8.10.10

EXORTAÇÃO

Hoje, sexta-feira, 08 de outubro de 2010, quero lhes fazer uma exortação, um apelo, para que tomemos todos consciência do momento histórico, e grave, que vivemos. Não tenho, franca e sinceramente, o banzo da revolução de 64 que verifico em tanta gente que conheço e que, como eu, não viveu na pele os ares plúmbeos dos anos em que o Brasil viveu sob intensa ditadura. Ares que, evidentemente que guardadas as devidas proporções, pairam sobre minha pátria, pátria amada, às vésperas do segundo turno das eleições presidenciais de 2010.


Vemos, hoje, graças à imprensa golpista que engordou durante o período da ditadura, imprensa que pauta equivocadamente o discurso dos candidatos ao cargo - Dilma Rousseff e José Serra -, as eleições reduzidas a uma discussão que em nada interessa aos verdadeiros interesses do país: aborto, homossexualidade, uma discussão fundamentalista que sequer deveria ser mencionada pelos que almejam o comando do leme do Brasil.

Para citar apenas episódios recentes envolvendo a imprensa (e aqui me refiro, preciupamente, às organizações GLOBO, ao jornal O ESTADO DE SÃO PAULO, à FOLHA DE SÃO PAULO, à revista VEJA), vejamos o que ocorreu com o jornalista Heródoto Barbeiro. Em recente entrevista ao programa RODA VIVA, da TV CULTURA, ligada ao governo de São Paulo, o jornalista "ousou" perquirir de maneira incisiva o então entrevistado José Serra sobre a questão dos pedágios caríssimos implantados pelo governo do PSDB, que há 16 anos comanda o estado. Vejam aqui a entrevista. O resultado? Heródoto Barbeiro foi sumariamente afastado de seu posto.

Em episódio ainda mais recente, a psicanalista Maria Rita Kehl foi demitida pelo jornal O ESTADO DE SÃO PAULO depois de ter escrito, no dia 02 de outubro, na véspera da eleição de domingo passado, um artigo no qual combate a chamada desqualificação dos votos dos mais pobres. Leiam aqui a entrevista da psicanalista, dias depois de sua demissão, que o jornal, covardemente, atribui a um "final de ciclo".

Dois episódios que não são, absolutamente, episódios isolados.

Como não é isolado o movimento que une, de forma umbilical, nesse momento da campanha, o PSDB e a mais abjeta extrema-direita representada pela TFP, sobejamente conhecida por suas posturas reacionárias e truculentas, atuante no apoio ao golpe de 64; o PSDB e a OPUS DEI, organização católica também de extrema-direita.

O que está em jogo é relativamente simples: ou seguimos o caminho que seguimos há 8 anos com o governo do presidente Lula ou voltamos à época de Fernando Henrique Cardoso, que ao que tudo indica - e tomara que seja assim - aparecerá finalmente ao lado do candidato tucano, José Serra, que renegou o quanto pôde, durante toda a campanha no primeiro turno, a coloração de sua plumagem. A comparação nos interessa: as conquistas do governo Lula deveriam fazer corar de vergonha o ex-presidente FHC. São essas conquistas, esses números, esses avanços incontestáveis que deveriam pautar o debate da sociedade brasileira, e não a sordidez, a baixeza, a vilania e a desonestidade dos argumentos trazidos à tona pela imprensa que se associa ao PSDB em busca da Presidência da República a fim de reinstalar, no país, a máquina que, à moda de um trator, arrasou e destruiu o patrimônio brasileiro, hoje recuperado - e em francas vias de maior e mais ampla recuperação com a eleição de Dilma Rousseff - pelo governo do presidente Lula.

Como um dos maiores exemplos da reconquista da soberania brasileira está na PETROBRAS, que o governo FHC tentou transformar em PETROBRAX para preparar sua venda ao capital estrangeiro, e como a empresa é a bola da vez (ou a "bala de prata") para atacar um governo com 80% de aprovação popular, deixo vocês com as palavras desse mestre que tanta falta faz no cenário brasileiro.

Prestem bastante atenção ao que escreveu, em setembro de 1999, na revista CAROS AMIGOS, o mestre Aloysio Biondi (os grifos são meus):

"O brasileiro tem vergonha de parecer ufanista, na base do por-que-me-orgulho-do-meu-país. Talvez por isso o brasileiro não tenha colocado na cabeça até hoje que o Brasil possui realmente os campos de petróleo mais fantásticos do mundo. Parece vergonhoso falar nisso. Na plataforma submarina, no fundo do mar, há jazidas descobertas pela Petrobrás em fase de exploração e que têm poços capazes de produzir 10.000 barris por dia. Cada poço. É um número fantástico, sim, é um recorde mundial, sim, e que somente encontra concorrentes, com poços capazes de produzir 7.000, 8.000 barris por dia, no Irã, Kwait, Iraque... O que significam 10.000 barris por dia? A 20 dólares o barril, isso significa o faturamento de 200.000 dólares, em um único poço. Em um dia. Ou 6 milhões de dólares por mês. Ou 70 milhões de dólares no ano. Por poço. Uma das jazidas da Petrobrás na bacia de Campos, Estado do Rio, tem 25 poços funcionando, o que significa que, multiplicados pelos 70 milhões de dólares faturados em cada poço, eles rendem 1,75 bilhão (bilhão, com a letra “b”) por ano. Ou, para arredondar, 2 bilhões de dólares por ano. Ou, ainda, o equivalente a 4 bilhões de reais por ano. Respire fundo, agora: são esses campos de petróleo absolutamente fantásticos, os mais produtivos do mundo, que o governo FHC já começou a doar às multinacionais, com a ajuda da imprensa. No primeiro leilão, realizado há poucas semanas, o presidente da Agência Nacional de Petróleo, do governo FHC, David Zylbersteyn, teve a bárbara coragem (ou outro nome qualquer) de pedir um “preço simbólico" de 50.000 a 150.000 (é mil com a letra "m", mesmo) reais às "compradoras" dessas áreas. O governo usou uma desculpa para tentar justificar esses preços sórdidos: o mercado mundial estaria em baixa, com superoferta de petróleo. Acontece que desde janeiro os preços do petróleo duplicaram - d-u-p-1-i-c-a-r-a-m de 10 para 20 dólares o barril, fenômeno que merecia manchetes e que nem sequer foi noticiado ao longo de meses pela grande imprensa (faça você mesmo um teste, com seus amigos e família: verifique quantos ficaram sabendo dessa duplicação). A verdade foi escondida para que a sociedade não discutisse os preços pedidos pelo governo – ou o que seria mais importante ainda, discutisse a própria política de privatização do petróleo nacional. Mais claramente, se as jazidas são as mais fantásticas do mundo, se os lucros que elas vão proporcionar são fabulosos, por que o governo FHC não vende ações da Petrobrás a milhões de brasileiros, juntando-se dinheiro para acelerar as explorações e gerar dólares com a exportação do petróleo? Qual é o problema? Clinton e o FMI não deixam?

Ah, sim: no primeiro leilão, algumas jazidas foram compradas por 150 milhões, isto é, mil vezes o preço 150.000 pedido pelo governo. A imprensa apresentou esse resultado como algo fantástico. Não é. Continua a ser ninharia. Esmola para povo índio. Basta ver que esses campos petrolíferos podem faturar 2 bilhões de dólares, ou 4 bilhões de reais, por ano. Em um ano. Contra 150 milhões de reais. Uma única vez. As oposições precisam mobilizar a sociedade brasileira contra o novo assalto ao petróleo nacional programado pelo governo FHC, Clinton, FMI. Os números, escandalosamente denunciadores, estão aí. PS: O presidente FHC diz que a economia está estável, o IBGE diz que o PIB está estável... A indústria paulista já havia recuado 7 por cento no semestre, e desabou 15 por cento em julho na comparação com 1998. Setores com maior queda? Telecomunicações e equipamentos para energia elétrica. Isto é, as multinacionais “compradoras” das antigas estatais continuam a importar tudo. Desempregam, aqui dentro. E continuam a torrar dólares, afundando ainda mais o Brasil. A desnacionalização levou o Brasil de volta ao passado. Voltou a ser uma republiqueta dependente. Ou colônia?"


Hoje, com a PETROBRAS do jeito que está, com a já sinalizada entrega de seu comando a David Zylbersteyn novamente, ex-genro de FHC, homem em alta nas hostes tucanas, não podemos - simplesmente não podemos correr o risco de retroceder no curso da história de soberania que trilhamos desde o ano de 2002.

A cortina de fumaça densa que lançam sobre os olhos do povo brasileiro, consubstanciada por "escândalos" fomentados pela imprensa golpista e pelos desvios grotescos no foco da discussão que interessa ao Brasil, não há de ser capaz de nos desviar do caminho que aponta para um futuro promissor, ainda mais rico e soberano do que o presente  que vivemos.

Até.  

Um comentário:

AOS QUARENTA A MIL disse...

Engraçado, cadê o povo da imprensa que se sentia perseguido?