27.10.10

PARA LULA, NO DIA DE SEU ANIVERSÁRIO

Meu caro Presidente Luiz Inácio Lula da Silva: dirijo-me a V.Exa. no dia de seu aniversário dispensando, a partir de agora, as formalidades naturais que deve seguir um simples cidadão quando se dirige ao Presidente da República. É que você, Lula, a pouco mais de dois meses do final de seu segundo mandato como chefe maior desta nação, é um homem que me comove demais. Por conta de sua trajetória de vida, por conta de sua história e de suas lutas, e principalmente por conta de suas realizações ao longo desses oito anos de mandato. Mas preciso - e quero - lhe dizer uma meia dúzia de palavras no dia de hoje, quando você comemora 65 anos de vida.

Eu, com 41 anos de idade, guardo ainda vivas as primeiras lembranças ligadas à política e sei bem quando foi que senti que a política seria uma paixão que me acompanharia até meu último dia de vida. Eu era um menino de calças curtas que vivia na casa de meus avós, numa vila na Tijuca, bairro no qual vivo até hoje, e me lembro de ver os adultos da família, atônitos, assistindo na TV - ainda em preto e branco - os programas do MDB e da ARENA, sem som, sem fala, batendo boca diante da aparição de um a um dos políticos que se candidatavam aos cargos passíveis de eleição pelo voto. Ouvia discussões acirradas sobre a ditadura e pouco sabia, àquela altura, do que se tratava. Meus pais jamais foram engajados nas questões políticas do país, muito mais por necessidade do que por opção pura e simples. Meu pai trabalhava na Petrobras - seu primeiro e único emprego - e minha mãe vendia produtos de beleza, de porta em porta, sendo que a política jamais foi assunto corrente em nossa casa.

Em 1982, com 13 anos, tomei de vez gosto pela coisa graças a um homem a quem, mais tarde, tive a honra de conhecer pessoalmente: Leonel de Moura Brizola. Disputando a primeira eleição pelo voto direto para Governador desde o fim da ditadura, Leonel Brizola passou como um trator por cima de seus adversários e assumiu o Governo do Estado do Rio de Janeiro - contra todas as forças reacionárias que, ainda hoje, lutam contra os interesses do povo brasileiro. Lembro-me, Lula, de cada um dos discursos do Brizola no rádio e na TV. Eu, um moleque de 13 anos apenas, sentia que aquele homem falava por mim.

Em 1986, já com 17 anos, engajei-me de cabeça, com todo aquele ânimo inerente à juventude, na campanha pela eleição do professor Darcy Ribeiro para a sucessão de Brizola. Fui a muitos comícios, fiz boca-de-urna, ofereci-me como voluntário para fiscalização da apuração dos votos, ainda em cédulas de papel. Darcy Ribeiro perdeu, e sofri, ainda moleque, sem ter votado por conta da idade, minha primeira ressaca cívica.

Antes disso, em 1984, estive na Candelária para o comício pelas Diretas Já. Foi a primeira vez que vi você, ao vivo, e discursando ao lado de Brizola.

Até que chegou 1989 e com ele a primeira eleição direta para Presidente do Brasil. Votei em Leonel Brizola, não votei em você. E sofri, confesso, minha segunda ressaca cívica. Por pouco menos de 500.000 votos você tirou a vaga do velho caudilho do segundo turno, ele que me parecia, àquela altura, mais preparado para imprimir ao Brasil um novo rumo. E foi, justo no segundo turno, meu primeiro voto pra fazer brilhar sua (hoje nossa) estrela. Sofri, ali, minha terceira ressaca cívica.      


Veio 1994. De novo meu voto não foi seu. Votei em Brizola. E vimos Fernando Henrique Cardoso vencer no primeiro turno, minha quarta ressaca.

Quatro anos depois, em 1998, você ganhou meu primeiro voto no primeiro turno. Seu vice era justamente ele, Leonel Brizola, mas ainda assim Fernando Henrique Cardoso liquidou a fatura no primeiro turno. O país com o qual sempre sonhei ainda estava longe... E já estou na quinta bordoada em termos de eleição...

Eis que em 2002 não segui, pela primeira vez, a orientação de Brizola que recomendou o voto em Ciro Gomes. Mais que votar em você, entrei de cabeça na campanha. E fui um de seus quase 40 milhões de votos naquele ano. No segundo turno, a vitória.

Da lá pra cá, Presidente, como disse meu irmão Bruno Ribeiro, sinto que "nada do que eu diga conseguirá dizer do meu alumbramento pelo País que estamos construindo".

Ao longo desses oito anos, uma tristeza profunda: a morte de Leonel Brizola. Por outro lado, como a vida é generosa, a possibilidade de ver que hoje, a seu lado, ao lado de milhões de brasileiros que consagram seu governo com 83% de aprovação, está o neto do meu saudoso e eterno governador, Brizola Neto, a quem também tive o prazer de conhecer recentemente.

Não foram poucas as vezes em que me flagrei chorando, emocionado, diante de suas falas, de seus discursos, de sua própria e jamais disfaraçada emoção. Foi assim no dia de sua consagração nas urnas, de sua posse, foi assim no dia de sua diplomação, foi assim o tempo todo, verificando, cheio de orgulho, que o Brasil entrava, finalmente, nos eixos que povoavam meu imaginário de menino.

E hoje, a poucos dias do segundo turno da eleição presidencial, no dia de seu aniversário, contenho-me para não chorar, desde já, diante do que, quero crer, será inevitável no próximo domingo: a eleição de Dilma Rousseff.

A roda da vida, Lula... Dilma Rousseff, uma mulher que jamais fugiu da luta, esteve ao lado de Leonel Brizola antes de cerrar fileiras a seu lado. Antes disso, esteve (sempre) do lado certo quando as forças mais retrógradas sufocavam o Brasil e seu povo.

É por isso, por tudo isso, por conta de suas incontáveis conquistas ao longo desses oito anos, que no domingo votarei (sei disso) comovidíssimo. Certo de estar votando, a meu modo, em Leonel Brizola. Certo de estar votando, mais uma vez, em Luiz Inácio Lula da Silva. Consagrando o nome dessa grande brasileira que é Dilma Rousseff.

Uma mulher que sofreu, nos últimos meses, ataques tão sujos quantos os ataques que você sofreu desde que ousou peitar os poderosos que jamais esconderam o ódio que sentem diante de seus seguidos êxitos. E não direi, com meu voto, o "não rotundo" a que tantas vezes se referiu o Brizola ao longo de sua trajetória política. Darei um voto afirmativo, Presidente, de quem quer ver o Brasil seguir mudando.

E se os deuses assim permitirem, Lula, estarei em Brasília no primeiro dia do ano de 2011. Para ver Dilma Rousseff subindo a rampa do Palácio do Planalto recebendo a reverência, como comandante-em-chefe das Forças Armadas que torturaram a menina de 19 anos que sonhava com um Brasil mais justo e mais solidário, de todos aqueles que, tenho certeza, lotarão Brasília para saudar mais uma vitória e para ver saldada uma dívida que os canalhas da repressão têm com a nossa candidata. E também para me despedir de você, o maior Presidente da República que vi governando o Brasil que eu tanto amo.

Fraternalmente,

Eduardo Goldenberg    

9 comentários:

Mari disse...

Chorei...

ígor moreno disse...

Edu, passo por aqui há mais de ano, você é sensacional, especialmente quando se autodenomina mais um "polemista". Quando sinto saudades do Rio (no qual só estive uma vez) venho pra cá, sentir a areia nos pés e a Tijuca ao redor.

Continue, que o Brasil também vai.

Abraços de São Paulo.

Unknown disse...

Porra, não aguento mais chorar hoje por causa do Lula. É isso aí, querido, o cabra conseguiu resgatar a emotividade do povo brasileiro, que andava "fora de moda" nos tempos neoliberais. Estaremos juntos em Brasília para dar adeus ao Cara e receber de braços abertos a nossa presidente guerrilheira.

Construção Criativa disse...

Edu, não faça nada que o "velho caudilho" não faria. Hoje, ele estaria votando na Dilma, mas amanhã talvez você possa compensar o não-voto no Ciro. Curiosamente o meu maior arrependimento foi de ter votado no Freire em 89 e não ter ajudado o Brizola a ir pro segundo turno- o Brasil seria outro.

Blog do Pian disse...

Ele merece.

Vou de Dilma por causa dele.

Brasileiraço!!!

R.Pian

Alfredo disse...

Meu Amigo, emocionante. Difícil segurar as lágrimas.

Juliano disse...

Eu, que também me afeiçoei pela política por causa de Leonel Brizola, não pude conter as lágrimas.
Nosse presidente e nosso país merecem que Dilma seja eleita domingo.
abraço.

Eduardo Carvalho disse...

Edu, Edu, Edu...

Com mega atraso leio esta beleza sincera e mais do que verdadeira. Estou um pote de emoção, você bem sabe da minha aventura do próximo domingo!!!!!!!!!

Vamos que vamos, por nós, por quem precisa ainda mais, por LULA, por DILMA, pelo Brasil para o povo brasileiro.


Não consigo mais falar,
um beijo, meu velho!

Fê Simonassi disse...

Edu...incondicionalmente é o meu amor pelo maior estadista que essa nação pode ver governar. Carrego em minha alma a esperança de um país mais justo, mais igualitário. Você me emocionou, como me emociono quando ouço Lula discursar. Virei fã do blog! Grande abraço.