6.10.10

VEJA ENTREVISTA FHC EM 1994

Fui dar uma xeretada de novo nos arquivos da VEJA. Cheguei à edição de 24 de agosto de 2010, com Fernando Henrique Cardoso na capa com a chamada abaixo. Em meio a essa hedionda onda de boatos que anda varrendo o país no embalo da chamada "onda verde" que empurrou a eleição pro segundo turno, verifiquei coisas bastante curiosas.

Recomendo, inclusive, aos interessados, que voltem aqui por esses dias que estão por vir. A mesma edição traz enigmática matéria sobre a cruzada religiosa que se levanta em tempos de eleição. E também sobre o que a revista chamou de "central de boatos" montada, naquele ano, no Banco Central, então sob o comando de Gustavo Franco, todos eles atingindo o então candidato Lula e o PT. Não se trata de mera coincidência, evidentemente. Mas de reincidência de uma prática reprovável que desvia o foco do debate político que deve nortear uma eleição desse porte. Ocorre que nortear uma eleição pela conduta correta - do debate, do confronto de idéias - nunca foi o forte do PSDB, do DEM, e como veremos, a partir de hoje, de Fernando Henrique Cardoso e de José Serra, dois mitômanos que vêm sendo supostamente beneficiados por essa boataria impressionante que corre o país.

O PT há de reagir, e muito em breve. Valendo-se da verdade e do esclarecimento dos fatos. Não da prática da mentira mais sórdida, dos golpes mais sujos, da canalhice que despolitiza o momento histórico que vivemos, à beira de elegermos a primeira mulher presidente do Brasil, mantendo a condução exitosa dos oito anos de governo Lula.

Vamos à entrevista com FHC.  


A revista faz uma pergunta ligeiramente inquietante para o então candidato:

"O senhor sabia que o empresário Sergio Motta, secretário-geral do PSDB e tesoureiro de sua campanha, pagou propinas para receber pagamentos atrasados do Estado?"

Responde FHC:

"Eu não tenho nenuma noção sobre o que o empresário Sergio Motta tenha feito aqui ou ali em suas empresas. Nunca soube que tenha feito pedidos para suas empresas, ele nunca me pediu que fizesse isso. Quem encontrar algum exemplo disso, que apresente...

Essa informação foi publicada por VEJA nesta semana e não foi desmentida. Que providência o senhor pode tomar?

Nenhuma. Isso não tem nada a ver comigo. Eu não tenho nenhuma relação com isso."

A revista provoca:

O senhor não vai nem perguntar a ele sobre isso?

Aí vem o patético...

"Posso perguntar. Mas eu não sou policial. Vocês investiguem bem o caso. (...). Se alguém tem uma informação e não anuncia, também é criminoso. Nesse terreno é preciso ser ao mesmo tempo firme e cuidadoso. Não dá pra jogar a honra dos outros na lama. (...)."

Vejam... daria para escrever uma tese sobre a postura falaciosa do ex-presidente que, ao que tudo indica, agora vai aparecer na campanha de José Serra, depois da eleição de Aloysio Nunes do PSDB em SP, que usou, à larga, sua imagem em toda a campanha para o Senado Federal.

Ele não é policial. O repórter da VEJA, que lhe fez a pergunta, também não é.

A VEJA, pelo que se depreende da leitura da entrevista, teria seguido os conselhos de FHC. Tinha as informações sobre Sérgio Motta e as publicou. Mais: pela ótica do tucano - que disse que "poderia perguntar" sobre a denúncia - não seria ele, diante da denúncia e do pouco caso demonstrado, um criminoso também? Ao sugerir que é preciso ser "firme e cuidadoso", vale a pergunta: estão sendo cuidadosos a imprensa e os próprios membros do PSDB que dedicam-se, dia e noite, a jogar a honra de tantos na lama? Diga-se mais: quando se viu, no Brasil, tantos ataques, os mais baixos, publicados na imprensa, divulgados na televisão, disparados por gente que não guarda o mínimo respeito pela instituição Presidência da República? O que dizer, por exemplo, de uma das mais patéticas cenas da televisão brasileira, protagonizada pelo declaradamente tucano Marcelo Madureira e Diogo Mainardi (vejam essa nojeira aqui) que, batendo palminha e rindo, chamaram o Presidente da República de "vagabundo" e "picareta"? O mesmo termo, aliás, usado pelo mestre dos dois  - FHC - ao se referir aos aposentados em episódio mais que conhecido.

Sérgio Motta, como se sabe, foi uma espécie de homem forte no governo FHC. Conduziu com mãos de ferro os processos criminosos de privatização. Falei em processo criminoso e quero levantar uma lebre que não é fruto de boataria, é fato.

Ao lado de Sérgio Motta na operação de arrecadação de fundos para a campanha de FHC esteve um homem chamado Ricardo Sérgio. Este último foi diretamente beneficiado pela chamada "Operação Banespa", que permitiu a remessa de muito dinheiro para paraísos fiscais, operação essa que foi aprovada, de forma não muito lícita, digamos assim, por aquele que era vice-presidente de operações do banco paulista, Vladimir Antônio Rioli (é bastante interessante fazer uma pesquisa no STJ com o nome de Rioli).

Rioli tinha um sócio. Quem?

José Serra, que detinha dez por cento do capital social da empresa CONSULTORIA ECONÔMICA E FINANCEIRA LTDA..

Pigarreio, deixo com vocês a imagem desse trecho da entrevista e sigo.    


Para terminar a exposição de hoje, um troço que muita gente parece ter esquecido (ou que tem, por força do preconceito contra Lula e o PT, preferido nem lembrar): em seus oito anos de governo, FHC gerou algo em torno de 800.000 empregos. Tomem nota desse número - 800.000 em 8 anos - que muito contrasta com os 11.000.000 de empregos criados por Lula no mesmo espaço de tempo.

Ocorre que na mesmíssima entrevista, FHC se enrola com os números (basta ler o trecho abaixo, dividido em 3 imagens por conta da diagramação da revista) e ao ser questionado sobre a geração de empregos - falava-se, à época, na criação de 8.000.000 de empregos - diz que vai criar, no mínimo, e notem que ele se refere, é claro, aos 4 anos de mandato que estava disputando, "pelo menos isso", ou seja, 6.000.000 de empregos, que ele ainda considerava "pouco".

Nem nos oito anos de governo (entre 1994 e 2002) o mitômano criou isso. Criou, repito, 800.000 apenas.

Nada como a confirmação de que o tempo é o senhor da verdade.


Até.

5 comentários:

Blog do Pian disse...

Eu posso estar enganado, mas acredito que dentro de uma ou duas décadas (talvez três), os governos FHC e Lula serão lembrados como partes do mesmo período histórico brasileiro.

Forte abraço,

R.Pian

Andre Martins disse...

Ia esquecedo!

E a questão do Lula que nunca soube de nada???rs

E a questão do escandâlo da Casa Civil?rs

Engraçado, né...aqui ninguem fala disso!

Vistas grossa!:D

Abraços

Sergio disse...

Aécio Neves disse isso há tempos atrás. Sendo mais assertivo, é claro. A história está constantemente em disputa. Veremos quem escreverá este capítulo. Bom, na minha humilde opinião tanto o Aécio quanto o Pian me parecem péssimos historiadores.

Blog do Pian disse...

Mas vc falou tudo, meu caro Sergio.

Tudo depende de quem vai escrever a historia.

Forte abraco,

R.Pian

Eduardo Carvalho disse...

Partes do mesmo período?

Com todo o respeito, vcs só podem estar de brincadeira.

E lembrados por quem? Quem serão os agentes dessa lembrança, lá na frente? A mídia da direita que vai enfiar isso goela abaixo dos desavisados? E que demite colunistas que não falam o que ela quer (vide o episódio do Estadão desta semana, que se diz deócrático e critica o presidente Lula)?

Ou quem viveu na pele as melhorias de passar a ser inserido no país, a comer melhor, a comprar mais, a se ver representado por um operário que fez o país crescer e ser muito mais respeitado no mundo? E em cujo governo mais de 14milhões de empregos foram criados etc. etc.

Votem em quem preferirem, é óbvio, mas sem essa de mesmo período histórico, em nome da própria História.

Ora, façam-me o favor, senhores.

Abs, Edu.