tag:blogger.com,1999:blog-99992752024-03-14T03:12:58.465-03:00BUTECO DO EDU"Eu sou assim, e digo mais - convivo muito bem com as minhas idéias fixas." - "De vez em quando, alguém me chama de “flor de obsessão”. Não protesto e explico: - não faço nenhum mistério dos meus defeitos. Eu os tenho e os prezo. Sou um obsessivo. E aliás, que seria de mim, que seria de nós, se não fossem três ou quatro idéias fixas? Repito: - não há santo, herói, gênio ou pulha sem idéias fixas. Só os imbecis não as têm." - Nelson RodriguesEduardo Goldenberghttp://www.blogger.com/profile/15844107600825502451noreply@blogger.comBlogger1927125tag:blogger.com,1999:blog-9999275.post-51583047789325900252011-05-14T11:45:00.004-03:002011-05-17T16:57:56.944-03:00NOVO ENDEREÇO<span style="font-size: x-large;">A partir de hoje o <strong>BUTECO DO EDU</strong> está no em novo endereço (<strong><a href="http://butecodoedu.wordpress.com/">clique</a></strong>!).</span>Eduardo Goldenberghttp://www.blogger.com/profile/15844107600825502451noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-9999275.post-15649425014731267382011-05-13T19:00:00.000-03:002011-05-13T19:16:43.380-03:00ALDIR BLANC E O ECAD<p style="text-align: justify;">Eu não sou – ainda – profundo conhecedor do chamado Direito Autoral, embora seja advogado. Não tenho, pois, conhecimento técnico para dizer isso ou aquilo sobre a LDA (Lei dos Direitos Autorais), nem a que está em vigor nem a que está para ser submetida (ou não, vá entender o Ministério da Cultura) ao Congresso Nacional. Tampouco entendo dos meandros administrativos e legais que envolvem o ECAD, órgão que arrecada e distribui valores referentes justamente ao direito autoral. Mas eu entendo de Justiça, com maiúscula mesmo, e não por outra razão escolhi ser advogado. Nunca quis – faço questão de fazer a ressalva enfática – ao contrário de tantos e tantos colegas de faculdade, prestar concurso para ser Juiz, Defensor Público, Promotor de Justiça, Procurador do Município, do Estado, da União, nunca. Sempre quis fazer o que faço, e sou por isso um homem em permanente estado de realização profissional. Sou advogado e digo, sem medo do erro, que ninguém é mais advogado do que eu, com respeito a todos aqueles que, como eu, abraçaram e abraçam o exercício da advocacia. Optei, desde que me formei, em 1992, por não ter secretária, por não ter estagiário, por não ter ninguém trabalhando comigo. Isso, é claro, me dá limitações na mesma medida em que me dá uma liberdade da qual não abro mão. Escolho as causas que vou defender a dedo, até porque não tenho condições de fazer o que chamo de advocacia industrial, com centenas e centenas de clientes que muitas vezes, dentro dessa modalidade, não têm o atendimento que, penso, deve ser dispensado a um homem que precisa de um advogado – falta-me uma máquina para atender a demanda. Mas aqueles que me têm como procurador – e eu digo sempre que faço uma advocacia artesanal – têm em mim um soldado em estado de alerta as 24h do dia, faça chuva ou faça sol. Feito este intróito – com cara de jabá, confesso! – vamos ao que quero lhes dizer.</p><p style="text-align: justify;">Defendo, ainda que me falte conhecimento para discutir a fundo a questão, uma profunda e radical revisão nos métodos de arrecadação e distribuição dos chamados direitos autorais. E por que?</p><p style="text-align: justify;">Sou amigo, há muitos anos, daquele a quem considero o maior letrista da música brasileira: Aldir Blanc. Avô de uma de minhas afilhadas, amigo fraterno de todas as horas, o Aldir é uma unanimidade, o “ourives do palavreado” na insuspeitada opinião do saudoso mestre Dorival Caymmi, e mesmo aqueles que, em acaloradas discussões de bar, defendem o nome de Paulo César Pinheiro ou de Chico Buarque no alto do pódio dos letristas brasileiros (cito os dois, sempre os mais citados), têm pelo bardo da Tijuca, da Muda mais precisamente, profundo respeito, adoração, até.</p><p style="text-align: justify;">Em busca de informações mais precisas sobre a portentosa obra do Aldir, recorri ao site do Instituto Cravo Albin, fonte segura de minha pesquisa, e vamos a ela.</p><p style="text-align: justify;">Pois o Aldir, que em 68, começou a compor com Sílvio da Silva Júnior, cravou em 1970 seu primeiro estrondoso sucesso, “Amigo é pra essas coisas”, na voz do MPB-4 (<strong><a href="http://www.youtube.com/watch?v=HO7Dx4ziU_o" target="_blank">aqui</a></strong>).</p><p style="text-align: justify;">Nesse mesmo período, foi integrante do MAU (Movimento Artístico Universitário), do qual também faziam parte César Costa Filho, Ivan Lins, Paulo Emílio, Sílvio da Silva Júnior, Gonzaguinha, entre outros.</p><p style="text-align: justify;">Ainda no começo da década de 70 conheceu João Bosco, com quem formou (e forma, na minha modesta opinião) a mais genial dupla de compositores do Brasil em todos os tempos. Antes, porém, em 71, foi gravado pela primeira vez pela maior cantora do Brasil, Elis Regina, com a canção “Ela”, em parceria com César Costa Filho, no LP que ganhou o mesmo nome.</p><p style="text-align: justify;">Em 1972, João Bosco registrou a primeira composição da dupla, "Agnus sei", que saiu num compacto encartado no jornal "O Pasquim", posteriormente gravada por Elis Regina (<strong><a href="http://www.youtube.com/watch?v=tqF_p8MY5ug" target="_blank">aqui</a></strong>). No lado A do compacto, Tom Jobim interpretando "Águas de março".</p><p style="text-align: justify;">Em 72, Elis Regina gravou "Bala com bala", de sua parceria com João Bosco, aqui num sensacional filme feito para uma TV alemã (<strong><a href="http://www.youtube.com/watch?v=I5RzxwoUQiA" target="_blank">aqui</a></strong>).</p><p style="text-align: justify;">Já em 73, no disco "Elis", a cantora gaúcha incluiu várias composições da dupla João Bosco e Aldir Blanc, como "Cabaré" (<strong><a href="http://www.youtube.com/watch?v=zhx7V-yXPVw" target="_blank">aqui</a></strong>), "Comadre" (<strong><a href="http://www.youtube.com/watch?v=b7Dzikt9LB8" target="_blank">aqui</a></strong>), "Agnus sei" e "Caçador de esmeralda". Nesse mesmo ano, João Bosco também gravou várias parcerias da dupla.</p><p style="text-align: justify;">Em 74, participou da fundação da SOMBRAS, sociedade responsável pela defesa de direitos autorais. Nesse mesmo ano, Elis Regina lançou novo LP incluindo novas composições da dupla Bosco e Blanc: "O mestre-sala dos mares" (<strong><a href="http://www.youtube.com/watch?v=n6-i_XQsxCE" target="_blank">aqui</a></strong> com Elis Regina e <strong><a href="http://www.youtube.com/watch?v=hqlZ3XTfzDg" target="_blank">aqui</a></strong> com Ivete Sangalo), "Dois pra lá, dois pra cá" (<strong><a href="http://www.youtube.com/watch?v=-JV1u0txHz0" target="_blank">aqui</a></strong>) e "Caça à raposa" (<strong><a href="http://www.youtube.com/watch?v=5oiY0LZwjlQ" target="_blank">aqui</a></strong>, com o próprio João Bosco, em filmagem amadora de 2011).</p><p style="text-align: justify;">Em 1975, Simone incluiu "Latin lover" no LP "Gota d'água" (<strong><a href="http://www.youtube.com/watch?v=ry4gObOtf_M" target="_blank">aqui</a></strong>, em gravação da própria, feita em 2006). João Bosco lançou, nesse mesmo ano, o LP "Caça à raposa", interpretando vários sucessos da dupla, como "De frente pro crime" (<strong><a href="http://www.youtube.com/watch?v=dPWs29rUcU0" target="_blank">aqui</a></strong> ao vivo em show do MPB-4, de 2008) e "Kid Cavaquinho" (<strong><a href="http://www.youtube.com/watch?v=Fel0b_bxZaI" target="_blank">aqui</a></strong> com João Bosco e Dudu Nobre, ao vivo), entre outros. Ainda incluiu na trilha da novela "Gabriela" (TV Globo) outra parceria de ambos, "Doces olheiras", gravada por João Bosco. Ainda em 1975, o grupo MPB-4 gravou "De frente pro crime".</p><p style="text-align: justify;">No ano seguinte, Elizeth Cardoso interpretou de sua autoria "De partida" (com João Bosco) e o grupo MPB-4 gravou "O ronco da cuíca", também com João Bosco (<strong><a href="http://www.youtube.com/watch?v=4T32ZT8c8pk&feature=related" target="_blank">aqui</a></strong>, interpretada pelo próprio João).</p><p style="text-align: justify;">Em 1977, Elis Regina gravou "Um por todos", "Jardins de infância" e "O cavaleiro e os moinhos" (<strong><a href="http://www.youtube.com/watch?v=UvDYZgpyydU" target="_blank">aqui</a></strong>, com Elis Regina), todas parcerias de João Bosco e Aldir Blanc. Nesse mesmo ano, compôs com João Bosco a música "Visconde de Sabugosa" para o seriado "Sítio do pica-pau amarelo" (TV Globo) (<strong><a href="http://www.youtube.com/watch?v=Tguc7oAMh-A" target="_blank">aqui</a></strong> com João Bosco). Ainda em 1977, Elis Regina gravou "Transversal do tempo", parceria com João Bosco (<strong><a href="http://www.youtube.com/watch?v=xbJZ8gKFc24&feature=fvst" target="_blank">aqui</a></strong>, ao vivo, logo depois de “Sinal Fechado”, de Paulinho da Viola, com Elis Regina ).</p><p style="text-align: justify;">Em 1978, "Transversal do tempo" foi regravada por Elis Regina e deu título ao disco da cantora, que incluiu também "O rancho da goiabada" (<strong><a href="http://www.youtube.com/watch?v=ZeVmaHogac0" target="_blank">aqui</a></strong> com Elis Regina). Nesse mesmo ano, Sueli Costa registrou a canção "Mãos", parceria de ambos. Elizeth Cardoso incluiu, no LP "A cantadeira do amor", a canção "Me dá a penúltima", parceria com João Bosco (<strong><a href="http://www.youtube.com/watch?v=qM09qTwmaJ4" target="_blank">aqui</a></strong> em monumental registro de Aldir Blanc cantando com João Bosco).</p><p style="text-align: justify;">Em 1979, fundou, ao lado de Maurício Tapajós, entre outros, a SACI (Sociedade de Artistas e Compositores Independentes). Nesse mesmo ano, foi lançado o disco "Elis especial", no qual a cantora interpretou "Violeta de Belford Roxo", "Ou bola ou búlica" e "Bodas de prata" (<strong><a href="http://www.youtube.com/watch?v=3lOdcVqRXiA" target="_blank">aqui</a></strong> com Elis Regina), todas de sua parceria com João Bosco. Também em 1979, Elis Regina interpretou um dos maiores sucessos, tanto do compositor quanto da cantora, "O bêbado e a equilibrista" (com João Bosco) no disco "Elis, essa mulher", que mais tarde seria consagrada como uma espécie de Hino Nacional da Anistia (<strong><a href="http://www.youtube.com/watch?v=nRrWJO75UH8" target="_blank">aqui</a></strong>, para o especial “Arquivo N”). Elis gravou, nesse mesmo ano, "Beguine dodói" (João Bosco, Aldir Blanc e Cláudio Tolomei) (<strong><a href="http://www.youtube.com/watch?v=6_DpowqgDeA" target="_blank">aqui</a></strong> para TV argentina, legendada), "Altos e baixos" (com Sueli Costa) (<strong><a href="http://www.youtube.com/watch?v=VIDe-qvNQKQ" target="_blank">aqui</a></strong> com Elis Regina) e “Bolero de Satã”, música de Guinga, em gravação inesquecível com Cauby Peixoto (<strong><a href="http://www.youtube.com/watch?v=YOioYp1TxBU" target="_blank">aqui</a></strong>).</p><p style="text-align: justify;">No início da década de 1980, participou, juntamente com Maurício Tapajós, Nei Lopes, Marcus Vinicius e Paulo César Pinheiro, entre outros, da fundação da AMAR (Associação dos Músicos, Arranjadores e Regentes), entidade responsável pela arrecadação de direitos autorais. Também em 1980, Djavan incluiu no disco "Alumbramento" duas parcerias de ambos: "Aquele um" (<strong><a href="http://www.youtube.com/watch?v=aYv01-6IiZM" target="_blank">aqui</a></strong> com Djavan) e "Tem boi na linha" (<strong><a href="http://www.youtube.com/watch?v=uF-cCB1zg_8" target="_blank">aqui</a></strong> com Djavan), esta última também com Paulo Emílio.</p><p style="text-align: justify;">Em 1981, Djavan registrou, no disco "Seduzir", outra parceria dos dois, "Êxtase" (<strong><a href="http://www.youtube.com/watch?v=3Rk5mTOKvVs" target="_blank">aqui</a></strong>). Ainda nesse ano, participou do disco de Márcio Proença, interpretando com o músico "Fêmea de Atlântida", parceria de ambos.</p><p style="text-align: justify;">Sua canção "Nação" (com João Bosco e Paulo Emílio) foi gravada em 1982 no disco de mesmo nome, enorme sucesso na voz de Clara Nunes (<strong><a href="http://www.youtube.com/watch?v=guNBycX6Xlc" target="_blank">aqui</a></strong>, com Clara).</p><p style="text-align: justify;">Muitos intérpretes fizeram sucesso com as composições da dupla Bosco e Blanc: Maria Alcina ("Kid Cavaquinho" em 1974, <strong><a href="http://www.youtube.com/watch?v=LNU4JtvKx-0" target="_blank">aqui</a></strong>), Ângela Maria ("Miss suéter", <strong><a href="http://www.youtube.com/watch?v=DFvIOVzG-G0" target="_blank">aqui</a></strong>), Elis Regina ("O cavaleiro e os moinhos", "Dois pra lá, dois pra cá", "Gol anulado" - <strong><a href="http://www.youtube.com/watch?v=tsEN0OtF448" target="_blank">aqui</a> - </strong>e "Transversal do tempo"), Cláudia ("Bala com bala"), Clementina de Jesus ("Incompatibilidade de gênios", <strong><a href="http://www.youtube.com/watch?v=Da2xnqazFBY" target="_blank">aqui</a></strong>), Solange Kafuri ("Trilha sonora"), entre outros.</p><p style="text-align: justify;">Elis Regina também fez sucesso com composições suas com outros parceiros, como "Querelas do Brasil", com Maurício Tapajós, <strong><a href="http://www.youtube.com/watch?v=B4J1cMflAfg" target="_blank">aqui</a></strong> ao vivo com Elis Regina.</p><p style="text-align: justify;">Em 1984, o próprio Aldir lançou dois discos autorais ao lado do parceiro Maurício Tapajós: "Aldir Blanc e Maurício Tapajós" (mais tarde reeditado em CD) e "Rio, ruas e risos", ambos exclusivamente de composições da dupla.</p><p style="text-align: justify;">Em 1988, Moacyr Luz registrou parcerias de ambos no disco "Só Moacyr Luz".</p><p style="text-align: justify;">Em 1999, Fafá de Belém interpretou "Coração agreste", parceria com Moacyr Luz (<strong><a href="http://www.youtube.com/watch?v=wdh0va7UAUw" target="_blank">aqui</a></strong> gravada ao vivo por Fafá de Belém para seu primeiro DVD), contemplada com o Prêmio Sharp, na categoria Melhor Música. A canção foi incluída na trilha sonora da novela “Tieta”, da Rede Globo. Outra composição de sua parceria com Moacyr Luz, "Mico preto", foi tema de novela da Rede Globo, na interpretação de Gilberto Gil (<strong><a href="http://www.youtube.com/watch?v=M2nhOYrI40g" target="_blank">aqui</a></strong>, com o ex-Ministro da Cultura). Ainda em 1989, o grupo Fundo de Quintal registrou "Ciranda do povo", de sua parceria com Cléber Augusto, um dos integrantes do conjunto. A música deu título ao disco lançado pela gravadora RGE.</p><p style="text-align: justify;">No ano seguinte, seu parceiro mais constante, Guinga, gravou o CD "Simples e absurdo", no qual as composições da dupla foram interpretadas por Leny Andrade, Chico Buarque, Claudio Nucci, Leila Pinheiro, Beth Bruno, Ivan Lins, Beth Bruno, Zé Renato e o conjunto Be Happy.</p><p style="text-align: justify;">Em 1993, Edu Lobo gravou, no disco "Corrupião", duas músicas de autoria dos dois: "Sem pecado" e "Ave rara" (<strong><a href="http://www.youtube.com/watch?v=fVGuJTc3UJ0" target="_blank">aqui</a></strong> com a Banda Sabará). Nesse mesmo ano, o grupo Batacotô gravou várias composições de sua parceria com Ivan Lins e Vítor Martins: "Quitambô", "Nega Daúde", "Tá que tá", "Camaleão", esta interpretada por Dionne Warwick e Ivan Lins, e o grande sucesso do grupo, "Confins", que se tornou tema da novela “Renascer” da Rede Globo (<strong><a href="http://www.youtube.com/watch?v=SNfLmI_XBaQ" target="_blank">aqui</a></strong>, com Ivan Lins). Ainda nesse ano, Fátima Guedes gravou suas canções "Vô Alfredo", "Diluvianas", "Destino Bocaiúva" e "Sete estrelas", todas com Guinga, "Restos de um naufrágio", com Moacyr Luz (<strong><a href="http://www.youtube.com/watch?v=wUaHEDdLw9A" target="_blank">aqui</a></strong> com a cantora Viviane dos Guimarães).</p><p style="text-align: justify;">Em 1995, a canção "Ave rara" (com Edu Lobo) foi registrada no <em>songbook</em> do parceiro na interpretação de Zélia Duncan, Cristóvão Bastos e Marco Pereira. Nesse mesmo ano, Moacyr Luz, comemorando 10 anos de parceria com Aldir Blanc, lançou o disco "Vitória da ilusão", no qual gravou várias músicas de ambos.</p><p style="text-align: justify;">Em 1996, Leila Pinheiro lançou o CD "Catavento e girassol" (EMI Music), registrando exclusivamente canções de sua parceria com Guinga (<strong><a href="http://www.youtube.com/watch?v=8doqBtVVlI0" target="_blank">aqui</a></strong>, com Guinga, ao vivo). O disco atingiu rapidamente a vendagem de 100 mil cópias. O ano registrou também seu 50º aniversário de nascimento, com a gravação do disco comemorativo lançado pela gravadora Alma Produções, fundada pelo letrista e amigo Marco Aurélio. Na abertura do CD, o registro na voz de Dorival Caymmi: <em>"Aldir Blanc é compositor carioca. É poeta da vida, do amor, da cidade. É aquele que sabe como ninguém retratar o fato e o sonho. Traduz a malícia, a graça e a malandragem. Se sabe de ginga, sabe de samba no pé. Estamos falando do Ourives do Palavreado. Estamos falando de poesia verdadeira. Todo mundo é carioca, mas Aldir Blanc é carioca mesmo."</em>. O disco contou com a participação de vários cantores, como Carol Saboya ("Carta de pedra", com Guinga); Edu Lobo ("Pianinho", parceria de ambos); Nana e Danilo Caymmi ("Siameses", com João Bosco); Rolando ("Na orelha do pandeiro", com Bororó e Lúcia Helena); Arranco de Varsóvia ("Vim sambar", com João Bosco e Cacaso); Wilson Moreira, Walter Alfaiate e Nei Lopes ("Mastruço e catuaba", com Cláudio Cartier); Emílio Santiago ("Nação", "Querelas do Brasil" e "Saudades da Guanabara", esta com Moacyr Luz e Paulo César Pinheiro); Ed Motta ("Crescente fértil", parceria de ambos); Leila Pinheiro ("Cegos de luz", com Ivan Lins), Clarisse Grova ("Reencontro", com Moacyr Luz), Cris Delano ("Sonho de válvula", com Gilson Peranzzetta), Paulinho da Viola ("50 anos", com Cristóvão Bastos) e o próprio letrista interpretando "Anel de ouro" (c/ Raphael Rabello), "Canário-da-terra" (c/ João de Aquino), "Negão nas paradas" (c/ Guinga), "Lua sobre sangue" (c/ Cláudio Jorge), "Retrato cantado" (c/ Márcio Proença) e "Pequeno circo íntimo" (c/ Ivan Lins e Paulo Emílio), esta com Ivan Lins. O disco incluir também a faixa "O bêbado e a equilibrista", com Betinho, MPB-4 e Coral da Vida, formado exclusivamente para a gravação desta música, que incluiu quase uma centena de artistas da MPB. Ainda em 1996, igualmente fazendo parte das comemorações do cinqüentenário do compositor, foi lançado o livro "Um cara bacana na 19ª", que contou com o seguinte texto de Chico Buarque: <em>"Aldir Blanc é uma glória das letras cariocas. Bom de se ler e de se ouvir, bom de se esbaldar de rir, bom de se Aldir."</em>. O livro e o disco foram lançados em show comemorativo no Canecão (RJ). Nesse mesmo ano, foi convidado por Marcelo Vianna, neto de Pixinguinha, para letrar quatro músicas do avô, em comemoração ao centenário de nascimento do músico. Ainda em 1996, Renato Braz gravou "7x7", de sua parceria com Guinga.</p><p style="text-align: justify;">No ano seguinte, Clarisse Grova lançou o CD "Novos traços" (Alma Produções), no qual interpretou 13 canções de parceria do letrista com Cristóvão Bastos, entre as quais "Enseada", "Dores Dolores", "Não tava pra peixe" e o sucesso "50 anos", além de "Cravo e ferradura", também assinada pela cantora.</p><p style="text-align: justify;">Em 1998, Nana Caymmi fez sucesso com sua canção "Resposta ao tempo" (com Cristóvão Bastos), música-tema da minissérie "Hilda Furacão" (Rede Globo), vencedora do Prêmio Sharp daquele ano, na categoria Melhor Música (espetacular gravação de Nana <strong><a href="http://www.youtube.com/watch?v=d4bOvtjFDPw" target="_blank">aqui</a></strong>). Também em 1998, Moacir Luz gravou o CD "Mandingueiro", no qual incluiu diversas parcerias dos dois, entre as quais "Encontros cariocas", "Gotas de samba", "Chupa cabra com ketchup" e a faixa-título. Nesse mesmo ano Walter Alfaiate incluiu no CD "Olha aí!" a canção "Botafogo, chão de estrelas", parceria de Aldir com Paulinho da Viola.</p><p style="text-align: justify;">Em 1999, Nana Caymmi voltaria a fazer sucesso com "Suave veneno", outra composição da dupla Cristóvão Bastos e Aldir Blanc, tema da novela homônima da Rede Globo (<strong><a href="http://www.youtube.com/watch?v=H_6TQjUEOiU" target="_blank">aqui</a></strong>). Nesse mesmo ano, Cláudio Tovar escreveu e encenou o musical "Aldir Blanc - um cara bacana" ao lado de Lucinha Lins.</p><p style="text-align: justify;">Em 2000, Dudu Nobre gravou a primeira parceria de ambos, "Blitz funk", no disco "Moleque Dudu", produzido por Rildo Hora. Também em 2000, compôs, juntamente com Cristóvão Bastos, a trilha sonora do musical "Tia Zulmira e nós", adaptação do jornalista João Máximo para os textos de Stanislaw Ponte Preta (pseudônimo de Sérgio Porto), com direção de Aderbal Freire Júnior. Ainda em 2000, João Bosco e Dudu Nobre interpretaram "Kid Cavaquinho" no disco "Casa de samba 4", produzido por Rildo Hora, e Kiko Furtado incluiu, no disco "Janela", a canção "Súplica de pai", parceria de ambos.</p><p style="text-align: justify;">Na sexta-feira de carnaval do ano 2000, sua música "O mestre-sala dos mares" foi tema do desfile do bloco do Museu da Imagem e do Som (MIS), que homenageou a Revolta da Chibata, liderada pelo marinheiro João Cândido, cujo depoimento secreto prestado a Ricardo Cravo Albin no MIS, em 1968, acabara de ser editado em livro.</p><p style="text-align: justify;">Em 2001 compôs com Marco Pereira, "Teatro da natureza", música-tema da trilha sonora da peça Teatro Popular Brasileiro.</p><p style="text-align: justify;">No ano seguinte, Lucinha Lins regravou, no CD "Canção brasileira", a canção "Altos e baixos", parceria do letrista com Sueli Costa, a compositora homenageada no disco. Também em 2002, participou do songbook de João Bosco, disco no qual interpretaram juntos "O bêbado e a equilibrista". Em setembro desse mesmo ano, foi lançado, no Sesc da Tijuca (RJ), o livro "A poesia de Aldir Blanc" (Editora Irmãos Vitale), songbook organizado pelo crítico musical Roberto M. Moura. Apresentou-se na Lona Cultural João Bosco, ao lado de Moacyr Luz. Ainda em 2002, foi lançado o livro "Velhas histórias, memórias futuras" (Editora Uerj), de Eduardo Granja Coutinho, no qual o autor faz várias referências ao letrista. Também nesse ano, foi lançado o livro "Driblando a censura - De como o cutelo vil incidiu na cultura", de Ricardo Cravo Albin, no qual consta o relato de uma composição de sua autoria proibida pela censura e liberada pelo Conselho Superior de Censura, a música "Êxtase" (com Djavan), sendo devidamente liberada e incluída no LP "Deslumbramento", lançado pelo parceiro. O Conselho Superior de Censura tinha a função de provocar a transição de um Estado de Exceção para um Estado de Direito, atuando incisivamente, entre os anos de 1979/1989, na liberação de músicas, livros, peças, novelas, caso especial, filmes e outras obras intelectuais proibidas pelo regime militar.</p><p style="text-align: justify;">Em 2003, Walter Alfaiate lançou o CD "Samba na medida", no qual incluiu a canção "Mastruço e catuaba", parceria do letrista com Cláudio Cartier. Nesse mesmo ano, compôs com Mú Carvalho a canção "Chocolate com pimenta", tema de abertura da novela homônima da Rede Globo (<strong><a href="http://www.youtube.com/watch?v=9GyFyI9m0jg" target="_blank">aqui</a></strong>). Também em 2003, sua composição Nação" (com João Bosco e Paulo Emílio) foi registrada por Renato Braz no CD "Um ser de luz - Saudação a Clara Nunes".</p><p style="text-align: justify;">Em 2004, Simone mais uma vez gravou Aldir Blanc, em parceria com Ivan Lins, “Por Favor”, <strong><a href="http://www.youtube.com/watch?v=PlAjfMG5zEA" target="_blank">aqui</a></strong>.</p><p style="text-align: justify;">Em 2005, lançou o CD "Vida noturna", cantando suas parcerias com João Bosco, Guinga, Moacyr Luz, Maurício Tapajós, Hélio Delmiro e outros.</p><p style="text-align: justify;">Publicou, em 2006 o livro "Rua dos Artistas e transversais" (Editora Agir), que reúne seus livros de crônicas "Rua dos Artistas e arredores" (1978) e "Porta de tinturaria" (1981), e ainda traz outras 14 crônicas escritas para a revista "Bundas" e para o "Jornal do Brasil".</p><p style="text-align: justify;">Em 2007, Mariana Baltar cantou “Bala com bala”, parceria com João Bosco, <strong><a href="http://www.youtube.com/watch?v=HS1Rcq9cZ5M" target="_blank">aqui</a></strong> o registro.</p><p style="text-align: justify;">Em 2009, registro de “Linha de passe”, parceria com João Bosco e Paulo Emílio, <strong><a href="http://www.youtube.com/watch?v=E4CirlldRrg" target="_blank">aqui</a></strong> com João Bosco e Yamandu Costa, ao vivo.</p><p style="text-align: justify;">Publicou vários livros, entre os quais "Rua dos Artistas e Arredores" (Ed. Codecri, 1979); "Brasil passado a sujo" (Ed. Geração, 1993); "Porta de tinturaria"; "Vila Isabel - Inventário de infância" (Ed. Relume-Dumará, 1996), e "Um cara bacana na 19ª" (Ed. Record, 1996), com crônicas, contos e desenhos. Escreveu crônicas para os jornais "O Dia" (RJ) e "O Estado de S.Paulo".</p><p style="text-align: justify;">Compôs, em parceria com Carlos Lyra, a trilha sonora do espetáculo “Era no tempo do Rei”, baseado no livro homônimo de Ruy Castro, que estreou em março de 2010 no Teatro João Caetano (RJ) com direção geral de João Fonseca, direção musical de Délia Fischer e roteiro assinado por Heloisa Seixas e Julia Romeu. Constam da trilha as seguintes canções: “Abertura”, “Carnaval tropical”, “Ária do Calvoso”, “Sois Rei?”, “Bárbara onça”, “Amor e ódio”, “Amor ordinário”, “Senta, João”, “Fado de Maria a Louca”, “Carta e profecia de Espanca”, “Solilóquio do Vidigal”, “Lundú do Vidigal”, “Maxixe das criadas”, “O Rei das Ruas”, “Verso e reverso”, “A galinha e a broa”, “Soneto de Bárbara morta”, “Borboleta de asa negra” e “Rancho de encerramento”. Nesse mesmo ano, a trilha de “Era no tempo do Rei” foi lançada em CD.</p><p style="text-align: justify;">Isso sem contar que você quando ouve a vinheta do futebol da TV Globo não deve saber que é de Aldir a letra. Sabia? Ouça <strong><a href="http://www.youtube.com/watch?v=FWOJPym0-HQ" target="_blank">aqui</a></strong>.</p><p style="text-align: justify;">É também autor da letra de Popó, de Chico Pinheiro, gravada por Maria Rita e <strong><a href="http://www.youtube.com/watch?v=P5r5BYL84Tk" target="_blank">aqui</a></strong>, ao vivo, cantada por Tati Parra.</p><p style="text-align: justify;">E dia desses, vejam vocês – e a cena se repete com freqüência – estava eu cantando “O Bêbado e a equilibrista”, talvez o maior sucesso da dupla Bosco & Blanc, e uma moça, diante de mim, moça, não mais que 20 anos de idade, não sabia de quem era a música (que ela cantara do início ao fim). Essa injustiça, esse erro, precisa acabar. Mas vamos mesmo ao que eu queria lhes dizer.</p><p style="text-align: justify;">Um homem como Aldir Blanc, um criador como Aldir Blanc, um compositor de seu porte, com sua obra, um homem com mais de 10 aberturas de novela emplacadas, mais de 60 temas de personagens, pode viver, como se diz por aí, com uma lata de goiabada na mão sem o reconhecimento devido pelo fruto de seu trabalho? Como pode o ECAD – e daí a necessidade imperiosa de uma CPI e de um sério trabalho de auditoria feito pelo Estado – não remunerar de forma compatível um homem como ele?</p><p style="text-align: justify;">Pois na segunda-feira eu bebia com o ator José de Abreu na rua do Rosário quando ligou-me, justamente, o bardo tijucano. Por uma dessas coincidências, o Zé estava concedendo entrevista para a revista Época sobre o tema – direito autoral. Pus Aldir para falar com ele. E vi, durante o telefonema, aquele homem à minha frente chorando de raiva – “ira santa”, como ele mesmo disse – por saber da situação do Aldir. É a mesma ira que me move e que deveria mover o Estado brasileiro em defesa de um de seus mais brilhantes filhos.</p><p style="text-align: justify;">Até.</p>Eduardo Goldenberghttp://www.blogger.com/profile/15844107600825502451noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-9999275.post-62416218451650756522011-05-09T11:25:00.000-03:002011-05-09T11:26:27.055-03:0040 ANOS NÃO SÃO 40 DIAS<div style="text-align: justify;">Eu sou um sujeito emocionado por natureza. Choro à toa mas esse choro que choro não é, em absoluto, desprezível ou corriqueiro por ser constante. Muito pelo contrário, é um choro capaz de me sustentar na medida em que representa uma espécie de catarse imprescindível para que eu me mantenha vivo, de pé. Dito isso, vamos ao que quero lhes contar hoje.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Fiz, em 2009, 40 anos de idade. E no tal dia, 27 de abril, senti o que chamam por aí de "peso da idade". Sempre me senti uma múmia, é verdade. Um velho, um antigo, um ultrapassado. Mas o redondo da marca, os 40 anos (todos dizem "40 anos" com a boca cheia), foram um marco. Recebi, na ocasião, na Tijuca, minha aldeia, uma penca de amigos com quem fiz questão de comemorar a passagem dos meus 40 anos, e fui, naquele dia, a despeito do tal "peso da idade", um homem em estado de graça.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Vai daí que ontem me dei conta de que estava eu às vésperas dos 40 anos de dois grandes sujeitos, nascidos, ambos, é claro, no longínquo 09 de maio de 1971. E aí eu retomo o fio do primeiro parágrafo: estava eu emocionado com a perspectiva de abraçar, hoje, Fernando Goldenberg e Leonardo Boechat. Dei-me conta disso quando estávamos, justamente eu e Leo Boechat, curtindo a domingueira no quintal do Aconchego Carioca, jóia encravada entre a Praça da Bandeira e a Tijuca, ele de violão em punho, garrafas de Heineken sobre a mesa, e a companhia - que não tardou a chegar - do bardo tijucano, Felipe Quintans, nosso Felipinho Cereal. </div><br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="http://1.bp.blogspot.com/-gJM7nvgnyco/TcfpUm_JeqI/AAAAAAAADnM/e8Nq2HwUJ6I/s1600/REVEILL%25C3%2593N%2B2008%2B078.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;" target="_blank"><img border="0" height="213" src="http://1.bp.blogspot.com/-gJM7nvgnyco/TcfpUm_JeqI/AAAAAAAADnM/e8Nq2HwUJ6I/s320/REVEILL%25C3%2593N%2B2008%2B078.jpg" width="320" /></a></div><br />
<div style="text-align: justify;">Repito hoje, pois, a homenagem que prestei a meu irmão, o Fefê, em 2006 - leiam <a href="http://butecodoedu.blogspot.com/2006/05/nove-de-maio.html"><strong>aqui</strong></a><strong> </strong>- ele que veio ao mundo, como o Leo, num domingo que era dia das mães, como ontem foi.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Ontem, logo depois da domingueira no Aconchego, parti em direção à casa de mamãe para o tradicionalíssimo almoço que comemora a data. Lá cheguei já devidamente calibrado, muito de leve, e senti uma saudade agudíssima de minha avó, mãe de mamãe, pela primeira vez ausente do furdunço, ela que partiu pro Orum em dezembro do ano passado. Tratei de tratar da saudade à base de malte escocês e segurei-me o quanto pude - tive êxito! - para não chorar diante daquele homem que vi nascer, há 40 anos.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Não tive a mesma competência quando falei com ele hoje cedo, pelo telefone, e tratei de constranger o motorista de táxi que me levava pro trabalho de tanto que funguei (fungo intensamente quando choro) assoando o nariz no lenço que tenho sempre no bolso.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Ele, a seu modo, dá-me lições constantes que eu, incorrigível, teimo em não aprender. Mas é bonito pacas ver o desenho de sua vida, a sabedoria que ele imprime a cada gesto, a boniteza de suas posturas, e é por isso que eu encho a boca pra dizer pros outros... é meu irmão.</div><div style="text-align: justify;"> </div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="http://4.bp.blogspot.com/-0RIrupN9hNw/TcfpU5AbmNI/AAAAAAAADnU/lPTtsFN9nLk/s1600/Imagem%2B016.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;" target="_blank"><img border="0" height="213" src="http://4.bp.blogspot.com/-0RIrupN9hNw/TcfpU5AbmNI/AAAAAAAADnU/lPTtsFN9nLk/s320/Imagem%2B016.jpg" width="320" /></a></div><br />
<div style="text-align: justify;">Leo Boechat, que chega também aos 40, tem sido, já há tempos, meu parceiro mais constante quando dou de pousar o cotovelo nos balcões dos bares da cidade. Foi num desses balcões, no Vilarino, no centro da cidade, que há coisa de uns 2 anos ele me disse, a garrafa de Jack Daniel´s já pela metade, que eu era o padrinho, ao lado do padrinho original, de sua filhota, a Helena, que completará 3 anos em dezembro.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Foi ele que, num desses sábados, ao me ver chegar com minha menina no Casual, também no Centro, depois de atravessarmos uma tremenda turbulência juntos, desatou de chorar, desavergonhadamente, fazendo com que eu, naquele instante, reconhecesse nele um dos meus.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Vai daí que temos derrubado juntos garrafas e mais garrafas diante dos balcões dos pés-sujos nos quais ancoramos e eu tenho feito dele, ainda que à sua revelia, porto-seguro para que eu siga enfrentando os revezes da vida com dignidade e ânimo constante, muito por conta das confissões que faço, transformando-o numa espécie de fiel depositário do que trago em mim. Pra quem me conhece, não é coisa pouca.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Ergo, por isso, comovidíssimo, o copo cheio de cerveja com espessa espuma na intenção desses dois grandes sujeitos, amigos meus, irmãos-de-fé, unidos pelo 09 de maio de 1971.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Era o que eu queria lhes dizer. </div><br />
Até.Eduardo Goldenberghttp://www.blogger.com/profile/15844107600825502451noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-9999275.post-50802141537855808532011-05-05T10:45:00.001-03:002011-05-05T10:53:06.004-03:00BETH CARVALHO, 65 ANOS<div style="text-align: justify;">Eu nem consigo me lembrar de quando, exatamente, conheci a Beth pessoalmente. E faço questão de frisar o "pessoalmente" porque a Beth eu conheço (e ouço) desde muito pequeno. Meu pai, um homem de gosto restritíssimo, sempre foi absolutamente apaixonado por ela. Pra vocês terem uma idéia, papai é assim: cantor? Só Tim Maia, Dick Farney, Frank Sinatra e Lucho Gatica. Cantora? Leny Andrade, Claudete Soares e Beth Carvalho. Pois desde pequeno, bem me lembro, via o velho chegando em casa, uma ou duas vezes por ano, trazendo debaixo de braço, com um sorriso de criança no rosto, o mais recente LP da Beth Carvalho. Certa vez, em 1997, quando fiz 28 anos, armei uma festa de arromba no apartamento de meus pais, no Alto da Boa Vista (Aldir Blanc escreveu, dias depois, hilariante crônica sobre a efeméride, <strong><a href="http://butecodoedu.blogspot.com/2009/10/uma-situacao-kolynos.html" target="_blank">aqui</a></strong>) - foi a primeira e a última. Duas situações engraçadas naquele dia, fora a retratada por Aldir na crônica: eram mais ou menos 18h e tocou o telefone. Papai atendeu. Deu-se o diálogo:<br />
<br />
- Alô? - temos, eu e papai, a voz parecidíssima.<br />
<br />
- Oi, Edu! Estou no salão fazendo o cabelo. Me dá de novo o endereço de seus pais...<br />
<br />
- É o pai dele que está falando... Quem quer falar com ele?<br />
<br />
- Oi! Não precisa chamá-lo, não. Só quero o endereço daí... é a Beth Carvalho.<br />
<br />
Papai, que não sabia que ela ia (escondi de propósito para lhe fazer uma surpresa), passou-me o telefone mais branco que sorvete de creme (que quando derrete, vira sopa, como lhes contei <strong><a href="http://butecodoedu.blogspot.com/2011/04/papai-tambem-e-fobico.html" target="_blank">aqui</a></strong>).<br />
<br />
A outra: no mesmo dia da tal festa estava havendo uma comemoração na quadra da Mangueira por conta do aniversário da verde-e-rosa. Beth já havia me avisado que chegaria tarde e assim foi. Por volta das onze e meia da noite, quando Moacyr Luz (vejam vocês...) já comandava a noitada com seu violão, chegou a aniversariante de hoje com alguns amigos ritmistas, dentre eles o Bira da Mangueira, filho do Padeirinho. Papai, ao vê-la, correu pro quarto e de lá voltou com todos os LPs pra que ela os autografasse, um por um.<br />
<br />
Feito o longo intróito, vamos ao que interessa.<br />
<br />
Hoje, nesse 05 de maio de 2011, minha querida amiga completa 65 anos de vida muito bem vividos. Mais que isso, vividos em prol da música brasileira, do samba, do Brasil e de seu povo. Eu disse lá no começo do texto que não me lembro de quando nos conhecemos, mas lembro de quando nos apaixonamos um pelo outro (estou, hoje, ligeiramente imodesto): nos primeiros quinze minutos de papo. A nos unir, o amor pelo Brasil, pelo samba, a admiração inextingüível por personagens como Che Guevara, Fidel Castro, Darcy Ribeiro e Leonel Brizola.<br />
<br />
A Beth, que no ano passado concedeu-me, e a Luiz Antonio Simas, uma senhora entrevista (leiam <strong><a href="http://butecodoedu.blogspot.com/2010/08/entrevista-beth-carvalho.html" target="_blank">aqui</a></strong>), que passou por maus bocados por conta de problemas de saúde, tem mais é que comemorar, com pompa e circunstância, seus 65 anos. Já em 2006, por ocasião de seus 60 anos, prestei-lhe homenagem através desse texto <strong><a href="http://butecodoedu.blogspot.com/2006/05/beth-carvalho-60-anos.html" target="_blank">aqui</a></strong>. Em 08 de maio daquele ano, deixou lá seu comentário meu irmão querido, Fernando Szegeri:<br />
<br />
<em>"Faço coro, assino embaixo letra por letra, bato o copo em pé e, mão no peito, canto em alto som em homenagem a ela e ao meu mano, em ritmo de samba: <br />
<br />
Brava gente brasileira<br />
Longe vá temor servil<br />
Ou ficar a Pátria livre<br />
Ou morrer pelo Brasil...<br />
<br />
E mais não se precisa dizer, como sempre. A não ser, para bem dos fatos, o que vai omitido pela compreensível modéstia: que essa gigante gravou - sim, senhores! - uma bela canção de autoria do dono deste Buteco, em parceria com Edmundo Souto."</em><br />
<br />
Deixei, pois, a modéstia de lado quando publiquei o texto Sinfonia Sacopenapã, em janeiro do ano passado, disponibilizando a gravação, feita ao vivo, da canção de Edmundo Souto para a qual fiz a letra, <strong><a href="http://butecodoedu.blogspot.com/2010/01/sinfonia-sacopenapa.html" target="_blank">aqui</a></strong>. Uma grande alegria - mais uma! - que me foi proporcionada por ela.<br />
<br />
Como também foi motivo de alegria ter sido a mim confiada a missão de fazer correr sua declaração de voto em Dilma Rousseff em outubro de 2010, <strong><a href="http://butecodoedu.blogspot.com/2010/10/beth-carvalho-declaracao-de-voto.html" target="_blank">aqui</a></strong>.<br />
<br />
A Beth é isso, meus poucos mas fiéis leitores: generosa e grandiosa, glória brasileira.<br />
<br />
Deixo aqui minha homenagem, minhas flores em vida (sempre!), meus votos de muitos, muitos anos de vida e minha alegria exposta no balcão imaginário do buteco, que eu sou um sujeito que vibra demais no dia do aniversário dos meus mais-queridos. </div><br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="http://4.bp.blogspot.com/-0lgw84rxNIg/TcKb_OPpBeI/AAAAAAAADnI/pRN3QqfNeNs/s1600/rosas.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;" target="_blank"><img border="0" height="246" src="http://4.bp.blogspot.com/-0lgw84rxNIg/TcKb_OPpBeI/AAAAAAAADnI/pRN3QqfNeNs/s320/rosas.jpg" width="320" /></a></div><br />
<div style="text-align: justify;">Até.</div>Eduardo Goldenberghttp://www.blogger.com/profile/15844107600825502451noreply@blogger.com6tag:blogger.com,1999:blog-9999275.post-53476443987874152552011-05-03T15:45:00.005-03:002011-05-03T15:58:00.091-03:00MAIONESE E COMIDA DI BUTECO, PARCERIA JABALÂNDIA<div style="text-align: justify;">Acabo de receber de um amigo jornalista o seguinte <em>release</em> (pausa para o vômito) enviado a ele pela Imagem Corporativa, <em>"o parceiro brasileiro da Public Relations Organization International (PROI), maior e mais tradicional rede global de agências independentes de comunicação corporativa, com atuação em 26 países das Américas, Europa e Ásia"</em>.<br />
<br />
Trata-se do anúncio da premiação oferecida pela maionese Hellmann´s, ingrediente que não existe em nenhum buteco que se preze, para os bares participantes do festival da Jabalândia em Campinas (entenda as regras do festival lendo isso <strong><a href="http://butecodoedu.blogspot.com/2011/04/o-contrato-do-comida-di-buteco.html" target="_blank">aqui</a></strong>). Eis o texto do e-mail (em itálico) com meus singelos comentários.<br />
<br />
<em>"Os bares participantes desta edição do Comida di Buteco terão um motivo a mais para caprichar no seu petisco este ano. Hellmann’s distribuirá cerca de R$ 100 mil em prêmios para as melhores receitas preparadas com a verdadeira maionese.</em><br />
<br />
<em>“Este é o segundo ano de participação de Hellmann’s no Comida di Buteco, evento que é um sucesso e tem tudo a ver com a marca – é feito para pessoas que apreciam comida saborosa e sem complicação, como Hellmann’s”, explica a gerente de marketing da marca, Bianca Shen."</em><br />
<br />
Segundo a gerente de marketing, idônea para tratar do assunto, o festival tem tudo a ver com a marca. Em apertada síntese, nada tem a ver com botequim de verdade.<br />
<br />
<em>"Os prêmios serão distribuídos entre os bares das 15 cidades participantes do festival. Além da premiação oficial do Comida di Buteco, os dez bares com melhor classificação no evento, e que tiverem maionese na receita do petisco, receberão as quantias de R$ 3 mil, R$ 2 mil e R$ 1 mil – primeiro, segundo e terceiro lugares, respectivamente.</em><br />
<br />
<em>Este ano, dos 320 botecos de todas as cidade participantes, 65% terão a presença de maionese em suas receitas – um crescimento significativo em relação aos 48% do ano anterior. “As pessoas estão descobrindo o potencial gastronômico de Hellmann’s. Ao contrário do que muita gente pensa, o produto não talha nem perde o paladar e também não inibe o sabor da receita quando vai ao fogo. Pelo contrário, um toque de maionese pode dar um sabor a mais aos pratos ou petiscos mais variados”, completa Bianca."</em><br />
<br />
Chega a ser patética a dica da gerente de marketing, aventurando-se a falar sobre comida. O crescimento do número de bares que se rendem ao jabá apenas prova, de forma inequívoca, que esse festival (pernicioso, perigoso, abjeto!) é a morte da verdadeira tradição da comida de botequim! Desde quando, meus poucos mas fiéis leitores, maionese Hellmann´s tem potencional gastronômico?! Vamos em frente:<br />
<br />
<em>"Na cidade de Campinas, os botecos Bar do André o Rei do Mé, Bar do Carioca e Rei do Joelho são alguns do que vão oferecer petiscos com o delicioso ingrediente, em criações como carioquinha esperto, moela de macabu e lanche do rei.</em><br />
<br />
<em>Sobre o Comida di Buteco</em><br />
<br />
<em>Com a missão de resgatar e valorizar a culinária de raiz brasilieira, o concurso gastrômico Comida di Buteco – realizado desde 2000, chega em 2011 a 15 cidades do país, simultaneamente. São 329 botecos concorrendo ao prêmio de melhor boteco da cidade. Os resultados do Comida di Buteco são tão saborosos quanto os tira-gostos concorrentes. Apenas em 2010, foram vendidos 197.900 petiscos nas 11 cidades onde foi realizado. Além disso, o concurso vem contribuindo de forma relevante para a consolidação do "boteco" como um dos mais expressivos locais de prática da sociabilidade nacional e demarcando novos roteiros urbanos através da boa culinária de raiz. É um projeto que enaltece a cultura nacional sob a rica matriz da gastronomia."</em><br />
<br />
Pesquem a mentira e a sordidez da coisa: se a missão do festival é <em>"resgatar e valorizar a culinária de raiz brasileira"</em> (e o termo "de raiz" me causa engulhos) por que é que a maionese Hellmann´s entra no jogo?!<br />
<br />
<em>"Sobre Hellmann’s</em><br />
<br />
<em>Hellmann's oferece diversos sabores de maioneses e molhos para salada, além de ketchup e mostarda. O objetivo da marca é oferecer produtos simples e descomplicados, feitos de ingredientes naturais, agregando sabor, textura diferenciada e prazer às refeições. As maioneses e molhos para salada Hellmann’s não contêm gorduras trans, são fonte natural de gorduras boas, contêm ácidos graxos essenciais que não são produzidos naturalmente pelo organismo – ômega 3 e 6 -, além de vitaminas importantes. O portfólio de Hellmann's também traz produtos light e com baixo teor de colesterol."</em><br />
<br />
<em>"Agregando sabor, textura diferenciada e prazer às refeições"?</em> Parei por hoje.<br />
<br />
Até.</div>Eduardo Goldenberghttp://www.blogger.com/profile/15844107600825502451noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-9999275.post-4791257366712924982011-04-27T00:00:00.133-03:002011-04-27T09:23:15.927-03:0027 DE ABRIL, O QUADRAGÉSIMO SEGUNDO<div style="text-align: justify;">No exato instante em que este texto for publicado - zero hora do dia 27 de abril de 2011 - estarei a poucas horas de completar exatos 42 anos de vida, eis que vim ao mundo numa tarde de domingo, exatamente às 15h32min, no hospital da Ordem Terceira da Penitência, na Tijuca - onde mais? - único lugar possível para um sujeito como eu (e onde hei de morrer, que eu não sou maluco de morrer longe daqui). Estarei, como há tantos abris, logo pela manhã, passando a vida como num rolo de filme numa tentativa insana de viver de novo cada minuto desses pouco mais de 22 milhões de minutos vividos até então. Coisa pacas...<br />
<br />
Eu, que sinto-me mais que nunca uma múmia, velho, caquético, tenho no rosto bem mais que a marca de meus 42 anos. Tenho as marcas do sofrimento que enfrenta todo aquele que está vivo, que a vida não é de brincadeira e prega cada peça que vou lhes contar... Barba branca, dores nas costas, sístoles e diástoles assustadoras, ptose num dos olhos, por aí.<br />
<br />
E tenho como um de meus vícios (sou um homem que cultiva os próprios vícios dentro de uma estufa imaginária) fazer um balanço, ano após ano, pra ver como anda a maré.<br />
<br />
E eu não posso reclamar, em absoluto, do que tenho hoje dentro do balaio de meus 42 anos. Tenho a meu lado, há quase 12 anos, a mulher que me ensinou a sorrir, ainda que a roda-viva da vida nos tenha lançado um tremendo desafio no colo - mas eu sou da Tijuca, pô!, e faço diariamente, assim que chego do trabalho, uma sessão de embaixadinhas, trazendo o desafio nos pés, para fazê-la sorrir diante de mim. E quando ela sorri não há sofrimento capaz de me tirar o humor. Tenho meus pais vivos, e papai e mamãe são os verdadeiros sustentáculos desse edifício que ergui com meu nome. Digo sempre, em oração silenciosa, de mim para mim, que se eu não fui (e não sou) o filho que eles esperavam ao menos honrei (e honro, diariamente) as maiores e mais graves lições que deles recebi.<br />
<br />
Vai daí que sou - sei - um sujeito difícil. Mas muito dessa dificuldade (ou do que chamam "dificuldade") vem da minha postura absolutamente incorruptível que não me permite transigir com o que considero meia-palavra, meia-boca, traição, mentira, sordidez, canalhice, calhordice e falta de caráter. Esta, uma das razões pelas quais angario gente à minha volta com a mesma facilidade com que angario desafetos, e um homem sem desafetos, sem inimigos, é um projeto fracassado de homem. Tenho orgulho de cada um deles, de meus amigos e de meus desafetos, que são como medalhas que trago estampadas no peito como sinal de que acerto no trilhar do caminho que desenhei pra mim.<br />
<br />
Não tenho mais meus bisavós vivos, nem vivos estão meus avós, mas só um tolo afirmaria, com uma frieza que eu jamais conheci, que eles não estão vivos e ao meu lado. Tenho meus irmãos, e de sangue são dois. Tenho meus irmãos, e de fé são muitos - com a graça dos deuses a quem agradeço e louvo todos os dias. Tenho uma exército de moças, queridas minhas, minhas comadres, minhas afilhadas, irmãs que ganhei durante a trilha, a me embelezar o caminho. Não tenho, de fato, do quê me queixar.<br />
<br />
Há uma - e apenas uma - queixa, apenas (antes que meus detratores empunhem as armas, foi de propósito esse repetir do "apenas"). Sinto cada vez mais distante o moleque no colo da mãe, no curso de 1969. Eu tinha, ali, os olhos cheios de uma inocência que se esvaiu com o passar dos anos. Lembro-me de que certa vez, não lembro quando, escreveu-me o bom Szegeri, um de meus orixás vivos. Tendo visto uma foto minha, escreveu-me pra dizer que havia visto, nos meus olhos, o oco onde antes havia o brilho, a dor onde antes reluzia alegria. Não estava de todo errado, meu irmão. Talvez eu sofra demais por tentar manter aceso esse brilho, por tentar suprir a ausência de um filho, por tentar dizer sim, todos os dias, quando a vida me acena com não.<br />
<br />
Mas eu sou tijucano, pombas!, e aprendi nas ruas, no asfalto da vila na qual fui criado, a dobrar o tempo e a viver de arremessos capazes de me fazer ganhar o axé necessário pra seguir de cabeça erguida, queixo (que eu não tenho) pra frente e de braços abertos. Aos que vira-e-mexe me dizem <em>"pare de comprar briga, Edu!"</em>, respondo sem medo do erro que é disso, também, que me alimento. Se eu preciso de paz, faço a guerra pra que tenha melhor sabor a paz quando chegar. Se eu preciso de luz, armo o breu absoluto pra que uma nesga de claridade me sirva como guia.<br />
<br />
É esse movimento que mantém vivo. Há 42 anos. Escolhi, por ser feliz assim, viver na encruzilhada.<br />
<br />
</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="http://1.bp.blogspot.com/-AgM27hcBARU/TbcJHxpnB5I/AAAAAAAADmw/3E4vmw8WScw/s1600/mam%25C3%25A3e+e+eu+1969.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;" target="_blank"><img border="0" height="240" src="http://1.bp.blogspot.com/-AgM27hcBARU/TbcJHxpnB5I/AAAAAAAADmw/3E4vmw8WScw/s320/mam%25C3%25A3e+e+eu+1969.jpg" width="320" /></a></div><br />
Até.Eduardo Goldenberghttp://www.blogger.com/profile/15844107600825502451noreply@blogger.com17tag:blogger.com,1999:blog-9999275.post-49588839489025532262011-04-25T13:20:00.011-03:002012-01-18T02:20:02.083-02:00O CONTRATO DO COMIDA DI BUTECO<div style="text-align: justify;">ESTE TEXTO AGORA PODE SER LIDO <b><a href="http://butecodoedu.wordpress.com/2011/04/25/o-contrato-do-comida-di-buteco/">AQUI</a></b>.</div>Eduardo Goldenberghttp://www.blogger.com/profile/15844107600825502451noreply@blogger.com29tag:blogger.com,1999:blog-9999275.post-75677813370992624812011-04-19T11:25:00.001-03:002013-05-09T12:46:35.030-03:00PAPAI TAMBÉM É FÓBICO<div style="text-align: justify;">
ESTE TEXTO PODE SER LIDO <b><a href="http://butecodoedu.wordpress.com/2011/04/19/papai-tambem-e-fobico/">AQUI</a></b></div>
Eduardo Goldenberghttp://www.blogger.com/profile/15844107600825502451noreply@blogger.com6tag:blogger.com,1999:blog-9999275.post-86445138543679138002011-04-19T08:30:00.001-03:002011-04-19T12:52:14.842-03:00ISSO É COMIDA DI BUTECO?<div style="text-align: justify;">Recebi, ontem à noite, e-mail de uma de minhas poucas mas fiéis leitoras - de Belo Horizonte. Trata-se de uma moça que, à minha moda, revolta-se com a invasão de sua cidade por parte da horda de consumidores e seguidores da moda imposta pela mídia brasileira por conta do nefasto, nocivo e pernicioso festival Comida di Buteco, o festival da Jabalândia (leiam <strong><a href="http://butecodoedu.blogspot.com/2011/04/vai-comecar-o-festival-jabalandia.html" target="_blank">aqui</a></strong>).<br />
<br />
E eu, que já havia inaugurado a série através da qual pretendo exibir as criações grotescas dos bares e botequins que se rendem às garras do festival <strong><a href="http://butecodoedu.blogspot.com/2011/04/isso-e-comida-di-buteco.html" target="_blank">aqui</a></strong>, volto à carga hoje pondo no balcão virtual o prato concorrente no festival em Belo Horizonte, nascedouro do troço, do Bar da Cida.<br />
<br />
Eu, que não conheço o Bar da Cida e tampouco a própria Cida, falarei muito à vontade sobre o Floramar, que eles, organizadores, chamam de tira-gosto. O Floramar é, a foto é clara, uma gororoba de tremendo mau gosto que mais se assemelha a um <em>outdoor</em> disfarçado de tira-gosto. </div><br />
<center><a href="http://2.bp.blogspot.com/-nB9NP2pvPts/Ta1yVhihUmI/AAAAAAAADmA/hvXVBaq2cPs/s1600/image007.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;" target="_blank"><img border="0" height="143" src="http://2.bp.blogspot.com/-nB9NP2pvPts/Ta1yVhihUmI/AAAAAAAADmA/hvXVBaq2cPs/s320/image007.jpg" width="320" /></a></center><br />
<div style="text-align: justify;">Trata-se de <em>"carne de sereno, mandioca, cebola, alho, suco de siriguela, cogumelo fatiado, maionese, amido de milho, vinho, azeite, couve-flor, pimenta biquinho e cheiro verde"</em>. Perderam o fôlego ou vomitaram lendo os ingredientes?<br />
<br />
A foto - ah, a Jabalândia... - exibe a marca Hellmann´s (a maionese é uma das patrocinadoras da coisa) e a cerveja Bohemia, há muitos anos intragável.<br />
<br />
Como os meus botequins de fé servem pratos que se resumem a uma palavra, duas no máximo (torresmo, pele, ovo colorido, carne-seca, lingüiça, por aí...), acho inacreditável a imposição do festival. Daí temos, além desse horror exposto hoje<em>, "farofa de feijão andu com bacon puxado na manteiga de garrafa"</em> (puxado?),<em> "ossobuco desmanchado e carne de sol perfumados com limão siciliano em cama de angu e nacos de requeijão de raspa"</em> (desmanchado?, perfumados?, cama?, nacos?),<em> "lombo assado na maionese"</em> (na maionese?),<em> "surubim em cubos"</em> (em cubos?) e um bolinho de carne-de-sol<em> "finalizado com maionese"</em> (finalizado com maionese?).<br />
<br />
Se no Bar do Marreco, no Almara, no Bar do Chico, no Pink, no Columbinha, em qualquer outro do mesmo nível (todos portentosos butecos tijucanos), eu sonhar em pedir um desses troços no balcão, serei olhado com uma desconfiança irreversível.<br />
<br />
<div style="text-align: justify;">Diante disso, resta-me dizer: fujam dos bares que participarão do festival, evitem esbarrar com os histéricos e com as histéricas no interior dos bares, onde eles terão chegado em vans alugadas para fazer o roteiro proposto pelos organizadores, não sejam idiotas a ponto de ficarem por aí conjugando o verbo proposto pelo festival - <em>"Eu boteco, tu botecas, nós Comida di Buteco"</em> -, não permitam que esse evento conspurque sua cidade e seu botequim preferido. Eu, ao menos, tenho imenso orgulho de dizer (e sou grato por isso) que os meus butecos de fé não participam dessa roleta-russa que visa, precipuamente, o lucro de quem, em pele de cordeiro, faz o papel do lobo devastador do sistema capitalista.</div><div style="text-align: justify;"></div><div style="text-align: justify;">Até.</div> </div>Eduardo Goldenberghttp://www.blogger.com/profile/15844107600825502451noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-9999275.post-1421756685496483392011-04-18T11:50:00.004-03:002011-04-19T09:24:57.450-03:00BOECHAT, UM FÓBICO<div style="text-align: justify;">Eu não sei se já lhes contei isso (acho que já). Se já contei, conto de novo. Se ainda não contei, segue a nota inédita: uma das mais estranhas confissões que já recebi me foi feita por meu compadre, meu dileto amigo, Leonardo Boechat. Sei lá onde estávamos e muito menos sei qual o assunto que estava em pauta. Só sei que num determinado momento ele pôs o copo de cerveja na mesa (estávamos no Almara, fabuloso pé-sujo na Tijuca, lembrei), enxugou a testa com o antebraço e disse, soturníssimo:</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">- Preciso te contar uma coisa.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Quando alguém me diz "preciso te contar uma coisa" dá-se em mim um frio na barriga, desses que os atores sentem na noite da estréia. A frase, em si, é uma janela aberta para o infinito, como dizia meu mestre, Nelson Rodrigues. Pois fui, imeditamente, solidário na máscara triste e severa que meu amigo encarnava:</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">- Sou todo ouvidos.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Seus lábios começaram a tremer num balé muscular descompassado que foi dando contornos de dramaticidade à cena. Ele deu um gole demorado, tornou a encher o copo, pediu outra garrafa ao Paulo, pôs uma das mãos em meu ombro e disse, olhando para o chão:</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">- Eu nunca fui a um velório. Nunca fui a um enterro. Nem de parente! Nem de parente! - e foi quase chorando que ele gemeu a confissão.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Fiquei sem entender o porquê daquela revelação. Fui, entretanto, e mais uma vez, solidário:</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">- Entendo... - mas menti, faço agora a confissão.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Pois dito isso, vamos ao que quero lhes contar.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Estava eu em casa, ontem à tarde, quando bateu-me o telefone, justamente, o Leonardo Boechat. Havíamos estado juntos, pela manhã, no Bar do Chico, na Tijuca, na domingueira matinal. Disse-me ele:</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">- Topas ir na casa da minha mãe agorinha mesmo? Quero que você conheça meu tio Plácido.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Não podia dizer não. O Boechat tem, pelo tio Plácido, uma fascinação de fã, uma adoração, uma afeição imensa, e eu, que já conhecia incontáveis histórias envolvendo seu tio, não perderia a oportunidade (Plácido não mora no Rio):</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">- Topo!</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Fui buscá-lo. Boechat estava numa festa de criança, na rua Alice, em Laranjeiras. Saí da Haddock Lobo, dobrei na Matoso, peguei a Barão de Itapagipe, a rua do Bispo, cruzei a Paulo de Frontin, ganhei a rua Estrela, dobrei à direita na Barão de Petrópolis, atravessei o túnel e lá estava eu na rua Alice, deslizando na descida quando avistei o bom Leo. Assim que ele sentou-se no banco do carona, disse eu:</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">- Estou sentindo uma coisa estranha... - e eu não mentia, por óbvio.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Percebi os olhos boechatianos voltando-se para mim. Eu prossegui:</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">- Estou com o braço esquerdo, na altura do ombro, formigando. Sinto como se os músculos estivessem sendo repuxados para cima. E o formigamento avança, chega nos dedos da mão...</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Ele disse, com o mesmo gesto de enxugar a testa (Leo é calvíssimo):</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">- Você está infartando! Casa de Saúde São José, imediatamente!</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Eu, que tenho pânico de médico (só vou ao meu homeopata em caso extremo de sintomas muito evidentes), disse:</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">- Nenhuma chance. Vamos direto pra sua mãe.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Ele ainda tentou, durante o trajeto até o Humaitá, me convencer do contrário. Em vão.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Mas eis o que ocorreu: permaneci na casa de sua mãe - que é médica, diga-se - por umas duas horas (e valeu cada minuto, o Plácido é, de fato, um grande praça, sua mãe também). E durante 120 minutos o Leo parecia o que minha avó chamava de barata-tonta.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">- Como tá o braço?</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">- Piorando.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">E ele suava, sapateava sobre os tacos da sala em sinal de nervosismo e desespero.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">- Quer que eu peça pra minha mãe tirar sua pressão?</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">- Não vai adiantar nada.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Até que eu disse:</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">- Leo?</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Ele atropelou o vaso de antúrios que nos separava:</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">- Fala! Fala!</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">- Já pensou?</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Ele ganindo:</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">- O quê?! O quê?!</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">- Se eu morrer aqui...</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Ele ajoelhou-se. Juntou as mãos em prece pagã:</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">- Não! Aqui não...</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Continuei:</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">- ... muito justo que a parentalha saia com nojo do cadáver... Você terá de ficar me velando, fazendo quarto, até chegar a ambulância...</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Ele, dirigindo-se aos parentes na cozinha:</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">- Gente, o Edu tá indo, ele tem hora!</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">E ele foi, efetivamente, me varrendo com as duas mãos, os olhos aterrados, empurrou-me pra dentro do elevador, fez questão de apertar o botão pra que eu descesse, ficou na janela pra se certificar de que eu partira.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Vejam vocês, fiquei com dó do meu bom amigo. A simples possibilidade, ainda que remota (eu não morreria fora da Tijuca) de velar alguém, de tomar conta de um defunto por algumas horas, trucidou o final de tarde do Boechat.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Era o que eu queria lhes contar.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Até.</div><div align="justify"></div>Eduardo Goldenberghttp://www.blogger.com/profile/15844107600825502451noreply@blogger.com6tag:blogger.com,1999:blog-9999275.post-90138902863417349552011-04-16T09:00:00.001-03:002011-04-16T09:15:33.518-03:00ISSO É COMIDA DI BUTECO?<div style="text-align: justify;">Ontem iniciei mais uma cruzada contra esse engodo que atende pelo nome Comida di Buteco - leiam <strong><a href="http://butecodoedu.blogspot.com/2011/04/vai-comecar-o-festival-jabalandia.html" target="_blank">aqui</a></strong>. Pois volto à carga hoje - e será assim durante os 30 dias de duração do troço - para exibir uma ignomínia sem tamanho, exaltada, é claro, pelo Festival da Jabalândia.<br />
<br />
Um dos participantes do circo, aqui no Rio de Janeiro (e outras 14 cidades estão sendo, ao mesmo tempo, conspurcadas pelo negócio), é o Bar 20, em Ipanema, na zona sul. No <em>site</em> do Comida di Buteco lê-se que o tal bar concorre com um petisco (tenho nojo desse nome) chamado "20 Salpicá", e o nível da piada que cerca o nome da horrenda criação é um bom indicativo da qualidade de coisa ("vim te salpicar"). O que diz o <em>site</em> (vejam <strong><a href="http://www.comidadibuteco.com.br/boteco/137" target="_blank">aqui</a></strong>) sobre o concorrente?<br />
<br />
Que trata-se de um <em>"salpicão de feijão com palha de carne-seca e vários ingredientes"</em>. Que tal? A foto está abaixo. </div><br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="http://3.bp.blogspot.com/-YHeW4X-Qp2w/TamClH9T1II/AAAAAAAADls/hB8aoDpPlSo/s1600/20+salpic%25C3%25A1+bar+vinte.bmp" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="http://3.bp.blogspot.com/-YHeW4X-Qp2w/TamClH9T1II/AAAAAAAADls/hB8aoDpPlSo/s320/20+salpic%25C3%25A1+bar+vinte.bmp" width="209" /></a></div><br />
<div style="text-align: justify;">É justo na desonesta informação - "vários ingredientes" - que se esconde o tesouro do Reino da Jabalândia. Como a maionese Hellmann´s patrocina o evento no Rio de Janeiro (e como se sabe um bom buteco não pode dispensar a maionese nos pratos que oferece, não é mesmo?), lá está ela. Esse troço é, na verdade, um patê de feijão com maionese Hellmann´s.<br />
<br />
O <em>site</em> de notícias R7 (<strong><a href="http://noticias.r7.com/rio-de-janeiro/noticias/concurso-vai-escolher-a-melhor-comida-de-buteco-do-rio-de-janeiro-20110415.html" target="_blank">aqui</a></strong>) revela o que os organizadores escondem. Lê-se lá:<br />
<br />
<em>"A escolha dos ingredientes foi feita pelo gastrônomo e realizador do concurso, Eduardo Maya.</em><br />
<br />
<em>- O objetivo do concurso Comida di Buteco é resgatar a culinária de raiz do Brasil. Por isso busquei em nossos ancestrais colonizadores portugueses e índios os ingredientes que hoje conhecemos bastante na composição da feijoada."</em><br />
<br />
Ora, a <em>"culinária de raiz do Brasil"</em> (a expressão também me causa engulhos) usa maionese e eu não sabia! <em>"Nossos ancestrais colonizadores portugueses e índios"</em> usavam maionese e eu não sabia!<br />
<br />
No R7 a descrição é mais fiel e, portanto, nos dá a exata dimensão do horror que o Bar 20 oferece: <em>"salpicão feito com feijão, milho, pimenta, cenoura, tomates secos, pimentões sortidos e maionese aromatizada com suco de laranja. É servido com palha de carne seca e torradas"</em>.<br />
<br />
Por isso eu repito: fujam dos bares que participarão do festival, evitem esbarrar com os histéricos e com as histéricas no interior dos bares, onde eles terão chegado em vans alugadas para fazer o roteiro proposto pelos organizadores, não sejam idiotas a ponto de ficarem por aí conjugando o verbo proposto pelo festival - <em>"Eu boteco, tu botecas, nós Comida di Buteco"</em> -, não permitam que esse evento conspurque sua cidade e seu botequim preferido. Eu, ao menos, tenho imenso orgulho de dizer (e sou grato por isso) que os meus butecos de fé não participam dessa roleta-russa que visa, precipuamente, o lucro de quem, em pele de cordeiro, faz o papel do lobo devastador do sistema capitalista.<br />
<br />
Até.</div>Eduardo Goldenberghttp://www.blogger.com/profile/15844107600825502451noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-9999275.post-37586817406043835322011-04-15T11:00:00.003-03:002011-04-15T13:11:10.361-03:00VAI COMEÇAR O FESTIVAL JABALÂNDIA<div style="text-align: justify;">A expressão "jabalândia" foi criada por meu chapa, Julio Bernardo, que mantém um <em>blog</em>, bastante polêmico, sobre gastronomia - <strong><a href="http://www.botecodojb.blogspot.com/" target="_blank">aqui</a></strong>. E eu a uso sempre que me refiro ao festival Comida di Buteco, para o qual enviei carta aberta em maio de 2010 (leiam <strong><a href="http://butecodoedu.blogspot.com/2010/05/carta-aberta-aos-organizadores-do.html" target="_blank">aqui</a></strong>), jamais respondida, diga-se, muito embora uma das sócias do empreendimento, Maria Eulália Araújo, tenha me batido o telefone, no ano passado, como já lhes contei:</div><br />
<div style="text-align: justify;"><em>"Foi simpática e incisiva durante o telefonema. Disse-me, entre outras coisas, que eu havia sido injusto quando escrevi o que escrevi ontem, </em><a href="http://butecodoedu.blogspot.com/2010/05/comida-di-buteco-2010-vai-comecar.html" target="_blank"><strong><em>aqui</em></strong></a><em>; que eu, como jornalista (foi o que ela disse, depois corrigi o equívoco), deveria apurar tudo sobre o festival para depois escrever sobre ele; que é uma luta colocar o "festival na rua"; que as críticas que fiz, noutras oportunidades, deveriam ser relevadas, eis que as indicações dos bares participantes das últimas edições, aqui no Rio, haviam sido feitas por "especialistas no assunto", como Guilherme Studart e Moacyr Luz (por isso lembrei-me do tal projeto, citado no início); que minha crítica à inclusão de bares com redes de franquia ou com filiais não era de todo correta, pois no ano passado apenas duas casas (Academia da Cachaça e Siri) se enquadravam nessa condição. E convidou-me para uma conversa na semana que vem; e, por fim (houve mais, mas estou aqui fazendo apertada síntese), que eu desonrava minha participação no júri do ano passado esculhambando o festival."</em></div><br />
<div style="text-align: justify;">Bom, vamos aos fatos e ao que quero lhes contar hoje.</div><br />
<div style="text-align: justify;">Justiça seja feita (sou, além de preciso do início ao fim, justíssimo): os organizadores do festival (que tem entre seus patrocininadores a maionese Hellmann´s, a Nestlé e o biscoito Doritos que, como se sabe, são ingredientes fundamentais a qualquer comida de botequim..., além das cervejas Bohemia, Itaipava e Kaiser, a TV Globo e a Band, O Boticário e a cachaça Ypióca) não inscreveram nenhum bar com filial (uma crítica minha ferrenha, desde a primeira edição), ao menos no Rio de Janeiro. Não sei quanto às outras cidades (são 15 cidades participando do troço) - se você que me lê puder me ajudar quanto a isso, agradeço.</div><br />
<div style="text-align: justify;">O festival começa hoje, 15 de abril, e vai até o dia 15 de maio, o que significa dizer que no dia de meu aniversário, 27 de abril, como se já não bastasse dividir a data com o inacreditável Dia Municipal do Teatro de Bonecos, iniciativa do vereador Eliomar Coelho (como lhes contei <strong><a href="http://butecodoedu.blogspot.com/2009/07/27-de-abril.html" target="_blank">aqui</a></strong>), a cidade estará, ainda, conspurcada por esse pernicioso festival.</div><br />
<div style="text-align: justify;">Se você me considera um radical, um incapaz de tecer qualquer crítica sem o coração à frente, leia - recomendo com entusiasmo! - o que escreveu, sobre o Comida di Buteco, Luiz Antonio Simas, Historiador maiúsculo, professor as 24h do dia, um de meus mestres, <strong><a href="http://hisbrasileiras.blogspot.com/2010/05/comida-di-buteco-o-evento.html" target="_blank">aqui</a></strong>. Fala, Simas:</div><br />
<div style="text-align: justify;"><em>"O que esse Comida di Buteco propõe, infelizmente, se inscreve numa inversão perigosa: é um exemplo bem acabado - e assustadoramente corriqueiro - de submissão da cultura à economia. Explico.<br />
<br />
A ideia do festival me parece ser a de transformar o que seria cultura de botequim em um bom negócio para todos. Tento acreditar, sinceramente, nas boas intenções do babado e é possível que os envolvidos no evento achem de fato que estão valorizando o boteco. Sinto dizer que não estão.<br />
<br />
O problema é que ao invés de entender a economia como parte constitutiva da cultura - esse poderoso campo que engloba nossos atos e nos define como homens humanos - essa perspectiva inverte tudo e transforma a cultura em parte constitutiva da economia - esse campo que, quando determinante, nos define como meros consumidores, desumanizados por conseguinte.<br />
<br />
Insisto: a economia é que deveria ser encarada como um dos aspectos da cultura. O festival transforma a cultura em um mero elemento submetido aos ditames do mercado. Quando isso acontece, o que era cultura perde toda a carga de representações de modos de viver dos homens e se transforma, esvaziada de sua dimensão vital, em simples evento ou entretenimento, como queiram.<br />
<br />
O Comida di Buteco é isso: um evento, desprovido de qualquer outro valor que não seja o de movimentar a economia da cidade, divulgar os patrocinadores, difundir a imagem dos participantes e aumentar o faturamento dos restaurantes envolvidos - objetivos legítimos, diga-se de passagem, ainda que não me comovam e que eu lhes faça sérias restrições.<br />
<br />
O problema - gravíssimo! - é que a cultura, quando transformada e empobrecida em mero evento, morre. O festival, sob o pretexto de valorizar o botequim, joga contra exatamente o que diz querer valorizar.<br />
<br />
Quando digo que a cidade tem alma, uso evidentemente uma metáfora para demonstrar que a cidade tem cultura. O botequim é, pois, um dos elementos constitutivos da cultura carioca. Certa feita escrevi o seguinte sobre o tema:<br />
<br />
O buteco é a casa do mal gosto, do disforme, do arroto, da barriga indecente, da grosseria, do afeto, da gentileza, da proximidade, do debate, da exposição das fraquezas, da dor de corno, da festa do novo amor, da comemoração do gol, do exercício, enfim, de uma forma de cidadania muito peculiar. É a República de fato dos homens comuns...<br />
<br />
É o nosso jeito, a nossa maneira, de recriar o mundo, inventar a vida, beber o passado, digerir o presente e projetar futuros. Nos definimos, dessa forma, como membros do nosso grupo e criadores de cultura - humanizados, portanto.<br />
<br />
O Comida di Buteco cumpre muito bem o objetivo de agitar a cidade, movimentar a economia, colocar as pessoas na rua e o escambau. Não consigo, porém, deixar de ouvir uma voz, vinda sabem os deuses de onde [será o rugir do rótulo da maionese patrocinadora da coisa ?] , que parece inverter as lições do velho vagabundo:<br />
<br />
- Não sois homens! Consumidores é que sois!<br />
<br />
Tolo é quem pensa que o homem é desprovido da humanidade que lhe define quando morre. Mesmo morto, defuntinho da silva, o homem segue vivo na memória da sua gente, como dinamizador, pela lembrança, da tradição.<br />
<br />
O homem só é desprovido de sua radical humanidade - morto, sem vitalidade -quando deixa de criar cultura e vira um reles espectador de uma vida que já não lhe é mais pertencimento."</em></div><br />
<div style="text-align: justify;">Diante disso, resta-me dizer: fujam dos bares que participarão do festival, evitem esbarrar com os histéricos e com as histéricas no interior dos bares, onde eles terão chegado em vans alugadas para fazer o roteiro proposto pelos organizadores, não sejam idiotas a ponto de ficarem por aí conjugando o verbo proposto pelo festival - <em>"Eu boteco, tu botecas, nós Comida di Buteco"</em> -, não permitam que esse evento conspurque sua cidade e seu botequim preferido. Eu, ao menos, tenho imenso orgulho de dizer (e sou grato por isso) que os meus butecos de fé não participam dessa roleta-russa que visa, precipuamente, o lucro de quem, em pele de cordeiro, faz o papel do lobo devastador do sistema capitalista.</div><br />
<div style="text-align: justify;">Até.</div>Eduardo Goldenberghttp://www.blogger.com/profile/15844107600825502451noreply@blogger.com8tag:blogger.com,1999:blog-9999275.post-57123891645045046182011-04-14T11:50:00.002-03:002011-04-14T13:52:07.001-03:0042 ANOS - COMEÇOU O ARREMESSO AO PASSADO<div style="text-align: justify;">Quem me lê com freqüência sabe que sou um homem por diversas vezes acometido por verdadeiros surtos de arremesso violento em direção ao passado.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Esses arremessos - e faço constantemente menção a eles - acontecem, quase sempre, de forma involuntária. Explico.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Estou no carro deslizando pelas ruas da Tijuca. Passo, por conta do caminho necessário, diante do número 84 da rua São Francisco Xavier. É o que basta: estou, em questão de segundos, com 10 anos de idade, calças curtas e camisa listrada, jogando bola de meia na vila onde moraram meus avós. Estou na cozinha e diante de mim, sobre a pia, a cesta de frutas onde repousam algumas bananas. Se ocorre de eu esbarrar o olhar, num átimo de segundo, no açucareiro, lá vou eu cortar a banana ao meio, no sentido longitudinal, pô-la num prato de louça, fatiá-la com a faca em pequenos quadrados sem tirar a casca, pôr um punhado de açúcar ao lado e comer à moda de minha bisavó. Se vou à Teresópolis, ou mesmo se passo por lá a caminho de Nova Friburgo, ouço a voz de minha tia Zirota com uma nitidez capaz de fazer qualquer psiquiatra pedir arrego diante de mim. E por aí vai.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Ocorre que com a aproximação do dia 27 de abril, dia em que nasci - na Tijuca, evidentemente - esses arremessos ao passado passam a ocorrer com mais freqüência, muitos deles provocados por mim. Volto a explicar.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Hoje mesmo, 14 de abril, saltei da cama, serelepe, às 03h20min da manhã. Aqui, um pequeno parêntese. Sou mais filho do meu pai do que supõe meu DNA. Papai, que é um homem que anda com frases feitas no bolso e que são por ele repetidas com cômica assiduidade, acorda, há anos, por volta desse horário. E é encontrar o velho pra ele começar:</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">- Hoje acordei tarde... - e ele faz cara de quem espera a reação já ensaiada.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Às vezes é meu irmão que o interpela:</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">- É? A que horas?</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">E ele, dotado de inexplicável orgulho:</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">- Três e quinze!</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Captaram?</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Mamãe e minha menina vira-e-mexe tricotam, e eu pesco:</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">- Maria, o Eduardo está ficando igual ao Isaac! - com uma máscara de terror no rosto.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Mamãe bate na mesinha de madeira mais próxima:</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">- Minha filha, abra o olho, abra o olho! E que ele copie só as coisas boas!</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Minha garota emenda:</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">- Tem acordado cada vez mais cedo...</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Dá-se novas batidinhas na madeira:</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">- Ai, ai, ai... - em tom de lamúria.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">E fecho os parêntesis.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Pois bem. Eu, que de fato acordo cedíssimo, acordei hoje às 03h20min - o que não é, é claro, comum - por conta de um arremesso ao passado típico da véspera de meus aniversários. Dá-se em mim, nos abris, uma sensação que, em 2006, aqui mesmo no <em>blog</em>, assim defini:</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;"><em>"Há, em mim, constantemente, e mais em abril do que em qualquer outro mês, uma permanente gana de dizer o que já foi dito, de escrever o que já foi escrito, de inventar o que já está inventado há dezenas, centenas, milhares de abris."</em></div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Pois hoje, às 03h20min da manhã, fui à cozinha, preparei meu café preto, acendi meu primeiro cigarro do dia, fiz festinha no meu vira-latas, chorei sem razão aparente e fui ao banheiro atestar, diante do espelho, o quanto de tempo se acumula em mim, nos meus olhos com ptose, na minha visão discretamente míope, nos fios brancos da barba rala que carrego no rosto, e só recuperei o humor quando voltei ao quarto, já de banho tomado, por volta das 5h. Escuro, ainda, o som do ar-condicionado e aquela voz baixinha e rouca saindo debaixo do cobertor:</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">- Tu tá ficando igualzinho ao teu pai...</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Perto de completar 42 anos, não é exatamente fácil perceber o quão distante vou ficando daquele menino que jogava bola de meia na vila da São Francisco Xavier. A luta permanente para mantê-lo vivo dentro de mim é, estou a cada dia que passa mais certo disso, o que me sustenta o ânimo e que me mantém.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Até.</div>Eduardo Goldenberghttp://www.blogger.com/profile/15844107600825502451noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-9999275.post-54039129646491924342011-04-06T09:15:00.004-03:002011-04-06T17:09:16.681-03:00VOVÓ FAZ ANOS AMANHÃ<div style="text-align: justify;">Amanhã, 07 de abril, a 20 dias dos meus 42 anos, minha avó faz anos. Dirão meus mais fiéis leitores, e os de melhor memória, que vovó morreu em dezembro. E eu negarei diante dos devaneios que esta foto, que tantos textos já ilustrou por aqui (é, de fato, uma de minhas preferidas), me provoca. Cá estou eu, de calças curtas e camisa listrada, tendo à minha direita minha mãe, à minha esquerda minha avó e na extrema esquerda (extrema direita da foto, notem minha precisão), minha bisavó - mãe de vovó. Estamos todos diante da mureta que havia na casa da vila onde moravam meus avós (minha bisavó junto, sempre), na Professor Gabizo, bem próximo à Heitor Beltrão, na Tijuca evidentemente. </div><br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="http://4.bp.blogspot.com/-8ImRJUYZkcw/TZxSgRYkFYI/AAAAAAAADlk/nKFNDnmaqd0/s1600/IMG_2291.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="240" r6="true" src="http://4.bp.blogspot.com/-8ImRJUYZkcw/TZxSgRYkFYI/AAAAAAAADlk/nKFNDnmaqd0/s320/IMG_2291.JPG" width="320" /></a></div><br />
<div style="text-align: justify;">Será, de fato, seu primeiro aniversário, em 41 anos de vida, sem sua presença tangível. E eu falei "tangível" e por isso quero dividir com quem me lê um troço que há tempos, hoje mais agudamente, me encasqueta: problema grave na história do homem é a religião. A religiosidade, não. A religiosidade é de uma boniteza que comove.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Explico.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Amanhã vou fazer meu café, pela manhã, e vou servir uma xícara de café com leite, como ela gostava, e vou oferecer a ela - com torradas. Dirão alguns, bradando aos céus, que estou louco. Vovó descansa no reino dos céus, plácida e tranqüila ao som das harpas dos anjos - nem à fórceps! Vovó era agitada que só ela, não dispensava o pôquer com as amigas todas as sextas-feiras, no Méier, andava pra lá e pra cá de ônibus, conhecia os motoristas pelo nome, fazia o supermercado, não perdia uma novela. Não estaria, jamais, no tal reino. Dirão outros que eu devo deixar vovó descansar, que devo contribuir para seu desprendimento, por aí. Ora, meus poucos mas fiéis leitores... o que mais pode desejar uma avó, e que seja no dia de seu aniversário, do que o carinho comovido de um de seus netos? Onde vive minha avó se não em mim? O que pode haver de mais bacana, nessas horas, além da perfeita conjunção de sentimentos de afeto em estado bruto? Como dizer a vocês, com as palavras - que por vezes me fogem - o quanto de alegria e felicidade me proporcionarão os pequenos gestos que a ela dedicarei no dia de seu nascimento? Leve flores ao cemitério, dirão os mais contidos. Ao cemitério? Foi lá, no cemitério - que de certa forma foi cômico, como lhes contei <strong><a href="http://butecodoedu.blogspot.com/2010/12/vovo-1924-2010.html" target="_blank">aqui</a></strong> - que vivi um dos mais duros momentos da minha vida (que não tem sido fácil...), vendo descer o caixão que guardava dona Mathilde... Fazer o quê no cemitério? Os céticos, os ateus, balançarão cabeças com dó de tamanha insanidade: vovó acabou, dirão sapateando sobre a memória, sobre a saudade, sobre a religiosidade - e é aqui que eu queria chegar.<br />
<br />
Se temos que a religião é um sistema de doutrinas (sistema!!!!!), de crenças, de práticas rituais próprias de um grupo social, estabelecido segundo uma determinada concepção (concepção!!!!!) de divindade e da sua relação com o homem, e se temos que a religiosidade é mera tendência para os sentimentos de religar, e se eu sou um homem movido por sentimentos, desde que nasci, se sou alma e coração em estado bruto, se choro ouvindo os tambores da macumba, se fico atento aos conselhos dos caboclos, se faço comida pra Orixá, se tomo passe em centro espírita, se mal consigo falar seguindo a procissão de meus santos mais afins, se ligo aos prantos, todo segundo domingo de outubro pra falar com minha comadre Railídia, paraense e como toda paraense devota de Nossa Senhora de Nazaré, se chamo São Jorge de Ogum e se deito meu ilekê sobre o cavalo de São Jorge que pertencia ao congá do terreiro de xambá da avó do Simas, se me consulto com um médico que já morreu há anos, como é que alguém pode querer que eu siga determinado sistema de doutrinas?!<br />
<br />
Eu quero é festa, eu quero é me emocionar, pombas! Por isso amanhã vou preparar o café da manhã de minha avó, vou enfeitar a casa com rosas brancas, vou chamá-la pra contar a ela as novidades, vou espalhar água de cheiro pela casa, vou pôr Orlando Silva pra cantar, e se me der na telha ainda compro bolo de aniversário pra comer de sobremesa à noite, depois do jantar. Devidamente encerrado com uma dose de vinho do Porto... porque eu vou lhes contar uma coisa... Vovó nunca dispensou as doses (no plural!, no plural!) de vinho do Porto quando ia jantar lá em casa, uma vez por semana.<br />
<br />
Era o que eu queria lhes contar. Chama, dona Mathilde, chama!<br />
<br />
Até.<br />
<br />
<strong>pós-escrito às 16h55min</strong>:<br />
<br />
Impossível não fazer o adendo. Estava eu em Copacabana, por volta das 15h50min, saindo de um compromisso profissional, caminhando pela Nossa Senhora de Copacabana à espera de um táxi. Sinal fechado, fiz o sinal. Parou um Palio Weekend, entrei. No painel, um adesivo da cooperativa Táxi Garibaldi. Vamos ao contexto. A Táxi Garibaldi tem ponto justamente na rua Garibaldi, na Tijuca. Uma transversal da rua General Espírito Santo Cardoso, onde residia minha avó. Achei graça daquilo e fiz a blague:<br />
<br />
- A cooperativa que minha avó mais usava...<br />
<br />
O motorista:<br />
<br />
- É?<br />
<br />
- Morreu em dezembro, fará 87 anos amanhã...<br />
<br />
Ele virou-se pra mim e disse:<br />
<br />
- Dona Mathilde? A baixinha e cheirosa? Morreu?<br />
<br />
Nem consegui responder. Eu já guinchava no banco do carona de tanto que chorava. Liguei pra mamãe, contei a história. Liguei pra minha menina, contei a história. O motorista - seu José - já fungava ouvindo tudo. Era, pra mim, sinal evidente de que vovó se fazia presente.<br />
<br />
E pra não perder o fio da meada do texto que escrevi hoje pela manhã, vamos lá.<br />
<br />
Dirão os céticos: trata-se de apenas uma coincidência. Pois sim! São mais de 35 mil táxis circulando no Rio de Janeiro, e cerca de 5 mil irregulares, num total de 40 mil veículos amarelinhos rodando por aí. E aí, no dia de hoje, véspera do aniversário da dona Mathilde, na tarde do dia em que escrevi, pela manhã, verdadeiro chamamento e prece quase pagã em sua intenção, um táxi justo da cooperativa da qual ela fazia uso freqüente, conduzido por um motorista que a conhecia <em>("baixinha"</em>, "<em>cheirosa"</em>, <em>"vaidosa"</em>, <em>"serelepe"</em>, <em>"elegante"</em>...) e que mora na esquina da rua de vovó dá de me resgatar em Copacabana rumo ao Centro. Tá bom, então.<br />
<br />
Eu quero é me emocionar, pombas!</div>Eduardo Goldenberghttp://www.blogger.com/profile/15844107600825502451noreply@blogger.com8tag:blogger.com,1999:blog-9999275.post-80490931134202267502011-04-05T12:00:00.006-03:002011-04-05T12:20:14.033-03:00FAZ UM 12, BRIZOLA!!!!!<div style="text-align: justify;">No dia 18 de agosto de 2006 expus, <strong><a href="http://butecodoedu.blogspot.com/2006/08/furando-o-bloqueio.html" target="_blank">aqui</a></strong>, o vídeo no qual apareço gritando <em>"Faz um 12, Brizola!"</em>, ao vivo, na TV Globo, durante a final de um dos festivais de música promovidos pela Vênus Platinada. Ontem, depois de descobrir a conta no twitter de Serginho Groisman e Renata Ceribelli - os dois jornalistas que trabalhavam naquela noite de 16 de setembro de 2000, há quase 11 anos! -, expus novamente o meu feito na grande rede, e deu-se a bulha. Muita gente repicando o vídeo, muita gente me dando os parabéns pela coragem, muita gente achando muita graça e me perguntando sobre os detalhes que envolveram a ação que ganhou contornos de subversão (o que muito me orgulha, diga-se).<br />
<br />
Como eu sou preciso do início ao fim, vamos aos detalhes do troço.<br />
<br />
Corria, como já lhes disse, o ano 2000. E é preciso contextualizar para que tudo ganhe os contornos de emoção que a noite teve.<br />
<br />
Em 2000 eu e Moacyr Luz, que faz anos hoje, éramos quase-siameses (digo "éramos" porque não trocamos mais palavra). E o Moacyr, que concorrera com o samba "Eu só quero beber água", chegara à grande final, em São Paulo, que aconteceria no Credicard Hall. Na época, um de nossos <em>bunkers</em> era o Bar da Dona Maria, hoje um triste arremedo de botequim na rua Garibaldi, na Tijuca, onde morava o Moacyr (no mesmo prédio onde até hoje mora Aldir Blanc). Pois o povo do Bar da Dona Maria armou animadíssima torcida pra comparecer, em peso, à finalíssima. Mandamos fazer camisas com o nome do samba, pintamos faixas, cartazes, o escambau a quatro.<br />
<br />
Sigamos contextualizando: corria o ano 2000 e meu saudoso e eterno governador, Leonel de Moura Brizola, era candidato à Prefeitura do Rio de Janeiro. Mantendo uma tradição, a sambista Beth Carvalho emprestou a voz para o principal <em>jingle</em> da campanha: <em>"Faz um 12 aí! Faz um 12 aí! Com Brizola o Rio vai voltar a sorrir!"</em>.<br />
<br />
Em 2000, Brizola ainda era um palavrão segundo os manuais de redação da TV Globo. Seu nome era proibido, vetado, terminantemente censurado. E quem - vão tomando nota dos desenhos... - era a cantora convidada para fazer o show de encerramento do festival da Globo? Ela, Beth Carvalho. O convite, é claro, havia sido feito antes de deflagrada a campanha eleitoral, antes da voz inconfundível da Beth ecoar, aos quatro ventos, nas TVs, nas rádios, nas ruas, exaltando a candidatura de Leonel Brizola.<br />
<br />
O que fez a TV Globo? Desconvidou Beth Carvalho e em seu lugar chamou o também sambista Jorge Aragão. Prova disso, como se não bastasse o telefonema que recebi da cantora, era o convite para o festival. Constava lá: show de encerramento com Beth Carvalho. E sobre o nome da Beth, um carimbo, vermelho, onde se lia: Jorge Aragão.<br />
<br />
Quando a Beth me ligou - brizolista roxa! - indignada, eu disse num sem-pulo:<br />
<br />
- Querida, fica tranqüila. Eu vou te vingar! - e mais não disse.<br />
<br />
Confesso a vocês, quase 11 anos depois, que eu não tinha a menor idéia do que faria: mas eu faria alguma coisa (e os que bem me conhecem podem atestar como se dá, em mim, essa centelha).<br />
<br />
Parti na véspera levando na bagagem um boné vermelho com o nome Brizola em letras brancas, enormes. E disse, de mim para mim:<br />
<br />
- Vou levar dobrado no bolso da calça. Lá eu vejo o que faço.<br />
<br />
Houve um encontro, no Pirajá, horas antes do festival, já em São Paulo, é claro. Só duas pessoas sabiam, àquela altura, de minhas intenções: minha menina e meu irmãozinho, Fernando Szegeri. Mas nem eu mesmo sabia, ainda, o que é que eu aprontaria. Mas eu aprontaria!<br />
<br />
Partimos pro Credicard Hall. Teve início o festival, transmitido ao vivo para todo o Brasil. Percebi que durante os intervalos o apresentador Serginho Groisman chamava a repórter Renata Ceribelli, no meio da platéia, para entrevistar a assistência. Num desses intervalos, a abordei:<br />
<br />
- Eu vim do Rio... Posso falar?<br />
<br />
E ela:<br />
<br />
- Pode! Pode! Fica aqui, fica aqui... Daqui a pouco eu entro!<br />
<br />
E foi, num átimo, que a idéia me veio à cabeça. Ao se dirigir a mim, a repórter, eu meteria o boné na cabeça e daria o grito de guerra:<br />
<br />
- Faz um 12, Brizola!<br />
<br />
E assim foi.<br />
<br />
Atentem para a dinâmica dos fatos:<br />
<br />
01) segundos após meu grito estrilou meu celular. E eu só ouvia as gargalhadas da minha querida Beth Carvalho;<br />
<br />
02) fui cercado, logo depois, por 8 seguranças, todos de terno, que diziam coisas como <em>"fora daqui"</em>, <em>"vem conosco, vamos dar uma volta lá fora"</em>, e eu resistindo. Um deles, pelo rádio, gritou <em>"o Talma quer esse cara fora do teatro!"</em>, por aí;<br />
<br />
03) estrila de novo meu celular. É meu pai, aflito: <em>"Você enlouqueceu? Já são mais de cinco minutos de comerciais, eles pararam a transmissão do festival! O que está acontecendo?"</em>;<br />
<br />
04) minha menina pula, como um coala, na minha cintura e começa: <em>"Ninguém toca nele, ninguém toca nele!"</em>, a essa altura os caras já estavam me empurrando pro lado de fora. Chegam Fernando Szegeri e Marcus Gramegna, amigo de São Paulo, o bravo Marcão, ambos advogados, e passam a exigir uma explicação para aquela truculência;<br />
<br />
05) um homem, mais velho, apresentou-se como o Chefe da Segurança e me perguntou, calmamente, o que eu havia feito. Exibi o boné e disse: <em>"Gritei o nome do Brizola com esse boné na cabeça. Eis minha arma, eis meu crime..."</em>. O homem riu, disfaraçadamente, e disse: <em>"Você não fez isso... diz que não fez..."</em>, e passou a negociar uma saída pacífica;<br />
<br />
06) eu soube, tempos depois, que o Moacyr Luz, que entraria em seguida no palco, estava sendo abordado, também por seguranças, na coxia, já que eu vestia a camisa com o nome de seu samba. Queriam saber, a todo custo, quem eu era, onde morava, detalhes;<br />
<br />
07) uns minutos mais tarde, graças à intervenção do Chefe da Segurança, graças à atuação do Szegeri e do Marcão, e de minha menina, chegamos a um consenso: nós continuaríamos no teatro, afastados da platéia, numa espécie de camarote vip. E vigiados de perto. A cada ida minha ao banheiro, lá iam dois, três seguranças!;<br />
<br />
08) terminado o festival o Chefe da Segurança me pediu, encarecidamente, que eu lhe entregasse o boné <em>"para perícia"</em>. Ri tanto daquilo que não me opus;<br />
<br />
09) voltamos todos ao Pirajá. E o Moacyr Luz não me dirigiu palavra, atribuindo a mim sua derrota.<br />
<br />
No domingo seguinte, a revista Veja exibiu minha imagem com a frase: <em>"Eduardo Goldenberg, advogado carioca, no auditório do Credicard Hall durante a final do festival de MPB da Globo, colocando a repórter Renata Ceribelli numa saia-justa"</em>. Tal texto foi escrito por um jornalista amigo meu, razão pela qual meu nome aparecia na matéria (abaixo).</div><br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="http://1.bp.blogspot.com/-xqkJHBBl6PA/TZsl-n7ZEAI/AAAAAAAADlg/u5-qH_QOKCM/s1600/faz+um+12+brizola.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;" target="_blank"><img border="0" height="133" r6="true" src="http://1.bp.blogspot.com/-xqkJHBBl6PA/TZsl-n7ZEAI/AAAAAAAADlg/u5-qH_QOKCM/s320/faz+um+12+brizola.jpg" width="320" /></a></div><div style="text-align: justify;"><br />
Quando eu cheguei de volta ao Rio, a página do PDT na internet exibia o vídeo com uma tarja enorme: "Deu 12 na Globo", e seguia um texto exaltando um <em>"homem que pôs o nome de Brizola, depois de anos de censura, no horário nobre da TV Globo"</em>. Escrevi para o partido. Identifiquei-me. Disse que minha imagem estava à disposição da candidatura de Brizola. E isso me rendeu um telefonema, que durou 40 minutos, do próprio, poucas horas depois do envio da mensagem.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Dali em diante, sempre que eu encontrava Brizola (e nosso último encontro foi em 2002 na casa do Martinho da Vila, como lhes contei <a href="http://butecodoedu.blogspot.com/2010/08/entrevista-com-beth-carvalho.html" target="_blank"><strong>aqui</strong></a>), ele fazia referência ao episódio.</div><br />
<center><iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="349" src="http://www.youtube.com/embed/uRadXwe5lDU?rel=0" title="YouTube video player" width="425"></iframe></center><br />
<br />
<div style="text-align: justify;">Eu tenho um orgulho danado de ter feito o que fiz. Era o que eu queria lhes contar.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Até.</div>Eduardo Goldenberghttp://www.blogger.com/profile/15844107600825502451noreply@blogger.com18tag:blogger.com,1999:blog-9999275.post-77245408834512789622011-04-04T17:15:00.000-03:002011-04-04T17:19:17.751-03:00OS BOLSONARO<div style="text-align: justify;">Desde que Jair Bolsonaro, o inacreditável Jair Bolsonaro, deputado federal pelo Rio de Janeiro, eleito pelo PP (Partido Progressista) - e aí já reside uma das maiores ironias da política brasileira! - deu as declarações que deu ao programa CQC (de tão baixo nível quanto o congressista em tela) recentemente, deu-se a bulha no seio da sociedade. Isso só se deve, creio eu, ao fato de que a principal agressão foi em direção à Preta Gil, filho do ex-ministro Gilberto Gil, expoente da música brasileira. Será que não bastou, para a mais aguda indigação com relação a Jair Bolsonaro, o vídeo no qual o deputado diz, com todas as letras, que o erro do governo militar foi torturar e não matar? Não bastou quando ele incitou os pais a usarem da violência diante dos indícios apontando para a homossexualidade de seus filhos? Não bastou quando referiu-se à Presidenta Dilma Rousseff, diversas vezes, como ladra, terrorista, assassina? Acho, franca e sinceramente, que esse homúnculo já foi longe demais. E fiquei satisfeito com o envolvimento da Preta Gil no rol dos insultos do sujeito: se foi essa a gota d´água, melhor assim. Torço para que sigam adiante os feitos distribuídos contra Jair Bolsonaro a fim de que possamos tê-lo, o quanto antes, longe do Congresso Nacional. Feito o breve intróito, vamos aos que quero lhes contar.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Tenho tido, desde então, diversos pensamentos (delírios, eu diria) que me levam a imaginar o dia-a-dia dessa família, a dos Bolsonaro. Deve ser, meus poucos mas fiéis leitores, um ambiente de tanta leveza, de tanta harmonia, de tanta tranqüilidade...</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">01) Acorda o vereador Bolsonaro. Encontra, à mesa, o pai (ainda de pijamas). Ao lado do pai, o deputado estadual Bolsonaro (notem que, como metástase, espalham-se os Bolsonaro nas esferas de poder). Senta-se o verador. Diz:</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">- Pai, me passa a manteiga?</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">O irmão mal disfarça. E ri. Ergue-se o federal:</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">- Macho come pão seco! Estenda a mão! Estenda a mão!</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">E com a palmatória, guardada na gaveta dos talheres, castiga o filhote.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">02) Ainda um menino, o hoje vereador chega do colégio cantando: <em>"Atirei o pau no gato-to, mas o gato-to, não morreu-reu-reu..."</em>. O pai, de pijama, ergue-se da poltrona e urra:</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">- Junto!</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Cabisbaixo, o vereador obedece.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">- Filho, vá buscar o porrete do papai no quarto da escrava! - diz em direção ao estadual, que o obedece. A empregada, a tudo assistindo, chora por dentro ao ouvir, de novo, que é uma escrava.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Volta o estadual. Entrega o porrete ao federal. Este, sentando a borduna no bumbum do vereador, grita:</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">- Aprenda como se atira o pau no gato, seu frouxo! Macho tem de saber matar um gato na base da porrada!</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">03) O estadual, certo dia, comenta durante o jantar:</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">- Pai, quero entrar pra natação.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Ouve-se um soco, seco, no tampo da mesa. Saltam os copos, os talheres, os pratos quicam. O vereador, achando que aquilo era um sinal de satisfação paterna, emenda:</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">- Eu também...</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Ergue-se o pai, de pijama. Olha, com ódio, pra esposa. Espuma. Limpa a baba que escorre pelo canto da boca com a manga do pijama. E vocifera:</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">- Natação? Querem usar touquinha, suas bichas! Já pro sofá! Os dois! Os dois! De quatro no sofá!</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Vai à cozinha, entrega uma nota de dinheiro à empregada (a quem ele chama de escrava) e sussura alguma coisa em seu ouvido. Passam-se 10 minutos. Ele volta à cozinha e vem à sala. Dirige-se aos meninos, ainda de quatro. Ordena que eles se sentem. E enterra, na cabeça do vereador e depois na do estadual, a touca de borracha até a altura do queixo. Balança suas cabeças com raiva e descontrolado, enquanto grita:</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">- Natação é coisa de viado, seus imbecis! Entenderam?! Entenderam?!</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Meia-hora depois, os meninos tontos, assentem e desistem, para sempre, do esporte aquático.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">04) Está chegando a Páscoa. O vereador chega, depois de um dia de trabalho na Câmara, trazendo consigo uma sacola da Kopenhagen. O pai ergue a vista sobre o jornal O Globo e pergunta:</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">- Que porra é essa?</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">- Ovo de Páscoa para a minha secretária...</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Ergue-se o federal, de pijama:</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">- Ovo de Páscoa? Secretária? Desde quando uma serviçal é chamada de secretária? Desde quando macho compra ovinho de Páscoa, seu imbecil! Me dê isso, agora!</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">O vereador não titubeia. Entrega a sacolinha.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">- Ajoelhe, verme! Agora! Abra a boca!</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">E enterra o ovo, pedaço por pedaço, na boca do filhote.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Com o passar do tempo, divido mais com vocês sobre meus delírios com essa harmoniosa família Bolsonaro.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Até.</div>Eduardo Goldenberghttp://www.blogger.com/profile/15844107600825502451noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-9999275.post-79229211282883449502011-03-30T17:20:00.001-03:002011-03-30T17:24:32.286-03:00BRUNO RIBEIRO, CORREIO POPULAR, 30 DE MARÇO DE 2011<div style="text-align: justify;">Tenho um tremendo orgulho da amizade que nutro - e que é, sei, recíproca - pelo brasileiro maiúsculo que é Bruno Ribeiro, jornalista carioca residente em Campinas. Um menino, se comparado aos meus quase 42 anos (que serão completados, se eu chegar lá, no próximo dia 27 de abril). Duro, quando necessário, sem jamais perder a ternura - esse é um bom resumo do que é e como age esse meu irmão.<br />
<br />
Pois bem. Feito o brevíssimo intróito vamos ao que quero lhes dizer hoje.<br />
<br />
Muito já se falou sobre um certo tipo, o leitor que escreve cartas para os jornais. Trata-se, geralmente, de um chato. Quase sempre sem ter o quê fazer (ou sem amigos, ou sem mulher, ou sem filhos, ou sem vícios - são fundamentais, os vícios!) regozija-se (quase goza) quando lê um de seus arrazoados publicados nos jornalões brasileiros.<br />
<br />
Não sei se o cidadão de quem vou lhes falar hoje é parte disso, é tudo isso ou (e ele seria uma exceção) não é nada disso - faço a ressalva.<br />
<br />
Trata-se de Renato Luis C. Gagliardi (é como ele se apresenta). Como exemplos - loas ao Google! - vejam <strong><a href="http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20110118/not_imp667571,0.php" targe="_blank">esta</a></strong> carta publicada em 18 de janeiro de 2011 (na qual escorraça o Estado do Rio de Janeiro) e <strong><a href="http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20110204/not_imp675132,0.php" target="_blank">esta</a></strong> outra, publicada em 04 de fevereiro de 2011 (na qual escorraça o presidente do Corinthians). Em ambas, o que faz Renato Luis C. Gagliardi? Esperneia. Reclama. Sapateia. <strong><a href="http://por1brasilmelhor.blogspot.com/2009/02/reedicao-2-do-manifesto-do-grupo-por-um.html" target="_blank">Aqui</a></strong> (loas ao Google!), brada ao STF contra a decisão do então presidente Luis Inácio Lula da Silva no sentido de conceder asilo político a Cesare Battisti. E são muitos - incontáveis! - os <em>links</em> indicados pelo Google que apontam para "manifestações" de Renato Luis C. Gagliardi.<br />
<br />
Pois bem: este cidadão escreveu, recentemente, longo e-mail dirigido ao jornal Correio Popular, jornal campineiro que tem, justo em Bruno Ribeiro, um de seus mais sérios e dedicados profissionais. E como o jornal é sério, e como o Bruno é grande (e corajoso!), publicou-se hoje, na edição deste 30 de março de 2011, véspera de mais um aniversário do nefasto golpe militar que mergulhou o Brasil em mais de duas décadas de obscurantismo, arbítrio e covardia, uma bela resposta ao redator de cartas para os jornais.<br />
<br />
Um tapa (duro!) com luva de pelica - bem à moda do meu mano Bruno Ribeiro (clicando na imagem, você lerá com perfeição o brilhante artigo).</div><br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="http://3.bp.blogspot.com/-nA2MLEEbaLU/TZODSgRFIzI/AAAAAAAADlY/o5BiWVn0470/s1600/bruno+correio+popular+30+de+mar%25C3%25A7o+de+2011.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;" target="_blank"><img border="0" height="205" r6="true" src="http://3.bp.blogspot.com/-nA2MLEEbaLU/TZODSgRFIzI/AAAAAAAADlY/o5BiWVn0470/s320/bruno+correio+popular+30+de+mar%25C3%25A7o+de+2011.jpg" width="320" /></a></div><br />
<div style="text-align: justify;">Eu prefiro dar nome aos bois, sempre. Em nome da verdade e da precisão que me acompanha como sombra.<br />
<br />
A página, na íntegra, pode ser lida também <strong><a href="http://pt.scribd.com/doc/51924731/3003CPCC02" target="_blank">aqui</a></strong>.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Até.</div>Eduardo Goldenberghttp://www.blogger.com/profile/15844107600825502451noreply@blogger.com6tag:blogger.com,1999:blog-9999275.post-78050449760130571242011-03-28T12:40:00.002-03:002011-03-28T12:53:02.854-03:00MINHAS AVENTURAS NUM TÁXI<div style="text-align: justify;">Pois bem: como lhes contei <strong><a href="http://butecodoedu.blogspot.com/2011/03/um-sonho-de-infancia-realizado.html" target="_blank">aqui</a></strong>, na sexta-feira, realizei ontem, no domingo, um de meus sonhos de infância. Assumi, às 14h30min, a direção de um táxi, oferecimento do incrível e gentilíssimo Júnior, um tremendo boa-praça (o trocadilho é de propósito, ele que é um taxista dedicado). Às 20h30min estacionei o Zafira, tinindo de novo (lavado na manhã de domingo), na garagem de meu prédio. Subi o elevador com os olhos cheio d´água e disse à minha menina, que me esperava ansiosa na poltrona da sala:<br />
<br />
- Foi gratificante demais...<br />
<br />
Eu, que sou preciso do início ao fim, farei - conforme o prometido - o mais amplo e abrangente relato dos fatos passados durante as 06 horas de percurso. Fiz 12 corridas, percorri diversos bairros, transportei 34 passageiros, rodei 145km gastando R$ 24,30 de gás e voltei pra casa com R$ 181,70 limpinhos no bolso (o Júnior, que não cabe em si de tanta gentileza, não me cobrou um centavo por isso).<br />
<br />
Antes, quero lhes contar uma (apenas uma) passagem envolvendo o Júnior. E vocês me dirão se ele é ou não é o maior motorista de táxi do planeta.<br />
<br />
Acho que foi em 2006. Eu ainda tinha um Tipo 1.6, ano 1992, quando decidi viajar, na Semana Santa, para Visconde de Mauá. Eu dirigindo, minha menina no banco do carona, e Alex Justo, um amigo nosso, no banco de trás com o Pepperoni. No começo da Via Dutra, na altura da Casa do Alemão, o carro apagou. Um mecânico chamado às pressas deu o diagnóstico: alternador pifado. Já passava das oito da noite, o que significava ser impossível solucionar o problema na hora. Liguei pra minha oficina de confiança, na Penha, e em 40 minutos estávamos sendo rebocados para lá. No trajeto, liguei pro Júnior. Pedi que fosse, se possível, nos buscar na oficina para nos levar de volta pra casa.<br />
<br />
Chegamos na oficina e lá estava, já, o Júnior. Ao perceber que tínhamos bagagem, disse:<br />
<br />
- Ué, vocês iam pra onde? Pra quê essas malas?<br />
<br />
Resumo da opereta: Júnior nos deixou, passava da meia-noite, em Visconde de Mauá, na casa de nossa prima, que nos esperava. E não nos cobrou - eis o que eu queria lhes dizer - um mísero centavo pela corrida de mais de 150km, o que inclui a brutal serra que liga Penedo à cidadezinha na serra. Não quis dormir na casa (<em>"Amanhã eu pego cedo!"</em>) e creio que isso basta para desenhar-lhe o perfil. Vamos ao domingo.<br />
<br />
Eu sou - além de preciso - obsessivo. Minhas manhãs de domingo são iguais há sei lá quantos anos! Por isso estava às 07h30min na porta do Mundial, para as compras da semana. Do Mundial, pra feira. E da feira, fui ao Aconchego Carioca, da minha mui-amada Kátia. Lá chegando, encontrei o Russo, seu irmão, que tem uma chácara e um horto, montando o jardim da área externa do Aconchego, um canto bacana demais.</div><br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="http://1.bp.blogspot.com/-ZIbjAIkvfIw/TZCZ7oidCfI/AAAAAAAADk8/DqGreV3AwEs/s1600/IMG_1991.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;" target="_blank"><img border="0" height="320" r6="true" src="http://1.bp.blogspot.com/-ZIbjAIkvfIw/TZCZ7oidCfI/AAAAAAAADk8/DqGreV3AwEs/s320/IMG_1991.JPG" width="240" /></a></div><br />
<div style="text-align: justify;">Ficamos ali - o quê?! - umas duas horas de papo. É quando gosto de ir ao Aconchego. Antes mesmo da casa abrir. Bebendo cerveja estupidamente gelada, pondo as conversas em dia com essa craque que é a Kátia, evitando, assim, enfrentar o mais que merecido sucesso que a casa alcançou, sempre cheia e com muita fila na porta.</div><br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="http://4.bp.blogspot.com/-5W0F2O61m8g/TZCaBD1iJ_I/AAAAAAAADlA/LSK0Hgt5i1M/s1600/IMG_1992.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;" target="_blank"><img border="0" height="320" r6="true" src="http://4.bp.blogspot.com/-5W0F2O61m8g/TZCaBD1iJ_I/AAAAAAAADlA/LSK0Hgt5i1M/s320/IMG_1992.JPG" width="240" /></a></div><br />
<div style="text-align: justify;">Voltei pra casa - estava ansiosíssimo, sentia-me com 12 anos de idade a caminho do parque de diversão - guardei as compras, tomei banho, escolhi e pus a roupa (<em>"Tá bom assim, amada?"</em>), abri uma Cerpa Tijuca e pus-me a esperar, com a paciência de um menino de 12 anos de idade, o bom Júnior chegar (havíamos marcado às 14h).<br />
<br />
Às 14h20min toca o interfone e eu desço, aos atropelos, de escada mesmo. Lá estavam o Júnior, Viviane, sua mulher, e a pequena Giovanna, com menos de um mês de vida. Trocamos as chaves (ele ficou com meu carro), recebi pequeno curso (como ligar e desligar o taxímetro, como emitir recibo, como perceber que o gás está acabando etc.). </div><br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="http://1.bp.blogspot.com/-JZanKAd6PQo/TZCanlZ0KbI/AAAAAAAADlQ/1MTYi9_mNPw/s1600/IMG_1995.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;" target="_blank"><img border="0" height="320" r6="true" src="http://1.bp.blogspot.com/-JZanKAd6PQo/TZCanlZ0KbI/AAAAAAAADlQ/1MTYi9_mNPw/s320/IMG_1995.JPG" width="240" /></a></div><br />
<div style="text-align: justify;">Faço a confissão: ao sentar-me à direção, pus-me a chorar. A vista turva, as mãos trêmulas, as memórias que me vinham em torrente, as pernas bambeando - <em>"Coragem, balofo!"</em>, disse de mim para mim. E se o amor só é bom se doer a saudade só dói de forma bonita se provocada. Tomei a direção da rua São Francisco Xavier 84, e embiquei o carro diante do portão de ferro da vila onde moravam meus avós, minha bisavó, o seu Mário. Achei que se entrasse pra falar com a dona Isaurinda eu sucumbiria. Dei ré e ganhei o asfalto da Tijuca.<br />
<br />
Primeira corrida: peguei 5 passageiros na Conde de Bonfim, quase em frente ao Morro do Borel. Todos negros, duas senhoras, um homem e duas crianças. <em>"Vamos prum pagode no Clube Garnier, no Rocha, sabe chegar lá?"</em>. Eu sabia. Desci a Conde de Bonfim, peguei a Maracanã, Vila Isabel, a Mangueira, o viaduto de Benfica, dobrei pro Rocha e cheguei na Ana Néri. No caminho, uma das senhoras ia dizendo pros filhos prestarem atenção ao trajeto. Disse-me à certa altura:<br />
<br />
- Os dois querem ter um táxi, como o pai deles...<br />
<br />
Deixei-os, R$ 18,00.<br />
<br />
A segunda corrida havia sido tratada por telefone. Fui buscar mamãe no Alto da Boa Vista.</div><br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="http://1.bp.blogspot.com/-ZAsJ_lgfAqQ/TZCaKRoi5_I/AAAAAAAADlI/Va3sfDOAeKc/s1600/IMG_1996.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;" target="_blank"><img border="0" height="320" r6="true" src="http://1.bp.blogspot.com/-ZAsJ_lgfAqQ/TZCaKRoi5_I/AAAAAAAADlI/Va3sfDOAeKc/s320/IMG_1996.JPG" width="240" /></a></div><br />
<div style="text-align: justify;">Esperei-a na garagem do prédio e tomamos a direção da Praça da Bandeira. O valor da corrida foi de R$ 16,00. Assim que deixei mamãe avistei o sinal de um casal em frente ao Rampinha. Ele de camisa do Flamengo, nordestino, e ela vestindo um short minúsculo, mini-blusa:<br />
<br />
- Deixa a gente na passarela da Rocinha, moço? Pelo Rebouças, por favor.<br />
<br />
Essa corrida foi hilariante: o sujeito foi pelo caminho contando que na quarta-feira também começa a trabalhar na praça (mas atentem para o detalhe):<br />
<br />
- Tem uns PMs lá no morro que alugam táxis apreendidos pelo DETRO, por trinta reais, da meia-noite às seis. Dá pra ganhar algum, e eles dão cobertura pra qualquer problema.<br />
<br />
Atravesssei o Rebouças, peguei a Lagoa-Barra, o túnel Zuzu Angel e deixei-os na passarela, recebendo R$ 26,00 pela corrida.<br />
<br />
Parei num posto mais à frente para fumar um cigarro e decidir o que fazer, já que em São Conrado ninguém toma táxi no meio da rua. </div><br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="http://1.bp.blogspot.com/-i7l9ks1tLz8/TZCaPZUH5oI/AAAAAAAADlM/VcFwQC3EMh0/s1600/IMG_1997.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;" target="_blank"><img border="0" height="320" r6="true" src="http://1.bp.blogspot.com/-i7l9ks1tLz8/TZCaPZUH5oI/AAAAAAAADlM/VcFwQC3EMh0/s320/IMG_1997.JPG" width="240" /></a></div><br />
<div style="text-align: justify;">Fiz o retorno, caí no Leblon. Em frente ao Jobi peguei um casal com um casal de filhos:<br />
<br />
- Praça General Osório, por favor, em frente ao Carretão.<br />
<br />
No caminho, a família discutia sobre um apartamento que provavelmente haviam acabado de visitar. O pai dizia que estava bom o preço pedido, de 2 milhões de reais. O menino reclamou a falta de um cômodo para um escritório. A mulher sugeriu que fizessem uma contraproposta de 1,750 milhão. A corrida foi uma reta, curta, custou R$ 8,80 e o homem deu-me uma nota de R$ 10,00 dispensando o troco.<br />
<br />
Descobri que as corridas curtas são infinitamente mais vantajosas que as mais longas. Vão tomando nota!<br />
<br />
Assim que saí da General Osório e entrei em Copacabana, um casal de gaúchos entrou no carro. Iam pro Leme, pra um hotel. Uma vez mais, uma única reta. Corrida de R$11,00 - deu dez e pouco, fiquei com o troco. Quando dobrei a Gustavo Sampaio e entrei na Atlântica, três mulheres, uma delas em cadeira de rodas.<br />
<br />
- Graças a Deus, meu filho! Com essa cadeira, só mesmo carro grande. Pode ser?<br />
<br />
Ajudei a pôr a cadeira no porta-malas e tomei a direção do Humaitá, pouco depois da Casa de Espanha. Cruzei a Real Grandeza, corrida curta também, R$ 15,00. Deu treze e pouco, a senhora dispensou o troco e só faltou me beijar por ter ajudado com a cadeira de rodas. Entrei no Rebouças, desci o Cosme Velho. Em frente à estação do Corcovado, um casal. Americanos. Com a língua enrolada, disseram:<br />
<br />
- Por favor, Sushi Leblon. Do you know?<br />
<br />
- Yes! - sou um poliglota.<br />
<br />
Deixei-os na Dias Ferreira em frente ao restaurante, corrida de R$ 29,00. Durante o trajeto o homem tentou me vender um iPhone 3GS. Exibi o meu e agradeci. Eu estava - incontestavelmente - com sorte. No final da Dias Ferreira, em frente a um apart-hotel, um casal de paulistas fez sinal. Estavam indo parta o Santos Dumont.<br />
<br />
- O senhor sabe se o Aterro já está aberto?<br />
<br />
- Já, sim senhor.<br />
<br />
- Vamos por lá, então. E pegue a Atlântica, por favor.<br />
<br />
Foi a corrida mais longa, custou R$ 33,00 ao casal. No trajeto eles foram me perguntando se o trânsito era sempre daquele jeito no Rio, esculhambaram o trânsito de São Paulo, me pediram que mostrasse o hotel no qual hospedou-se o Obama. Saí do aeroporto e fui pro Centro. Inacreditavelmente cinco jovens fizeram sinal em frente à Maison de France. Três ingleses e duas moças francesas. Uma delas disse:<br />
<br />
- Glórrrrria, porrrrr favorrrrr.<br />
<br />
Corridinha curta, R$ 9,00. Tudo pago em moeda!<br />
<br />
Era hora de abastecer. R$ 24,30 por pouco mais de 15 metros cúbicos de GNV, num posto da rua do Matoso. Na esquina da Matoso com a Haddock Lobo peguei um rapaz, 15 anos no máximo:<br />
<br />
- Pro Tijuca Tênis Clube!<br />
<br />
- Tem jogo lá? - perguntei.<br />
<br />
- Nada! Tem é festa. Mulher pacas!<br />
<br />
Perguntou se eu era casado e mandou uma hilariante:<br />
<br />
- Pô, que azar! Até tu, que é tio, pode ser dar bem lá. A mulherada tá louca, tio! Louca!<br />
<br />
A corrida custou R$ 7,00. Desci a Conde de Bonfim. Na esquina da rua do Bispo com a Haddock Lobo, cinco jovens. Dois rapazes e três meninas (belíssimas, diga-se).<br />
<br />
- Shopping Tijuca, tio!<br />
<br />
Mais R$ 10,00. Na porta do próprio shopping, mãe e filha pra Santa Alexandrina, meiúca entre o Rio Comprido e a Tijuca.<br />
<br />
Fui ouvindo elogios às UPPs, às melhores condições de segurança do bairro, deixei mãe e filha na porta de casa por R$ 12,00.<br />
<br />
Dirigir um táxi é uma cachaça. Uma adrenalina permanente (vem mais passageiro?, corrida curta?, corrida longa?) e decidir a hora de parar é bastante difícil. Constatações evidentes nessa primeira experiência: todos foram muito gentis comigo, todos. Todos cumprimentaram ao entrar e sair do táxi. Todos arredondaram para cima o valor da corrida. Poucos puxaram conversa, e senti que não é exatamente oportuno o motorista fazê-lo.<br />
<br />
Ontem mesmo, durante a narrativa do dia pelo twitter, meu mano Bruno Ribeiro, de Campinas, vaticinou: <em>"Se eu conheço o Edu, ele vai querer repetir a experiência"</em>.<br />
<br />
Ele estava certíssimo. Se tudo der certo e se assim os deuses permitirem no dia 10 de abril, dia do batizado da filha do Júnior, pela manhã, assumo a direção do táxi mais uma vez.<br />
<br />
E pra fechar: os quase duzentos reais que faturei, ontem, não pagam, nem de perto, o prazer, ainda que tardio, da realização de um sonho de infância.<br />
<br />
Até. </div>Eduardo Goldenberghttp://www.blogger.com/profile/15844107600825502451noreply@blogger.com10tag:blogger.com,1999:blog-9999275.post-16689745728579900392011-03-25T16:20:00.002-03:002011-03-25T16:28:44.353-03:00UM SONHO DE INFÂNCIA REALIZADO<div style="text-align: justify;">Em agosto de 2008, durante um de meus tantos arremessos ao passado, <a href="http://butecodoedu.blogspot.com/2008/08/dona-lucrcia.html" target="_blank"><strong>aqui</strong></a>, falei sobre a dona Isaurinda e seu marido, o seu Mário, já falecido. O seu Mário, descendente de italianos, dividia-se entre a função de taxista (função que, em priscas eras, era exercida quase que exclusivamente por portugueses) e a de jornaleiro (função até hoje exercida por italianos). Tinha um TL (e eu posso jurar que era vinho e não amarelo, como os táxis de hoje) e sua banca ficava na Conde de Bonfim, entre a Praça Saens Peña e o Largo da Segunda-Feira, na Tijuca. Era pai de quatro filhos e morava na mesma casa em que até hoje reside a viúva, dona Isaurinda, que fica numa vila na rua São Francisco Xavier 84, onde moravam também, no tempo de minha infância, meus avós e minha bisavó. E faço a primeira confissão: de vez em quando saio vagando a pé e estaco diante do portão da vila, porque até hoje está plantado ali o menino de calças curtas e camisas listradas que insiste em viver dentro de mim. Abro o portão que tantas vezes me viu indo e vindo e vou tomar a benção da dona Isaurinda.<br />
<br />
Feito o intróito, vamos ao que quero lhes dizer: eu tinha verdadeiro fascínio pela rotina do seu Mário, um carcamano torcedor do Fluminense. Ele ocupava, naquela vila (e vilas são pequenas cidades), uma posição importante, quase que de patriarca da molecada. Além disso, provia a casa de meus avós de toda a sorte de revistas, semana após semana. Voltava, à noitinha, chegando da banca de jornal que mantinha na Conde de Bonfim, trazendo jornais e revistas - e para a molecada, sempre, toda a sorte de revistas de sacanagem (que naquela época mostravam um pedaço do peito, um pedaço da bunda e olhe lá!). E mais fascínio, ainda, eu tinha pelo táxi. Um TL, sempre tinindo, e o taxímetro - hoje vendido a peso de ouro nas feiras de antigüidades - Capelinha no painel.<br />
<br />
Diversas vezes o seu Mário deixou a garotada - eu, inclusive - atravessar a vila dirigindo seu táxi. Ele ficava no banco do carona e dava a marcha-ré para que outro, e depois outro, e depois outro, experimentasse o prazer de dirigir. </div><br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://lh3.googleusercontent.com/-0YCmq9qd-Ds/TYzd5G-2MmI/AAAAAAAADk4/oUkW9JYhOd8/s1600/capelinha.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;" target="_blank"><img border="0" r6="true" src="https://lh3.googleusercontent.com/-0YCmq9qd-Ds/TYzd5G-2MmI/AAAAAAAADk4/oUkW9JYhOd8/s1600/capelinha.jpg" /></a></div><br />
<div style="text-align: justify;">Não sei quando foi, em que dia, em que momento - por mais que eu tenha me esforçado antes de sentar-me aqui para lhes dizer isso - estacou-se dentro de mim o sonho de ter um táxi - ou um lotação, que era como minha bisavó se referia a táxi até morrer, em 1982. Era a profissão que eu almejava ter. E vamos a mais uma confissão: papai, um homem que anda com centenas de frases prontas no bolso da calça, sempre nos dizia, a mim e a meus irmãos, quando éramos pequenos (diz até hoje, diga-se a verdade):<br />
<br />
- Quando eu era da idade de vocês eu queria ser caminhoneiro...<br />
<br />
Vá entender - me permitam fazer a blague - essa obsessão rodoviária da família!<br />
<br />
Eis então que domingo, depois de amanhã, mais de 30 anos depois, realizarei, ainda que por um dia, o velho sonho da infância. Graças ao Junior, o melhor, mais competente e prestativo motorista de táxi do mundo, queridíssimo meu, estarei a bordo de um Zafira, rasgando a cidade à espera de mãos e braços aflitos em busca de condução.<br />
<br />
Mas o tempo se dobra, meus poucos mas fiéis leitores. Embarco nessa, a bem da verdade, não em busca de mãos e braços aflitos à espera de uma condução.<br />
<br />
Sentar-me-ei no táxi - e antevejo uma cena de novela mexicana... - vinho (a tal pátina do tempo, como nos ensinou Blanc, transformará o amarelo em vinho) em busca do menino de calças curtas e camisas listradas, do Capelinha no painel no lugar dos taxímetros de hoje, em busca de meus avós, de minha bisavó, do seu Mário, da minha infância, repositório imortal e permanente de meus afetos duradouros e perenes.<br />
<br />
Até.</div>Eduardo Goldenberghttp://www.blogger.com/profile/15844107600825502451noreply@blogger.com5tag:blogger.com,1999:blog-9999275.post-62202710781365950362011-03-24T14:20:00.005-03:002011-03-24T14:23:46.938-03:00TOCOLOGIA NA TIJUCA<div style="text-align: justify;"><strong>(dedicado a Benjamin D´Angelo Carneiro Simas)</strong></div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Eis-me aqui, de volta, depois de dez dias de afastamento - necessários em razão da lufa-lufa do cotidiano (notem, pelo uso da palavra "lufa-lufa", que voltei ainda mais velho, mais antigo, mais múmia). Quero lhes contar hoje sobre a experiência que vivi no último domingo, 20 de março, dentro de minha própria casa. E como sou preciso do início ao fim farei minuciosa exposição dos fatos.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Estava eu, no sábado, a caminho da casa de meu irmão para um churrasco para o qual havíamos sido convidados, eu e minha menina. Estrilou meu celular. Era uma mensagem SMS. O autor? Luiz Antonio Simas, meu irmão, brasileiro máximo, tijucano de escol:</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;"><em>"Alguma boa para hoje?"</em> - foi sua mensagem, curta e direta.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Disquei para ele.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Candinha, mulher do caboclo, acordara disposta e a fim de um encontro, um almoço, algo assim. Vamos a uma breve pausa para construção do cenário fático.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Candinha estava, já no sábado, com o ciclo da gestação completo. O que significa dizer que, a qualquer momento, poderia dar à luz o menino Benjamin. Voltemos.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Contei sobre o churrasco e a impossibilidade do encontro naquele dia. Atendendo sugestão de minha menina, excitadíssima com a gravidez da amiga, fiz o convite:</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">- Que tal vocês almoçarem lá em casa amanhã? Faço a feira cedo, compro camarões...</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Ele me interrompeu:</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">- Camarões?! Claro! Claro! A que horas?</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">E marcamos. O Simas tem, pelo camarão, uma atração dionisíaca. É o agudo oposto, por exemplo, de meu compadre Leonardo Boechat, que sofre de uma alergia terrível a crustáceos, frutos-do-mar e outros bichos.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Fiz a feira cedíssimo no domingo. Comprei dois quilos de camarão, uma massa italiana, bastante alho, vinho branco português e às 13h30min - a hora exata marcada, tijucano é implacável! - explodiu a campainha.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Entram pela porta da sala (aberta pela primeira vez desde que moramos lá, há 12 anos, todos entram pela porta da cozinha por questões de praticidade, foi uma singela homanegem sugerida pela minha garota) Luiz Antonio Simas e Candinha, redonda, plena, deslumbrante de tão bonita (a maternidade ilumina a mãe desde a concepção). Houve, naquele momento, uma festa. Minha menina emocionada com a presença deles e antes mesmo de terminados os cumprimentos percebi o gesto de Luiz Antonio que, com o polegar da mão direita num vai-e-vem em direção à própria boca, implorava por algo para beber.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Até que recebemos relativamente pouco, mas temos o hábito de oferecer faustos ágapes a nossos convidados. Deixei gelando doze garrafas de Cerpa Tijuca, ouro líquido, e o Simas não escondia a ansiedade. As moças tricotando na sala e eu fiz a pergunta de praxe para o momento:</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">- Ansioso, velho?</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Deu-se o seguinte: Luiz Antonio pôs metade da garrafa dentro da boca, bebeu tudo num só gole, pediu outra e disse:</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">- Evidente! Acho que estourou a bolsa! Estourou a bolsa!</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">- Estourou?</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">- Arrã.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Candinha, atenta, da sala:</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">- Luiz Antonio, calma.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Estava estranho, o professor.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Como uma piorra, zanzava entre a cozinha e a sala. Diversas vezes dirigiu-se à Candinha:</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">- Liga pro doutor! Liga! - e dizia isso gemendo, coçando a cabeça árida de pelos, roendo as unhas.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">A certa altura Candinha disse um simples "vou ao banheiro". Parecia ter deflagrado uma guerra. Foi trancar-se no toalete e Luiz Antonio começar:</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">- E aí, querida?! Tudo bem?</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Luiz Antonio estava de quatro farejando por baixo da porta:</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">- Isso não é cheiro de xixi, Cândida! Abre essa porta!</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Vem a Candinha pelo corredor, Luiz Antonio a seguindo de joelhos depois de cheirar o vaso sanitário com o apuro de um pastor-alemão. Senta-se na melhor poltrona da casa, alisa a barriga e diz:</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">- Tudo em ordem...</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Servi o almoço.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Senti algo respingando em meus pés. Luiz Antonio estava urinando, de nervoso. Fez-se uma poça sob a mesa, meu vira-latas, honrando a raça, lambia aquilo com intenso prazer. Simas mastigava os camarões chorando. E dizia, de boca cheia:</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">- Liga pro doutor, liga pro doutor... Desculpe a mijada, Edu, mas tá foda...</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Terminado o almoço, ligaram pro doutor. Enquanto Candinha falava, docemente, ao telefone, Luiz Antonio rezava, de joelhos e mãos postas, diante da mulher. Ela desligou, pediu um copo d´água e ouviu os apelos do marido:</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">- E aí, meu amor... O que ele disse?</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">- Recomendou que nós fôssemos agora pro hosp...</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Só voltei a ter notícias a 01h37min da madruga de segunda-feira, por telefone. Foi quando veio ao mundo o primogênito de Luiz Antonio Simas. Ontem, no meio da tarde, nova mensagem no celular:</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;"><em>"Benjamin já se encontra em terras tijucanas. No caminho, demonstrou especial interesse pela região da Praça da Bandeira"</em></div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Minutos depois - e eu infelizmente não pude atender ao convite - ligou-me o pai, o felizardo, não cabendo em si de tanta euforia.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Mãe e filho em casa, e o pai - imerso na euforia mágica da paternidade que eu não pude experimentar - no Salete, comprando o almoço e brindando à vida com um chope bem tirado.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Até.</div>Eduardo Goldenberghttp://www.blogger.com/profile/15844107600825502451noreply@blogger.com9tag:blogger.com,1999:blog-9999275.post-45594322393856396282011-03-14T12:35:00.002-03:002011-03-14T12:40:04.319-03:00ALDIR BLANC EM O GLOBO DE 13 DE MARÇO DE 2011<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://lh3.googleusercontent.com/-SPQKW1Oi3xA/TX41tnkCfqI/AAAAAAAADkc/45LhA5puz68/s1600/parte+1.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;" target="_blank"><img border="0" height="320" q6="true" src="https://lh3.googleusercontent.com/-SPQKW1Oi3xA/TX41tnkCfqI/AAAAAAAADkc/45LhA5puz68/s320/parte+1.jpg" width="191" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://lh6.googleusercontent.com/-ZXGLoIt7Hls/TX41u2w8QCI/AAAAAAAADkg/so4IgrLx8ck/s1600/parte+2.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;" target="_blank"><img border="0" height="320" q6="true" src="https://lh6.googleusercontent.com/-ZXGLoIt7Hls/TX41u2w8QCI/AAAAAAAADkg/so4IgrLx8ck/s320/parte+2.jpg" width="186" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://lh6.googleusercontent.com/-Gl5x_ANKF4A/TX41w2D46YI/AAAAAAAADkk/RBROcO-mb4E/s1600/parte+3.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;" target="_blank"><img border="0" height="320" q6="true" src="https://lh6.googleusercontent.com/-Gl5x_ANKF4A/TX41w2D46YI/AAAAAAAADkk/RBROcO-mb4E/s320/parte+3.jpg" width="159" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://lh5.googleusercontent.com/-QCpRBN8JESk/TX41x5ZHUTI/AAAAAAAADko/CUHjGAPNAYA/s1600/parte+4.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;" target="_blank"><img border="0" height="320" q6="true" src="https://lh5.googleusercontent.com/-QCpRBN8JESk/TX41x5ZHUTI/AAAAAAAADko/CUHjGAPNAYA/s320/parte+4.jpg" width="195" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://lh5.googleusercontent.com/-ke8r7zvKUAE/TX41yspkdBI/AAAAAAAADks/pFNUdq3eY_8/s1600/parte+5.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;" target="_blank"><img border="0" height="320" q6="true" src="https://lh5.googleusercontent.com/-ke8r7zvKUAE/TX41yspkdBI/AAAAAAAADks/pFNUdq3eY_8/s320/parte+5.jpg" width="215" /></a></div>Eduardo Goldenberghttp://www.blogger.com/profile/15844107600825502451noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-9999275.post-7086552531883703542011-03-10T16:00:00.000-03:002011-03-10T16:15:41.657-03:00DO DOSADOR - BALANÇO DO CARNAVAL 2011<div style="text-align: justify;"><strong><span style="color: red; font-size: x-large;">*</span></strong> Eis que chegamos ao final de mais um Carnaval. Quero, pois, dose por dose, fazer o balanço do que vi e do que ouvi durante o tríduo momesco. Quatro dias em Cabo Frio - da manhã de sábado à manhã de terça-feira - atento às notícias (vi, do começo ao fim, todos os desfiles das Escolas de Samba do Rio de Janeiro) me permitem, penso eu, falar com alguma propriedade sobre tudo. Vamos por partes;</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;"><strong><span style="color: red; font-size: x-large;">*</span></strong> uma vez mais a Rede Globo estraçalhou, de forma abjeta, o prazer do telespectador, chamado por uma repetitiva Ana Paula Araújo (apresentadora do RJ TV) de <em>"pessoal de casa"</em>. Poucas coisas são mais simples do que transmitir o desfile das Escolas de Samba pela televisão: uma meia-dúzia de câmeras espalhadas ao longo da avenida, um único apresentador para dizer o mais-simples e um ou dois comentaristas entendedores do riscado para comentários entre uma escola e outra. E o que a Globo nos ofereceu? Na <em>"ancoragem"</em> - termo estúpido que eles usaram diversas vezes - Luis Roberto e Glenda Kozlowski, egressos do mundo do futebol. Ele, narrando os desfiles como quem narra uma partida de futebol. Ela, que em seu twitter pessoal mandou um bloco de rua do Jardim Botânico pra PQP - está <strong><a href="http://twitter.com/glendakozlowski/status/44393069839257600" target="_blank">aqui</a></strong>, pra quem duvidar, prova efetiva do quanto gosta de carnaval, a moça - deu um show de histeria durante todo o desfile, tanto o de domingo quanto o de segunda-feira. Ria, gargalhava, dava gritinhos, fazia ohs e ahs capazes de irritar, profundamente, o telespectador. E as imagens? Tenham em mente uma coisa: os carnavalescos pensam um enredo e os colocam na avenida numa determinada ordem lógica a fim de que se tornem compreensíveis para quem assiste. O que faz a abjeta Rede Globo? Exibe tudo na ordem que a ela convém. Daí você é obrigado a ver o terceiro carro antes do primeiro porque naquele está um astro da emissora. Outro troço irritante, de dar nojo: Luis Roberto e Glenda Kozlowski conversavam o tempo inteiro e foi simplesmente impossível para quem assistia de casa ouvir o canto da escola, a bateria da escola. Mais grave: tirando a Mangueira e a Beija-Flor, todas as outras escolas não foram mostradas durante um dos momentos cruciais, o grito de guerra, o canto que dá início ao desfile. Eu, salgueirense de quatro costados, não pude ver a saída da escola... Graças à transmissão da Rede Globo. Tem mais, tem mais: no chamado "estúdio Globoleza", Ana Paula Araújo comandava o quadro de comentaristas. Quais comentaristas? Chico Pinheiro (sabe bastante, falou pouquíssimo), Teresa Cristina (triste ver a cantora fazendo aquele papel modorrento durante os desfiles), Haroldo Costa (sabe muito, falou pouquíssimo) e, como destaques negativos, Fernanda Abreu (que entende tanto de samba quanto eu, de física quântica) e Hélio de La Peña (que não conseguiu acertar uma só piada). Vai daí que os desfiles eram interrompidos para que ouvíssemos as besteiras que esses caras diziam... Uma outra repórter, Mariana Gross, destratava o povo no Setor 1 do Sambódromo, sempre com intervenções desnecessárias. Renata Capucci, outra repórter que trabalhava na avenida, disse, pelo twitter - vejam <strong><a href="http://twitter.com/renata_capucci/status/44628420038098944" target="_blank">aqui</a></strong> - que um componente da Unidos da Tijuca havia caído do alto de um carro alegórico. O telespectador soube? Não, é evidente. E se eu fosse ficar aqui listando as barbaridades da transmissão, não faria outra coisa pelas próximas 24 horas;<br />
<br />
<strong><span style="color: red; font-size: x-large;">*</span></strong> ah, sim, outra barbaridade. Luis Roberto e Glenda Kozlowski interrompiam as transmissões, muitas vezes a cada escola, incentivando o telespectador a enviar, por SMS, mensagens para a emissora (nunca anunciando o custo da ligação, é claro). E éramos obrigados a ler, na tela (com direito a narração nojenta dos dois), as babaquices que os babacas mandavam pra lá. Além disso, fomos obrigados a assistir vídeos enviados por idiotas do exterior. Pergunto eu a vocês: a quem interessa saber que o babaca A está assistindo ao desfile diretamente do Alasca? Ou que o babaca B está super feliz em Portugal vendo o desfile pela Globo Internacional? Tudo um repugnante e agudo nojo. A Globo, que trata futebol e Carnaval como entretenimento, que detém o monopólio dessas transmissões, presta - o que não é nenhuma novidade - um desserviço ao amante do futebol e do Carnaval. E faz - também não é novidade - um jornalismo abaixo da crítica;<br />
<br />
<span style="color: red; font-size: x-large;"><strong>*</strong></span> a prefeitura exibe, com orgulho, os quase 700 detidos durante o Carnaval por conta de xixi fora dos banheiros químicos disponibilizados pelo Poder Público. Ontem ouvi, na CBN, entrevista concedida por Alex Costa, Secretário Municipal de Ordem Pública, sobre o tema. Devo dizer, estarrecido, que esse sujeito não seria contratado por mim nem para engraxar meus sapatos. Não respondeu sequer a uma pergunta durante a entrevista. Falou muito, não disse nada. Usou, durante a entrevista (que durou pouco mais de 5min), centenas de vezes a palavra "questão". Era um tal de <em>"a questão da urina"</em>, <em>"a questão da educação da população"</em>, a <em>"questão dos banheiros químicos"</em>, <em>"a questão da fiscalização"</em>, por aí. Soquei o volante do carro de tanto ódio. A Prefeitura, que nada em dinheiro (graças à parceria com o Governo do Estado, com o Governo Federal, e no Carnaval graças à parceria com uma marca de cerveja), que o desvia diante do nariz do cidadão incapaz de uma reação à altura, agora deu de punir, punir, punir. O incompetente disse que está estudando a possibilidade de, no ano que vem, multar os mijões, que é necessário, sim, haver paciência para esperar uma fila de meia-hora diante dos banheiros, e que não mais autorizará o desfile dos blocos que não cumpriram as regras estabelecidas pela Prefeitura. E a Prefeitura cumpre as mínimas regras de governar com decência a cidade? Haja paciência;<br />
<br />
<span style="color: red; font-size: x-large;"><strong>*</strong></span> vamos ao resultado da apuração aqui no Rio de Janeiro. Sabemos todos que há, sempre, armação para determinada escola e chororô por parte dos perdedores. O que quero lhes dizer é que foi simplesmente vergonhoso ver uma nota 9 dada à bateria da Estação Primeira de Mangueira. O que fez a bateria da Mangueira durante o desfile (veja um trecho <strong><a href="http://www.youtube.com/watch?v=dZLFkKuSUNM" target="_blank">aqui</a></strong>) foi um absurdo de tanta boniteza. Foi a única escola capaz de me fazer chorar diante da tela (chorei outras vezes, mas de raiva), mas isso não vem ao caso. Anseio, muito, para ver a justificativa que a besta-quadrada deu, no boletim de apuração, para explicar tanta obtusidade;<br />
<br />
<span style="color: red; font-size: x-large;"><strong>*</strong></span> foi muito bacana ver a Beth Carvalho de volta à Mangueira. Sentadinha ao lado de Sérgio Cabral, o pai, foi outra que fez valer a pena as duas noites viradas diante da televisão;<br />
<br />
<span style="color: red; font-size: x-large;"><strong>*</strong></span> os desfiles da Portela, da União da Ilha e da Grande Rio mostraram o erro que foi a LIESA decidir por não avaliá-las. O incêndio, embora trágico, faz parte do jogo. As três escolas mostraram capacidade de recuperação e podiam, principalmente a União da Ilha, fazer bonito na classificação final;<br />
<br />
<strong><span style="color: red; font-size: x-large;">*</span></strong> só vi uma vantagem na vitória da Beija-Flor, que talvez tenha feito seu mais feio desfile de todos os tempos. A derrota da Unidos da Tijuca e do queridinho da Rede Globo, Paulo Barros. Se vencesse, estaria assinado o atestado de óbito da brasilidade do Carnaval das Escolas de Samba. Todas as alas da Tijuca - todas! - eram coreografadas (nem sombra de samba). Os carros, fazendo alusão ao cinema americano. Um lixo, um absoluto e desprezível lixo, como o cu do King-Kong do Salgueiro piscando.<br />
<br />
Acho que era isso o que eu queria lhes dizer.<br />
<br />
Até.</div>Eduardo Goldenberghttp://www.blogger.com/profile/15844107600825502451noreply@blogger.com13tag:blogger.com,1999:blog-9999275.post-73013892149374373352011-03-03T10:30:00.001-03:002011-03-03T10:31:48.801-03:00CARNAVAL - EXORTAÇÃO À MORTE POR 3 DIAS<div style="text-align: justify;">Quando o Salgueiro pisar na avenida na segunda-feira de Carnaval, por volta das 22h, estarei, como nos anos anteriores, e desde que me entendo por gente, diante da tela da TV assistindo, comovido, passar a vermelho-e-branco da minha aldeia, a vermelho-e-branco da minha Tijuca. Eu, devoto confesso da anti-festa - e já explico o porquê do "anti-festa" - pela primeira vez em muitos anos estarei quieto, no meu canto, durante os dias em que a magnífica esbórnia varre o Brasil de norte a sul, e varre meu Rio de Janeiro principalmente, centro nervoso da festa de Momo.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Há de ser assim, é preciso que seja assim. Os tempos pedem e meus deuses clamam, dentro de mim, por esse afastamento. Eis aí a primeira prova efetiva, que experimento na carne e na alma, de que o Carnaval é inversão, precipuamente é inversão. São os deuses, nesse momento, a quem tanto tenho me dirigido, que me pedem o afastamento. E eu me afastarei, que eu não sou besta de desobedecer.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Nasci em 69, filho de mãe salgueirense até a alma, como lhes contei <strong><a href="http://butecodoedu.blogspot.com/2006/12/salgueiro-uma-raiz.html" target="_blank">aqui</a></strong>, e <em>"o que importa é que eu sempre soube que mamãe, quando menina, morando na Rua dos Araújos, na Tijuca, evidentemente, teve uma babá, negra, que desfilava na ala das baianas da Acadêmicos do Salgueiro. Tem, ainda hoje, minha mãe, memórias vivíssimas da tal babá. Eu, quando menino, morando na Rua São Francisco Xavier, na Tijuca, evidentemente, lembro-me, com a mesmíssima nitidez com que minha mãe lembra da negra baiana, de assistir pela TV aos longos desfiles das escolas de samba, sempre ao lado de minha mãe, e lembro-me de vê-la sempre chorando, emocionada, quando a vermelho e branco pisava a passarela. Lembro-me, mais nitidamente ainda - sinto as mesmas dores agora - de suas unhas cravadas na palma da minha mão, soluçando, comovidíssima com aquilo tudo. Talvez visse, na telinha da TV, sua babá. Talvez fosse uma quimera e a negra já estivesse morta, talvez fosse saudade, não sei, nunca perguntei nada. Eu atribuía tudo ao amor pela escola."</em>.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Nesse mesmo texto, de dezembro de 2006, escrevi que <em>"quando o Salgueiro pisar a avenida em 2007, evocando as Candaces, mulheres guerreiras, cantando um samba que se alinha à tradição dos mais belos sambas do Salgueiro - saudando os orixás, a África, os negros e suas heranças que encontram na vermelho e branco o mais bonito terreiro - eu vou ter, de novo, calças curtas, camisa listrada, pouquíssimos anos, e chorar de saudade - sabe-se lá - da babá de minha mãe."</em>.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Ocorre que agora, meus poucos mas fiéis leitores, há uma necessidade mais urgente. Preciso, e como preciso!, morrer na madrugada do sábado para renascer, renovado, na quarta-feira de cinzas. E se meus deuses têm me feito tantos apelos (a tal primeira inversão), é um apelo público, desavergonhado, sem resquício de qualquer pudor, que quero fazer aos meus mais chegados, eles que entendem e entenderão a razão pela qual preciso desse afastamento, desse arremesso em direção ao passado e ao invisível.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Eu já vivi, em 2007, a experiência da morte, por amor a um amigo, a um irmão. Corria o ano de 2007, véspera do Carnaval, quando anunciei, de pé, na livraria Folha Seca, na sexta-feira, véspera do desfile do Bola Preta, diante de minha menina e de amigos meus que acompanharam, assombrados, o anúncio:</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;"><em>"- Morro agora, amigos meus, morro agora, amor da minha vida, para somente renascer amanhã à tarde, depois do desfile do Bola Preta, eis que cederei meu corpo, que não mais me pertencerá a partir da agora, para meu irmão Fernando José Szegeri, que desfilará, assim, pela décima nona vez, pelo portentoso Cordão!"</em></div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">E fui - vejam com seus próprio olhos! - Fernando Szegeri durante o sábado de Carnaval, <strong><a href="http://butecodoedu.blogspot.com/2007/02/e-quem-disse-que-ele-no-viria.html" target="_blank">aqui</a></strong> e <strong><a href="http://butecodoedu.blogspot.com/2007/02/szegeri-e-betinha-sua-musa.html" target="_blank">aqui</a></strong>, ele que não pôde vir ao Rio por conta do nascimento do filho.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">É chegada, pois, a hora de mais uma subversão da lógica e da ordem, é chegada a hora da imortal vitória da ilusão, <em>apud</em> Aldir Blanc.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Permitam-me o desabafo, a prece dita aos prantos, a exortação feita em ritmo de samba bem marcado pelo surdo de marcação imaginário que há de me ecoar nos ouvidos, durante três dias, como o coração acelerado de um feto à espera da luz.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Afastar-me-ei das ruas do meu Rio mas hei de estar, em algum momento, ao lado de meu mano de fé, Fernando Szegeri, de quem já fui cavalo, nas ladeiras de Olinda, nas ruas do Recife, ao som da triste melodia de um frevo qualquer. Chame por mim, mano!, uma vez que seja. Hei de estar, durante um minuto que seja, bebendo com outro de fé, Luiz Antonio Simas, num bloco qualquer que há de sair no Rio de Janeiro, abraçado à Candinha e afagando a barriga que guarda o menino por vir. Chame por mim, mano, uma vez que seja! Hei de estar com Julio Vellozo, com Arthur Tirone, meu mano Favela, com o Felipinho, com meu do peito, Bruno Ribeiro: ergam um brinde à minha ausência-morte, chamem por mim, amigos meus, uma vez que seja! Hei de estar segurando Helena no colo, uma vez que seja, vendo passar o arlequim de mãos dadas com a colombina - chame por mim, Leo Boechat, uma vez que seja! Hei de estar com minha comadre, Mariana Blanc, tendo a Milena por perto, minha borboleta. Chame por mim, comadre, uma vez que seja! Hei de estar com a Betinha na Rio Branco, hei de estar com o Flavinho e hei de ver o Felipe tonto de rir diante de uma guerra de confetes - chamem por mim, queridos meus, uma vez que seja! Hei de estar de porre, trôpego, esbarrando na minha irmãzinha, a Marcela, que há de ser mais Manguaça que nunca durante o tríduo momesco, e hei de receber o abraço da Sonia ao chegar em casa pela manhã, trocando as pernas. Chamem por mim, minhas amadas, uma vez que seja! Hei de estar nos fios do talabarte junto do Buba, no coração da bateria da Vila Isabel, e hei de estar também na cabeça da baqueta que vai surrar o couro do surdo, serei eu, também, gritando. Chame por mim, malandro, durante o desfile! Hei de estar brincando com Rosa e com Chico antes de sair pra rua, hei de estar - hei de estar! - com minha comadre Stefania, misturado à turba de um bloco qualquer - chame por mim, maninha, uma vez que seja! Hei de estar vendo Iara, moça bonita de olhos negros como jabuticaba, afilhada que amo tanto, e hei de estar nas mãos e na voz da Railídia, que a Railídia há de cantar durante o Carnaval. Gritem por mim, queridas, gritem que eu me farei presente! Hei de estar ao lado de minha anã preferida, Flavinha Calé, e ao lado de Fernando Borgonovi, bebendo industrialmente e dormindo nas sarjetas da Tijuca. Chamem por mim, queridos, uma vez que seja! Hei de estar bordejando pela cidade com Fabinho Calé, serão seus os meus olhos a cada flerte furtivo durante a festa. Chame por mim, caboclo, chame que estarei presente. Uma vez que seja!</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">E quero estar, como quero e preciso estar!, experimentando de novo - eis o milagre da fé foliona - no instante exato em que o Salgueiro pisar na avenida, o calor do útero de minha mãe, longe das agruras e das dores do mundo, pronto pra apoteose da vida quando a escola acabar de atravessar, gloriosa, a avenida.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Em 69, quando nasci, pouco mais de dois meses antes de eu vir ao mundo - e eu cheguei pela Tijuca, é claro! - o Salgueiro desfilou cantando a Bahia de todos os deuses. Tenho, vá entender, absoluta certeza de que ouvi, ao vivo, a vermelho-e-branco desfilando naquele ano.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">São os milagres do Carnaval. E quem há de duvidar deles?</div><div style="text-align: justify;"><br />
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<center><iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="390" src="http://www.youtube.com/embed/o2RZPgLfSa8?rel=0" title="YouTube video player" width="480"></iframe></center><br />
<br />
</div><div style="text-align: justify;">Até.</div>Eduardo Goldenberghttp://www.blogger.com/profile/15844107600825502451noreply@blogger.com12tag:blogger.com,1999:blog-9999275.post-6338684770496007232011-02-28T15:30:00.000-03:002011-02-28T15:31:50.977-03:00COMIDA DI BUTECO 2011 VEM AÍ<div style="text-align: justify;">Eis que estamos às vésperas do Carnaval e, mantendo uma tradição já de muitos anos, o malfadado festival Comida di Buteco começa a pôr as mangas e a maionese de fora. E quem me lê sabe o quanto eu, desde sempre, sentei a borduna na iniciativa: basta uma clicada <strong><a href="http://www.google.com.br/#hl=pt-BR&source=hp&biw=1280&bih=752&q=%22comida+di+buteco%22+butecodoedu&aq=f&aqi=&aql=&oq=&fp=b550e81da59a882a" target="_blank">aqui</a></strong> e o Google abrirá diversas possibilidades para que você, que nunca leu nada meu a respeito do troço, entenda o porquê de minha aguda implicância com o projeto (escrevi "projeto" e tive ânsia de vômito). Mas vamos em frente.<br />
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Antes de continuar a escrever, dêem uma olhada no <em>slogan</em> (nova pausa para nova ânsia) do festival em 2011: </div><br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://lh6.googleusercontent.com/-6vPVZVkHDDE/TWvicxADjyI/AAAAAAAADkE/ZyUXPFbtsOg/s1600/slogan.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;" target="_blank"><img border="0" height="320" l6="true" src="https://lh6.googleusercontent.com/-6vPVZVkHDDE/TWvicxADjyI/AAAAAAAADkE/ZyUXPFbtsOg/s320/slogan.jpg" width="311" /></a></div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Vou escrever para que o nojo emerja (leiam em voz alta e sintam a boçalidade da idéia): <em>"Eu boteco, tu botecas, nós comida di buteco"</em>.<br />
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Em 28 de maio de 2010 escrevi uma carta aberta dirigida aos pilotos do trator de botequins, <strong><a href="http://butecodoedu.blogspot.com/2010/05/carta-aberta-aos-organizadores-do.html" target="_blank">aqui</a></strong>. O fiz porque - a leitura do texto deixa isso claro - uma das organizadoras do negócio, Sra. Eulália, ligou-me indignada, no dia 13 de maio de 2010, com minhas críticas (todas sempre muito bem fundamentadas, modéstia à parte), ficou de marcar uma conversa olho no olho para que ela expusesse suas razões e nada aconteceu. Ou seja, agiu como agem quase todos os que são criticados: tratam de desqualificar o crítico, as críticas. Não suportam experimentar a não-adulação.<br />
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Este ano, em 2011, vai ser mais divertido expôr para vocês o quão maléfico é o festival que se orgulha disso que segue abaixo:<br />
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<em>"Em 2008, o concurso entrou no conceituado Guia 4 Rodas (Editora Abril) e passou a ser realizado em diversas cidades do interior de Minas Gerais e em outros estados. Neste ano também, dois novos sócios se uniram ao projeto: Ronaldo Perri e Flávia Rocha, com a missão de expandir o conceito a outras praças."</em><br />
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Notem bem: o Comida di Buteco é um "conceito", e isso já diz muito sobre o nascedouro da idéia e seus objetivos.<br />
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<em>"Os números atuais do Comida di Buteco impressionam, o evento está presente em 11 cidades e, só em Belo Horizonte, o público participante é estimado em cerca de 800 mil pessoas por edição, com mais de 160 mil votos nos pratos participantes (Vox Populi / 2010)."</em><br />
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Os números do Big Brother Brasil, o maior lixo da recente história da TV brasileira, também impressionam.<br />
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<em>"A festa "A Saideira" – que tradicionalmente marca o encerramento e a premiação do concurso – se tornou um dos eventos mais esperados da cidade e recebe mais de 26.500 botequeiros nos dias em que é realizado."</em><br />
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A festa "A Saideira", no ano passado, trouxe o Bob´s para servir os otários que conjugam o verbo proposto pelo festival em 2011.<br />
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<em>"O Comida di Buteco se tornou também um fenômeno de comunicação. Em 2010, a mídia espontânea do projeto superou o valor de 16 milhões de reais, tendo o Comida di Buteco figurado nos principais veículos da mídia nacional e importantes publicações internacionais, como o NYTimes e La Nacion."</em><br />
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Basta, não?<br />
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Afinal de contas, buteco e New York Times, buteco e La Nación, têm tudo a ver...<br />
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Seria cômico se não fosse trágico.<br />
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Volto - é claro - ao tema.<br />
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Até.</div>Eduardo Goldenberghttp://www.blogger.com/profile/15844107600825502451noreply@blogger.com7tag:blogger.com,1999:blog-9999275.post-57743626113016949082011-02-24T14:15:00.000-03:002011-02-24T14:19:06.913-03:00AINDA SOBRE A DEMONSTRAÇÃO DE LENINISMO<div align="justify">Ontem, <strong><a href="http://butecodoedu.blogspot.com/2011/02/demonstracao-de-leninismo.html" target="_blank">aqui</a></strong>, escrevi sobre o choque que senti, ontem mesmo, ao ouvir um jovem comunista dizer, ao telefone, para seu interlocutor (ou interlocutora, ele só dizia "cara" ao se dirigir ao pobre-diabo de outro lado da linha):<br />
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- Cara, ela ontem deu uma demonstração de leninismo impressionante!<br />
<br />
Pedi a opinião de meus poucos mas fiéis leitores a fim de que eu pudesse, eu que sou um beócio de antolhos nas questões vermelhas, compreender que diabos era aquilo. Fui pouquíssimo atendido, eis que apenas três leitores se dispuseram a me prestar auxílio (sou, e isso me dói, um fracasso de audiência). Mas dentre os três, e sem depreciar um deles (que apenas corroborou o comentário esclarecedor do primeiro), dois monstros por quem guardo intenso e agudo respeito: o jornalista velho-de-guerra, com passagem por todos os grandes jornais do Brasil, meu dileto amigo, José Sergio Rocha, e meu irmão de fé, historiador e brasileiro máximo, Luiz Antonio Simas (recomendo vivamente a leitura de seus comentários).<br />
<br />
Ocorre que quero lhes contar outra coisa.<br />
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Uma comunista (e não lhe direi jamais o nome, nem à fórceps) escreveu-me ontem sobre o ocorrido - eis um fato espantoso! Dizia, ela também assombrada, que lera - confessou-se minha leitora contumaz - meu texto e que se reconhecera. Disse - e eu cheguei a me coçar enquanto lia - que foi pra ela o telefonema do jovem comunista infestado de lêndeas. E passou a me explicar - pobre coitada - o que havia sido a tal "demonstração de leninismo". Tirem as crianças da sala antes de seguirem em frente.<br />
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Em apertada síntese para que a náusea seja pouca (tudo o que estiver entre aspas terá sido integralmente copiado de seu e-mail): disse-me a jovem, também comunista, que havia uma "manifestação" em determinada universidade. E que ela, e mais alguns "quadros da base do partido", por absoluto acaso, estavam também na tal universidade. Segundo ela a "manifestação" não contava com mais do que 10, 15 "manifestantes". Foi quando, então, ela e seus amigos (os tais "quadros da base do partido"), passaram a "intervir" na tal "manifestação" (e ela não me contou do que se tratava a "manifestação").<br />
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Segue o relato: em poucos minutos, mais de 500 alunos desceram, como ratos, das escadarias da universidade ("uma coisa linda", disse-me a utópica). Os "quadros da base do partido", então, diante do êxito numérico da assistência, "injetaram forte teor político e orgânico à manifestação".<br />
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Ela valeu-se da expressão "foi uma coisa linda" muitas vezes!<br />
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E eis o que eu preciso lhes dizer sobre isso...<br />
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Vejam como caminha nossa juventude vermelha! O jovem das lêndeas encantou-se com o que ele chamou de "manifestação de leninismo". A jovem rubriplúmea, então, explicou-me (ou tentou explicar) o que havia acontecido na "universidade" - o que seria, afinal, a tal "demonstração de leninismo".<br />
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Não entendi patavina!<br />
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O que pude concluir do que li, foi o seguinte: a ala "jovem" do PCdoB (formada, quero crer, pelos "quadros de base") faz um tremendo sucesso entre a juventude brasileira. Afinal, convenhamos, transformar uma fila-indiana de 10, 15 pessoas, numa turba de 500, não é pra qualquer um. O que me fez lembrar do PSOL, claro, uma de minhas obsessões que trago no bolso do paletó: sexta-feira após sexta-feira estão lá, em torno do caixote de madeira que cumpre o papel de palanque no Buraco do Lume para os debates políticos do partido (eles não usam palanques e nem fazem comícios, apenas promovem debates), não mais do que 5, 10 quadros do partido.<br />
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Aulas de "demonstração de leninismo", é disso que o PSOL precisa.<br />
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Até.</div>Eduardo Goldenberghttp://www.blogger.com/profile/15844107600825502451noreply@blogger.com6