28.5.10

CINEMA VIPADO

Há coisa de - o quê?! - um ano, mais ou menos, fui jantar na casa de um casal mais-que-querido e à certa altura disse o varão em direção à varoa:

- Conta pro Edu sobre aquele seu amigo... - e fez cara de enjôo.

Pois contou-me ela, com a mesmíssima máscara denotando asco, que havia encontrado, para um jantar de matar-saudade, no Leblon, um grupo de amigas dos tempos de faculdade. Todas com seus maridos para o que seria uma confraternização. E o marido de uma delas foi, em dado momento, o centro das atenções.

Disse o pernóstico, sócio de um banco na cidade mais endinheirada do país:

- Ano passado captei, para minha carteira, aportes da ordem de 55 milhões de dólares...

E baforou o charuto.

Em outro palpitante comentário, quando a conversa descambou para o assunto cinema, foi enfático:

- Ah, eu agora só vou ao cinema nas salas do Cinemark, no Jardim Panorama...

O marido de minha amiga, amigo meu também, diga-se, um sujeito extremamente simples, como eu, diga-se, buscando entrosamento, arriscou:

- É. Os cinemas Cinemark são bacanas.

O bacana quase o interrompeu:

- Meu filho, aqui no Rio não há o que há em São Paulo...

Fez mais anéis de fumaça e prosseguiu:

- Lá as poltronas são como as das classes executivas dos melhores aviões. Têm assentos reclináveis, revestidos de couro, com descanso para os pés e apoio para os braços, são as chamadas love seat. Não se trata de um cineminha popular. Não tem 600 lugares, são apenas pouco mais de 200 poltronas. Ambas dispõem ainda de bilheteria exclusiva e serviço de bar que entrega nos assentos pipoca com azeite trufado, vinho e café. E baratíssimo! Custa só R$ 46,00!

Diante do olhar de espanto do interlocutor, gargalhou como um José Mayer na novela das oito e disse:

- Cinema, agora, só com pipoca feita de milho importado com azeite trufado.

Meus amigos alegaram um compromisso e se retiraram, enojados.

O nojo agora chega ao Rio de Janeiro com o nome "cinema vipado". Mais precisamente à Barra da Tijuca.

Notícia de merda que, evidentemente, Joaquim Ferreira dos Santos publica hoje em sua coluneta.

nota publicada na coluna GENTE BOA do SEGUNDO CADERNO de O GLOBO de 28 de maio de 2010

Até.

5 comentários:

leo boechat disse...

Me lembrei daquela pizzaria em SP que só fazia entregas de helicóptero.

Bezerra disse...

Não duvido que, daqui a pouco, nem filmes mais serão exibidos nesses cinemas VIPs. Só haverá telas em branco, que provavelmente executarão alguma coreografia, para o deleite do público. Algo à la Sudbrack, quem sabe...

Paulo Rogerio disse...

E eu morto de saudedes do trio Art-Tijuca, América e Carioca, com 2ºs andares, telas gigantescas e um público imenso, com pessoas sentadas pelo chão e em pé pelos corredores, apenas para ver o filme de estréia.

Eduardo Carvalho disse...

Edu, vou te dizer...

Quase meia-noite, eu aqui em casa tomando uma canequinha de vinho sangue de boi, aquele bem docinho (tenho uma tia chamada Dulcinéia que o bebe, inclusive, com gelo e açúcar), e vim relaxar um pouco na internet.

Quando me deparo com este preciso relato do amigo. Estou vomitando o jantar, uma sopinha - eis que tomo sopa, de pijama, em plena sexta à noite, quase um velho gagá - até agora!!!

Numa boa? É como dizia meu velho e saudosíssimo avô: "Com essa gente, só bala!". E eu completo: na cabeça, com a família pagando ao estado.

Abraços golfantes.

P.S.: Renata, assim que findei a leitura em voz alta, começou a dar com a cabeça na parede e agora vomita na pia do banheiro! Luísa, que quase dormia, começou a tossir...

caíque disse...

"cinema vipado"? eu, hein... eu ainda gosto da gente espantando o condor antes do filme começar, siô.
acho que desse cinema o nome fica mais apropriado se tirar o "p".
tô fora.