disse, depois corrigi o equívoco), deveria apurar tudo sobre o festival para depois escrever sobre ele; que é uma luta colocar o "festival na rua"; que as críticas que fiz, noutras oportunidades, deveriam ser relevadas, eis que as indicações dos bares participantes das últimas edições, aqui no Rio, haviam sido feitas por "especialistas no assunto", como Guilherme Studart e Moacyr Luz (por isso lembrei-me do tal projeto, citado no início); que minha crítica à inclusão de bares com redes de franquia ou com filiais não era de todo correta, pois no ano passado apenas duas casas (ACADEMIA DA CACHAÇA e SIRI) se enquadravam nessa condição. E convidou-me para uma conversa na semana que vem; e, por fim (houve mais, mas estou aqui fazendo apertada síntese), que eu desonrava minha participação no júri do ano passado esculhambando o festival.

Eu, humílimo e cordial, topei na hora mas fiz a ressalva:

- Com uma condição.

- Qual?

- Eu escolho o local do encontro. Vamos a um legítimo pé-sujo na Tijuca, inexplicavelmente jamais incluído nas edições do festival.

Se autorizado por ela, conto, depois, sobre a conversa que teremos. Antes, porém, marco minha posição com relação ao tema:

* sou entusiasta da idéia. Afinal, antes um festival de comida de buteco do que, por exemplo, festas literárias que nada têm de literatura, mas de comício (como o caso da FLIST, que acontece amanhã em Santa Teresa) ou de desfile de poses (como o caso da FLIP);

* os critérios para a escolha dos butecos (afinal é a butecos que faz referência o nome do festival) é lamentável. Ano passado entraram bares que nada têm de botequim e restaurantes;

* os patrocinadores, indispensáveis para que o festival aconteça, não podem condicionar sua participação a determinadas exigências, como por exemplo faz a HELLMANN´S, esse ano (desconheço, é verdade, quais as exigências da marca, mas creio que saberei depois da conversa a que me referi);

* não cuspo no prato que comi, para valer-me dessa imagem com relação à minha participação do júri no ano passado, muito pelo contrário. Quando da reunião entre os organizadores e os jurados, em um hotel no Leblon, fui, do princípio ao fim, corretíssimo. Disse a uma das juradas que fez queixa quando sorteados os bares a ela destinados para avaliação - "será que eu poderia não ter que atravessar o túnel Rebouças?", e riu - que os organizadores deveriam imediatamente limá-la do júri por questões óbvias. Recusei ser jurado de dois bares que me foram sorteados, o ACONCHEGO CARIOCA e o PETIT PAULETE, já que sou amigo da Katia, da Rosa e do Paulinho. Recusei, com veemência, a cortesia que me foi oferecida pelo dono de um dos bares que visitei na condição de jurado, mesmo estando acompanhado por diversos amigos, restando fracassada minha intenção de pagar a conta. Disse ao cara, entretanto, que minhas notas já estavam lançadas na cédula (o que era rigorosamente verdade), que a cortesia, portanto, não influenciaria em nada minha avaliação e que eu comunicaria tal fato à organização do concurso, o que fiz; aceitei, eu que havia recebido a incumbência de visitar três bares, o encargo de fazê-lo em mais um, em Laranjeiras (e fui, vejam vocês, com Tiago Prata). Acho pouco provável, mesmo!, que algum jurado tenha levado o troço tão a sério como eu, razão pela qual repilo com veemência a acusação que recebi;

* acho que o festival prestaria um grande serviço à cidade se, de fato, escolhesse como participantes os "botequins mais vagabundos", os mesmos aos quais o compositor não resistia e que são, eles sim, a verdadeira identidade carioca na matéria. O que eu não sei dizer - e por isso não me aprofundo, por ora, no troço - é se isso serviria para a "carnavalização" desses mesmos butecos (sobre o fenômeno da "carnavalização", leiam profético texto de Fernando Szegeri, aqui). Penso, entretanto, que seria positivo, que seria mais bacana e que seria mais louvável. Penso, mais, que esses mesmos butecos deveriam participar sem qualquer incentivo à papagaiada que cria pratos inimigináveis num buteco de verdade, como pratos temáticos com, por exemplo, espetos no papel de bandeirolas capazes de cegar o sujeito que se aventura a comer tais criações ou cestas (cestas...) de sei-lá-o-quê-comestível. Cada buteco deveria servir seus próprios clássicos, e a cidade é farta nesse ponto.

Enfim, meus poucos mas fiéis leitores, era o que eu tinha a lhes dizer. Se me for permitido, como já lhes disse, conto sobre a conversa que terei com uma das organizadoras do festival do qual sou - repito - entusiasta com as restrições e as reservas que tenho. Tenho, digo que tenho e assino o que escrevo quando digo o que digo.

Até.