29.11.10

EDUARDO PAES, UM JERICO

Li hoje, estarrecido, que "o prefeito Eduardo Paes anunciou que vai assinar um decreto municipal tornando o dia 28 de novembro como o de refundação da cidade do Rio de Janeiro. Segundo ele, a data é histórica para a capital fluminense, pois marca a tomada do Complexo do Alemão pelas forças do estado, bem como inaugura um novo momento para os cariocas.".

Só uma besta obtusa seria capaz de pensar num troço desses. Mais que uma boçalidade, é uma prova evidente de desequilíbrio mental e de alta concentração de vaidade. Estácio de Sá, cujos restos mortais encontram-se sob uma lápide na Igreja dos Capuchinhos, na rua Haddock Lobo, na Tijuca, onde moro, revira-se de ódio diante do troço e por isso, presumo, tremeu a terra enquanto eu bebia com meu amigo Felipe Quintans, ontem à tardinha, no RIO-BRASÍLIA.

É só mais um capítulo - de tristíssima inspiração - do espetáculo que a mídia está fazendo por conta da invasão do Complexo do Alemão pelas forças de segurança. Vamos a alguns detalhes, à moda DO DOSADOR:

* no sábado pela manhã, depois da invasão da Vila Cruzeiro, assisti à transmissão da invasão do Complexo do Alemão pela TV GLOBO. Transmissão mesmo, como se estivéssemos assistindo ao desfile das escolas de samba no Sambódromo. A mesma dupla de apresentadores deu no saco dos telespectadores: "Nesse momento o helicóptero da Polícia Civil sobrevoa a região", ou "Nesse momento os homens do BOPE se preparam para invadir o morro", ou "Nesse momento os tanques da Marinha estão sendo abastecidos", e foi impossível não lembrar do clima das entrevistas das concentrações, antes dos desfiles. Um nojo. Um nojo absoluto! Comentários, os mais babacas. Havia, inclusive, uma câmera com alguma espécie de efeito especial (não manjo nada disso, por isso me falta a palavra exata pra descrever o troço) dando um clima "guerra-do-iraque" à transmissão;

* não satisfeitos em "narrar" a operação policial, repórteres portando coletes à prova de balas estilizados (com o símbolo da emissora) tentavam entrevistar os comandantes da operação atrás de furos jornalísticos, perguntando sobre as estratégias etc. Gostei quando um dos repórteres tomou um safanão de um caboclo fardado, vingando a assistência que a tudo assistia irritadíssima com a papagaiada global;

* achei inacreditável a entrevista concedida ao vivo pelo Chefe da Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro, pelo telefone. Depois de um bom número de minutos de entrevista, disse o repórter com aquela arrogância que só os repórteres globais têm: "Vá trabalhar, Delegado, obrigado por sua entrevista.";

* o jornal O GLOBO hoje publicou uma matéria patética sobre os cariocas que, depois de dois dias de terror - nas palavras do jornalão - retomaram suas rotinas. É inacreditável! Entrevistaram moradores da zona sul da cidade que, oh!, passaram dois dias encastelados em seus apartamentos para só então, no domingo, descerem para as ruas. Pro cacete, pô! Depois de tomar meu café da manhã no BAR DO MARRECO, às 6h, no sábado, na Tijuca, rumei pro CADEG, em Benfica, onde fiz compras. Às 8h30min já estava no ALMARA na companhia de queridos amigos que formaram uma roda de altíssima qualidade, de novo na Tijuca. Rasguei o bairro e subi o Alto da Boa Vista às 13h para almoçar no BAR DA PRACINHA com meus pais. Desci de volta pra Tijuca e encontrei os mesmos e outros amigos no GALETO REX, portento na rua do Matoso. Andei mais uns poucos quilômetros e encontrei com outros tantos no BOTECO DO AMÉRICA, na praça Afonso Pena. Depois ainda dei uma passada no RIO-BRASÍLIA para encontrar outros camaradas, e às 20h estava eu nas pedras do Arpoador fazendo pequenique, fechando o sábado, já quase domingo, num pé-sujo na esquina da Santa Clara com a Domingos Ferreira em Copacabana. O medo, o pânico, só existem na cabeça de quem se rende. É evidente que isso não inclui, nestes dias específicos, os moradores das áreas nas quais a cuíca roncava entre traficantes e policiais. Agora... ler que morador do Leblon, de Ipanema e adjacências se encagaçou e só relaxou ontem à tarde é demais pra minha (cada vez mais curta) paciência.

Até.   

11 comentários:

Unknown disse...

Escutei de uma prima, que mora nos EUA, mas que estava na Europa a trabalho, a seguinte frase sobre seus amiguinhos da Zona Sula que não foram trabalhar na quinta e na sexta por conta dos episódios: "Neguinho não ta podendo sair pra trabalhar! Isso é um absurdo! Por isso que Rio de Janeiro pra mim, só nas férias!". Não resisti e respondi: "Não, prima, neguinho VAI TER QUE sair pra trabalhar, pq senão perde o emprego, mas seus amiguinhos branquinhos, riquinhos, não foram trabalhar por simples histeria, ja que a Zona Sul, "Area mais rica da cidade", de acordo com uma repórter do Globonews, estã citiada de policiais a cada esquina!".
Dai-me paciência ! Eu que não consegui ir trabalhar pq trabalho em Belford Roxo, oras bolas ! Fala sério !

Geli, Angie, Angel, Angélica disse...

Apoiadíssimo!!!! Fora da zona do Complexo do Alemão estava tudo na santa paz!!! Não vi nada de anormal! Nada mesmo!

Blog do Pian disse...

Tambem nao apoio essa medida do Prefeito.

Achei desnecessaria.

Uma pergunta: os restos mortais do Estacio de Sa nao estao no Monumento Estacio de Sa, no Parque do Flamengo?

Existe uma tumba no local em que achei que la estivessem.

Abs,

R.Pian

Luiz Antonio Simas disse...

EDU e PIAN, essa de louvar o Estácio de Sá é sacanagem com os índios tamoios e com o Villegagnon.

Por que a aldeia de Uruçu-Mirim não é considerada marco fundador? E a França Antártica?

Estácio de Sá deu uma de Eduardo Paes antes de Eduardo Paes: fundou algo que já existia...

Beijos e abraços cariocas

Eduardo Goldenberg disse...

Simão: eu tenho a meu favor (neste caso, em minha defesa) o fato de não ter sido seu aluno. O cupincha foi.

Blog do Pian disse...

Nobres,

Nunca discuti se ele fundou ou não a cidade.

Estava com dúvida sobre o refúgio último de seus restos mortais, mas em pesquisa leviana feita no google, desconfio que o Goldenberg esteja certo: está na Igreja dos Capuchinhos.

Hoje vou ao Monumento, recentemente revitalizado pelo Prefeito Eduardo Paes, e tiro as dúvidas.

Abs,

R.Pian

Paulo Rogerio disse...

Até que enfim alguém mais sensato em toda essa histeria midiática do que acontece no Rio de Janeiro!

Gostaria aliás de levantar uma questão, as autoridades dizem que não houve uma morte sequer em toda essa ocupação no Complexo do Alemão, então devo eu deduzir que os policiais e traficantes ficaram atirando durante dias ininterruptamente e não conseguiram miseravelmente acertar ninguém? Então poderiamos abolir as armas das forças públicas e dotá-las de estilingues ou bodoques, que com um mínimo de pontaria seriam mais mortíferos!

Amoral NAtto disse...

Lembra do slogan "Assista o jogo ouvindo a rádio Globo"?
Acho que eles agora inventaram a TV radiofônica, a tv do óbvio e da platitude, aquela que vc nem precisa olhar!
Ele te conta o que acontece!
E quando, por acaso, descuido, ou incompetência mesmo, alguém que vale a pena ser ouvido é convidado, não deixam o cara falar!
Interrompem contantemente com os: "Os helicópteros estão sobrevoando",
enquanto a camera focaliza o helicóptero sobrevoando!
E tome platitude!

Unknown disse...

Caro Edu,
No sábado circulei bastante pelo Rio, saí da Praça Seca, onde moro, fui na Cidade de Deus, Barra, Freguesia, Ipanema e Leblon, Taquara, Pechincha até retornar a noite para casa... Tudo na mais perfeita tranquilidade... Realmente não entendo o que esse povo tanto teme... Parece que o Rio sempre esteve em plena paz, é muita hipocrisia... Ao pagar o estacionamento do Barra Shopping uma TV ligada na recepção exibia imagens da noite de sexta para sáb, onde ocorreu intensa troca de tiros, eu e minha esposa fomos surpreendidos com o seguinte comentário de um homem de boa aparencia, roupas caaaras, bem caras: "O que é isso? É tiro?"
Minha esposa que trabalha em frente a Nova Brasília no Complexo do Alemão não resistiu e respondeu: "Não é tiro não, são fogos! É tudo brincadeira...". Não satisfeito um amigo do sujeito ainda soltou mais uma pérola: "É tiro sim, acho que é uma confusão em Ramos..."
Essa galera sim tem medo e entra em pânico, mais sem nenhuma nescessidade, pois duvido se sabem que a Penha é um bairro do Estado do Rio de Janeiro.

Abraços,
Diogo Barros.

AOS QUARENTA A MIL disse...

A pior parte da transmissão , foi encher o saco do morador que estava cabreiríssimo , com o que estava acontecendo, para que falassem o quanto estavam felizes e os mesmos moradores com um cagaço do cacete , meio sem querer dar opinião, repetia: "Queremos paz! Queremos paz".

Unknown disse...

Me lembrei agora.. Sexta - feira eu recebi uma ligação de uma tia dizendo para eu não sair de casa, pq, segundo ela, fontes quentissimas, informaram que sabado seria o pior dia de "ataques" no Rio de Janeiro e que não era pra eu sair de casa em hipotese alguma ! Confesso que me assustei, pq não tinha sido a primeira pessoa a me dizer isso. No entanto, eu tinha combinado de visitar minhas amigas de infancia no Riachuelo, bairro em que me criei, e pensei "Não vou deixar de curtir esse momento por causa de histeria coletiva!". Pois bem.. peguei um onibus (minha mãe me proibiu de andar de onibus, pode?) e fui ao encontro. Foi MARAVILHOSO ! Se eu não tivesse ido me arrependeria amargamente ! Violencia e ataque terrorista seria não ter ido ! Esses histericos que morram de inveja de nossas vidas simples e que se tranquem em suas casas, só assim o Rio de Janeiro ficara em paz !