26.5.10

TRÊS MOMENTOS

Dirão meus detratores:

- Lá vem o Edu, de novo, falar do Moacyr Luz.

Sim, meus poucos mas fiéis leitores, eis-me aqui, de novo, falando do compositor que tem Cora Rónai como sua porta-voz, Roberta Sudbrack como sua fada particular e o ASTOR BAR como a mais autêntica esquina carioca. O compositor que canta, por aí, "eu não resisto aos botequins mais vagabundos" deveria ficar apenas no breque "marquei bobeira", do mesmo samba. É o que mais tem feito de uns tempos pra cá.

É que recebi de um bombeiro de gasolina, às 9h33min da manhã de hoje, um e-mail com o seguinte teor:

"O que é aquela foto do Moacyr abrindo os braços como num êxtase, tendo ao fundo a Torre Eiffel? Que coisa mais PSDB, mais classe média deslumbrada..."

Fui ao blog do compositor, li o texto DIÁRIO (aqui), e deu-se a bulha. Disse de mim para mim:

- Vou expôr, mais uma vez, uma das flores mais profícuas do meu jardim rodrigueano de obsessões.

Eu, que ponho a mão na fogo por cada uma das pretas velhas que me atende na feira dos domingos, por cada um dos malandros maneiros e trabalhadores que me atende na feira das quartas-feiras, que muitas vezes escolhem pra mim as frutas, os legumes e as verduras, não conseguiria ficar calado diante do deslumbre do compositor, encantandíssimo com a feirante loura de olhos azuis com quem esbarrou na França, onde está a trabalho. Vejam o que diz o compositor (sim, Dr. Handofsky, sei que estou provavelmente revolvendo o fundo da lagoa de Araruama).

print do blog do compositor Moacyr Luz

Como tem coragem de dizer uma barbaridade desse tamanho, o compositor? Ele que durante anos pôde armar sua barraca de feira na feira da Garibaldi (que acabou virando um curta-metragem, um projeto...) graças à generosidade e à sinceridade da cidade que chama de minha e que serve de mote para dez em cada dez projetos que apresenta ao Ministério da Cultura? Como?

O deslumbre não cessa por aí. Repetindo o jargão da classe média mais mesquinha, diz que paga impostos (e blá-blá-blá) e elogia os trens da cidade francesa que visita e o meticuloso cálculo que deixa calçada e vagão no mesmo nível. Geme, no final da frase... "Pensei (...) no asfalto que recebo em troca". Não pensou no que recebe de bom em troca, não, não pensou. Acaba por aí? Não. Vamos em frente.

print do blog do compositor Moacyr Luz

Fecha o lastimável texto com uma foto de gosto duvidoso. De braços abertos diante da Torre Eiffel, o compositor comemora sabe-se lá o quê e anuncia seu parentesco com a cidade-luz, num trocadilho infâme.

print do blog do compositor Moacyr Luz

Pra mim, que cultivo a flor a que me referi, apenas mais um indício da (in)coerência que vem norteando os caminhos do compositor. Meus detratores, os que vêem Moacyr Luz como uma entidade e não como um artista popular que vem pisoteando sobre o Rio de Janeiro como uma dançarina espanhola pisoteia os tacos corridos de um palco, atirarão mais pedras em minha direção. Melhor assim.

Como venho construindo um muro de heras que protege meu jardim dando a ele um caráter de irrefutabilidade ao que digo e escrevo (e é isso que meus detratores não perdoam em mim, um obsessivo até na hora de fundear meus argumentos), relaxo.

Au revoir, Moacyr Luz. São Sebastião do Rio de Janeiro, compositor, ainda pode, sim, se salvar. Sem perfídia, de preferência, que de deslealdade a cidade está cansada.

Até.

3 comentários:

Mafuá do HPA disse...

CARO EDUARDO

Fui até pouco tempo atrás um dos maiores admiradores de Moacyr Luz. Tenho aqui no meu mafuá o seu primeiro LP e os vários Cds seguintes. Que dizer do excelente CD "Vitória da ilusão"? 16 belíssimas canções, muitas sobre o Rio. Depois "Mandingueiro", "Sem compromisso - ele com Armando Marçal", "A sedução carioca ddo poeta brasileiro" (lindo com o Água de Moringa), o "Samba da Cidade" e por fim o último que tenho dele, o "Na Galeria". Passei a gostar dele quando o vi ao lado de Aldir, quando este deixou de compor com o João Bosco. Fui pegando gosto. O tempo vai nos mostrando outra pessoa. Assisti um belíssimo show no BNDES, dele com o Macalé, o Zé Renato e o Guinga. Vibrei quando vi seu nome nos livros da Petrobras junto da Livraria Folha Seca, do Rodrigo, aqueles das fotos de gente do bem. Fuçava o Rio nos meus retornos para vê-lo tocando em algum lugar. E vi em vários. O discurso mudou. Já não é mais a mesma pessoa que acompanhava gente como o Luiz Carlos da Vila. Quem tem me aberto os olhos para um novo posicionamento tem sido o Eduardo, aqui no Buteco. Triste deamais, não? Quero ir acompanhando em mais detalhes e continuo a frequentar os velhos e bons "pés sujos", ao invés de aderir a uns modernosos.

Henrique Perazzi de Aquino - Bauru SP
(www.mafuadohpa.blogspot.com)

Rodrigo disse...

Parente da Torre Eiffel?! Meu Deus!

Daniel Banho disse...

Lamentável.
Ainda tem um comentário de uma sujeita lá perguntando se ele tem certeza que quer voltar pro Brasil.
Se bobear daqui a pouco tá aderindo ao Grupo Grande Tijuca.