2.11.10

UMA DIVISÃO NÍTIDA, SÓ NÃO VÊ QUEM NÃO QUER

Depois da festa de domingo por conta da vitória nas urnas, a noite de ontem me deu mais um motivo para comemorar: Dilma Rousseff concedeu ontem sua primeira entrevista como presidente eleita. Para a TV GLOBO? Não. Para a RECORD, e quem tem olhos de ver e ouvidos de ouvir bem sabe o significado disso. Rompendo com uma hegemonia arrogante (guardadas as devidas proporções foi o que Dunga fez com o conglomerado durante a Copa do Mundo), respondendo aos ataques sujos que sofreu ao longo da campanha, a presidente Rousseff (há uma mágica na redução de seu nome e espero estar sendo claro...) deu preferência à concorrente da GLOBO e com isso deu claros sinais de que agora o buraco é mais embaixo. E sobre a entrevista que concedeu, horas depois, ao Jornal Nacional, uma observação: por que ontem, somente ontem, a emissora carioca construiu, ao longo de três pequenas matérias exibidas no curso da entrevista conduzida por William Bonner, a imagem de Dilma Rousseff como a de uma mulher competente, sensível, corajosa e capaz de bem comandar o país? Ao longo da campanha Dilma Rousseff foi chamada pejorativamente de "durona", de "fria" e, criminosamente, de "terrorista". Pois ontem a TV GLOBO cuidou de "rever" seus conceitos: entrevistando ex-colegas de trabalho deixou claro que a "durona" é apenas (01) uma mulher inflexível no que diz respeito ao cumprimento estrito de seus deveres na condução de seus cargos, (02) uma mulher sensível que ajudou, com o envio de recursos para a Bulgária, seu irmão que vivia em condições precárias e (03) uma mulher que, na clandestinidade, atuava como estrategista sem jamais ter pegado em armas (o que, na minha humílima opinião, em nada mancharia sua biografia). Mas vamos ao que quero lhes dizer. Não sem antes recomendar a leitura do texto DILMA E A VITÓRIA DA MILITÂNCIA, de Renato Rovai, com o qual concordo inteiramente: nós, militantes que atuamos com denodo no combate à mentira propagada contra nossa candidata, fomos, sim, peças fundamentais na construção da vitória. E eu, sem modéstia, sinto-me como um mísero tijolo na estrutura gigantesca dessa construção. O texto pode ser lido aqui.

O jornal O GLOBO traz hoje o mapa com o resultado da eleição na cidade do Rio de Janeiro (imagem abaixo). Em vermelho, vitória de Dilma Rousseff. Em azul, vitória do tucano. E quero fazer pequenas digressões sobre os resultados...      


Acho - sempre achei - uma tremenda graça quando alguém começa com o blá-blá-blá: "Esse papo de luta de classes não existe mais", "Não existe mais divisão de classes, o mundo moderno não comporta mais isso", "Marx é uma besta" e outros bichos. Não terei a pretensão de discutir isso aqui. Mas quero trazer a discussão pro campo da observação do momento, que é nítido, claro, evidente, o que ajuda a pôr por terra esse papo que desconstrói uma verdade que jamais deixará de ser verdade.

Em que lugares do Rio de Janeiro venceu o tucano-conservador José Serra? Na zona norte, apenas em parte da Grande Tijuca (muito bem representada pelos fascistas do denominado Grupo Grande Tijuca do qual tanto já falei aqui neste balcão) e no Grajaú (encarnado na figura do general de pijama que hoje exerce o poder como síndico de seu edifício). Na região da Tijuca em que moro (Rio Comprido, Estácio, Catumbi e Turano) a surra que demos foi de 64,85% a 35,15%. Na zona sul, é claro, e na Barra da Tijuca, uma vitória acachapante de José Serra. Na região de Ipanema e da Lagoa, o tucano venceu de 72,84% a 27,16%! Na zona sul salvaram-se apenas os bairros do Flamengo, Cosme Velho, Santa Teresa, Catumbi e Bairro de Fátima. São Conrado e Gávea aparecem como dando a vitória a Dilma Rousseff mas é certo que a vitória nesta seção eleitoral deve-se à maciça presença de moradores do Vidigal e da Rocinha.

No subúrbio, na zona norte (em Mangueira a votação de Dilma Rousseff chegou a 77,36%!), na Baixada Fluminense, em diversos bairros a candidata superou a marca de 70% dos votos! Engenho Novo, Sampaio, Rocha, Cachambi, Ramos e Inhaúma (com mais de 80% dos válidos), Deodoro, Ricardo de Albuquerque, Guadalupe, Barros Filho, Olaria, Cascadura, Vicente de Carvalho, Tomás Coelho, Bonsucesso, Manguinhos, Vila do João, Parada de Lucas, Vigário Geral, Higienópolis, Del Castilho, Maria da Graça, Penha, Grotão, Pavuna, Acari, Coelho Neto, Vila Kennedy e Bangu!

Isso nada mais é do que a expressão da uma verdade incontestável: o povo sofrido que sentiu na pele e na mesa os resultados obtidos ao longo de oito anos de governo Lula não teve dúvidas na hora de votar. A elite e a parte podre da classe média que sentiu o aumento dos gastos com psicotrópicos a cada avanço em prol dos mais pobres, também não teve dúvidas. Mas somos mais e maiores. Por isso, a vitória!

Pra comemorar o resultado e a vitória do povo, Chico Buarque canta o subúrbio!


Até.

4 comentários:

Unknown disse...

A globo chamava o golpe militar, a "revolução de 31 de março", agora é, ditadura militar. Por falar em televisão, porque o canal 21 da Bandeirantes, é alugado 24 horas por dia, para uma tal igreja mundial, de um pastor canalha, chamado Valdomiro. Os direitos de uso de um canal de televisão, não obrigam um mínimo de horas, na produção de programação? Vale investigar.

AOS QUARENTA A MIL disse...

É muita grandeza por parte dela, se fosse eu só iria na Globo pra tacar uma bola de papel no quengo do Bonner, como sempre a emissora dá uma de "Migué" e todos os jornalistas ficam felizes e saltitantes diante da tela Global. Hipócritas!

Eu, eu, eu a ÓIA se f...

E nós seguimos em frente graças a Deus!

Alfredo disse...

Grande Edu,
Aqui no Amazonas demos à Dilma uma vitória esmagadora : Mais de 80% dos votos. No município do Manaquiri atingimos mais de 93%.
Dia desses matando a saudade do meu irmão Paulo,morador de Teresina, ele afirmou exatamente o que dizes a respeito dessa história de que não não existe luta de classes.Segundo ele, os fascistas se escondem na própria sombra, tem vergonha de se assumirem com direita.
Abração,
Alfredo

Blog do Pian disse...

O problema, Alfredo, é que a esquerda é a primeira a criminalizar e demonizar a direita.

Fica cada vez mais dificil se assumir como " de direita".

Forte abraço,

Rodrigo Pian